sábado, 21 de maio de 2022

A celebração da Vigília de Pentecostes

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós. Aleluia!” (Rm 5,5).

A Solenidade de Pentecostes, no 50º dia após a Páscoa, conta-se entre as mais importantes celebrações do Ano Litúrgico.

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.

Essa Solenidade conta com dois formulários de Missa: a Missa da Vigília, a ser celebrada na tarde do sábado, antes ou depois das I Vésperas (isto é, antes ou após o pôr-do-sol), e a Missa do Dia, a ser celebrada ao longo de todo o domingo. Nesta postagem nos deteremos no rito da Vigília de Pentecostes.

“De modo semelhante à Vigília Pascal, introduziu-se em diversas igrejas o costume de começar várias solenidades com uma vigília. Entre elas se destacam a vigília do Natal do Senhor e do Pentecostes. Essa prática deverá ser mantida e incentivada, segundo os costumes próprios de cada Igreja” (Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 71).

Altar do Espírito Santo
(Igreja de São Domingos, Londres)

1. A Missa da Vigília de Pentecostes

Das oito Solenidades que possuem uma Missa da Vigília, seis celebram-se com o rito da “Missa estacional”, isto é, com o rito da Missa solene, como de costume, sem nenhuma particularidade litúrgica [1]. A Vigília Pascal, por sua vez, possui toda a Liturgia própria, ao passo que a Vigília de Pentecostes adota uma “posição intermediária”, com duas formas à escolha:

- “forma breve”: celebra-se a “Missa estacional”, como de costume. Lê-se uma das quatro leituras do Antigo Testamento à escolha (Gn 11,1-19 ou Ex 19,3-8a.16-20b ou Ez 37,1-14 ou Jl 3,1-5), seguida do Sl 103 e das leituras do Novo Testamento (Rm 8,22-27 e Jo 7,37-39).

- “forma prolongada”: os ritos iniciais e a Liturgia da Palavra seguem uma estrutura própria, que descreveremos a seguir.

Vigília de Pentecostes: Forma prolongada

O que se deve preparar:
- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa (túnica, estola e casula)
- Círio pascal, junto ao ambão
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional
- Dois a seis castiçais com velas
- Missal Romano
- Livro dos Evangelhos
- Caldeirinha de água benta e aspersório (se for realizada a aspersão).

Sobre o uso do candelabro de sete velas ou menorá:

No Rito Romano, só se dispõem sete velas sobre o altar ou junto dele quando quem preside a Missa é o Bispo Diocesano. Nas demais celebrações o altar é ornado com duas, quatro ou seis velas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano [IGMR], 3ª edição, n. 117).

O ambão, por sua vez, é ornado por duas velas apenas durante a proclamação do Evangelho, geralmente sustentadas pelos acólitos, destacando a centralidade do Evangelho dentro da Palavra de Deus (cf. Elenco das Leituras da Missa, nn. 13.17).

Candelabro com sete lamparinas (menorá)

O candelabro com sete velas ou lamparinas, chamado “menorá” ou menorah (Ex 25,31-40; 37,17-24), simboliza na tradição judaica a sarça ardente onde o Senhor revelou-se a Moisés, enquanto suas sete chamas foram interpretadas em alusão aos “dias da criação”. Permanecia sempre aceso na Tenda da Reunião e no Templo de Jerusalém (Lv 24,1-4) como símbolo perpétuo da aliança (algo semelhante à lâmpada sempre acesa junto ao sacrário ou tabernáculo nas igrejas cristãs).

Embora a partir da Idade Média esse candelabro possa ser encontrado em algumas igrejas cristãs, no Rito Romano este sempre se situava fora do presbitério, em uma capela lateral. Assim, a “menorá” deve ser colocada sempre fora do presbitério, e acesa preferencialmente fora da Liturgia, por exemplo, em manifestações da piedade popular (como na novena de Pentecostes ou em “celebrações catequéticas”).

a) Ritos iniciais

Uma vez que Vigília de Pentecostes está unida à Missa, formando um único ato de culto, o sacerdote reveste desde o início os paramentos para a Missa: túnica, estola e casula, como na Vigília Pascal.

A celebração inicia-se com a procissão de entrada, como de costume, acompanhada do canto de entrada, que pode ser inspirado na antífona proposta pelo Missal (p. 317): “O amor de Deus foi derramado em nossos corações... (cf. Rm 5,5).

Após venerar e incensar o altar, o sacerdote inicia a celebração com o sinal da cruz e a saudação, como de costume.

Segue-se o Ato Penitencial que, como em todos os domingos, pode ser substituído pela bênção e aspersão da água (cf. IGMR, n. 51), sobretudo se consideramos que esta é um dos símbolos do Espírito Santo e será mencionada no Evangelho da Vigília.

O Papa Francisco asperge os fiéis
(Missa do Domingo de Pentecostes 2015)

O acólito aproxima-se do sacerdote com a caldeirinha com água, que, após uma breve monição - “Irmãos e irmãs em Cristo, invoquemos o Senhor nosso Deus...” (Missal, p. 1001), abençoa a água recitando a oração indicada para o Tempo Pascal: “Senhor nosso Deus, velai sobre o vosso povo...” (p. 1002).

O sacerdote percorre então a igreja aspergindo os fiéis, enquanto entoam-se as antífonas indicas no Missal (p. 1003) ou outro canto adequado. De volta à cadeira, o sacerdote recita a oração conclusiva do rito: “Que Deus todo-poderoso nos purifique...” (ibid.).

Caso não se realize a aspersão, convém adotar a terceira forma do Ato Penitencial, valorizando as invocações sugeridas pelo Missal para o Tempo Pascal (pp. 397-398).

Após a aspersão canta-se ou recita-se o Kyrie eleison (Senhor, tende piedade de nós), exceto quando se adota a terceira forma (cf. Missal, p. 398).

Concluindo os ritos iniciais, o sacerdote recita a 2ª opção de oração do dia da Vigília: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que brilhe sobre nós o esplendor da vossa claridade...” (Missal, p. 317).

b) Liturgia da Palavra

Após a oração, todos se sentam e o sacerdote profere a monição introdutória à Liturgia da Palavra: “Introduzidos na Vigília de Pentecostes, irmãs e irmãos caríssimos, a exemplo dos Apóstolos e dos discípulos...” (Missal, p. 997).

Seguem-se as quatro leituras do Antigo Testamento, adotando um esquema semelhante ao da Vigília Pascal: o leitor profere a leitura, seguida do respectivo salmo ou cântico. Todos então se levantam e o sacerdote recita a oração indicada no Missal.

O Papa Francisco profere a monição antes das leituras
(Vigília de Pentecostes 2019)

1ª leitura: Gn 11,1-9 (“Foi chamada Babel...”);
Salmo: Sl 32,10-15; R: v. 12b (“Feliz o povo que Deus escolheu por sua herança”);
Oração: “Ó Deus, que a vossa Igreja seja sempre aquele povo santo...” (Missal, p. 998).

2ª leitura: Ex 19,3-8a.16-20b (“O Senhor descerá diante de todo o povo...”);
Salmo: Dn 3,52-56; R: v. 52b (“A vós louvor, honra e glória eternamente”) ou Sl 18,8-11; R: Jo 6,68c (“Vós tendes, Senhor, palavras de vida eterna”);
Oração: “Ó Deus, entre clarões de fogo destes na montanha do Sinai a antiga lei a Moisés...” (Missal, p. 998).

3ª leitura: Ez 37,1-14 (“Ossos ressequidos, eu vou fazer entrar um espírito em vós...”);
Salmo: Sl 106,2-9; R: v. 1 (“Dai graças ao Senhor, porque eterna é sua misericórdia”) ou “Aleuia, aleluia, aleluia”;
Oração: “Senhor todo-poderoso, que restaurais tudo o que decaiu...” ou “Ó Deus, que nos fizestes renascer pela palavra da vida...” ou “Ó Deus, que o vosso povo exulte na juventude renovada do Espírito...” (Missal, p. 999).

4ª leitura: Jl 3,1-5 (“Sobre meus servos e servas derramarei o meu espírito...”);
Salmo: Sl 103,1-2a.24 e 35c.27-28.29bc-30; R: v. 30 (“Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai”) ou “Aleuia, aleluia, aleluia”;
Oração: “Senhor, realizai em nós a vossa promessa...” (Missal, p. 1001)

Recitada a oração após a quarta leitura, todos permanecem em pé e canta-se o Glória, sempre com o texto indicado no Missal (pp. 398-399).

Concluído o Glória, o sacerdote recita a 1ª opção de oração do dia da Vigília: “Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o Mistério Pascal se completasse durante cinquenta dias...” (Missal, p. 317).

Após a oração, todos se sentam novamente e o leitor proclama a Epístola, isto é, a leitura do Novo Testamento: Rm 8,22-27. Segue-se a aclamação e o Evangelho (Jo 7,37-39), como de costume, ao qual os acólitos levam duas velas e o incenso.

O Papa Francisco ouve o Evangelho da Vigília de Pentecostes

A Missa prossegue então como de costume, concluindo-se a Liturgia da Palavra com a homilia, a profissão de fé (Creio) e a Oração Universal ou Oração dos Fiéis (Preces).

A celebração da Confirmação na Vigília de Pentecostes

A Carta Circular Paschalis Sollemnitatis recorda que a Vigília de Pentecostes “não tem um caráter batismal como a vigília da Páscoa, mas de oração intensa segundo o exemplo dos Apóstolos e discípulos, que perseveravam unânimes em oração juntamente com Maria, a Mãe de Jesus, esperando a vinda do Espírito Santo” (n. 107) [2].

O Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) deixa claro que a administração dos sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação, Eucaristia) aos adultos tem lugar na Vigília Pascal (n. 55).

Não obstante, quando adultos já batizados pedem à Igreja o sacramento da Confirmação, este “pode ser transferido para o término do tempo da mistagogia, por exemplo, para o Domingo de Pentecostes” (n. 31).

Nesse caso, os ritos da Confirmação têm lugar após a homilia, conforme indicado no respectivo Ritual: renovação das promessas batismais, oração e imposição das mãos, unção com o Crisma... [3].

c) Liturgia Eucarística e Ritos finais

Na Oração Eucarística toma-se o Prefácio de Pentecostes, como na Missa do dia (Missal, p. 319).

Recomenda-se vivamente rezar a Oração Eucarística I, que, além de mencionar os Doze Apóstolos, possui o Communicantes próprio para esse dia: o “Em comunhão com toda a Igreja celebramos o dia santo de Pentecostes...” (Missal, p. 471).

Para acessar nossa postagem sobre quando usar cada Oração Eucarística, clique aqui.

Missa da Vigília de Pentecostes (2019)

No final da celebração convém tomar a bênção própria para Pentecostes: “Deus, o Pai das luzes, que hoje iluminou os corações dos discípulos...” (Missal, p. 524).

À despedida o diácono ou sacerdote acrescenta o duplo Aleluia: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe, aleluia, aleluia! R: Graças a Deus, aleluia, aleluia!” (Missal, p. 320).

2. A Vigília de Pentecostes unida à oração das Vésperas

O Missal indica ainda que a Missa da Vigília de Pentecostes pode ser celebrada unida às Vésperas, isto é, à oração da tarde da Liturgia das Horas (Missal, p. 997; cf. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas [IGLH], n. 96).

Nesse caso, além do que indicamos anteriormente, observa-se o seguinte:

- ao invés do sinal da cruz e da saudação, a Missa pode iniciar com o versículo introdutório (“Vinde, ó Deus, em meu auxílio...”) e o hino das Vésperas, o célebre Veni, Creator Spiritus - Ó, vinde, Espírito Criador (Liturgia das Horas, v. II, p. 915);

- após a saudação inicial (ou após o hino) todos se sentam e entoa-se a salmodia das Vésperas, que substitui o Ato Penitencial: Sl 112 (113); Sl 146 (147A); Ap 15,3-4 (Liturgia das Horas, v. II, pp. 916-918);

- as Preces podem ser tomadas do formulário das Vésperas (Liturgia das Horas, v. II, pp. 918-919);

- após a Comunhão todos se levantam e se entoa o cântico evangélico das Vésperas: o Magnificat ou cântico da Virgem Maria (Lc 1,46-55) com sua antífona (Liturgia das Horas, v. II, p. 918). Em seguida o sacerdote recita a oração após a Comunhão.

Vésperas de Pentecostes (fora da Missa):
Incensação do altar durante o cântico evangélico

3. Outras formas de “Vigília de Pentecostes”

Tudo o que dissemos anteriormente refere-se à Missa da Vigília de Pentecostes. Não obstante, sobretudo na ausência do sacerdote, as comunidades podem também celebrar outras formas de “Vigília de Pentecostes” fora da Missa.

Dentre essas formas “alternativas” da Vigília de Pentecostes, podemos destacar:

- Celebração da Palavra de Deus: com as leituras da Missa da Vigília, indicadas acima, concluindo com as Preces, a oração do Senhor (Pai nosso) e a bênção final. Nessa Celebração pode realizar-se também a distribuição da Comunhão;

- Liturgia das Horas: além das Vésperas, que mencionamos anteriormente, a preparação dos domingos e solenidades pode ser realizada com a oração do Ofício das Leituras unido ao rito das “Vigílias” (cf. IGLH, n. 73).

No caso do Domingo de Pentecostes, essa Vigília segue a seguinte estrutura:
- Versículo introdutório (“Vinde, ó Deus, em meu auxílio...”);
- Hino: “Suave luz, luz esplêndida...” (Liturgia das Horas, v. II, p. 920);
- Salmodia: Sl 103 (104), dividido em três partes (pp. 920-923);
- Versículo: “O Espírito do Senhor encheu todo o universo...” (p. 924);
- 1ª leitura: Rm 8,5-27 (pp. 924-925);
- 2ª leitura: Do Tratado contra as heresias de Santo Irineu (pp. 926-927);
- Cânticos das Vigílias: Is 63,1-5; Os 6,1-6; Sf 3,8-13 (pp. 1987-1990);
- Evangelho: Jo 7,37-39 (Missa da Vigília);
- Hino: Te Deum (“A vós, ó Deus, louvamos..”);
- Oração final (p. 930).

- Adoração ao Santíssimo Sacramento: a Vigília de Pentecostes também pode ser celebrada através da exposição prolongada do Santíssimo Sacramento, durante a qual podem ter lugar leituras, orações, recitação da Liturgia das Horas, oração do Terço ou Rosário, ou mesmo outras manifestações da piedade popular.

Adoração ao Santíssimo Sacramento durante as Vésperas de Pentecostes

Quando a “Vigília de Pentecostes” fora da Missa é presidida por um sacerdote ou diácono, este pode endossar a estola vermelha sobre a túnica ou sobre a veste talar (batina) com sobrepeliz.

Quando a Vigília se realiza em uma Celebração da Palavra ou na Liturgia das Horas, sobre a túnica e a estola o sacerdote pode endossar ainda o pluvial e o diácono a dalmática (cf. IGLH, n. 255).

Cabe destacar, por fim, dentre as manifestações de piedade popular ligadas à Vigília de Pentecostes, a “Memória do Sacramento da Confirmação” realizada na Missa da Vigília de Pentecostes presidida pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro em 2019:

Recitada a oração após a Comunhão, um leitor proferiu preces invocando cada um dos sete dons do Espírito Santo, intercaladas pela resposta da assembleia. A cada prece, tomando a chama do círio pascal, foi aceso um braseiro disposto ao longo da praça, isto é, da “nave da igreja”.

Notas:

[1] Na 2ª edição do Missal Romano, utilizada atualmente no Brasil, essas Solenidades são: Natal do Senhor, Assunção de Maria, Natividade de São João Batista e São Pedro e São Paulo. A 3ª edição do Missal, ainda sem tradução para o Brasil, acrescenta as Missas da Vigília da Epifania e da Ascensão do Senhor.

[2] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Paschalis Sollemnitatis: A preparação e celebração das festas pascais. Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 39. Coleção: Documentos da Igreja, n. 38.

[3] cf. CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 138-142.


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Referências:

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2010.

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre o Missal Romano: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.

MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.

OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 2000, v. II: Tempo da Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo Pascal.

RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS. Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo: Paulus, 2001.

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