Orígenes
Sobre os princípios
Temos
de contemplar o mistério de Cristo com o maior temor e reverência
Se considerarmos
o que a Escritura santa nos refere de sua majestade, e não perdemos de vista
que Cristo Jesus é imagem do Deus
invisível, primogênito de toda criatura, e que por meio d’Ele foram criadas
todas as coisas, as visíveis e as invisíveis; tudo foi criado por Ele e para
Ele. Ele é anterior a tudo, e Ele sustenta todas as coisas, que é a cabeça
de todos, comprovamos a impossibilidade de colocar por escrito o mistério da
glória do Salvador.
Portanto, se
considerarmos tantas e tais coisas como foram ditas sobre a natureza do Filho
de Deus, nos encherá de admiração e de assombro que uma natureza tão acima de
todo o criado, desde a altura de sua majestade, tenha-se rebaixado até o
aniquilamento, fazendo-se homem e vivendo entre os homens.
Ele mesmo, antes
de tornar-se visível em um corpo mortal, enviou os profetas na qualidade de
precursores e mensageiros de sua vinda. E depois de sua ascensão aos céus,
ordenou aos santos Apóstolos, investidos com os poderes de sua divindade -
homens inexperientes e iletrados, escolhidos dentre os publicanos e os
pecadores -, a percorrer toda a terra, para que, de toda raça e da
universalidade dos povos, lhe congregassem um povo santo que cresse n’Ele.
Mas, entre todos
os milagres e prodígios que d’Ele conhecemos, há um que excede de forma mais
específica a toda capacidade de admiração da inteligência humana: a fragilidade
da inteligência mortal não chega a compreender, nem sequer a intuir, que tão imenso
poder da divina majestade, o próprio Verbo do Pai e Sabedoria de Deus, por meio
do qual foram criadas todas as coisas, visíveis e invisíveis, estava
circunscrito dentro dos limites daquele homem que apareceu na Judeia. Ainda
mais: essa fé nos convida a aceitar que a Sabedoria de Deus penetrou no seio de
uma mulher, que nasceu como menino, que prorrompeu em prantos como qualquer
outro menino que chora. E, por fim, o que d’Ele se conta, que se perturbou na
presença da morte, como o próprio Jesus confessou dizendo: Minha alma está triste até a morte; e, finalizando, que foi
conduzido a uma morte considerada pelos homens como a mais ignominiosa, ainda
que ressuscite ao terceiro dia.
Contudo, quando
observamos n’Ele características tão profundamente humanas, que em nada parecem
se diferenciar do comum dos mortais, e, por outro lado, outras tão tipicamente
divinas, que não combinam com nenhum outro, a não ser com aquela primeira e
inefável natureza da deidade, a inteligência humana se angustia e, presa por
imenso assombro, não sabe ao que se fixar, ao que se segurar, que direção
tomar. Se o sente como Deus, o vê mortal; se o considera homem, o vê voltar dos
mortos carregado de cativos, depois de ter destruído o domínio da morte. Por
isso, temos de contemplá-lo com o maior temor e reverência.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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