Na sequência de nossa publicação sobre as celebrações dos Santos Doutores da Igreja, propomos aqui a segunda das meditações do Padre Raniero Cantalamessa proferidas ao Papa e à Cúria Romana na Quaresma de 2012 e dedicadas a quatro Doutores do Oriente.
Hoje meditamos com São Gregório Nazianzeno sobre a fé na Trindade:
Pe. Raniero
Cantalamessa, OFMCap
II pregação de Quaresma
16 de março de 2012
São Gregório Nazianzeno: Mestre de fé na Trindade
Em anos não distantes, tem-se havido propostas teológicas
que, apesar das profundas diferenças entre elas, tinham um esquema de fundo
comum, às vezes claro, às vezes implícito. Tal esquema é muito simples, porque
redutivo. Os dois maiores mistérios da nossa fé são a Trindade e a Encarnação:
Deus é uno e trino; Jesus Cristo é Deus e homem. A essência das propostas às
quais me refiro diz assim: Deus é uno e Jesus Cristo é homem. Cai a divindade
de Cristo e, com essa, a Trindade.
O resultado deste processo é que se acaba aceitando
tacitamente e hipocritamente a existência de duas fés e de dois cristianismos
diferentes, que só têm o nome em comum: o cristianismo do Credo da Igreja, das
declarações ecumênicas conjuntas, nas quais, com as palavras do Símbolo
Niceno-Constantinopolitano, continua a professar a fé na Santíssima Trindade e
na plena divindade de Cristo; e o cristianismo de grandes segmentos da cultura,
também exegética e teológica, nas quais estas mesmas verdades são ignoradas ou
interpretadas de forma bastante diferente.
Neste clima, é particularmente oportuna uma revisitação dos
Padres da Igreja, não só para conhecer o conteúdo do dogma no seu estado
nascente, mas ainda mais para reencontrar a unidade entre a fé professada e a
fé vivida, entre a “coisa” e o seu “enunciado”. Para os Padres, a Trindade e a
unidade de Deus, a dualidade das naturezas e a unicidade da pessoa de Cristo
não eram verdades para se discutir na teoria somente ou nos livros em diálogo
com outros livros; eram realidades vitais. Parafraseando uma piada que circula
nos ambientes esportivos, poderemos dizer que tais verdades não eram para eles
questão de vida ou de morte: eram muito mais!
1.
Gregório Nazianzeno, cantor da Trindade
O “gigante” sobre o qual queremos “subir nas costas” hoje é
São Gregório Nazianzeno, o horizonte que queremos vasculhar com ele é a
Trindade. É seu o grandioso quadro que mostra o desdobrar-se da revelação da
Trindade na história e a pedagogia de Deus que se revela nela. O Antigo
Testamento, escreve, proclama abertamente a existência do Pai e começa a
anunciar veladamente aquela do Filho; o Novo Testamento proclama abertamente o
Filho e começa a revelar a divindade do Espírito Santo; agora, na Igreja, o
Espírito nos concede distintamente a sua manifestação e se confessa a glória da
beata Trindade. Deus dosou a sua manifestação, adaptando-a aos tempos e à
capacidade receptiva dos homens [1].
Esta divisão tríplice não tem nada a ver com a tese,
conhecida sob o nome de Joaquim de Fiore, dos três períodos distintos: aquele
do Pai no Antigo Testamento, aquele do Filho no Novo e aquele do Espírito na
Igreja. A distinção de São Gregório se coloca na ordem da manifestação, não do
ser ou do agir das Três Pessoas, que estão presentes e obram juntas em todo o
arco do tempo.
São Gregório Nazianzeno recebeu da tradição o título de “o
Teólogo” (hô theólogos), justo por
causa da sua contribuição para a compreensão do dogma trinitário. O seu mérito
foi ter dado à ortodoxia trinitária a sua formulação perfeita, com frases
destinadas à se tornarem patrimônio comum da teologia. O símbolo
pseudo-atanasiano “Quicumque”,
composto aproximadamente um século depois, deve bastante a Gregório Nazianzeno.
São Gregório Nazianzeno |
Eis algumas das suas fórmulas cristalinas: “Era, e era, e
era: mas era um só. Luz e luz e luz: mas uma só luz. Isto é o que Davi imaginou
quando disse: ‘Na tua luz veremos a luz’ (Sl
35,10). E agora nós a contemplamos e a anunciamos, da luz que é o Pai
compreendendo a luz que é o Filho na luz do Espírito: eis a breve e concisa
teologia da Trindade (...) Deus, se é que podemos falar de forma sucinta, é
indivisível em seres divisíveis uns dos outros” [2].
A principal contribuição dos Capadócios na formulação do
dogma trinitário é aquela de ter levado até o fim a distinção dos dois
conceitos de ousia e hipóstase,
substância e pessoa, criando a base conceitual permanente com a qual se exprime
a fé na Trindade. Trata-se de uma das maiores inovações que a teologia cristã
introduziu no pensamento humano. Dessa foi possível se desenvolver o moderno
conceito de pessoa como relação. O lado fraco da sua teologia trinitária, e que
eles mesmos se deram conta, era o perigo de conceber a relação entre a única
substância divina e as três hipóstases do Pai, do Filho e do Espírito Santo da
mesma forma que a relação que existe na natureza entre as espécies e os
indivíduos (por exemplo, entre a espécie humana e os indivíduos homens), expondo-se
assim às acusações de triteísmo [3].
Gregório Nazianzeno se esforça para responder a esta
dificuldade, dizendo que cada uma das três pessoas divinas não é menos unida às
outras duas do que é unida a si mesma [4]. Rejeita, pelo mesmo motivo, as
semelhanças tradicionais de “fonte, riacho, rio” ou “sol, raio, luz” [5]. Ao
final admite candidamente, porém, que prefere esse risco ao do modalismo: “É
melhor - diz ele - ter uma ideia, talvez insuficiente, da união dos Três, do
que ousar uma impiedade absoluta” [6].
Por que escolher São Gregório Nazianzeno como mestre de fé
na Trindade? O motivo é o mesmo pelo qual escolhemos Atanásio como mestre de fé
na divindade de Cristo. É que, para Gregório, a Trindade não é uma verdade
abstrata, ou apenas um dogma; é a sua paixão, o seu ambiente vital, algo que
vibra o seu coração só com a menção.
Os ortodoxos chamam-no de “o cantor da Trindade”. Isto
corresponde perfeitamente ao que sabemos da sua personalidade humana. O
Nazianzeno é um homem com um coração maior do que a mente, um temperamento
exageradamente sensível, de modo a causar-lhe não poucos sofrimentos e
decepções nos seus relacionamentos com os outros, começando com o seu amigo São
Basílio.
É na sua produção poética que se revela sobretudo o seu
entusiasmo pela Trindade. Ele usa expressões como “a minha Trindade”, “a amada
Trindade” [7]. Gregório é um apaixonado da Trindade. Escreve sobre si mesmo:
“Desde o dia em que eu renunciei às coisas deste mundo para
consagrar a minha alma às contemplações luminosas e celestiais, quando a
inteligência suprema me sequestrou daqui de baixo para colocar-me distante de
tudo o que é carnal, daquele dia os meus olhos foram ofuscados pela luz da
Trindade... Da sua sublime sede ela espalha sobre todas as coisas o seu brilho
inefável… A partir daquele dia eu estou morto para o mundo e o mundo está morto
para mim” [8].
Basta comparar estas palavras com as expressões tecnicamente
perfeitas, mas frias do Símbolo “Quicumque”,
que se recitava há um tempo no Ofício Divino do domingo, para que nos demos
conta da distância que separa a fé vivida pelos Padres daquela formal e
repetitiva que se instaura depois deles, ainda que esta última possua também
uma tarefa importante.
2.
Não podemos viver sem a Trindade
Agora, como sempre, algumas reflexões sobre aquilo que os
Padres podem oferecer-nos, neste campo, para uma renovação da nossa fé. Sabemos
que a teologia ocidental sempre teve de se defender contra o risco do triteísmo
do qual, temos visto, deve defender-se o Nazianzeno; o risco de enfatizar a
unidade da natureza divina em detrimento da distinção das pessoas.
Sobre este terreno foi possível se desenvolver a visão
deística de Descartes e dos Iluministas que prescinde totalmente da Trindade
para concentrar-se unicamente em Deus, concebido como Ser supremo ou como “a
divindade”. Kant chegou com isso à famosa conclusão de que “da doutrina trinitária,
tomada literalmente, não é possível tirar nada de prático” [9]. Ela, em outras
palavras, seria irrelevante para a vida dos homens e da Igreja.
Isto foi sem dúvida um dos fatores que aplainou o caminho do
ateísmo moderno. Se tivesse permanecido viva na teologia a ideia do Deus Uno e
Trino, antes de falar de um vago “Ser supremo”, não teria sido muito fácil para
Feuerbach fazer triunfar a sua tese de que Deus é uma projeção que o homem faz
de si mesmo e da própria essência. Que necessidade teria então o homem de
dividir-se em três: em Pai, Filho e Espírito Santo? E em que sentido a Trindade
pode ser a projeção e a sublimação que o espírito humano faz de si mesmo? É o
vago deísmo que foi demolido por Feuerbach, não a fé no Deus Uno e Trino.
Mas se a visão latina da Trindade, por um lado, abre brecha
para este desvio deístico, por outro lado contém o remédio mais eficaz contra
ele. Nunca seremos o suficientemente gratos a Agostinho por ter feito o seu
discurso da Trindade sobre a palavra de João: “Deus é amor” (1Jo 4,10). Deus é amor: por isso,
conclui Agostinho, ele é Trindade! “O amor supõe um que ama, o que é amado e o
mesmo amor” [10]. O Pai é, na Trindade, aquele que ama, a fonte e o princípio
de tudo; o Filho é aquele que é amado; o Espírito Santo é o amor com o qual se
amam.
Todo amor é amor de alguém ou de algo, como todo
conhecimento, explicou Husserl, é conhecimento de algo. Não existe um amor “vazio”,
sem objeto. Ora, quem ama a Deus, para ser definido amor? O homem? Mas então é
amor só de apenas algumas centenas de milhões de anos. O universo? Mas então é
amor somente de algumas poucas dezenas de bilhões de anos. E antes quem amava a
Deus para ser amor? Os pensadores gregos e, em geral, as filosofias religiosas
de todos os tempos, concebendo a Deus principalmente como um “pensamento”,
podiam responder: Deus pensava a si mesmo; era “pensamento puro”, “pensamento
de pensamento”. Mas isto não é possível, no momento em que se diz que Deus é
antes de tudo amor, porque o “puro amor de si mesmo” seria então puro egoísmo,
que não é exaltação máxima do amor, mas a sua total negação.
E aqui está a resposta da Revelação, explicitada pela Igreja
com a sua doutrina da Trindade. Deus é amor desde sempre, ab aeterno, porque antes
mesmo de que existisse um objeto fora de si para amar, tinha em si mesmo o
Verbo, o Filho que amava com amor infinito, ou seja, “no Espírito Santo”. Isso
não explica como a Unidade possa ser simultaneamente Trindade (isso é um
mistério incognoscível por nós porque acontece somente em Deus), mas nos é
suficiente, ao menos, intuir porque, em Deus, a Unidade deve ser também
pluralidade, também Trindade.
Um Deus que fosse puro Conhecimento, ou pura Lei, ou puro
Poder, não teria certamente necessidade de ser Trino (este fato complicaria
ainda mais as coisas); mas um Deus que é acima de tudo Amor sim, porque “em
menos de dois, não pode haver amor”. “É necessário - escreveu Henri de Lubac -
que o mundo conheça: a revelação do Deus Amor perturba todo o conceito que ele
tinha da divindade” [11].
Aquela do amor é certamente uma analogia humana, mas é sem
dúvida aquela que melhor nos permite vislumbrar as profundezas misteriosas de
Deus. Nisso se vê como a teologia latina integra aquela grega e as duas não
podem dispensar-se mutuamente. O tema do amor está quase inteiramente ausente
na teologia trinitária dos orientais que usam de preferência a analogia da luz.
É necessário esperar Gregório Palamas para ler, no âmbito grego, algo análogo
do que disse Agostinho sobre o amor na Trindade [12].
Alguns gostariam de colocar hoje entre parênteses o dogma da
Trindade para facilitar o diálogo com as outras grandes religiões monoteístas.
É uma operação suicida. Seria como tirar a espinha dorsal de uma pessoa para
fazê-la caminhar mais facilmente! A Trindade está tão impressa na teologia, na Liturgia,
na espiritualidade e em toda a vida cristã que renunciar a ela significaria
iniciar outra religião, completamente diferente.
O que deve ser feito é, antes, como os Padres nos ensinam,
tirar esse mistério dos livros de teologia e colocá-los na vida, de modo que a
Trindade não seja só um mistério estudado e formulado corretamente, mas vivido,
adorado, gozado. A vida cristã se desenvolve, do começo ao fim, no sinal e na
presença da Trindade. Na aurora da vida, fomos batizados “em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo” e, no final, se tivermos a graça de uma morte
cristã, ao nosso lado serão pronunciadas estas palavras: “Parte, alma cristã,
deste mundo: em nome do Pai que te criou e do Filho que te redimiu e do
Espírito Santo que te santificou”.
Entre estes dois momentos extremos, são colocados outros
momentos assim chamados “de passagem” que, para um cristão, são marcados pela
invocação da Trindade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo os esposos
são unidos em matrimônio e se trocam o anel, e os sacerdotes e os bispos são
consagrados. Em nome da Trindade iniciavam uma vez os contratos, as sentenças e
cada ato importante da vida civil e religiosa. A Trindade é o ventre do qual
nascemos (cf. Ef 1,4) e é também o
porto para o qual todos navegamos. É “o oceano de paz” do qual tudo jorra e no
qual tudo flui.
3.
“O Beata Trinitas!”
São Gregório Nazianzeno deveria ter suscitado em nós o
desejo ardente da Trindade: fazer dela a “nossa” Trindade, a “amada” Trindade,
a “cara” Trindade. Alguns desses toques de sincera adoração e espanto
sobressaem nos textos da Solenidade da Santíssima Trindade. Devemos fazê-los
passar da Liturgia para a vida. Existe algo mais santo que podemos fazer com
relação à Trindade do que buscar compreendê-la, e é entrar nela! Não podemos
abraçar o oceano, mas podemos entrar nele; não podemos abraçar o mistério da
Trindade com a nossa mente, mas podemos entrar nele!
A “porta” para entrar na Trindade é só uma: Jesus Cristo.
Com a sua Morte e Ressurreição ele inaugurou para nós um caminho novo e vivente
para entrar no santo dos santos que é a Trindade (cf. Hb 10,19-20) e deixou-nos os meios para poder segui-lo nesta
viagem de retorno. O primeiro e mais universal é a Igreja. Quando se quer
atravessar um braço de mar, dizia Agostinho, a coisa mais importante não é
estar na margem e aguçar a visão para ver o que há do outro lado, mas é subir
na barca que leva até a margem. E também para nós a coisa mais importante não é
especular sobre a Trindade, mas permanecer na fé da Igreja que vai em direção a
ela [13].
Na Igreja, a Eucaristia é o meio por excelência. A Missa é
uma ação trinitária do início ao fim; começa em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo e termina com a bênção do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Essa é a
oferta que Jesus, Cabeça e Corpo Místico, faz de Si mesmo ao Pai no Espírito
Santo. Através dele, entramos realmente no coração da Trindade.
Para os irmãos ortodoxos, um importante meio para entrar no
mistério é o ícone. A Trindade de Rublev é uma síntese visual da doutrina
trinitária dos Capadócios, particularmente de Gregório Nazianzeno. Nela
percebe-se, em igual medida, movimento incessante e quietude sobre-humana,
transcendência e condescendência. O dogma da Unidade e Trindade de Deus é
expresso pelo fato de que as figuras presentes são três e bem distintas, mas
muito semelhantes entre elas. Estão idealmente contidas dentro de um círculo
que destaca a sua unidade; mas com o seu diverso movimento e disposição
proclamam também a sua distinção. O santo, para cujo mosteiro foi pintado o
ícone, São Sérgio de Radonezh, havia se distinguido na história russa por ter
trazido a unidade entre os líderes em desacordo entre si e de ter tornado assim
possível a libertação da Rússia pelos tártaros que a tinham invadido. O seu
lema - que Rublev tem se esforçado para interpretar o ícone - era:
“Contemplando a Santíssima Trindade, vencer a discórdia odiosa deste mundo”.
São Gregório Nazianzeno tinha expressado um pensamento semelhante nestes versos
que parecem o seu testamento espiritual:
“Busco a solidão, um lugar inacessível para o mal,
onde com mente única buscar o meu Deus
e aliviar a minha velhice com a doce esperança do céu.
O que vou deixar à Igreja? Vou deixar as minhas lágrimas!
(...)
Dirijo o meu pensamento para a morada que não conhece ocaso,
para a minha querida Trindade, única luz,
da qual só a sombra escura me comove agora” [14].
A espiritualidade latina não é menos rica de ajuda para
fazer da Trindade um mistério próximo, amado. Ela também insiste sobre o
movimento oposto: não nós que entramos na Trindade, mas a Trindade que entra em
nós. Na tradição ortodoxa, a doutrina da inabitação é referida de preferência à
pessoa do Espírito Santo. É a teologia latina que desenvolveu, em todo o seu
potencial, a doutrina bíblica da inabitação de toda a Trindade na alma: “O meu
Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada”. (Jo 14,23). Pio XII reservou para ela um
lugar na sua Mystici Corporis,
dizendo que graças a ela nós “participamos desde agora na alegria e na bem
aventurança da Trindade” [15].
São João da Cruz diz que “o amor [que] foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm
5,5) não é nada mais do que o amor com o qual o Pai, desde sempre, ama o Filho.
É um transbordamento do amor divino da Trindade para nós. Deus comunica à alma
“o mesmo amor que comunica ao Filho, mesmo que isso não ocorra naturalmente,
mas por união... A alma participa de Deus, cumprindo, junto com Ele, a obra da
Santíssima Trindade” [16]. A Beata Elisabeth da Trindade nos sugere um método
simples para traduzir tudo isso num programa de vida: “Todo o meu exercício
consiste em entrar em mim mesma e perder-me nos Três que estão lá” [17].
Eu vejo nisso uma razão a mais, e entre as mais profundas,
para evangelizar. Lia dias atrás, na Liturgia das Horas, as palavras de Deus em
Isaías: “Eis para quem estão voltados meus olhos: para quem é humilde, que tem
o espírito aflito e treme diante da minha palavra” (Is 66,2). Fiquei impressionado com um pensamento. Eis, disse a mim
mesmo, em que consiste a grande diferença entre quem é batizado e quem não o é:
sobre quem não é batizado, Deus “dirige o olhar”, está presente intencionalmente,
com o seu amor e a sua providência; em quem é batizado, Ele não dirigem somente
o olhar, mas vem habitar nele pessoalmente, e mais: com todas as três Pessoas Divinas.
É verdade que uma presença intencional correspondida pode ser mais aceitável a
Deus do que uma presença batismal negligenciada ou recusada (e isso deve
encher-nos de humildade e responsabilidade), mas seria ingratidão não
reconhecer a diferença que faz ser ou não ser cristãos.
Terminamos a recitando juntos a doxologia que conclui o Cânon
da Missa e que constitui a mais breve e a mais densa oração trinitária da
Igreja: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai Todo-poderoso, na
unidade do Espírito Santo, toda honra e toda a glória agora e para sempre.
Amém”.
Notas:
[1] cf. Gregório
Nazianzeno, Oratio, 31, 26. trad it.:
C. Moreschini, I cinque discorsi
teologici, Roma, Città Nuova, 1986.
[2] Oratio 31,
3.14.
[3] cf. Basílio, Epístola 236,6.
[4] Gregório Nazianzeno, Oratio.
31,16.
[5] ibid. 31,
31-33.
[6] ibid. 31, 12.
[7] Gregório Nazianzeno, Poemata
de seipso, I,15; I, 87; PG 37, 1251 s.; 1434.
[8] ibid., I,1; PG
37, 984-985.
[9] I. Kant, Il
conflitto delle facoltà, A 50 (WW, ed. W. Weischedel, VI, p.303).
[10] Agostinho, De
Trinitate, VIII, 10, 14.
[11] H. de Lubac, Histoire
et Esprit, Aubier, Parigi, 1950, cap. 5.
[12] Gregório Palamas, Capita
physica, 36 (PG 150, 1144s).
[13] Agostinho, De
Trinitate, IV,15,30; Confessioni,
VII, 21.
[14] Gregório Nazianzeno, Poemata
de seipso, I,11 (PG 37, 1165s).
[15] Pio XII, Mystici Corporis,
AAS, 35, 1943, pp. 231s.
[16] São João da Cruz, Cantico spirituale A, strofa 38.
[17] Elisabeth
da Trindade, Lettere, 151 (Scritti, Roma, 1967, p. 274).
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