segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ângelus: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 29 de agosto de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje mostra alguns escribas e fariseus surpreendidos com a atitude de Jesus. Ficam escandalizados porque os seus discípulos comem sem executarem as abluções rituais tradicionais. Pensam consigo mesmos: “Este modo de fazer é contrário à prática religiosa” (Mc 7,2-5).

Também nós poderíamos perguntar: por que Jesus e os seus discípulos negligenciam estas tradições? Afinal de contas, não são más, são bons hábitos rituais, simples lavagens antes de comer. Por que Jesus não presta atenção a isso? Porque para ele é importante reconduzir a fé ao seu centro. No Evangelho vemos isto continuamente: este reconduzir a fé ao centro. E evitar um risco, que se aplica tanto àqueles escribas como a nós: observar formalidades externas, colocando o coração da fé em segundo plano. Com demasiada frequência, também nós “maquiamos” a alma. A formalidade externa e não o coração da fé: isto é um risco. É o risco de uma religiosidade da aparência: parecer bons por fora, negligenciando a purificação do coração. Há sempre a tentação de “agradar a Deus” com alguma devoção externa, mas Jesus não se contenta com este culto. Jesus não quer exterioridade, ele quer uma fé que chegue ao coração.

De fato, imediatamente a seguir, chama de novo a multidão para lhe dizer uma grande verdade: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro» (v. 15). Ao contrário, é «do interior do coração» (v. 21) que nascem as coisas más. Estas palavras são revolucionárias, pois na mentalidade daquela época pensava-se que certos alimentos ou contatos exteriores tornassem impuros. Jesus inverte a perspectiva: não faz mal o que vem de fora, mas o que nasce dentro.

Amados irmãos e irmãs, isto também nos diz respeito. Muitas vezes pensamos que o mal vem sobretudo de fora: do comportamento dos outros, daqueles que pensam mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo o que nos acontece! É sempre culpa dos “outros”: é culpa das pessoas, dos que governam, da má sorte, e assim por diante. Parece que os problemas vêm sempre de fora. E passamos o tempo a distribuir culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder tempo. Fica-se zangado, azedo, e mantém-se Deus longe do coração. Como aquelas pessoas do Evangelho, que se queixam, se escandalizam, fazem polêmicas e não acolhem Jesus. Não se pode ser verdadeiramente religioso na lamentação: ela envenena, leva à raiva, ao ressentimento e à tristeza, a tristeza do coração, que fecha as portas a Deus.

Peçamos hoje ao Senhor que nos liberte de culpar os outros - como fazem as crianças: “Não fui eu! Foi ele, aquele...”. Peçamos na oração a graça de não perder tempo poluindo o mundo com queixas, porque isto não é cristão. Pelo contrário, Jesus convida-nos a olhar para a vida e para o mundo a partir do nosso coração. Se olharmos para dentro, encontraremos quase tudo o que odiamos fora. E se pedirmos sinceramente a Deus para purificar os nossos corações, então começaremos a tornar o mundo mais limpo. Pois há uma forma infalível de vencer o mal: começar por vencê-lo dentro de si mesmo. Os primeiros Padres da Igreja, os monges, quando lhes perguntavam: “Qual é o caminho para a santidade? Como devo começar?”, diziam, o primeiro passo é acusar-se a si mesmo: acusa-te a ti mesmo. A acusação a nós mesmos. Quantos de nós, em algum momento do dia ou durante a semana, somos capazes de nos acusarmos a nós mesmos? “Sim, aquele fez-me isto, aquilo... aquele uma barbaridade...”. Mas eu? Faço o mesmo, ou faço-o de outro modo... É sabedoria: aprender a acusar-se a si mesmo. Experimentai a fazê-lo, vos fará bem. A mim faz bem, quando consigo fazê-lo, mas faz bem, a todos fará bem.

A Virgem Maria, que mudou a história através da pureza do seu coração, nos ajude a purificar o nosso, superando sobretudo o vício de culpar os outros e de nos queixarmos de tudo.

"Pois é de dentro do coração humano..." (Mc 7,21)

Fonte: Santa Sé.

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