“O sinal da porta
lembra a responsabilidade de todo o crente quando este atravessa o seu limiar.
Passar por aquela porta significa confessar que Jesus Cristo é o Senhor,
revigorando a fé n'Ele para viver a vida nova que nos deu” (Bula Incarnationis Mysterium, n. 8).
Desde o ano de 1500, os Jubileus são marcados pela abertura das Portas Santas nas quatro Basílicas Maiores em Roma: São Pedro, São João do
Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos muros. Estas Portas só são
abertas durante o Jubileu, sendo muradas quando este se encerra.
O rito elaborado para o Jubileu de 1500 foi utilizado de
forma inalterada até 1950, centrado no muro: o Papa efetivamente iniciava sua derrubada
com o golpe de um martelo na abertura do Ano Santo e iniciava sua reconstrução
no seu encerramento.
A partir de 1975, são feitas algumas mudanças: no
encerramento do Jubileu o Papa Paulo VI não levanta o muro, mas apenas fecha a
porta. No Jubileu Extraordinário de 1983 (Ano Santo da Redenção), o Papa João
Paulo II também no início do Ano limitou-se à abertura da porta.
O muro continua sendo derrubado e posteriormente refeito,
mas agora em cerimônias distintas, presididas pelos Cardeais Arciprestes das
quatro Basílicas. Assim, a ênfase recai não mais no muro, mas sim na imagem
profundamente bíblica e litúrgica da porta.
O Jubileu do ano 2000 foi o único em toda a história da
Igreja no qual o Papa abriu pessoalmente as portas das quatro Basílicas, uma
vez que até então o Pontífice abria apenas a Porta Santa da Basílica de São
Pedro e nomeava Cardeais Legados para abrir as outras três (no Jubileu
Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco abriu três das quatro Portas
Santas, delegando a Basílica de São Paulo ao Cardeal Arcipreste).
Nesta postagem, no contexto da recordação dos 20 anos do
Grande Jubileu, gostaríamos de recordar algumas linhas gerais dos ritos
utilizados na ocasião, conforme a apresentação feita pelo então Mestre das
Cerimônias Litúrgicas Pontifícias, Dom Piero Marini, e que se encontra
disponível no site da Santa Sé:
1. Basílica de São
Pedro
O Papa João Paulo II abriu a Porta Santa da Basílica de São
Pedro no Vaticano no início da Missa da Noite de Natal, no dia 24 de dezembro
de 1999.
Papa João Paulo II -Abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro (24.12.1999) |
A celebração teve início junto à Porta Santa, no átrio da
Basílica, para onde se dirigiu a procissão de entrada, acompanhada pelo canto
do Salmo 121: “Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor”.
Desta procissão tomaram parte leigos representando os cinco
continentes, os quais realizaram alguns gestos simbólicos durante a celebração,
recordando assim o alcance universal do Jubileu.
O Santo Padre iniciou a celebração com o sinal da cruz, uma
invocação da Santíssima Trindade, a saudação litúrgica e uma monição introdutória,
seguidas de uma oração. Em seguida, do ambão preparado junto à Porta (o mesmo
usado para a leitura da bula de convocação do Jubileu), o diácono proclamou o
Evangelho (Lc 4,14-21): é o próprio Cristo que proclama “um ano da graça do
Senhor”.
Após o Evangelho, o Papa aproximou-se da Porta
Santa e proclamou três versículos tomados dos salmos, intercalados com respostas
da assembleia:
CP: Haec porta Domini
(Eis a porta do Senhor)
R: Iusti intrabunt in
eam (Por ela os justos entrarão; cf. Sl 117,20).
CP: Introibo in domum
tuam, Domine (Entrarei em tua casa, Senhor)
R: Adorabo ad templum
sanctum tuum (Adorarei no teu templo santo; cf. Sl 5,8).
CP: Aperite mihi
portas iustitiae (Abri-me as portas da justiça)
R: Ingressus in eas,
confitebor Domino (Vou entrar para dar graças ao Senhor;
cf. Sl 117,19).
Em seguida o Papa abriu as portas em silêncio e se
ajoelhou na soleira para rezar alguns instantes. Quando se levantou novamente,
o coro entoou a antífona: “Christus heri et hodie, finis et principium;
Christus Alpha et Omega, ipsi gloria in sæcula!” (Cristo, ontem e hoje, fim e princípio; Cristo Alfa e Ômega, a Ele a
glória pelos séculos!).
O Santo Padre retornou então à cadeira preparada no
átrio da Basílica, enquanto fiéis da Ásia e Oceania decoraram a porta com
flores e espalham perfumes. Este gesto recorda o caráter festivo do Jubileu e
ao mesmo tempo o compromisso de cada cristão de espalhar no mundo o “bom odor
de Cristo” (2Cor 2,15).
Retornando à soleira da porta, o Papa recebeu o
Livro dos Evangelhos do diácono e abençoou com ele, primeiro em direção ao
átrio e depois em direção ao interior da Basílica, destacando a centralidade da
Palavra de Deus e a missão de anunciar o Evangelho no novo milênio.
O Papa atravessou a soleira da Porta Santa justamente
com o Evangeliário nas mãos e, após devolvê-lo ao diácono, sentou-se na cadeira
preparada diante da imagem da Pietà.
Em seguida alguns fiéis da África soaram
instrumentos de sopro feitos de chifres de animais, típicos deste continente,
recordando o toque do chifre que anunciava o Jubileu hebraico.
Teve início então a procissão de entrada em direção
ao altar, acompanhada do “Hino a Cisto, Senhor dos milênios”, composto para a
ocasião. Extraordinariamente nesta procissão, o Evangeliário foi conduzido
imediatamente diante do Santo Padre, ladeado por fiéis da Europa e da América
com flores e lâmpadas.
Chegando diante do altar, o diácono depositou o
Evangeliário no trono preparado (o mesmo usado sempre durante o Tempo de Natal
no Vaticano), ladeado pelas flores e lâmpadas, e o Papa incensou o livro.
Seguiu-se a Proclamação do Grande Jubileu entoada
pelo diácono, um texto especialmente preparado para a ocasião. Esta Proclamação
substituiu a tradicional Proclamação do Natal ou Kalenda.
Após a Proclamação do Jubileu, o coro entoou o
Glória e a Missa prosseguiu como de costume. Destaque apenas para a proclamação
do Evangelho feita em latim e grego, elemento presente apenas nas celebrações
mais solenes presididas pelo Papa.
2. Basílicas de São
João do Latrão e de Santa Maria Maior
O Papa abriu a Porta Santa da Basílica do Latrão no início
das II Vésperas do dia de Natal, 25 de dezembro de 1999, e a Porta Santa da
Basílica de Santa Maria Maior no início da Missa da Solenidade de Santa Maria
Mãe de Deus, no dia 01 de janeiro de 2000.
Em ambas foi usado um rito mais simples: a celebração
iniciou diante da Porta Santa com o sinal da cruz, saudação litúrgica e monição
introdutória proferidas pelo Santo Padre, seguidas de uma oração.
Dirigindo-se à porta, o Papa entoou os três versículos
sálmicos em diálogo com a assembleia, abriu a porta em silêncio e rezou alguns
instantes, ajoelhado na soleira. Após o Papa atravessar a porta, a procissão de
entrada dirigiu-se ao altar e a celebração prosseguiu como de costume (Vésperas
no dia 25 e a Missa do dia 01).
3. Basílica de São
Paulo fora dos muros
Por fim, a Porta Santa da Basílica de São Paulo fora dos
muros foi aberta pelo Papa João Paulo II no dia 18 de janeiro do ano 2000,
início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Papa João Paulo II - Abertura da Porta Santa da Basílica de São Paulo (18.01.2000) |
Portanto, esta celebração teve um caráter fortemente
ecumênico, como podemos ver em seus elementos característicos:
A celebração teve início no “quadripórtico” que dá acesso à Basílica, onde o
Santo Padre proferiu o sinal da cruz, a saudação litúrgica e a monição
introdutória.
Seguiu-se a recitação do cântico da Carta aos
Efésios (Ef 1,3-14), escolhido como tema da Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos daquele ano. O Papa recitou a primeira estrofe do hino e
representantes das outras igrejas cristãs entoaram as duas estrofes seguintes,
intercaladas pelo refrão cantado pela assembleia: “Benedictus Deus in saecula”
(Bendito seja Deus pelos séculos).
Em seguida o Santo Padre recitou uma oração e o diácono
convidou para a procissão até diante da Porta Santa. O gesto da procissão
recorda o desejo das igrejas cristãs de caminharem juntas rumo à unidade.
Diante da porta, o Papa entoou os três versículos
sálmicos em diálogo com a assembleia e, acompanhado de dois representantes das
igrejas cristãs (o delegado do Patriarca de Constantinopla e o Primaz da
Comunhão Anglicana), abre a porta. Em seguida, os três ajoelham-se em silêncio
por alguns instantes em sua soleira.
Após levantaram-se, o Papa recebeu o Evangeliário
do diácono e o levantou em direção ao átrio da Basílica, enquanto o coro entoou
a antífona Christus, heri et hodie...
Na sequência, três representantes das igrejas cristãs (Igrejas Ortodoxas
Orientais, Igrejas Ortodoxas Bizantinas e protestantes) levantam o Evangeliário
em direção aos demais pontos cardeais, enquanto o coro repete a antífona.
Por fim, a procissão de entrada dirigiu-se ao altar
ao som do “Hino a Cristo, Senhor dos milênios”. Chegando diante do altar, o
Evangeliário foi colocado em um trono preparado e incensado pelo diácono.
A celebração ecumênica teve início com o canto do
Salmo 144, que proclama a realeza do Senhor, o qual foi precedido de uma
monição do Santo Padre e dividido em três partes. No final de cada uma dos
representantes das igrejas cristãs recitou uma oração sálmica.
Seguiu-se a leitura bíblica (1Cor 12,4-13), um
responsório breve, e duas leituras de escritos de teólogos do século XX: o
primeiro da tradição ortodoxa (Georgij Florovskj), sobre a unidade da Igreja, e
o segundo da tradição protestante (Dietrich Bonhoeffer), sobre a Igreja como
Corpo de Cristo. Por fim, o Papa proferiu sua homilia.
Após a homilia, os diáconos católico e ortodoxo convidaram
ao abraço da paz entre os presentes, acompanhado pelo hino Ubi caritas. Seguiu-se o Símbolo Apostólico, recitado em três
estrofes pelos representantes das igrejas cristãs e intercalado pela resposta
da assembleia: “Credimus, Domine. Amen” (Cremos, Senhor. Amém).
A celebração encerrou-se com o canto do Pater noster (Pai nosso) e a bênção do
Santo Padre.
Confira o vídeo completo da Abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro:
Fontes:
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