Nas postagens anteriores desta série sobre as Missas votivas dos Santuários da Terra Santa, apresentamos as “Missas votivas do lugar”
celebradas nos Santuários ligados ao mistério da Encarnação: Nazaré, Ain Karem e Belém.
A partir desta postagem veremos os Santuários ligados à vida pública de Jesus, começando por dois que
marcam o início do seu ministério: Jericó
e Caná.
Como dissemos antes, apresentaremos aqui a “oração do
lugar”, as indicações de leituras e prefácio de cada celebração, além de
algumas adaptações dignas de nota.
1. JERICÓ
1a. Santuário do Bom Pastor
O Santuário do Bom Pastor, igreja paroquial do
pequeno grupo de cristãos de Jericó, tem associado a si três Missas votivas do
lugar. As duas primeiras dizem respeito a eventos que marcam o início do
ministério de Jesus e que ocorreram próximos a esta cidade: seu Batismo no
Jordão e seu jejum no deserto.
A terceira Missa, por sua vez, diz respeito a um evento que
ocorreu na própria cidade de Jericó: a visita de Jesus à casa de Zaqueu.
Podemos acrescentar também a cura do cego Bartimeu (Lc 18,35-43). A atitude de
Jesus para com estes dois homens foi de fato a atitude do Bom Pastor, donde o
título da igreja.
Missa votiva do
Batismo do Senhor
O santuário de Jericó está próximo ao local onde, segundo a
tradição, Jesus teria sido batizado por João (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc
3,21-22).
Em 1956 os franciscanos haviam construído uma pequena igreja
mais próxima ao rio Jordão. Porém, esta teve de ser abandonada às pressas em
1967, quando eclodiu a guerra entre Israel e Jordânia. Somente em 2018 a área,
que se tornou um campo minado, foi finalmente limpa, sendo devolvida oficialmente aos franciscanos em 2020.
No dia 10 de janeiro de 2021, após 54 anos, foi possível celebrar novamente a Festa do Batismo do Senhor nessa igreja. Para ver as fotos dessa histórica celebração, clique aqui.
A igreja da Custódia junto ao rio Jordão |
A Missa votiva do Batismo do Senhor toma as leituras e
orações da respectiva Festa (com o Prefácio próprio do Batismo do Senhor,
omitindo apenas a palavra “hoje”), incluindo as opções de Evangelho paras os
três anos litúrgicos.
Antífona de entrada:
“E do céu veio uma voz que dizia: ‘Aqui
está o meu Filho amado; nele está o meu agrado...” (Mt 3,17) - o Missal em português traz “este é”,
enquanto o texto em latim traz “aqui está”;
Oração do lugar:
“Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e
pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho,
concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo,
perseverar constantemente em vosso amor” (em
português há apenas esta opção de coleta, mas em latim há as duas opções da
Festa do Batismo do Senhor);
Cumpre notar ainda que no Jordão costuma-se fazer também a
renovação das promessas batismais. Porém, esta geralmente é feita fora da
Missa, em um momento de oração junto à água.
Missa votiva do jejum
do Senhor
No Missal em português divulgado pela Custódia Franciscana
da Terra Santa consta apenas a Missa que vimos acima. Portanto, para as outras
duas celebrações faremos uso do Missal em latim, traduzindo livremente as
orações.
Nos três Evangelhos Sinóticos, após o seu Batismo, Jesus se
dirige para o deserto, onde permanece por quarenta dias em jejum e é tentado
por Satanás (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13).
Próximo a Jericó encontra-se um monte que a tradição
identifica como o local das tentações, o qual abriga um mosteiro ortodoxo.
Sendo o santuário franciscano mais próximo, na igreja do Bom Pastor pode-se
celebrar também a Missa votiva do jejum do Senhor (De Commeratione Ieiunii Domini), especialmente na Quaresma.
Mosteiro ortodoxo no Monte das Tentações |
Esta é uma Missa própria deste local, não possuindo paralelo
no Missal Romano, sendo as leituras adaptadas do
I Domingo da Quaresma do ano A.
Antífona de entrada:
“O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou neste deserto durante quarenta dias...” (Mc 1,12-13) ou “Jesus, cheio do Espírito Santo,
voltou do Jordão e, neste deserto,
era guiado pelo Espírito...” (Lc 4,1);
Oração do lugar:
“Ó Deus, que não desejas a morte do pecador mas a sua conversão, pelo jejum e
pela vitória do vosso Filho, que se tornou autor da salvação para todos os que
lhe obedecem, atendei benigno às nossas preces, para que consigamos obter o
perdão dos pecados e viver uma vida nova, à imagem do nosso Redentor”;
Leituras: Gn 3,1-8
/ Sl 50,3-6.12-14.17 (R: v. 3) / Rm 5,12.17-19 / Mt 4,1-11 ou Lc 4,1-13;
Evangelhos: “O
Espírito conduziu Jesus a este
deserto, para ser tentado...” (Mt 4,1); “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou
do Jordão e, neste deserto, era
guiado pelo Espírito...” (Lc 4,1);
Prefácio próprio do I
Domingo da Quaresma: “Jejuando quarenta dias neste deserto, Jesus consagrou a observância quaresmal...”.
Missa votiva da
entrada do Senhor na casa de Zaqueu
Por fim, a terceira Missa votiva do lugar prevista para
Jericó celebra a visita de Jesus à casa de Zaqueu, cobrador de impostos nesta
cidade (Lc 19,1-10).
Igreja do Bom Pastor em Jericó |
Como a anterior, é uma Missa própria do local, sem paralelo
no Missal Romano. A seguir indicamos a oração do lugar e as leituras (adaptadas
do XXXI Domingo do Tempo Comum do ano C, quando se lê o episódio de Zaqueu no
Evangelho). O Prefácio indicado é o dos Domingos do Tempo Comum I.
Oração do lugar:
“Ó Deus, que pelo vosso Filho levastes a salvação à casa de Zaqueu, concedei,
vos pedimos, que todos os que vos abandonaram não pereçam, mas pelo sangue do
Redentor retomem o caminho da salvação”;
Leituras: Sb
11,23–12,2 / Sl 144,1-2.8-11.13-14 (R: v. 1) / Ap 3,14-22 / Lc 19,1-10.
Vitral representando o encontro de Jesus com Zaqueu |
2. CANÁ
2a. Santuário do primeiro milagre de Jesus
Se, como vimos, os Sinóticos
iniciam o relato da vida pública de Jesus com o Batismo e as tentações, no Evangelho de João o ministério de Jesus
começa em um casamento em Caná da Galileia (Jo 2,1-11): “Este foi o início dos
sinais de Jesus”.
Uma pequena igreja foi construída
em Caná em 1880 e logo ampliada (1897-1905), tornando-se o atual “Santuário do
primeiro milagre de Jesus”. Escavações arqueológicas no terreno identificaram
restos de uma sinagoga do século IV e túmulos cristãos dos séculos V-VI.
Missa votiva do
início dos milagres de Jesus
A celebração do mistério titular da igreja é também própria
deste lugar, não possuindo paralelo no Missal Romano. Indicamos na sequência algumas
orações e as leituras (adaptadas das propostas para o Sacramento do Matrimônio):
Antífona de entrada:
“Naquele tempo celebravam-se bodas aqui
em Caná da Galileia, e achava-se aqui
a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos” (Jo 2,1-2);
Oração do lugar:
“Ó Deus, que quisestes que vosso Filho estivesse presente aqui nas Bodas e transformasse a água em vinho para revelar sua
glória aos homens, pela intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, sua Mãe,
transformai os nossos corações com o fogo do vosso amor, para que, renovados
interiormente, sejamos dignos de participar das Bodas eternas”;
Leituras: Gn
2,18-24 com o Sl 127,1-5 (R: v. 1) ou
Is 54,5-10 com o Sl 29,2.4-6.11-13 (R: v. 2) / Ef 5,2a.21-33 / Jo 2,1-11;
Evangelho: “Naquele
tempo, celebravam-se bodas aqui em
Caná da Galileia...” (Jo 2,1);
No final das Preces há uma oração de bênção própria para os
casais;
Prefácio: o Missal
em português apresenta o Prefácio do Matrimônio I, enquanto o Missal em latim propõe
os Prefácios dos Domingos do Tempo Comum I ou II;
Antífona de Comunhão:
“Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o aqui em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus
discípulos creram nele” (Jo 2,11).
Missa votiva de Maria
“medianeira”
Dado o importante papel que Maria desempenha no episódio das
bodas de Caná, propõe-se também para este santuário a Missa votiva de Maria
“medianeira”.
Cumpre dizer que este título não deve obscurecer a “única mediação”
exercida por Jesus Cristo (1Tm 2,5). A “mediação” de Maria é de intercessão e
de amor materno.
O formulário desta Missa não consta no Missal em português divulgado
no site da Custódia, o que nos leva a recorrer mais uma vez ao Missal em latim,
do qual faremos uma tradução livre, uma vez que esta também é uma Missa
específica desse santuário, tomando do Missal Romano apenas o Prefácio da
Virgem Maria I [1].
Oração do lugar:
“Deus de misericórdia, que dispusestes em vossa sabedoria que a Virgem santíssima,
Mãe do vosso Filho, se tornasse também nossa Mãe, faz com que os irmãos de
Cristo ainda peregrinos e sujeitos aos perigos, experimentando seu amor materno
como medianeira e auxiliadora, adiram mais intimamente ao Salvador”;
Leituras: Jz 5,3-7
/ Sl 2,1-9 (R: v. 12) / At 1,12-14 / Jo 2,1-12;
Evangelho:
“Naquele tempo, celebravam-se bodas aqui
em Caná da Galileia...” (Jo 2,1).
Altar do Santuário de Caná |
[1] Há na Coletânea de Missas de Nossa Senhora o formulário de “Maria, Mãe e medianeira da graça”,
porém com outras orações e leituras.
Imagens: Wikimedia Commons
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