“Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor, Aquele que é, que era e que vem” (Ap 1,9).
Na tradição
cristã, o Jubileu é um Ano Santo, um tempo especial de graça que
se celebra ordinariamente a cada 25 anos.
O Papa Bonifácio VIII convoca o Jubileu de 1300 (Afresco de Giotto na Basílica do Latrão) |
Origens do Jubileu
Dado o rico
simbolismo bíblico do número “sete”, no Antigo Testamento se celebrava a
cada sete anos um “ano sabático”. Após sete anos sabáticos, por sua vez - isto é,
a cada 50 anos -, se celebrava um ano jubilar, como indica o Livro do
Levítico (Lv 25,8-17.23-34): “Declarareis santo o quinquagésimo ano
e, pela terra, proclamareis a remissão a todos os seus habitantes. Será para
vós um jubileu” (v. 10).
O termo “jubileu”
vem da palavra hebraica yobel ou yovel, que se
refere ao chifre de carneiro (ou outro animal) que era utilizado como
instrumento de sopro e entoado no Yom Kippur, o “Dia da
Expiação” (Lv 25,9). Posteriormente esse termo foi associado à
palavra latina jubilum, júbilo, alegria.
De acordo com as
prescrições do Levítico, durante o ano jubilar as terras de cultivo deveriam
descansar, as terras arrendadas deveriam voltar ao seu dono e os escravos
deveriam ser libertados. Nesse sentido, o Livro de Ezequiel se refere ao
jubileu como “ano da remissão” (Ez 46,17).
O Livro de
Isaías, por sua vez, anuncia um profeta que viria para “proclamar um ano da
graça do Senhor” (Is 61,1-3). Jesus, no início do seu ministério, leu esse
texto na sinagoga de Nazaré, anunciando que n’Ele se cumpria essa profecia (Lc
4,16-21).
1300: Bonifácio
VIII
Na tradição
cristã, o primeiro Jubileu seria convocado em 1300 pelo Papa Bonifácio VIII (†1303)
através da Bula Antiquorum habet fida
relatio. A iniciativa teria surgido entre os próprios fiéis, que desejavam
celebrar solenemente a passagem do século.
Bula Antiquorum habet |
Nesse ano o Papa
concedeu um indulgência especial aos fiéis que visitassem as Basílicas de São
Pedro e de São Paulo em Roma, rezando diante dos túmulos dos Apóstolos.
Para saber mais, confira nossas postagens sobre a história da Solenidade de São Pedro e São Paulo e sobre a Memória da Dedicação das Basílicas.
Aqui já começam a
delinear-se os elementos centrais do Jubileu, como a peregrinação e a indulgência.
Esta última trata-se de uma graça especial concedida àqueles que, arrependidos dos
seus pecados e absolvidos no Sacramento da Confissão (Reconciliação), realizam
uma obra de piedade (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1471-1479).
Outro dos elementos
do Jubileu é própria bula (do latim bulla, selo), documento através do
qual o Papa convoca o Ano Santo e estabelece orientações para sua celebração.
1350: Clemente
VI
A princípio o
Jubileu seria celebrado a cada cem anos. Porém, em 1342 os fiéis romanos pediram
ao Papa Clemente VI (†1352), que o Jubileu pudesse ser celebrado a cada 50 anos,
respeitando a tradição judaica.
Assim, foi convocado o Jubileu de 1350 com a Bula Unigenitus Dei Filius,
acrescentando a peregrinação à Basílica do Latrão, a Catedral de Roma. Contudo, o Papa não participou das celebrações, uma vez que na
época se encontrava em Avignon (França).
1390: Urbano
VI e Bonifácio IX
Através da Bula Salvator
noster Unigenitus, o Papa Urbano VI (†1389) convocou
um novo Jubileu para 1390, propondo que a partir de então fosse celebrado a cada
33 anos, em alusão ao número tradicional dos anos da vida de Cristo.
Com a morte de Urbano VI, o Jubileu foi celebrado por seu sucessor, Bonifácio IX (†1404), sendo acrescentada a peregrinação à Basílica de Santa Maria Maior, completando assim o grupo das quatro Basílicas Maiores.
Urbano VI |
1400: Bonifácio IX
Um grupo
numeroso de fiéis desejava celebrar a passagem do século com peregrinações a
Roma. Assim, embora não tenha convocado formalmente o Jubileu, o Papa Bonifácio
IX concedeu a indulgência aos peregrinos.
A partir desse
ano começa a se pensar a acolhida dos peregrinos das várias nações, com a
construção de hospitais (que na época serviam tanto para a hospedagem quanto
para o cuidado dos enfermos) e cemitérios.
1423: Martinho
V
Em 1423 o Papa Martinho
V (†1431) retomou o intervalo dos 33 anos proposto por Urbano VI e concedeu a
indulgência aos peregrinos, embora sem a Bula de convocação do Jubileu.
Nesse ano teria sido
aberta pela primeira vez uma Porta Santa na Basílica do Latrão. As Portas
Santas, com efeito, presentes nas quatro Basílicas Maiores, são um dos grandes
símbolos do Jubileu, sendo abertas apenas durante os Anos Santos, indicando que
esses são tempos especiais de graça e de perdão.
1450: Nicolau
V
Em 1450 o Papa
Nicolau V (†1455) resgatou o intervalo de 50 anos, convocando o Jubileu com a Bula
Immensa et innumerabilia.
O Papa visitou várias
vezes as Basílicas e determinou que fossem expostas aos fiéis as relíquias dos
santos, para favorecer sua piedade. Dentre os peregrinos estavam também vários
futuros santos, de modo que esse foi chamado “o Jubileu dos Santos”.
Nicolau V também
deu início à tradição de celebrar importantes canonizações
durante o Jubileu, canonizando São Bernardino de Sena (†1444), promotor da
devoção ao Santíssimo Nome de Jesus.
1475: Paulo
II e Sisto IV
Em 1470 o Papa Paulo
II (†1471) publicou a Bula Ineffabilis
Providentia, convocando o Jubileu de 1475 e estabelecendo a partir de então
esse fosse celebrado a cada 25 anos, reduzindo pela metade o intervalo de 50 anos para favorecer
a participação dos fiéis.
Paulo II |
Após a morte de
Paulo II, Sisto IV (†1484) confirmou a decisão com a Bula Salvator noster
Dei Filius e celebrou o Jubileu de 1475, durante o qual empenhou-se em restaurar várias igrejas e monumentos de Roma.
1500: Alexandre
VI
O Jubileu de 1500
foi convocado pelo Papa Alexandre VI (†1503) com a Bula Inter multiplices.
O Pontífice promulgou ainda outros documentos sobre a preparação e a celebração
do Jubileu, que marcou a passagem do século.
O Cerimoniário
do Papa, Monsenhor Johannes Burckardt (Giovanni Burcardo) preparou para a
ocasião os ritos de abertura e encerramento do Jubileu. Na Noite de
Natal o Papa derrubou o muro que fechava a Porta Santa da Basílica de São Pedro,
e Cardeais Legados fizeram o mesmo nas outras três Basílicas.
No Natal do ano
seguinte o Papa deu início à construção do muro que fecha a Porta Santa da Basílica
Vaticana fora dos Jubileus, rito repetido pelos Cardeais Legados nas outras
Basílicas.
Para saber mais, confira nossas postagens sobre o rito da abertura e sobre o rito do fechamento da Porta Santa no Grande Jubileu do ano 2000.
1525: Clemente
VII
O Jubileu de 1525
foi celebrado pelo Papa Clemente VII (†1534), convocado pela Bula Inter sollecitudines.
1550: Júlio
III
Poucos dias após
sua eleição em fevereiro de 1550, o Papa Júlio III (†1555) convocou o Jubileu
com a Bula Si pastores ovium e logo em seguida abriu a Porta Santa.
1575: Gregório
XIII
Convocado pela Bula
Dominus ac Redemptor noster, o Jubileu de 1775 foi celebrado pelo Papa Gregório
XIII (†1585).
Destaca-se a atuação
de São Filipe Néri (†1595), presbítero romano que fundou a Confraria da
Santíssima Trindade dos Peregrinos (Confraternità della Santissima Trinità
dei Pellegrini), que se dedicava ao cuidado dos peregrinos
independentemente da sua nacionalidade.
São Filipe Néri também
estabeleceu o itinerário da “peregrinação às sete igrejas” (Giro delle Sette
Chiese): as quatro Basílicas Maiores e as Basílicas de Santa Cruz “em Jerusalém”, São
Lourenço fora-dos-muros e São Sebastião fora-dos-muros.
Para saber mais, confira nossa postagem sobre os sete salmos penitenciais, associados às sete igrejas.
1600: Clemente VIII
O Jubileu de 1600
foi convocado com a Bula Annus Domini placabilis e celebrado pelo Papa Clemente
VIII (†1605), que se empenhou pessoalmente na acolhida aos peregrinos e no
cuidado aos pobres.
1625: Urbano
VIII
Com a Bula Omnes
gentes o Papa Urbano VIII (†1644) convocou o Jubileu de 1625. Nesse ano,
através da Bula Pontifica Sollicitudo, pela primeira vez a indulgência jubilar
foi concedida aos que não podiam ir a Roma: doentes, eremitas, presos...
1650: Inocêncio
X
O Papa Inocêncio
X (†1655) convocou o Jubileu de 1650 com a Bula Appropinquat dilectissimi
Filii. Nesse ano a indulgência jubilar foi estendida também a alguns territórios
de missão.
1675: Clemente
X
Durante o
Jubileu de 1675, convocado pelo Papa Clemente X (†1676) com a Bula Ad Apostolicae
vocis oraculum, o Coliseu romano é proposto como lugar sagrado em memória
dos mártires cristãos.
Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.
1700: Inocêncio
XII e Clemente XI
O Papa Inocêncio
XII (†1700) convocou o Jubileu de 1700 com a Bula Regi saeculorum; sua
saúde frágil, porém, não lhe permitiu abrir a Porta Santa, sendo substituído
por um Cardeal Legado.
Inocêncio XII |
Após a morte de Inocêncio XII em setembro de 1700, o Ano Santo foi concluído por seu sucessor, Clemente XI (†1721).
Clemente XI |
1725: Bento
XIII
Com a Bula Redemptor
et Dominus noster, o Papa Bento XIII (†1730) convocou o Jubileu de 1725. Durante
o Ano Santo o Papa celebrou também um Sínodo na Diocese de Roma.
1750: Bento
XIV
O Jubileu de 1750
foi convocado com a Bula Peregrinantes a Domino do Papa Bento XIV (†1758).
Destaca-se nesse
ano a exortação à penitência e a pregação de São Leonardo de Porto Maurício (†1751),
sacerdote franciscano e grande promotor da Via Sacra, cujas quatorze estações foram
edificadas dentro do Coliseu.
Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história e o significado da Via Sacra e sobre a Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.
1775: Clemente
XIV e Pio VI
Outro “Jubileu
de dois Papas”: Clemente XIV (†1774) convocou o Jubileu com a Bula Salutis nostrae
auctor, mas veio a falecer pouco antes do seu início.
Clemente XIV |
O Ano Santo então foi
aberto pelo seu sucessor, o Papa Pio VI (†1799), poucos dias após sua eleição
em fevereiro de 1775.
1825: Leão
XII
O Jubileu de
1800 não pode ser celebrado, devido aos conflitos na Europa após a Revolução
Francesa: a cidade de Roma estava ocupada por tropas francesas e o Papa Pio VI morreu
no exílio no ano anterior. Seu sucessor, Pio VII (†1823), eleito em Veneza no início de 1800, só
pode retornar a Roma meses mais tarde.
O Jubileu de
1825, por sua vez, foi convocado pelo Papa Leão XII (†1829) com a Bula Quod hoc
ineunte saeculo, embora tenha sido celebrado em um clima de tensão.
1875: Pio IX
Assim como em
1800, o Jubileu de 1850 não pode ser celebrado, pelos conflitos no contexto da Unificação
Italiana e do fim dos Estados Pontifícios, com o Papa Pio IX (†1878) exilado em Gaeta.
Após retornar a
Roma, Pio IX convocou o Jubileu de 1875 com a Bula Gravibus Ecclesiae.
Contudo, uma vez que as tensões continuavam, não foram abertas as Portas Santas
nem se realizaram grandes peregrinações.
1900: Leão
XIII
Com a Bula Properante
ad exitum saeculo o Papa Leão XIII (†1903) convocou o Jubileu de 1900. Para
marcar a passagem do século, foram edificados monumentos em honra a Cristo em
toda a Itália.
1925: Pio XI
O Papa Pio XI (†1939)
convocou o Jubileu de 1925 com a Bula Infinita Dei misericordia. Esse
Ano Santo teve um caráter fortemente missionário, destacando-se também a instituição da Solenidade de Cristo Rei.
Pio XI abre a Porta Santa (1925) |
1933: Pio XI
Em 1933 foi convocado um Jubileu Extraordinário, isto é, fora da contagem “ordinária” dos 25 anos, em comemoração aos 1900 anos da Morte de Cristo (ocorrida por volta do ano 33).
Esse “Ano Santo da Redenção”, como indicado pelo Papa Pio XI na Bula Quod nuper, foi celebrado do Domingo de Ramos de 1933 até a Páscoa de 1934.
Pio XI |
1950: Pio XII
O Jubileu
Ordinário de 1950, convocado pelo Papa Pio XII (†1958) com a Bula Jubilaeum maximum,
deu grande ênfase à paz, após a Segunda Guerra Mundial.
Destacaram-se
também a proclamação do dogma da Assunção de Maria e a inauguração da nova Porta Santa da Basílica de São Pedro, realizada em bronze pelo escultor italiano
Vico Consorti (†1979).
1975: Paulo
VI
Primeiro Ano
Santo após o Concílio Vaticano II (1962-1965), o Jubileu de 1975 foi convocado pelo
Papa São Paulo VI (†1978) com a Bula Apostolorum Limina.
Esse Jubileu foi
marcado pelo papel dos meios de comunicação (sobretudo a televisão) e pela
reconciliação (incluindo o diálogo ecumênico e inter-religioso).
Paulo VI abre a Porta Santa (1975) |
1983: João
Paulo II
50 anos após a
iniciativa de Pio XI, em 1983 o Papa São João Paulo II (†2005) convocou um novo
Jubileu Extraordinário para celebrar o 1950º ano da Morte de Cristo.
Como indicado na
Bula Aperite portas Redemptori, esse “Ano
Santo da Redenção” teve início na Solenidade da Anunciação de 1983 e foi concluído
na Páscoa de 1984.
Destacou-se a participação
dos jovens, aos quais o Papa confiou uma grande cruz de madeira no encerramento
do Ano Santo, que depois seria levada pelo mundo nas Jornadas Mundiais da
Juventude.
2000: João
Paulo II
O Grande Jubileu
do Ano 2000, que marcou a passagem para um novo milênio, foi amplamente
preparado pelo Papa João Paulo II.
Conforme as orientações
da Carta Apostólica Tertio Milennio
Adveniente, o Jubileu foi precedido
por três anos de preparação, dedicados às Pessoas da Santíssima Trindade (1997:
Jesus Cristo; 1998: Espírito Santo; 1999: Pai).
O Jubileu propriamente
dito, convocado pela Bula Incarnationis mysterium,
foi marcado pelo perdão (“purificação da memória”) e pelo seu alcance ecumênico. Pela primeira vez o Papa abriu as Portas Santas das quatro Basílicas Maiores (no final do Jubileu foram inauguradas novas Portas na Basílicas do Latrão, de São Paulo
e de Santa Maria Maior) e realizou uma sugestiva Peregrinação Jubilar à Terra Santa.
João Paulo II abre a Porta Santa (2000) |
2015-2016:
Francisco
Em 2015, através
da Bula Misericordiae vultus, o Papa Francisco convocou mais um Jubileu
Extraordinário, dedicado à misericórdia.
Esse Ano Santo
da Misericórdia teve início no dia 08 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada
Conceição e 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II, e foi concluído no
dia 20 de novembro de 2016, Solenidade de Cristo Rei.
O Papa Francisco abre a Porta Santa (2015) |
2025: Francisco
O Jubileu Ordinário de 2025 foi convocado pelo Papa Francisco através da Bula Spes non confundit, publicada no dia 09 de maio de 2024, Solenidade da Ascensão do Senhor.
Esse Jubileu terá início no dia 24 de dezembro de 2024, Noite de Natal, e será concluído no dia 06 de janeiro de 2026, Solenidade da Epifania.
Referências:
McKENZIE, John
Lawrence. Jubileu. in: Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus,
2013, p. 468.
NOÉ, Cardeal
Virgílio. A Porta Santa da Basílica de São Pedro no Vaticano. Roma:
Libreria Editrice Vaticana, 1999.
OUSSANI, Gabriel. Year of Jubilee
(Hebrew). in: The Catholic Encyclopedia, vol. 8, 1910. Disponível
em: New Advent.
THURSTON, Herbert. Holy Year of Jubilee.
in: The Catholic Encyclopedia, vol. 8, 1910. Disponível em: New Advent.
Imagens: Wikimedia Commons.
Postagem publicada em 01 de dezembro de 2015. Revista e ampliada em 26 de abril de 2024. Última atualização: 09 de maio de 2024.
1933 ....Ano que minha mãe TEREZINHA nasceu !!! 🙏👏👏👏👏
ResponderExcluirMerece uma benção no pergaminho próprio do Papa ...Como conseguir ?
ResponderExcluirSobre a Bênção Apostólica em pergaminho, confira as informações no site da Esmolaria Apostólica (Elemosineria Apostolica):
Excluirhttps://www.elemosineria.va/papal-blessing-parchments/?lang=pt-pt
Portanto Jubileu dela de 90 anos 👍
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