Teodoro de Mopsuéstia
Sermão 15 sobre a Missa
Para
dar-nos a conhecer esses dons, chamou a si mesmo de pão
É notável que,
ao dar o pão, Ele não dissesse: “Isto é a figura de meu Corpo”, mas: Este é o meu Corpo; e da mesma maneira
sobre o cálice, não diz: “Isto é a figura do meu Sangue”, mas: Este é o meu Sangue; porque Ele quis que
tendo o pão e o vinho recebido a graça e a vinda do Espírito Santo, não
apreciemos mais a sua natureza, mas o recebamos como são: o Corpo e o Sangue de
nosso Senhor. Pois o Corpo de nosso Senhor também não teve, por sua própria
natureza, a imortalidade e o poder de dar a imortalidade, mas foi o Espírito
Santo que a deu, e pela Ressurreição dentre os mortos recebeu a conjunção com a
natureza divina, veio a ser imortal e causa de imortalidade para os demais.
Portanto, tendo
dito nosso Senhor: Aquele que come o meu
Corpo e bebe o meu Sangue viverá eternamente, quando viu aos judeus
murmurarem e duvidarem desta palavra - pensando que por meio de uma carne
mortal não é possível receber a imortalidade -, acrescentou para prontamente
resolver a dúvida: Se virdes ao Filho do
homem subir para onde estava antes, como se dissesse: “Agora não vos parece
certo porque disse isto de meu Corpo; porém, quando me vires ressuscitado
dentre os mortos e subir ao céu, certamente não se poderá mais ter por dura e
estranha esta palavra; porque pelos próprios fatos vos convencereis de que
passei para uma natureza imortal; se Eu não estivesse nela, não subiria ao
céu”.
E para indicar
de onde lhe virá isto, acrescenta em seguida: O Espírito vivifica, porém o corpo de nada serve. Isto, Ele diz,
lhe virá pela natureza do Espírito vivificante, pela qual Ele será transformado
para este estado, no qual Ele é imortal e concede a imortalidade aos demais -
aquilo que Ele não tinha e que não podia dar aos demais como proveniente de sua
natureza, porque a natureza da carne é impotente para um dom e um auxílio deste
gênero.
Porém, se a
natureza do Espírito vivificante fez o Corpo de nosso Senhor desta natureza, da
qual Ele não era antes, é preciso que tampouco nós, que recebemos a graça do
Espírito Santo pelas figuras sacramentais, ainda vejamos como pão e como vinho
o que nos é apresentado, mas consideremos que é o Corpo e o Sangue de Cristo,
nos quais são transformados pela descida da graça do Espírito Santo; ela, que
obtém para os que dela participam o mesmo que por meio do Corpo e Sangue de
nosso Senhor nós pensamos que recebem os fiéis.
Por isso Ele
diz: Eu sou o pão vivo descido do céu;
e Eu sou o pão da vida. E para
mostrar que Ele é aquilo que chama de pão, diz: E o pão que vos darei é meu Corpo para a vida do mundo. Já que, de
fato, nós subsistimos nesta vida por meio do pão e do alimento, Ele chama a si mesmo
pão vivo descido do céu, significando
isto: “Verdadeiramente Eu sou o pão da vida, que dá a imortalidade aos que
creem em mim, mediante este Corpo visível, pelo qual Eu desci e ao qual conferi
a imortalidade, e por meio do qual dou a vida aos que creem em mim”. Podendo
dizer: “Eu sou Aquele que dá a vida”, se abstém e, no lugar, diz: Eu sou o pão da vida.
De fato, já que
a imortalidade esperada, cuja promessa nos foi dada aqui, a vamos receber nas
figuras sacramentais por meio do pão e do cálice, Ele devia chamar “pão” a si
mesmo e ao seu Corpo, de modo que pela própria figura venerássemos Aquele que
reivindicou esta denominação; para dar-nos a conhecer esses dons, chamou a si
mesmo de “pão”, mas quis também, por estas coisas terrenas, fazer-nos receber
sem duvidar estes bens demasiado elevados para as palavras.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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