Conforme indicamos em nossa postagem sobre a história da devoção às “Santas Chagas”, reproduzimos aqui a 2ª leitura do Ofício das
Leituras da Liturgia das Horas para a Festa das Cinco Chagas do Senhor,
celebrada em Portugal no dia 07 de fevereiro, conforme divulgada no site do
Secretariado Nacional de Liturgia.
Cumpre recordar que esta Festa não pode ser celebrada no
Brasil, uma vez que só foi aprovada para Portugal. Não obstante, podemos
meditar sobre seus textos em nossa oração pessoal ou mesmo adaptá-los em uma
adoração ao Santíssimo Sacramento ou outro momento de oração comunitária.
AS CINCO CHAGAS DO SENHOR
2ª leitura do Ofício das Leituras
Das Homilias sobre o Evangelho de São João de São João Crisóstomo, Bispo (séc. IV)
(Hom. 87, 1: PG 59, 473-474)
Cristo manifesta-Se com as suas chagas após a Ressurreição
Se é pueril acreditar ao acaso e sem motivo, também é muito
insensato querer examinar e inquirir tudo demasiadamente. E esta foi a
sem-razão de Tomé. Perante a afirmação dos Apóstolos: «Vimos o Senhor»,
recusa-se a acreditar: não porque descresse deles, mas porque julgava
impossível o que afirmavam, isto é, a Ressurreição de entre os mortos. Não
disse: «Duvido do vosso testemunho», mas: «Se não meter a minha mão no seu
lado, não acreditarei».
Jesus aparece segunda vez e não espera que Tomé O
interrogue, ou Lhe fale como aos discípulos. O Mestre antecipa-se aos seus
desejos, fazendo-lhe compreender que estava presente quando falou daquele modo
aos companheiros. Na censura que lhe faz serve-Se das mesmas palavras e ensina
como deverá proceder para o futuro. Depois de dizer: «Põe aqui o teu dedo e vê
as minhas mãos; mete a tua mão no meu lado», acrescenta: «Não sejas incrédulo,
mas crente». Tomé duvidou por falta de fé. Ainda não tinham recebido o Espírito
Santo. Mas isso não voltaria a acontecer; a partir de então se manteriam firmes
na fé. Cristo, porém, não ficou nesta admoestação e insistiu novamente. Tendo o
discípulo caído em si e exclamado: «Meu Senhor e meu Deus», disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, acreditaram».
É próprio da fé crer no que não se vê. «A fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se veem». Com
efeito, o Divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos
aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na
verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram ver
para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo
aceitarem o ato da Ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem
o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no
tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: «Felizes
os que, sem terem visto, acreditaram».
E aqui surge uma pergunta: Como pôde o corpo incorruptível
conservar as cicatrizes dos cravos e ser tocado por mão mortal? Não é caso para
espanto, pois se trata de pura condescendência da parte de Cristo. O seu corpo
era tão puro, sutil e livre de qualquer matéria que podia entrar numa casa com
as portas fechadas. Quis, porém, manifestar-Se deste modo, para que
acreditassem na Ressurreição e soubessem que era Ele mesmo que fora
crucificado, e não outro, quem tinha ressuscitado. Por este motivo conserva, na
Ressurreição, os estigmas da cruz, e come na presença dos Apóstolos,
circunstância esta que eles especialmente recordariam: «Nós que comemos e
bebemos com Ele». Quer dizer: antes da Paixão, ao vermos Jesus caminhando sobre
as ondas, não considerávamos o seu corpo de natureza diferente da nossa; também
agora, ao vê-l’O com as cicatrizes, após a Ressurreição, devemos crer na sua
incorruptibilidade.
Oração:
Deus de infinita misericórdia, que por meio do vosso Filho
Unigênito, pregado na cruz, quisestes salvar todos os homens, concedei-nos que,
venerando na terra as suas santas Chagas, mereçamos gozar no Céu o fruto
redentor do seu Sangue. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Amém.
O Ressuscitado exibe suas chagas aos Apóstolos |
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