Na postagem anterior da nossa série sobre as Missas votivas dos Santuários da Terra Santa começamos a apresentar as “Missas votivas do lugar” ligadas
à vida pública de Jesus.
Iniciamos, naturalmente, por aqueles santuários que marcam o
início do seu ministério: Jericó e Caná. Aqui daremos continuidade à nossa
proposta com Cafarnaum e Tabgha, além do Monte das Bem-aventuranças, que fica entre as duas localidades.
Vale
recordar que apresentaremos a “oração do lugar”, as indicações de leituras e
prefácio de cada celebração, além de algumas adaptações mais dignas de nota.
3. CAFARNAUM
3a. Santuário da promessa da Eucaristia (“Memorial
de Pedro”)
Os três Evangelhos
Sinóticos atestam a presença de Jesus em Cafarnaum (Mt 4,12-17; Mc 1,21; Lc
4,31). Como recorda o site da Custódia Franciscana da Terra Santa, daquela
região o Mestre chamou seus primeiros discípulos; ali realizou diversos
milagres (Mt 8–9 e paralelos); o “discurso do pão da vida” foi proferido na sinagoga da cidade (Jo 6,24-59).
É justamente deste último evento que a igreja toma seu nome:
“Santuário da promessa da Eucaristia”, pois se encontra justamente ao lado das
ruínas da antiga sinagoga.
Vista aérea do Santuário e das ruínas da sinagoga |
Porém, a igreja é mais conhecida como “Memorial de Pedro”, dado
que teria sido edificada sobre as ruínas de sua casa. Após a cura de sua sogra
(Mt 8,14-17 e paral.), Pedro deve ter acolhido Jesus muitas vezes em sua casa, transformando-a posteriormente em um local de culto para a Igreja nascente.
O terreno de Cafarnaum foi adquirido pela Custódia, não sem
dificuldades, em 1894. Logo começaram as escavações arqueológicas: os restos do
que seria a casa de Pedro ("Domus Petri", em latim) foram descobertos entre 1968 e 1986.
A atual igreja foi construída em 1990, elevada sobre as
ruínas, com piso e paredes de vidro para que essas possam ser apreciadas. O
Memorial de Pedro tem a forma octogonal, replicando o formato de uma igreja do
período bizantino cujos restos foram descobertos em volta da primitiva “Domus Petri”.
De tudo que foi dito, é natural que as três Missas votivas
propostas para este Santuário sejam: da Santíssima Eucaristia, de São Pedro e dos
Santos Apóstolos.
Missa votiva da
Santíssima Eucaristia
Este formulário toma algumas leituras e orações da Missa
votiva da Santíssima Eucaristia presente no Missal Romano (incluindo o Prefácio
da Santíssima Eucaristia I) e acrescenta outros textos próprios:
Antífona de entrada
(2ª opção): “Assim falou Jesus, ensinando nesta sinagoga de Cafarnaum: O pão de Deus é aquele que desce do
céu e dá vida ao mundo” (Jo 6,59.33) - Ausente
no Missal em português, mas proposta em latim;
Oração do lugar:
“Ó Deus, fonte de todo bem, que quisestes que vosso Filho Unigênito se fizesse
homem, para ser nosso alimento e nossa esperança, fazei que sejamos atraídos
por Ele, para que participando de sua mesa com fé firme e sincera caridade,
possamos receber no fim da nossa caminhada o prêmio da ressurreição e da vida
eterna”;
Leituras fora do Tempo
Pascal: Ex 16,2-4.12-15 com o Sl 77,3-4.7.23-25.54 (R: v. 24) ou Pr 9,1-6 com o Sl 147,12-15.19-20 (R:
Jo 6,58) - A leitura de Pr com o seu
salmo não consta em português, apenas em latim / 1Cor 11,23-26 / Jo 6,24-59
(forma breve: Jo 6,51-59);
Leituras no Tempo
Pascal: Ex 24,3-11 com o Sl 115,12-13.15-18 (R: 1Cor 10,16) / 2ª leitura e
Evangelho como acima;
Evangelho: “Tal
foi o ensinamento de Jesus aqui na
sinagoga de Cafarnaum” (Jo 6,59).
Missa votiva de São
Pedro, Apóstolo
Sobre a “Domus Petri”
não poderia faltar a Missa votiva de São Pedro. As orações são tomadas do
respectivo formulário no Missal Romano, com o Prefácio dos Apóstolos I. As
leituras, por sua vez, têm duas fontes: a Festa da Cátedra de São Pedro (2ª
leitura e Evangelho) e o Comum dos Pastores (1ª leitura e salmo).
Oração do lugar:
“Ó Deus, que confiastes ao Apóstolo São Pedro as chaves do reino dos céus e lhe
conferistes o poder de ligar e desligar, libertai-nos por sua intercessão das
cadeias dos nossos pecados”;
Leituras: Ez
37,21-28 / Sl 88,2.5.21-22.25.27 (R: v. 2) / 1Pd 5,1-4 / Mt 16,13-19.
Missa votiva dos
Santos Apóstolos
Na região de Cafarnaum, junto ao Mar da Galileia, foram
chamados os primeiros discípulos. Assim, propõe-se a Missa votiva de Todos os
Santos Apóstolos. Embora ausente no Missal em português divulgado no site da Custódia,
encontra-se na “forma típica”, isto é, no Missal em latim.
Assim como a anterior, de sua equivalente no Missal Romano são
tomadas algumas orações e leituras, enquanto outras são acrescentadas:
Oração do lugar:
“Ó Deus, que a vossa Igreja exulte sempre no constante louvor aos santos
Apóstolos, para que, sustentada por sua doutrina e intercessão, seja por eles
governada”;
Leituras: Eclo 44,19-23
(fora do Tempo Pascal) ou At 2,42-47
(no Tempo Pascal) / Sl 18,2-5 (R: v. 5a) / Ef 2,19-22 ou Ef 4, 11-16 / Lc 6,12-19;
Prefácio: O Missal
em latim traz apenas o Prefácio dos Apóstolos I, enquanto os Missais em outras
línguas propõem também o II. Cumpre notar que nesta Missa convém tomar a Oração
Eucarística I, que menciona os doze Apóstolos.
4. MONTE DAS BEM-AVENTURANÇAS
4a. Santuário do Sermão da Montanha
Entre Cafarnaum e Tabgha fica o chamado “Monte das
Bem-aventuranças”, que a tradição identifica como o local do célebre Sermão da
Montanha (Mt 5–7), que começa justamente com o anúncio das bem-aventuranças (Mt
5,3-12).
Na base do morro encontram-se ruínas de uma pequena igreja
do século IV, escavadas em 1936. No topo está a nova igreja, construída em 1938,
em formato octogonal, lembrando as oito bem-aventuranças (inscritas em latim
nas janelas da cúpula).
Missa votiva do
ensino das bem-aventuranças
A única Missa votiva do lugar prevista para este santuário
celebra justamente seu mistério titular: o Senhor que ensina as
bem-aventuranças (“De Domino, docente
Beatitudines”).
Esta é uma Missa específica, embora adapte algumas orações
do Missal Romano (com o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum I) e leituras do
IV Domingo do Tempo Comum do ano A, quando se lê o Evangelho das
bem-aventuranças.
Antífona de entrada (1ª
opção): “Jesus viu as multidões, subiu a esta montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus
começou a ensiná-los” (Mt 5,1-2). A 2ª opção de antífona é o Sl 111,1-2;
Oração do lugar (1ª
opção): “Ó Pai, que por meio do vosso Filho aqui ensinastes as bem-aventuranças aos discípulos e às multidões,
concedei ao vosso povo amar o que mandais e desejar o que prometeis, para que
em meio às coisas que passam, os nossos corações permaneçam voltados à
felicidade eterna” (inspirada na coleta
do XXI Domingo do Tempo Comum);
Oração do lugar (2ª
opção): “Deus eterno e todo-poderoso, que por meio do vosso Filho Jesus
Cristo sobre este monte nos
ensinastes a lei do Evangelho, concedei-nos caminhar com firmeza no caminho dos
vossos mandamentos e alcançar a felicidade eterna” (inspirada na coleta do XXV Domingo Comum. A expressão “felicidade
eterna”, porém, seria aqui melhor traduzida como “bem-aventurança eterna”,
“aetérnam beatitúdinem”);
Leituras: Sf 2,3;
3,12-13 / Sl 145,6-10 (R: Mt 5,3) / 1Cor 1,26-31 ou Fl 4,4-7 / Mt 5,1-12a.
Altar do Santuário do Sermão da Montanha |
5. TABGHA
Na localidade de Tabgha (cujo nome deriva do grego Heptapegon, “sete fontes”), junto ao Mar
da Galileia, ao sul de Cafarnaum, encontramos duas igrejas: o Santuário do
primado de Pedro e a igreja da Multiplicação dos pães.
5a. Santuário do Primado de Pedro
O Santuário do Primado de Pedro marca o local onde teriam
ocorrido, segundo a tradição, os eventos do epílogo do Evangelho de João (Jo 21): a segunda pesca milagrosa, a refeição do
Ressuscitado com os Apóstolos e o diálogo de Jesus com Pedro: “Simão, tu me amas?
(...) Apascenta as minhas ovelhas” [1].
O atual santuário foi construído em 1933, junto às fundações
de uma igreja do século IV, destruída em 1263. Ambos foram edificados em torno
de uma grande pedra calcária conhecida como a “mensa Christi”, identificada como a pedra sobre a qual Jesus
acendeu brasas e comeu pão e peixes com os Apóstolos (Jo 21,9-13).
Santuário do Primado de Pedro - Tabgha |
Junto ao santuário há altares em honra dos Papas São Paulo
VI e São João Paulo II, os dois Sucessores de Pedro que visitaram o local
(respectivamente em 1964 e 2000).
Para esse santuário são propostas três Missas votivas do
lugar: do primado de Pedro, dos Santos Apóstolos e da multiplicação dos pães.
Missa votiva do
primado de Pedro
Como de costume nas Missas votivas do lugar, consta
primeiramente o formulário do mistério titular da igreja: o primado de Pedro (“De primatu Sancti Petri”). Aqui se toma
tudo da Missa votiva de São Pedro, como vimos acima para o Santuário de
Cafarnaum, exceto o que segue:
Oração do lugar: O
Missal votivo em português menciona erroneamente um “aqui”, ausente em latim e nas outras línguas: “Ó Deus, que aqui confiastes ao Apóstolo São Pedro
as chaves do reino dos céus...”, dado que o episódio propriamente dito da
“entrega das chaves” aconteceu em outro lugar [2];
Leituras: Como na
Missa votiva de São Pedro, exceto o Evangelho: Jo 21,1-19 (no Missal em latim há uma perícope mais longa: Jo 21,1-24) ou Lc 5,1-11.
Evangelhos:
“Naquele tempo, Jesus apareceu de novo neste
lugar aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades...” (Jo 21,1); “Logo que
pisaram aqui a terra, viram brasas acesas,
com peixe em cima, e pão” (v. 9) / “Naquele tempo, Jesus estava aqui na margem do lago de Genesaré, e a
multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus” (Lc 5,1).
Missa votiva dos Santos
Apóstolos
Segundo o Quarto Evangelho, sete dos então onze Apóstolos
estavam presentes no encontro com o Ressuscitado junto ao mar (Jo 21,2). Embora
ausente no Missal votivo em português, os Missais nas demais línguas propõem
para o santuário de Tabgha a Missa votiva dos Santos Apóstolos, sobre a qual já
falamos acima.
Missa votiva da
multiplicação dos pães e dos peixes
Existe outra igreja em Tabgha que comemora especificamente o
episódio da multiplicação dos pães, mas, como veremos a seguir, ela não pertence
à Custódia. Assim, para o Santuário do Primado também está prevista a Missa
votiva da multiplicação dos pães e dos peixes (“De commeratione
multiplicationis panum et piscium”), acontecimento descrito nos quatro
Evangelhos .
Como a anterior, esta também não consta no Missal votivo em
português; sendo um formulário específico do lugar, recorreremos mais uma vez
ao texto em latim.
As orações foram adaptadas da Missa em tempo de fome ou
pelos que passam fome (formulário n. 38 das Missas para diversas necessidades),
com o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum V. As leituras, por sua vez, são
adaptadas em parte do XVIII Domingo do Tempo Comum do ano A, quando se lê o
relato mateano da multiplicação dos pães.
Oração do lugar:
“Deus de bondade e poder, que velais sobre todas as criaturas, e por vosso
Filho saciastes, pela multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão que o
seguia, dai-nos um amor eficaz para com nossos irmãos e irmãs que padecem
necessidades, para que, com liberdade, vos possam servir de coração tranquilo”;
Leituras: Is 55,1-3
/ Sl 144,8-9.15-18 (R: v. 16) / 1Jo 3,14-18 ou Tg 2,14-17 / Mt 14,13-21 ou Jo
6,1-15.
5b. Igreja da
Multiplicação dos Pães
Como afirmamos acima, a igreja da Multiplicação dos Pães, em
Tabgha, não pertence aos franciscanos, mas sim aos beneditinos, construída em
1984 sobre as ruínas de duas igrejas mais antigas: a primeira, menor, de meados
do século IV (da qual uma pedra é visível sob o altar) e a segunda, uma
ampliação da anterior, do século V, destruída pelos persas em 614.
Igreja da multiplicação dos pães - Tabgha |
Da igreja do século V são os mosaicos no piso. A maioria
retrata aves e plantas, mas o mais célebre, diante do altar, traz o cesto de
pães e os dois peixes do relato evangélico (Mt 14,17 e paralelos).
Como não pertence à Custódia, a igreja não possui uma Missa
votiva do lugar. Porém, um sacerdote que for celebrar a Missa com um grupo de
peregrinos nesta igreja poderia tomar a Missa votiva da Santíssima Eucaristia indicada
no Missal Romano.
Notas:
[1] Embora este santuário comemore um evento pós-pascal, o
indicamos nesta postagem, dentre aqueles ligados à vida pública de Jesus, por
um critério geográfico. Além disso, um dos Evangelhos previstos para a Missa
votiva do lugar traz um evento pré-pascal que também teria ocorrido nesta
região: a primeira pesca milagrosa.
[2] O episódio da “entrega das chaves” (Mt 16,13-20) teria
ocorrido, segundo o Evangelho, na região de Cesareia de Filipe, bem mais ao
norte, na localidade de Banias (do grego Paneas,
uma vez que lá havia um templo ao deus
Pã), junto ao monte Hermon, nas nascentes do rio Jordão. Atualmente a
região é um sítio arqueológico, sendo praticamente desabitada.
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