São Gregório Magno
Sermão 17 sobre os Evangelhos
Sobre
o ofício da pregação
Não leveis dinheiro, nem sacola, nem
sandálias; e não saudeis a ninguém pelo caminho. O pregador deve ter tanta
confiança em Deus que, mesmo que não se aprovisione do necessário para a vida
presente, esteja, contudo, muito seguro de que nada lhe faltará; não ocorra
que, por ter a atenção centrada nas coisas temporais, descuide de prover aos
demais as realidades eternas.
Quando entreis em uma casa, dizei primeiro:
Paz a esta casa. E se ali houver pessoas de paz, descansará sobre eles vossa
paz; se não voltará para vós. A paz que se oferece pela boca do pregador,
ou repousa na casa, se nela existem pessoas de paz, ou volta ao próprio pregador;
porque ou terá ali algum predestinado para a vida que colocará em prática a
palavra celestial que ouve, ou, se ninguém quiser ouvir, o próprio pregador não
ficará sem fruto, porque a ele retorna a paz, uma vez que o Senhor lhe
recompensará, concedendo-lhe a recompensa pelo trabalho realizado.
E vede como
aquele que proibiu levar sacola e dinheiro concede os meios necessários de
subsistência através da própria pregação, pois acrescenta: Ficando na mesma casa, comei e bebei daquilo que tiverem: porque o trabalhador
merece o seu salário. Se nossa paz é aceita, justo é que fiquemos na mesma
casa, comendo e bebendo daquilo que tenham, e assim recebamos uma retribuição
terrena daqueles a quem oferecemos os prêmios da pátria celestial. Deste modo,
a recompensa que se recebe na vida presente deve estimular-nos a aspirar com
mais entusiasmo a recompensa futura.
Por isso, um
pregador já experimentado não deve pregar nem receber a recompensa nesta terra,
mas deve receber a paga para poder continuar pregando. Porque quem prega para
receber a recompensa aqui, em honra ou em moeda, priva-se indubitavelmente da
recompensa eterna. Porém, quem prega buscando agradar aos homens para atraí-los
com suas palavras ao amor do Senhor, não ao seu próprio, ou recebe uma retribuição
para não acabar extenuado no ministério da pregação por causa de sua pobreza,
este certamente receberá a sua recompensa na pátria celestial, porque durante
sua peregrinação somente recebeu o estritamente necessário.
E o que nós
fazemos, ó pastores, que não só recebemos a recompensa, mas ainda por cima não
somos operários? Recebemos, já o creio, os frutos da santa Igreja para nosso
sustento cotidiano, e, contudo, não nos aplicamos a fundo na pregação em
benefício da Igreja eterna. Pensemos qual será a penalização subsequente ao
fato de ter recebido um salário sem ter completado a jornada laboral. Vejam,
nós vivemos das oferendas dos fiéis; e o que fazemos por suas almas? Invertemos
em gastos pessoais aquilo que os fiéis ofereceram para remissão de seus pecados,
e, no entanto, não nos esforçamos, como seria justo, em lutar com dedicação
para a oração ou para a pregação contra esses mesmos pecados.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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