Em suas Catequeses sobre à oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, após tratar da Liturgia como fonte da oração na Catequese precedente (n. 2655 do Catecismo), e omitindo os nn. 2656-2658 (dedicados às virtudes teologais), o Papa Francisco refletiu no dia 10 de fevereiro de 2021 sobre os nn. 2659-2660 do Catecismo, sobre a vida quotidiana como fonte da oração:
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira,
10 de fevereiro de 2021
A oração (24): Rezar na
vida quotidiana
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Na catequese anterior, vimos que a oração cristã está “ancorada” na Liturgia. Hoje evidenciaremos como da Liturgia ela regressa sempre à vida quotidiana: nas ruas, nos escritórios, nos meios de transporte... E nela o diálogo com Deus continua: quem reza é como o apaixonado, que traz sempre no coração a pessoa amada, onde quer que esteja.
Com efeito, tudo é assumido neste
diálogo com Deus: cada alegria torna-se um motivo de louvor, cada provação é
ocasião para um pedido de ajuda. A oração é sempre viva na existência, como o
fogo das brasas, até quando os lábios não falam, mas o coração fala. Cada
pensamento, embora aparentemente “profano”, pode ser permeado de oração. Até na
inteligência humana há um aspecto orante; com efeito, ela é uma janela aberta
para o mistério: ilumina os poucos passos que se nos apresentam e depois
abre-se para toda a realidade, esta realidade que a precede e a supera. Este
mistério não tem um rosto perturbador nem angustiante, não: o conhecimento de
Cristo faz-nos confiar que onde o nosso olhar e os olhos da nossa mente não
podem ver, não há o nada, mas há alguém que nos espera, há uma graça infinita.
E assim a oração cristã infunde no coração humano uma esperança invencível:
qualquer que seja a experiência que toque o nosso caminho, o amor de Deus pode
transformá-la em bem.
A este propósito, o Catecismo diz: «Aprendemos a orar em certos momentos, escutando a Palavra do Senhor e participando no seu mistério pascal. Mas a cada momento, nos acontecimentos de cada dia, o seu Espírito é-nos oferecido para fazer brotar a oração (...) O tempo está nas mãos do Pai; é no presente que nós o encontramos; não ontem nem amanhã, mas hoje» (n. 2659). Hoje encontro Deus, existe sempre o hoje do encontro.
Não há outro dia maravilhoso, a não ser
o hoje que vivemos. As pessoas que vivem sempre a pensar no futuro: “Mas, o
futuro será melhor...”, e não vivem o hoje como vem: são pessoas que vivem na
fantasia, não sabem assumir o concreto da realidade. E o hoje é real, o hoje é
concreto. E a oração tem lugar no hoje. Jesus vem ao nosso encontro hoje, neste
hoje que vivemos. E é a oração que transforma este hoje em graça, ou melhor,
que nos transforma: apazigua a raiva, sustenta o amor, multiplica a alegria,
infunde a força de perdoar. Às vezes parece-nos que já não somos nós que
vivemos, mas que a graça vive e age em nós através da oração. E quando nos vem
um pensamento de raiva, de descontentamento, que nos leva à amargura. Paremos e
digamos ao Senhor: “Onde estás? E para onde vou?”. E o Senhor está ali, o Senhor
dar-nos-á a palavra certa, o conselho para ir em frente sem aquele sumo amargo
do negativo. Porque a oração, usando uma palavra profana, é sempre positiva.
Sempre! Leva-te em frente. Cada dia que começa, se for acolhido na oração, é
acompanhado de coragem, para que os problemas a enfrentar já não sejam
obstáculos à nossa felicidade, mas apelos de Deus, ocasiões para o nosso
encontro com Ele. E quando alguém é acompanhado pelo Senhor, sente-se mais
corajoso, mais livre e inclusive mais feliz.
Portanto, rezemos sempre por tudo e por
todos, até pelos inimigos. Jesus aconselhou-nos: “Rezai pelos inimigos”. Oremos
pelos nossos entes queridos, mas também por aqueles que não conhecemos; oremos
até pelos nossos inimigos, como eu disse, como a Escritura muitas vezes nos
convida a fazer. A oração dispõe a um amor superabundante. Rezemos
especialmente pelos infelizes, por quantos choram na solidão e perdem a
esperança de que ainda haja um amor que pulse por eles. A oração realiza
milagres; e então os pobres intuem, pela graça de Deus, que até na sua situação
precária, a oração do cristão tornou presente a compaixão de Jesus: pois Ele
olhou com grande ternura para as multidões cansadas e perdidas como ovelhas sem
pastor (cf. Mc 6,34).
O Senhor - não nos esqueçamos - é o Senhor da compaixão, da proximidade, da
ternura: três palavras que jamais devem ser esquecidas. Pois é o estilo do
Senhor: compaixão, proximidade, ternura.
A oração ajuda-nos a amar os outros,
apesar dos seus erros e pecados. A pessoa é sempre mais importante do que as
suas ações, e Jesus não julgou o mundo, mas salvou-o. A vida daqueles que
julgam sempre os outros é negativa, condenam, julgam sempre: é uma vida
negativa, infeliz. Jesus veio para nos salvar: abre o teu coração, perdoa,
justifica os outros, compreende, também tu permanece próximo dos outros, tem
compaixão, sente ternura como Jesus. É necessário amar todos e cada um,
lembrando na oração que todos somos pecadores e ao mesmo tempo amados por Deus,
um por um. Amando assim este mundo, amando-o com ternura, descobriremos que
cada dia e cada situação traz dentro de si um fragmento do mistério de Deus.
O Catecismo escreve ainda: «Orar nos acontecimentos de cada dia e de cada instante é um dos segredos do Reino, revelados aos “pequeninos”, aos servos de Cristo, aos pobres das bem-aventuranças. É justo e bom orar para que a vinda do Reino da justiça e da paz influencie a marcha da história; mas também é importante “levedar” pela oração a massa das humildes situações quotidianas. Todas as formas de oração podem ser este fermento a que o Senhor compara o Reino» (n. 2660).
O homem - a pessoa humana, homem e
mulher - é como um sopro, como a relva (cf. Sl 144,4;
103,15). O filósofo Pascal escrevia: «Não há necessidade que o universo inteiro
pegue em armas para esmagá-lo; um vapor, uma gota de água é suficiente para
matá-lo» (Pensamentos, 186). Somos seres frágeis, mas sabemos
rezar: esta é a nossa maior dignidade, é também a nossa fortaleza. Coragem!
Rezai em cada momento, em cada situação, pois o Senhor está próximo de nós. E
quando uma oração está em sintonia com o coração de Jesus, obtém milagres.
Fonte: Santa Sé
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