São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Livro do Profeta
Malaquias
Virá
o Senhor e a sua doutrina superará a lei
Eis que envio o meu mensageiro para preparar
o caminho diante de mim. Estas palavras proféticas foram oportunamente
acomodadas ao mistério de Cristo. Deus Pai o tornou nosso Emanuel: justiça,
santificação e redenção, purificação de toda maldade, libertação do pecado,
desprezo de toda desonestidade, caminho para um jeito mais digno e santo de se
viver e porta de acesso à vida eterna. Por Ele foram corrigidas todas as
coisas, destruído o poder do diabo e reencontrada a justiça.
Eis que envio o meu mensageiro para preparar
o caminho diante de mim. Estas palavras parecem anunciar o Batista, pois o
próprio Cristo disse em outro lugar: É
dele que está escrito: Eis que envio
o meu mensageiro para preparar o caminho diante de ti. Isto mesmo o
confirma o próprio São João, quando interpelava os que a ele recorriam para
receber o batismo de conversão, dizendo: Eu
vos batizo com água. Porém, depois de mim virá aquele do qual não sou digno nem
de desatar a correia das sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com
o fogo.
Repentinamente entrará no santuário do
Senhor a quem vós buscais, o mensageiro da aliança que vós tanto desejais.
Veja como Cristo veio repentinamente depois de seu precursor: manteve-se oculto
a todos os judeus, aparecendo entre eles de forma súbita e inesperada.
Dizemos que o
santo Batista é chamado de “anjo”: não por natureza, visto que ele nasceu de
uma mulher, homem como nós, mas porque lhe foi confiada a missão de pregar-nos
e anunciar-nos a Cristo, missão esta que é tipicamente angélica. João é “anjo”
por ofício, não por condição angélica.
Diz-se que
entrará no santuário, seja porque a Palavra
se fez carne e nela habitou como em um santuário, santuário este que
assumiu do castíssimo corpo da Santíssima Virgem; seja como homem completo,
possuindo alma e corpo, e que segundo a fé foi formado sem intermediário pela
Divina Providência; ou simplesmente por santuário podemos entender Jerusalém,
como cidade santa e consagrada a Deus; ou também a Igreja da qual Jerusalém era
a imagem. Além do mais, sua vinda ou presença, Cristo a promulgou através de
muitas obras magníficas: Proclamando o
Evangelho do Reino, curando as enfermidades e sofrimentos do povo, tal como
está escrito. Entrará o Senhor - diz
-, a quem vós buscais, os que dizeis em
sua covardia: Onde está o Deus da justiça? Ele virá, pois, e sua doutrina
superará a lei, os símbolos e as figuras, e será o mensageiro da aliança,
outrora anunciada pela boca de Deus Pai. Em certa citação dos livros santos,
diz-se ao sábio Moisés: Suscitarei um
profeta como você dentre teus irmãos, porei minhas palavras em sua boca, e
anunciará o que eu ordenar.
Que Cristo é o
mensageiro do Novo Testamento o atesta Isaías ao dizer: Porque o calçado que pisa destemido e o manto manchado de sangue serão
lançados ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a
soberania repousa sobre seus ombros, e seu nome é: Conselheiro admirável.
Conselheiro incontestável de Deus Pai.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 30-31. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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