sábado, 16 de outubro de 2021

Patriarca Católico Caldeu afirma: Liturgia não é espetáculo

No dia 15 de outubro a página em português do site Vatican News divulgou uma reflexão sobre a Liturgia proferia pelo Cardeal Louis Raphaël I Sako, Patriarca da Igreja Católica Caldeia, uma das Igrejas Católicas Orientais.

A Igreja Caldeia, com sede no Iraque, celebra a Liturgia segundo o Rito Siríaco Oriental, também chamado Rito Caldeu. Em sua Viagem Apostólica ao Iraque, em março de 2021, o Papa Francisco celebrou uma versão adaptada dessa Liturgia.

Patriarca Louis Raphaël Sako celebrando segundo o Rito Caldeu

Segue o texto na íntegra, conforme divulgado pelo site Vatican News:

Patriarca caldeu: Liturgia não é espetáculo, mas forte expressão da fé viva da Igreja

A Liturgia não é “a representação de um espetáculo”, mas é “a mais forte expressão da fé viva da Igreja”, obra do próprio Cristo que através dela “nos chama a entrar em seu Mistério Pascal”.
É o que reitera o Patriarca da Igreja Caldeia, Cardeal Luis Raphael Sako, no articulado pronunciamento transmitido pelos canais oficiais de comunicação do Patriarcado como uma contribuição para o processo de atualização litúrgica em andamento naquela estrutura eclesial.

Na primeira parte, o Patriarca Sako delineia a natureza própria da ação litúrgica e sua centralidade na vida da eclesial. “A Liturgia - enfatizou - é a celebração da presença de Cristo em seu Mistério Pascal, em modo atrativo, entusiasmado e jubiloso. Isto ao menos é o que deveríamos perceber em cada celebração litúrgica”.
“É lamentável - diz o purpurado iraquiano - ver que em algumas práticas litúrgicas, incluindo a Missa, nos sentimos como se estivéssemos de luto, ou no local de um espetáculo, e não na alegria de celebrar a presença do Cristo glorificado, penhor de nossa vida eterna”.
Precisamente a importância da Liturgia na vida da Igreja - acrescenta ele - implica “a necessidade de preparar bem a celebração”, seguindo os tempos litúrgicos que preveem “orações próprias, com cantos e leituras, para cada Tempo”. “Esta vida diária marcada pelos tempos e momentos da Liturgia é o que viveram nossos santos e mártires, e é aquilo pelo qual devemos almejar ardentemente”.

E é justamente a natureza íntima da ação litúrgica - aponta o Patriarca caldeu - que sugere os critérios elementares de toda autêntica renovação das práticas litúrgicas. Uma “atualização” que só pode ser realizada permanecendo dentro da estrutura da Tradição, que nunca é “nostalgia do passado”, mas “leva em frente” a Igreja em seu caminho através da história.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia - citada pelo Patriarca Sako - definiu de forma paradigmática as características distintivas de todo processo autêntico de reforma litúrgica, a ser iniciado para que “o povo cristão possa mais seguramente obter as abundantes graças que a Sagrada Liturgia contém”.
Por esta razão - ensinou o último Concílio Ecumênico - nas autênticas reformas litúrgicas, “a disposição dos textos e dos ritos deve ser conduzida de tal forma que as realidades sagradas que eles significam sejam expressas mais claramente e o povo cristão possa compreender mais facilmente seu significado e possa participar delas com uma celebração plena, ativa e comunitária”.

Papa Francisco preside a Liturgia em Rito Caldeu em Bagdá (março de 2021)

Estas diretrizes - sugere o purpurado iraquiano - podem alimentar e orientar proveitosamente também a renovação litúrgica necessária na Igreja Caldeia. Citando casos e circunstâncias concretas, ele observa que na bênção final da Missa dominical e festiva dos caldeus, o celebrante reza: “Deus, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Jesus Cristo nosso Senhor... abençoe a nossa assembleia, nos reúna e santifique o nosso povo que veio e desfrutou da força destes gloriosos mistérios...”. “Mas se o fiel não entende essas fórmulas, como pode usufruir dela?”.
Seguindo o mesmo critério, é apropriado estabelecer “um tempo adequado para a celebração, levando em conta as necessidades dos estudantes e trabalhadores, e não as do celebrante, seja ele Bispo ou sacerdote”.
Na Igreja Caldeia - acrescenta o Cardeal iraquiano - a expressão litúrgica amadureceu no âmago de “uma cultura particular e em uma língua que é raramente falada hoje em dia”. “Nossos ritos atuais datam de mais de 1.400 anos e, às vezes, seu conteúdo, linguagem e estilo não correspondem à cultura e sensibilidade de nosso tempo”.
Na última metade do século passado, os caldeus batizados “deixaram o campo em direção às grandes cidades” e nas últimas décadas, devido à deterioração das condições de segurança, “a maioria da população caldeia emigrou para países onde a cultura é diferente, o sistema é diferente, os costumes são diferentes, a língua é diferente”.
Como resultado destes processos históricos, “a maior parte de nossas paróquias hoje perdeu a prática da oração ritual por causa da língua, da duração, da repetição e da falta de atualização”. Por esta razão, o Patriarca Sako vê a renovação da Liturgia Caldeia como “uma oportunidade”, apesar das “críticas de conservadores e extremistas”.
Como sugere o grande teólogo Jean Corbon, apaixonado pelo Cristianismo do Oriente e das Igrejas árabes, em toda autêntica renovação litúrgica realizada na esteira da Tradição se encontra e se repete “o mistério da fonte: é sempre a mesma, mas a água viva que brota dela é sempre nova”.


Fonte: Vatican News.

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