São João Crisóstomo
Sermão 11 sobre a Segunda Carta aos
Coríntios
Ao
que não tinha pecado, Deus o fez expiar nossos pecados
O Pai enviou ao
Filho para que, em seu nome, exortasse e assumisse o ofício de embaixador
frente ao gênero humano. Mas, no entanto, uma vez morto, Ele se ausentou, e nós
lhe sucedemos nessa missão, e vos exortamos em seu nome e em nome do Pai. Pois
o Pai admira tanto o gênero humano que lhe deu o seu Filho, mesmo sabendo que
haveriam de matá-lo, e a nós nomeou apóstolos para o vosso bem. Portanto, não
creiais que somos nós quem vos rogamos: é o próprio Cristo que vos roga, o
mesmo Pai vos suplica através de nós.
Existe algo que
possa comparar-se com tão magnífica bondade? Pois ultrajado pessoalmente como
pagamento por seus inumeráveis benefícios, não só assumiu represálias, mas
também nos entregou a seu Filho para reconciliar-nos com Ele. Mas aqueles que o
receberam, além de não se esforçarem para congraçarem-se com Ele, ainda por
cima o condenaram à morte.
Novamente enviou
outros intercessores, e, depois de enviados, é Ele mesmo quem intercede por
eles. E qual sua súplica? Reconciliai-vos
com Deus. Ele não disse: Recuperai a graça de Deus, pois não é Ele quem
causa a inimizade, mas vós; Deus realmente não provoca a inimizade. Ainda mais:
vem como enviado para compreender a causa.
Ao que não tinha pecado, disse, Deus o fez expiar os nossos pecados. Mesmo
que Cristo não tivesse feito nada mais além de tornar-se homem, pensa, por
favor, quão agradecidos a Deus deveríamos estar por ter entregado seu Filho
pela salvação daqueles que lhe cobriam de injúrias. Mas a verdade é que Ele fez
muito mais, e, como se fosse pouco, ainda permitiu que o ofendido fosse
crucificado pelos ofensores.
Diz o Apóstolo: Ao que não tinha pecado, mas que era a
própria justiça, o fez expiar nossos
pecados. Ou seja, tolerou que Ele fosse condenado como um pecador, e que
morresse como um maldito: pois maldito
todo aquele que pende do madeiro. Certamente era muito mais atroz morrer
deste modo do que simplesmente morrer. É o que ele mesmo sugere em outro lugar:
Humilhou-se até a morte, e morte de cruz.
Considerai, portanto, quantos benefícios tendes recebido d’Ele.
Em consequência,
se amamos a Cristo como Ele realmente merece, nós mesmos nos imporemos o
castigo por nossos pecados. E não porque tenhamos um verdadeiro horror pelo
inferno, mas porque nos horroriza ofender a Deus; pois isto é mais atroz que
aquilo: que Deus, ofendido, aparte seu rosto de nós! Refletindo sobre estes
extremos, temamos acima de tudo o pecado: pecado significa castigo, significa
inferno, significa males incalculáveis. E não somente o temamos, mas fujamos
dele e esforcemo-nos por agradar constantemente a Deus: isto é reinar, isto é
viver, isto é possuir bens inumeráveis. Desta forma entraremos desde agora na
posse do reino e dos bens futuros, bens que oxalá todos consigamos pela graça e
benignidade de nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 319-320. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler outra homilia de São João Crisóstomo para este domingo, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário