Dentre as devoções a São José - cuja Solenidade a Igreja de
Rito Romano celebra no próximo dia 19 de março - mencionadas no Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia
(n. 222) encontra-se a “coroa das sete
angústias (ou sete dores) e sete alegrias de São José” [1].
Como afirmamos em nossa postagem sobre a história do culto ao Esposo da Virgem Maria e Guardião do Redentor, esta devoção deriva da
tradição das dores e alegrias de Maria, que se desenvolve a partir do século XI
(sobre as quais poderemos falar em postagens futuras).
O primeiro registro dessa prática associado a José encontra-se
em um livro de orações compilado pelo capuchinho italiano Giovanni da Fano em
1536, que menciona os “Sete Pai-nossos de São José” em memória de suas dores.
Mais tarde acrescenta-se também a memória das sete alegrias
do santo Patriarca. A forma “definitiva” dessa devoção é atribuída ao Beato Gennaro
Maria Sarnelli (1702-1744), um dos primeiros membros da Congregação do
Santíssimo Redentor (redentoristas) [2].
Ícone das dores e alegrias de São José (O papiro traz, em francês, o texto de Dt 6,4-6, o Shemá Israel) |
Diferentemente das dores e alegrias de Maria, que são dois
formulários distintos (isto é, não fazem referência aos mesmos eventos) e com
pequenas variações, as dores e alegrias de São José, além de possuírem um texto
relativamente fixo (dada a presença menor desse personagem no Evangelho em relação
à sua Esposa), são totalmente interdependentes. Ou seja, no mesmo evento se
contempla tanto a dor (ou angústia) quanto a alegria de José.
Esta “co-incidência” é referenciada inclusive no célebre
hino das Vésperas (oração da tarde) da Solenidade de São José: Te, Joseph, célebrent (Celebre a José a
corte celeste). Na terceira estrofe, ao cantar o episódio da perda e encontro
do Menino Jesus no Templo, o hino afirma que José “miscens gáudia flétibus”, mistura alegria e pranto (ou, para usar a
tradução brasileira, encontra o Menino “chorando e sorrindo”).
Tradicionalmente, essa devoção estava associada aos “sete
domingos em honra de São José”, que seriam os sete domingos que antecedem a
Solenidade do dia 19 de março e deveriam ser dedicados à meditação das dores-alegrias.
Porém, o Diretório
sobre Piedade Popular e Liturgia (n. 95) adverte que o domingo não é o dia adequado para práticas de piedade em honra da
Virgem Maria e dos santos, uma vez que é o dia do Senhor:
“O ‘dia do Senhor’, enquanto ‘festa primordial’ e ‘fundamento
e núcleo de todo o Ano Litúrgico’ não deve estar subordinado às manifestações
de piedade popular. Portanto, não é o caso de insistir sobre práticas de
piedade para cujo exercício seja escolhido o domingo como ponto de referência
cronológica” [3].
O mesmo Diretório
propõe, como alternativa, as “sete quartas-feiras” em honra de São José [4].
Nada impede, porém, que a devoção josefina seja recitada em outro dia da
semana.
A coroa das dores e alegrias de São José não possui um
formulário fixo. O elemento mais importante é a meditação dos mistérios da vida
de Cristo dos quais José participou, narrados nos chamados “Evangelhos da
infância” (Mt 1–2; Lc 1–2).
Jesus "coroando" São José (Autor desconhecido - século XVIII) |
Após a proclamação de cada um dos sete Evangelhos é possível
recitar um Pai-nosso, uma Ave-Maria e um Glória-ao-Pai. Caso se deseje realizar
uma celebração mais longa, poderiam recitar-se mais Aves-Marias a cada mistério
(três ou sete, por exemplo), intercalando-os com cantos (confira algumas sugestões de cantos em honra de São José clicando aqui). No final, pode ser
recitada a Ladainha de São José.
A seguir listamos os sete “mistérios” das dores-alegrias de
São José com os respectivos textos do Evangelho e sugestões de orações para
cada um deles.
Os textos serão ilustrados pelos 14 quadros em azulejos
realizados pela artista Palmira Laguens para o Santuário mariano de Torreciudad
(Espanha), aos cuidados da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei. As imagens
encontram-se no perfil do Santuário no Flickr.
1º mistério: Mt 1, 18-25
A dor por não compreender a gravidez de Maria e a alegria
pelo anúncio do anjo
Oração:
Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações para que,
conhecendo pela mensagem do Anjo a Encarnação do vosso Filho, cheguemos, por
sua Paixão e Cruz, à glória da Ressurreição. Por Cristo, nosso Senhor. Amém [5].
2º mistério: Lc 2, 1-20
A dor por não
encontrar lugar em Belém e a alegria
pelo nascimento de Jesus
Oração:
Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente
restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso
Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém
[6].
3º mistério: Lc 2,21
A dor pela
circuncisão do Menino e a alegria ao
impor-lhe o nome de Jesus
Terceira alegria: A imposição do nome de Jesus |
Oração:
Nós vos pedimos, ó Deus, ao venerarmos o santo nome de
Jesus, que saboreando na terra a sua doçura, gozemos no céu a eterna alegria. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém [7].
4º mistério: Lc 2,22-35
A dor pela
profecia de Simeão sobre o sofrimento de Jesus e Maria e a alegria pela proclamação do Menino como “luz das nações”
Oração:
Deus eterno e todo-poderoso, ouvi as nossas súplicas. Assim
como o vosso Filho único, revestido da nossa humanidade, foi apresentado no
templo, fazei que nos apresentemos diante de vós com os corações purificados. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém [8].
5º mistério: Mt 2,13-15
A dor pela fuga
para o Egito e a alegria por poder
conviver com Jesus e Maria
Oração:
Ó Deus, proteção dos que em vós esperam, que quisestes
libertar vosso Filho Unigênito da espada de Herodes através da fuga para o
Egito, concedei a vossos servos, pela intercessão da Virgem Maria, sua Mãe, e
de São José, que, livres de todos os perigos da alma e do corpo, mereçamos
chegar à pátria celeste. Por Cristo, nosso Senhor. Amém [9].
6º mistério: Mt 2,19-23;
Lc 2,40
A dor pelo medo
da perseguição no retorno do Egito e a alegria
pela vida familiar em Nazaré
Oração:
Ó Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como
exemplo, concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes para que, unidos
pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa. Por Cristo,
nosso Senhor. Amém [10].
7º mistério: Lc 2,41-50
A dor pela perda
do Menino Jesus no Templo aos doze anos e a alegria do reencontro
Oração:
Ó Deus, que fizestes resplandecer a humilde infância do
vosso Filho com uma sabedoria divina, concedei-nos que, reconhecendo-vos como
Pai, saibamos nada antepor à vossa vontade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém [11].
Oração final:
Ó Deus, que em vossa inefável providência escolhestes São
José por esposo de Maria, mãe de vosso Filho, fazei que, venerando-o na terra
como protetor, mereçamos tê-lo como intercessor no céu. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém [12].
Notas:
[1] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS
SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade
Popular e Liturgia: Princípios e orientações. São Paulo: Paulinas, 2003, p.
191.
[2] Este breve histórico da devoção foi tomado de: San Giuseppe nelle devozioni, texto
divulgado no site da Congregação dos Oblatos de São José (em italiano).
[3] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS
SACRAMENTOS, op. cit., p. 91.
[4] ibid., p. 190.
[5] Coleta do IV Domingo do Advento
(Missal Romano, p. 132).
[6] Coleta da Solenidade do Natal
do Senhor - Missa do Dia (ibid., p.
154).
[7] Coleta da Missa votiva do
Santíssimo Nome de Jesus (ibid., p.
944).
[8] Coleta da Festa da Apresentação
do Senhor (ibid., p. 550).
[9] Coleta da Memória da Fuga ao
Egito de nosso Senhor Jesus Cristo (Missal próprio da Congregação dos Filhos da
Sagrada Família; adaptação livre nossa a partir do texto espanhol).
[10] Coleta da Festa da Sagrada
Família de Jesus, Maria e José (Missal Romano, p. 155).
[11] Coleta da Memória do Encontro
do Menino Jesus no Templo (Missal próprio da Congregação dos Filhos da Sagrada
Família; adaptação livre nossa a partir do texto espanhol).
[12] Coleta da Missa votiva a São
José (Missal Romano, p. 955).
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