sábado, 21 de dezembro de 2019

Homilia: IV Domingo do Advento - Ano A

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Livro do Profeta Isaías
Deus Pai o tornou misericórdia e justiça para nós

Anteriormente já falávamos longamente sobre Ciro, rei dos medos e dos persas, que devastou a região da Babilônia e a trucidou pela força, aliviou Israel da escravidão que lá sofria, afrouxou as cadeias do seu cativeiro, reconstruiu o Templo de Jerusalém, e foi instigado contra os caldeus pelo próprio Deus, que lhe abriu as portas de bronze e quebrou os ferrolhos de ferro.
Porém, nesta narração se tratava de um fato particular, visto que unicamente os israelitas deviam ser colocados em condições de paz e libertados da angústia da escravidão. Em seguida todo o interesse da narração passa a se centrar no Emanuel, que foi enviado por Deus Pai para anunciar aos cativos a liberdade e aos cegos a vista; para libertar do mal aos que se encontravam irremediavelmente aprisionados por seus pecados; para atrair novamente a si todos os habitantes da terra já resgatados da tirania do diabo, e conduzi-los desta maneira, através de sua mediação, a Deus Pai.
Desta forma tornou-se mediador entre Deus e os homens, e por ele somos reconciliados com o Pai em um só Espírito, porque, como diz a Escritura, Ele é a nossa paz. Ele restaurou o lugar sagrado, isto é, seu templo, que é a Igreja. Pois Ele a colocou diante de si como uma virgem pura, sem mancha nem ruga nem nada que se assemelhe, mas santa e imaculada. Pela qual nos é concedido ver em Ciro e em seus gestos uma magnífica figura dos divinos e admiráveis benefícios que Deus concedeu a todos os habitantes da terra. E justamente esta é a finalidade pela qual estes gestos foram recordados.
Alegre-se, portanto, o céu superior, isto é, os que vivem na cidade do além, estabelecidos em uma morada distinta e maravilhosa: os anjos e os arcanjos. Dizemos que foi motivo de alegria para os espíritos celestiais a conversão a Deus, por meio de Cristo, Salvador de todos, dos homens perdidos desta terra, e também a recuperação da vista pelos cegos: em uma palavra, a salvação do que estava perdido. Se já se alegram por um só pecador que faz penitência, como duvidar que exultem de alegria ao contemplar o mundo todo salvo? Por isso diz: céus, manai o orvalho; nuvens, derramai a vitória.
Nós entendemos por misericórdia e caridade, que é o cumprimento da lei, acompanhada da justiça evangélica, cujo dispensador e mestre é, para nós, o Cristo. Pode afirmar-se também que a misericórdia e a justiça que nascem e brotam da terra são nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa, pois Deus Pai o tornou para nós misericórdia e justiça, isto se realmente temos obtido n’Ele a misericórdia e, justificados com o perdão das culpas passadas, recebemos d’Ele a justiça que pode tornar-nos herdeiros de todos os bens, e é o caminho de nossa salvação.
E se da terra manda-se germinar a justiça, que ninguém se ofenda, levando em conta que o salmista usa a mesma expressão para com Deus Pai e o próprio Emanuel: Realizou a justiça na terra. Na realidade Cristo não vestiu nossa carne do alto dos céus mas, segundo a carne, nasceu de uma mulher, uma das que estão na terra. Portanto, quando se diz que Cristo é fruto e gérmen da terra, deves entender, como acabo de dizer, que nasceu segundo a carne de uma mulher eleita especialmente para este ministério, mesmo sendo apenas mais uma das criaturas da terra.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 33-34. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Beda, o Venerável, para este domingo clicando aqui.

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