terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Os Jubileus na História da Igreja

O Jubileu tem origem na tradição hebraica (Lv 25,8-17). A cada cinquenta anos (sete vezes sete mais um, número que indica plenitude) celebrava-se um ano especial de reconciliação e perdão: os escravos eram libertos e os terrenos arrendados eram devolvidos aos seus donos. O início do ano jubilar era marcado pelo toque de uma corneta de chifre de carneiro (yobel, donde o termo jubileu).


O livro de Isaias anuncia um profeta que viria para “proclamar um ano de graça do Senhor” (Is 61,1-3). Jesus, ao ler este texto na sinagoga de Nazaré, acrescenta: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,16-21). Assim, todo ano santo tem como fundamento o próprio Cristo e sua ação salvadora.

Na tradição cristã, o primeiro Jubileu foi celebrado em 1300, convocado pelo Papa Bonifácio VIII através da bula Privilegium. O Papa concedeu durante este ano uma especial indulgência aos fieis que visitassem os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, respectivamente nas Basílicas de São Pedro no Vaticano e São Paulo fora-dos-muros.

Bonifácio VIII proclama o Jubileu de 1300
A princípio, o Jubileu seria celebrado apenas a cada cem anos. Porém, em 1342 os fieis romanos pedem ao Papa Clemente VI (que se encontrava na época em Avignon, França) que o Jubileu possa ser celebrado a cada 50 anos, respeitando assim a tradição hebraica e favorecendo que mais pessoas lucrassem a indulgência jubilar. Assim, o Papa convoca o Jubileu de 1350, acrescentando a peregrinação á Basílica de São João do Latrão.

O Papa Urbano VI convocou o terceiro Jubileu para 1390, desejoso de observar a partir de então um intervalo de 33 anos, em atenção aos anos da vida terrena de Cristo. Também neste Jubileu o Papa acrescenta a peregrinação à Basílica de Santa Maria Maior, completando assim o grupo das quatro Basílicas Maiores.

Em 1400, um grupo numeroso de fieis desejava celebrar a passagem do século com peregrinações a Roma. O Papa Bonifácio IX, então, proclama o Jubileu de 1400. A partir deste Jubileu, começasse a pensar em um cuidado maior para com os peregrinos: a Igreja alemã empenha-se em construir um hospital (Santa Maria Dell’Anima) e um cemitério (o Campo Santo Teutônico).

Em 1423, Martinho V retoma o intervalo dos 33 anos proposto por Urbano VI e convoca um novo Jubileu. Neste Jubileu foi aberta pela primeira vez uma Porta Santa, na Basílica do Latrão. A Porta Santa é uma porta aberta apenas por ocasião dos Jubileus, permanecendo fechada fora deles.

Martinho V: Primeiro Papa a abrir uma Porta Santa
Em 1450, acontece mais um Jubileu, convocado pelo Papa Nicolau V. O próprio Papa visitou as Basílicas várias vezes descalço, em sinal de humildade. Também determinou que neste Ano Santo fossem frequentemente expostas as relíquias dos santos aos fieis, para favorecer sua piedade.

Em 1470, o Papa Paulo II publica a Bula Ineffabilis Providentia, que fixa o intervalo que permanece até hoje: 25 anos. Isto se deve à baixa expectativa de vida da época: muitas pessoas morriam sem nunca ter podido participar de um Jubileu. A Bula também determina que os Jubileus sejam sempre iniciados e concluídos na Solenidade do Natal do Senhor.  O Jubileu de 1475, convocado pelo Papa Sisto IV, maca o início desta normativa.

Para o Jubileu de 1500, o Papa Alexandre VI determina que se preparem Portas Santas nas quatro Basílicas Maiores. O então cerimoniário do Papa, Monsenhor Johannes Burckardt (em italiano, Giovanni Burcardo), prepara então os ritos de abertura e conclusão do Jubileu, que permanecem praticamente iguais até hoje: o Papa abre e fecha a Porta Santa da Basílica de São Pedro, e Cardeais Legados fazem o mesmo às demais.

Papa Alexandre VI
Os Jubileus seguintes seguem basicamente a mesma estrutura, com algumas particularidades:
1525: Papa Clemente VII
1550: Papa Júlio III (surge a Confraria da Santíssima Trindade dos Peregrinos, que cuidava do atendimento aos peregrinos, independentemente de nacionalidade)
1575: Gregório XIII (neste Jubileu, São Filipe Neri organiza a acolhida aos peregrinos e estabelece o tradicional itinerário das “sete igrejas de peregrinação”: além das quatro Basílicas Maiores, as Basílicas de São Lourenço fora dos muros, Santa Cruz em Jerusalém e São Sebastião fora dos muros)
1600: Papa Clemente VIII
1625: Papa Urbano VIII (pela primeira vez, estende-se a indulgência jubilar a todos que não podiam ir a Roma: doentes, anacoretas, etc.)
1650: Papa Inocêncio X
1675: Papa Clemente X
1700: Papas Inocêncio XII e Clemente XI (Inocêncio XII convocou e abriu o Jubileu, mas faleceu em setembro de 1500. Seu sucessor, Clemente XI, concluiu o Ano Santo)
1725: Papa Bento XIII
1750: Papa Bento XIV (o Papa convocou algumas catequeses especiais para este Jubileu, confiando-as a São Leonardo de Porto Maurício e outros insignes pregadores)
1775: Papas Clemente XIV e Pio VI (outro “Jubileu de dois Papas”: Clemente XIV convocou o Jubileu, mas morreu pouco antes de seu início. O Ano Santo foi celebrado então pelo seu sucessor, Pio VI)
1825: Papa Leão XII (o Jubileu de 1800 não pode ser celebrado, devido à ocupação francesa de Roma. O Jubileu de 1825 realiza-se com grande dificuldade)
1875: Papa Pio IX (devido aos conflitos, este Jubileu não foi celebrado na forma habitual: não houve abertura das Portas Santas nem peregrinações. O Papa, porém, estendeu a indulgência jubilar a todo o mundo)
1900: Papa Leão XIII
1925: Papa Pio XI (neste Jubileu, o Papa institui a Solenidade de Cristo Rei)

Pio XI abre o Jubileu de 1925
Em 1933, o Papa Pio XI convocou um Jubileu Extraordinário, para comemorar os 1900 anos da Morte de Cristo (ocorrida por volta do ano 33). Este Jubileu, conhecido como “Ano Santo da Redenção” aconteceu do Domingo de Ramos de 1933 até a Páscoa de 1934.

O Jubileu de 1950, convocado por Pio XII, deu grande ênfase à paz, no contexto pós Segunda Guerra Mundial. Destacam-se também a proclamação do dogma da Assunção de Maria (01 de novembro de 1950) e a inauguração da nova Porta Santa da Basílica de São Pedro, esculpida em bronze por Vico Consorti, que permanece até hoje.

Pio XII abre a Porta Santa no Jubileu de 1950
Em 1975, celebrou-se o primeiro Jubileu após o Concílio Vaticano II, sob o pontificado de Paulo VI. A partir deste Jubileu, simplificam-se os ritos de abertura e fechamento da Porta Santa.

No ano de 1983, celebra-se mais um Jubileu Extraordinário, convocado pelo Papa São João Paulo II através da Bula “Aperite portas Redemptori. Trata-se de mais um “Ano Santo da Redenção”, para celebrar os 1950 anos da Morte de Cristo. Este Ano iniciou-se na Solenidade da Anunciação de 1983 e concluiu-se na Páscoa de 1984. O grande sinal deste Jubileu foi uma grande cruz de madeira colocada na Basílica de São Pedro, e depois confiada aos jovens, que a levam pelo mundo até hoje, nas Jornadas Mundiais da Juventude.

João Paulo II abre a Porta Santa no Jubileu de 1983
Por fim, chegamos ao Grande Jubileu do ano 2000, que abria o Terceiro Milênio da Era Cristã, mais uma vez convocado por João Paulo II, com a Bula “Incarnationis Mysterium”. Este Jubileu foi antecedido, conforme as orientações da Carta Apostólica “Tertio Milennio Adveniente”, por três anos de preparação, cada um dedicado a uma das Pessoas da Santíssima Trindade (1997 foi o Ano de Jesus Cristo, 1998 o Ano do Espírito Santo e 1999 o Ano de Deus Pai). Os grandes sinais do Jubileu do ano 2000 foram o perdão e o seu alcance ecumênico.


Chegamos, assim, ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco no último dia 11 de abril com a Bula “Misericordiae vultus”. Este Jubileu se iniciará no próximo dia 08 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, e se encerrará no dia 20 de novembro de 2016, Solenidade de Cristo Rei.

João Paulo II na Abertura do Grande Jubileu do ano 2000

4 comentários:

  1. 1933 ....Ano que minha mãe TEREZINHA nasceu !!! 🙏👏👏👏👏

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  2. Merece uma benção no pergaminho próprio do Papa ...Como conseguir ?

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    1. Sobre a Bênção Apostólica em pergaminho, confira as informações no site da Esmolaria Apostólica (Elemosineria Apostolica):
      https://www.elemosineria.va/papal-blessing-parchments/?lang=pt-pt

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  3. Portanto Jubileu dela de 90 anos 👍

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