No dia 15 de outubro a página em português do site Vatican News divulgou uma reflexão sobre
a Liturgia proferia pelo Cardeal Louis Raphaël I Sako, Patriarca da Igreja
Católica Caldeia, uma das Igrejas Católicas Orientais.
A Igreja Caldeia, com sede no Iraque, celebra a Liturgia
segundo o Rito Siríaco Oriental, também chamado Rito Caldeu. Em sua Viagem
Apostólica ao Iraque, em março de 2021, o Papa Francisco celebrou uma versão adaptada dessa Liturgia.
Patriarca Louis Raphaël Sako celebrando segundo o Rito Caldeu |
Segue o texto na íntegra, conforme divulgado pelo site Vatican News:
Patriarca caldeu: Liturgia não é espetáculo, mas forte expressão da fé viva da Igreja
A Liturgia não é “a representação de um espetáculo”, mas é “a
mais forte expressão da fé viva da Igreja”, obra do próprio Cristo que através
dela “nos chama a entrar em seu Mistério Pascal”.
É o que reitera o Patriarca da Igreja Caldeia, Cardeal Luis
Raphael Sako, no articulado pronunciamento transmitido pelos canais oficiais de
comunicação do Patriarcado como uma contribuição para o processo de atualização
litúrgica em andamento naquela estrutura eclesial.
Na primeira parte, o Patriarca Sako delineia a natureza
própria da ação litúrgica e sua centralidade na vida da eclesial. “A Liturgia -
enfatizou - é a celebração da presença de Cristo em seu Mistério Pascal, em
modo atrativo, entusiasmado e jubiloso. Isto ao menos é o que deveríamos
perceber em cada celebração litúrgica”.
“É lamentável - diz o purpurado iraquiano - ver que em
algumas práticas litúrgicas, incluindo a Missa, nos sentimos como se
estivéssemos de luto, ou no local de um espetáculo, e não na alegria de
celebrar a presença do Cristo glorificado, penhor de nossa vida eterna”.
Precisamente a importância da Liturgia na vida da Igreja -
acrescenta ele - implica “a necessidade de preparar bem a celebração”, seguindo
os tempos litúrgicos que preveem “orações próprias, com cantos e leituras, para
cada Tempo”. “Esta vida diária marcada pelos tempos e momentos da Liturgia é o
que viveram nossos santos e mártires, e é aquilo pelo qual devemos almejar
ardentemente”.
E é justamente a natureza íntima da ação litúrgica - aponta
o Patriarca caldeu - que sugere os critérios elementares de toda autêntica
renovação das práticas litúrgicas. Uma “atualização” que só pode ser realizada
permanecendo dentro da estrutura da Tradição, que nunca é “nostalgia do passado”,
mas “leva em frente” a Igreja em seu caminho através da história.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia - citada pelo Patriarca
Sako - definiu de forma paradigmática as características distintivas de todo
processo autêntico de reforma litúrgica, a ser iniciado para que “o povo
cristão possa mais seguramente obter as abundantes graças que a Sagrada Liturgia
contém”.
Por esta razão - ensinou o último Concílio Ecumênico - nas
autênticas reformas litúrgicas, “a disposição dos textos e dos ritos deve ser
conduzida de tal forma que as realidades sagradas que eles significam sejam
expressas mais claramente e o povo cristão possa compreender mais facilmente
seu significado e possa participar delas com uma celebração plena, ativa e
comunitária”.
Papa Francisco preside a Liturgia em Rito Caldeu em Bagdá (março de 2021) |
Estas diretrizes - sugere o purpurado iraquiano - podem
alimentar e orientar proveitosamente também a renovação litúrgica necessária na
Igreja Caldeia. Citando casos e circunstâncias concretas, ele observa que na
bênção final da Missa dominical e festiva dos caldeus, o celebrante reza: “Deus,
que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Jesus Cristo nosso
Senhor... abençoe a nossa assembleia, nos reúna e santifique o nosso povo que
veio e desfrutou da força destes gloriosos mistérios...”. “Mas se o fiel não
entende essas fórmulas, como pode usufruir dela?”.
Seguindo o mesmo critério, é apropriado estabelecer “um
tempo adequado para a celebração, levando em conta as necessidades dos
estudantes e trabalhadores, e não as do celebrante, seja ele Bispo ou sacerdote”.
Na Igreja Caldeia - acrescenta o Cardeal iraquiano - a
expressão litúrgica amadureceu no âmago de “uma cultura particular e em uma
língua que é raramente falada hoje em dia”. “Nossos ritos atuais datam de mais
de 1.400 anos e, às vezes, seu conteúdo, linguagem e estilo não correspondem à
cultura e sensibilidade de nosso tempo”.
Na última metade do século passado, os caldeus batizados “deixaram
o campo em direção às grandes cidades” e nas últimas décadas, devido à
deterioração das condições de segurança, “a maioria da população caldeia
emigrou para países onde a cultura é diferente, o sistema é diferente, os
costumes são diferentes, a língua é diferente”.
Como resultado destes processos históricos, “a maior parte
de nossas paróquias hoje perdeu a prática da oração ritual por causa da língua,
da duração, da repetição e da falta de atualização”. Por esta razão, o Patriarca
Sako vê a renovação da Liturgia Caldeia como “uma oportunidade”, apesar das “críticas
de conservadores e extremistas”.
Como sugere o grande teólogo Jean Corbon, apaixonado pelo Cristianismo do Oriente e das Igrejas árabes, em toda autêntica renovação
litúrgica realizada na esteira da Tradição se encontra e se repete “o mistério
da fonte: é sempre a mesma, mas a água viva que brota dela é sempre nova”.
Fonte: Vatican News.
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