“A Igreja, em seus
cuidados maternos, acompanha seus filhos e filhas ao longo de toda a sua
existência” (Diretório para a Catequese, n. 232).
Nesta série de postagens estamos analisando sob a perspectiva
da Liturgia, dos sacramentos e da piedade popular o Diretório para a Catequese,
publicado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização em
2020 [1].
Damos início nesta postagem ao capítulo VIII, que está
subdividido em nove seções. As seis primeiras serão analisadas aqui, e as três últimas
na próxima postagem.
Capítulo VIII: A
catequese na vida das pessoas
“O Evangelho não se destina à pessoa abstrata, mas a cada pessoa, real, concreta, histórica,
inserida em um contexto particular” (n. 224). Com esta afirmação o Diretório dá início ao cap. VIII, que
propõe “caminhos de Catequese” que levem em conta cada sujeito: famílias,
crianças e adolescentes, jovens, adultos, etc.
8.1 Catequese e família (nn. 224-235)
As reflexões sobre Catequese e família são iluminadas aqui
pelas Exortações Apostólicas Familiaris
Consortio (1981), do Papa João Paulo II; e Amoris Laetitia (2016), do Papa Francisco.
Mosaico de São João Paulo II, protetor da família |
Ao propor os âmbitos da catequese familiar (Catequese na família, Catequese com a
família, Catequese da família), o Diretório
assinala que, a par da graça batismal (cf.
cap. III), as famílias cristãs são enriquecidas em sua missão catequética
também pela graça própria do sacramento do Matrimônio:
“Os cônjuges cristãos, em virtude do sacramento do Matrimônio, participam do mistério da unidade e do
amor fecundo entre Cristo e a Igreja. A catequese
na família, portanto, tem a missão de fazer revelar aos protagonistas da
vida familiar, sobretudo aos cônjuges e aos pais, o dom que Deus lhes concede
mediante o sacramento do Matrimônio” (n. 228).
Na sequência, o n. 232, intitulado Indicações pastorais, recorda que “a Igreja, em seus cuidados
maternos, acompanha seus filhos e filhas ao longo de toda a sua existência.
Reconhece, porém, que alguns momentos são como passagens decisivas, nas quais a pessoa se deixa mais facilmente ser
tocada pela graça de Deus”.
Nesse mesmo parágrafo são elencadas seis passagens decisivas,
que estão diretamente relacionadas aos sacramentos. Porém, como veremos, a
celebração dos sacramentos não é o ponto final, mas se insere dentro de um
processo de iniciação permanente:
a) “A catequese com
jovens e dos adultos que se preparam para o Matrimônio”: à luz dos nn.
205-216 da Exortação Amoris Laetitia,
o Diretório propõe uma verdadeira
“iniciação ao sacramento do Matrimônio”, abandonando o conceito de “curso para
noivos”. Propõe-se um itinerário catequético de inspiração catecumenal, em três
etapas: “uma formação remota, uma próxima e uma imediata à celebração do
sacramento do Matrimônio, apresentado como uma verdadeira vocação”.
b) “A catequese dos
casais jovens”: novamente o Diretório
remete à Amoris Laetitia (nn.
217-230). Na mesma linha da proposta anterior, trata-se aqui de uma “catequese
oferecida em forma mistagógica aos recém-casados, para levá-los a descobrir o
que eles se tornaram graças ao sacramento celebrado”.
O Papa Francisco abençoa dois recém-casados |
c) “A catequese dos
pais que pedem o Batismo para os filhos”: também aqui é preciso a coragem
de abandonar os “cursos de Batismo” e propor uma “catequese batismal” de
inspiração catecumenal aos pais e padrinhos, de modo a “predispor um caminho adequado
para que eles possam despertar a graça do dom da fé que receberam”.
d) “A catequese dos
pais, cujos filhos fazem o percurso de iniciação cristã”: como se reforçará
adiante ao tratar da catequese infantil, é preciso promover “o envolvimento dos
pais no caminho de iniciação dos filhos”. Para alguns será “um momento de
aprofundamento da fé”, enquanto para outros será “um autêntico espaço de primeiro
anúncio”.
e) “A catequese
intergeracional”: trata-se de uma “mistagogia”, ou seja, uma proposta de
aprofundamento da fé “condividida entre diferentes gerações dentro de uma
família ou comunidade”, marcada pelos “passos do ano litúrgico”.
f) “A catequese nos
grupos de esposos e nos grupos de famílias”: também aqui se propõem
itinerários mistagógicos de aprofundamento da graça do sacramento do
Matrimônio, a fim de “desenvolver uma espiritualidade conjugal e familiar”.
8.2 Catequese com crianças e adolescentes (nn. 236-243)
Embora o título da seção mencione também a adolescência, o
Diretório centra-se aqui na Catequese com crianças, oferecendo “pistas” para duas
etapas: a “idade pré-escolar” (até os 06 anos), e a “idade escolar” (dos 06 aos 10
anos, aproximadamente).
A “idade pré-escolar” geralmente antecede a “Catequese de
iniciação” no sentido de preparação para a Confirmação e a primeira Comunhão.
Assim, é preciso propor itinerários de catequese infantil, tanto na comunidade
quanto na própria família.
Nessa etapa, por exemplo, podem ser apresentados à criança
os “sinais, símbolos e gestos religiosos”
(n. 239), celebrados na Liturgia e na piedade popular. Além disso, o Diretório exorta a valorizar “as
principais festividades do ano litúrgico, por exemplo, com a realização nas
famílias do presépio em preparação para o Natal (cf. Papa Francisco, Carta Apostólica Admirabile signum sobre o significado e o valor do presépio, 2019),
que pode permitir que a criança viva uma forma de catequese por meio de uma
participação direta no mistério da Encarnação”.
Além das famílias, essa proposta poderia ser vivida também
na comunidade. Como temos afirmado, é preciso superar a mentalidade do
“calendário escolar” e viver os Tempos do Advento e do Natal como “tempos
catequéticos”. Por exemplo, por que não envolver os catequizandos na preparação
do presépio da comunidade? O mesmo poderia ser “montado” gradualmente pelas
crianças, ao longo dos quatro domingos do Advento, no início da Celebração
Eucarística da comunidade.
O Papa Francisco acende uma vela diante do presépio |
Prosseguindo a reflexão, o Diretório centra-se na “idade escolar”, durante a qual “se
completa, na paróquia, a iniciação cristã começada com o Batismo” (n. 240)
através da preparação para os sacramentos da Confirmação e da primeira
Comunhão.
Assim, nessa etapa “se introduz a criança na vida da Igreja
e na celebração dos sacramentos” (n.
240). Assim, o “ensinamento das verdades da fé (...) se fortalece pelo
testemunho da comunidade, a participação
na Liturgia, o encontro com a palavra de Jesus na Sagrada Escritura e o
início do exercício da caridade”.
Definir a duração da “Catequese de iniciação” e a idade para
a recepção dos sacramentos, como indica o Diretório,
fica a cargo das Conferências Episcopais. Da mesma forma, no n. 241, sobre a
Catequese dentro da escola católica, o Diretório
remete ao juízo do Bispo Diocesano, lembrando, porém, que a comunidade cristã é
o “lugar da fé” por excelência (cf.
n. 133).
Concluindo essa seção, o n. 242 retoma a proposta que
permeia todo o documento: a “inspiração catecumenal” de todos os itinerários
catequéticos. A Catequese com crianças é chamada a adaptar o modelo do
catecumenato “com critérios, conteúdos e metodologias” adequados às crianças. O
Diretório destaca aqui “os tempos,
os ritos de passagem e a participação ativa na Celebração Eucarística, que
constitui o ápice do processo iniciático”.
Como vimos em postagens anteriores, em muitas comunidades já
há iniciativas que adaptam as “entregas” do catecumenato de adultos para a
Catequese infantil (entrega do Creio, entrega do Pai-nosso...).
O Diretório exorta ainda a “reconsiderar o papel primordial
da família e de toda a comunidade” (n. 242) e conclui reafirmando o valor do
domingo: os itinerários catequéticos são chamados a conscientizar as crianças
“de serem filhos de Deus e membros da Igreja, família de Deus, que no dia dedicado ao Senhor se reúne para celebrar a
sua Páscoa” (n. 243).
8.3 Catequese na realidade juvenil (nn. 244-256)
Os parágrafos dedicados à Catequese com jovens, os quais
incluem também os adolescentes, remetem-nos às reflexões do Sínodo sobre os
Jovens celebrado em 2018, que teve como principal fruto a Exortação Apostólica Christus vivit, promulgada pelo Papa
Francisco em 25 de março de 2019.
Já analisamos aqui em nosso blog sob a perspectiva da
Liturgia a Exortação Christus vivit, o
Instrumentum laboris e o Documento Final do Sínodo.
Portanto, aqui nos limitamos a indicar as referências à
Liturgia nos parágrafos dedicados à realidade juvenil no Diretório para a Catequese:
- o n. 244 destaca que, evangelizando os jovens e
deixando-se evangelizar por ele, a Igreja se renova, isto é, coloca-se em um
“processo de conversão espiritual, pastoral e missionária”. Assim, o Diretório exorta a “anunciar o Evangelho
ao mundo juvenil com coragem e criatividade, propondo a vida sacramental e o acompanhamento espiritual”;
- o n. 252, após recordar a importância de “escutar os
jovens com paciência”, propõe uma pastoral juvenil que articule formação,
celebração e outras dimensões, citando aqui o n. 204 da Christus vivit: “É necessário (...) chamar os jovens a acontecimentos
que, de vez em quando, lhes ofereçam um lugar onde não só recebam formação, mas
que também lhes permitam compartilhar a vida, celebrar, cantar, ouvir testemunhos concretos e experimentar o
encontro comunitário com o Deus vivo”.
- na mesma linha prossegue o n. 253 do Diretório, indicando que todo projeto formativo para os jovens e
com os jovens deve integrar “formação
litúrgica, espiritual, doutrinal e moral”. Esses projetos, como indica a
Exortação Christus vivit (n. 213)
devem estar centrados “no aprofundamento do querigma, a experiência fundante do
encontro com Deus através de Cristo Morto e Ressuscitado” e no “crescimento no
amor fraterno, na vida comunitária, no serviço”.
8.4 Catequese com adultos (nn. 257-265)
Passando à Catequese com adultos, o
parágrafo n. 262 indica cinco critérios para que essa seja significativa. Após
destacar o valor da comunidade, o segundo critério elenca algumas experiências
concretas a serem consideradas, dentre as quais a Liturgia:
“Uma vez que a catequese dos adultos é um
processo educativo da vida cristã em sua inteireza,
é importante que proponha experiências de vida de fé concretas e qualificantes
(aprofundamento da Sagrada Escritura e da doutrina; momentos de espiritualidade, celebrações litúrgicas e práticas de piedade
popular; experiência de fraternidade eclesial; exercício missionário da
caridade e do testemunho no mundo), que respondam às diversas exigências da pessoa
humana em sua integridade de afetos, pensamentos, relações” (n. 262b).
Na mesma linha, o quinto critério
(n. 262e) consiste na integração da Catequese de adultos com “as demais
dimensões da vida da fé”, incluindo a “experiência litúrgica”, de modo a
inserir gradativamente os adultos na vida da comunidade.
Assim como a Catequese familiar, a
Catequese com adultos possui várias formas, que são elencadas no n. 264:
a) “catequese enquanto verdadeira e própria iniciação à fé, ou seja, o
acompanhamento dos candidatos ao Batismo
e aos sacramentos da iniciação por meio da experiência catecumenal”: neste
caso, seguem-se todas as orientações do Ritual
da Iniciação Cristã de Adultos (RICA);
b) “catequese enquanto nova iniciação à fé, ou seja, o acompanhamento
daqueles que, embora batizados, não tenham
completado a iniciação ou não foram de fato evangelizados”: no caso dos
adultos já batizados que se preparam para os sacramentos da Confirmação e da
primeira Comunhão, o itinerário do RICA deve ser adaptado;
Papa Francisco batiza um adulto na Vigília Pascal |
c) “catequese enquanto
redescoberta da fé, por meio de ‘centros de escuta’ ou outras modalidades, ou mesmo
uma proposta de perspectiva evangelizadora voltada para os considerados
distantes”;
d) “catequese de anúncio da fé nos
ambientes da vida, do trabalho, do lazer ou nas manifestações de piedade popular ou peregrinação aos santuários”;
e) “catequese com casais por ocasião do Matrimônio ou mesmo na celebração
dos sacramentos dos filhos, que muitas vezes se torna um ponto de partida
para ulteriores experiências catequéticas”, como vimos na seção “Catequese e
família”;
f) “catequese para o
aprofundamento da fé a partir da Sagrada Escritura ou de um documento do
Magistério ou da vida dos santos e das testemunhas da fé”;
g) “catequese litúrgica, que visa uma participação consciente nas
celebrações comunitárias”;
h) “catequese sobre questões
morais, culturais ou sociopolíticas que visam a participação na vida da
sociedade, de forma ativa e inspirada na fé”;
i) “catequese no âmbito da
formação específica dos agentes pastorais, que se apresenta como oportunidade
privilegiada para itinerários de fé”.
8.5 Catequese com idosos (nn.
266-268)
8.6 Catequese com pessoas com deficiência (nn. 269-272)
Após a breve seção sobre os idosos (sem referências à
Liturgia), concluímos nossa postagem com a seção dedicada às pessoas com
deficiência. O n. 272 destaca sua relação com a Liturgia e os sacramentos”:
“As pessoas com
deficiência são chamadas à plenitude da vida sacramental, mesmo na presença
de transtornos graves. Os sacramentos são dons de Deus e a Liturgia, mesmo
antes antes de ser compreendida racionalmente, precisa ser vivida: ninguém pode, portanto, recusar os
sacramentos às pessoas com deficiência. A comunidade que sabe descobrir a
beleza e a alegria da fé desses irmãos torna-se mais rica. Por isso, são
importantes a inclusão pastoral e o envolvimento
na ação litúrgica, especialmente na dominical (Papa Bento XVI, Exortação
Apostólica Sacramentum caritatis, n. 58).
As pessoas com deficiência podem perceber a alta dimensão da fé que encerra a
vida sacramental, a oração e o anúncio da Palavra. De fato, não são somente
destinatários de catequese, mas protagonistas de evangelização” (n. 272).
Papa Francisco lava os pés de enfermos e pessoas com deficiência |
Sobre o envolvimento das pessoas com deficiência na ação
litúrgica, cabe valorizar as potencialidades da própria Liturgia. Com efeito,
suas múltiplas linguagens tocam todos os sentidos da pessoa humana: por
exemplo, os gestos e símbolos podem ajudar na evangelização dos deficientes
auditivos, enquanto a qualidade das leituras e dos cantos é fundamental para a
evangelização dos deficientes visuais.
Além disso, cabe sempre pensar o espaço litúrgico em termos
de acessibilidade, pensando nas pessoas com deficiência motora e nos idosos.
[Atualização: Para acessar a nona parte desta pesquisa, com as últimas três seções do capítulo VIII e a análise do capítulo IX, clique aqui]
Notas:
[1] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA
EVANGELIZAÇÃO. Diretório para a Catequese.
Brasília: Edições CNBB, 2020. Coleção: Documentos
da Igreja, 61.
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