sábado, 17 de julho de 2021

Homilia: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Basílio de Selêucia
Sermão 26
Eu sou o que cura as ovelhas enfermas

Com razão Cristo, sendo Pastor, exclamava: Eu sou o Bom Pastor. Eu sou aquele que curo as ovelhas enfermas, saro as frágeis, enfaixo as feridas, faço voltar as desgarradas, busco as perdidas. Eu vi o rebanho de Israel presa da enfermidade, vi o redil transformar-se em morada dos demônios, vi a grei acossada pelos demônios como se fossem lobos. E o que eu vi, não o desamparei.

Pois Eu sou o Bom Pastor: não como os fariseus que invejavam as ovelhas; não como aqueles que, em benefício próprio, foram para a grei causa de tormentos; não como aqueles que deploram a libertação dos males e se lamentam das enfermidades curadas. Ressuscita um morto, chora o fariseu; é curado um paralítico, e se lamentam os letrados; devolve-se a vista para um cego e o conselho se indigna; um leproso fica limpo e disputam os sacerdotes. Ó altivos pastores da infeliz grei, que têm como prazeres próprios as calamidades do rebanho!

Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por suas ovelhas, o pastor deixa-se conduzir ao matadouro como um cordeiro: não recusa a morte, não julga, não ameaça com a morte aos carrascos. Como a Paixão não era fruto da necessidade, assim voluntariamente aceitou a morte pelas ovelhas: Tenho poder para tirar a vida e tenho poder para recuperá-la. Expia a desgraça com a desgraça, remedia a morte com a morte, aniquila o sepulcro com o sepulcro, arranca os cravos e mina os fundamentos do inferno. A morte manteve seu império, até que Cristo aceitou a morte; os sepulcros eram um pesadelo e intransponíveis os cárceres, até que o Pastor, descendo, levou a feliz notícia se sua libertação às ovelhinhas que estavam prisioneiras. Os infernos o viram dar a ordem de partida; o viram repetindo a chamada da morte para a vida.

O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por este meio procura ganhar a amizade das ovelhas. Ama a Cristo aquele que escuta solícito a sua voz. O pastor sabe separar os cabritos das ovelhas: Vinde, benditos de meu Pai: herdai o reino preparado para vós desde a criação do mundo. Em recompensa de quê? Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui forasteiro e me hospedastes... Pois aquilo que concedes aos meus, de mim colherás. Eu, por sua causa, estou nu, sou hóspede, peregrino e pobre: seu é o dom, porém minha é a graça. Suas súplicas me dilaceram a alma.

Cristo sabe deixar-se vencer pelas orações e pelas dádivas dos pobres, sabe perdoar grandes tormentos baseado em pequenos dons. Extingamos o fogo com a misericórdia, afugentemos as ameaças contra nós mediante a observância da mútua amizade, abramos uns para os outros as entranhas de misericórdia, tendo nós mesmos recebido a graça de Deus em Cristo, a quem corresponde a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 431-432. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Gregório de Nissa para este domingo, clique aqui.

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