segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Ângelus: XXVII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 03 de outubro de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 10,2-16), vemos uma reação bastante insólita de Jesus: indigna-se. E o mais surpreendente é que a sua indignação não é causada pelos fariseus que o põem à prova com perguntas sobre a liceidade do divórcio, mas pelos seus discípulos que, para o protegerem da multidão, repreendem algumas crianças que são levadas a Jesus. Por outras palavras, o Senhor não se indigna com quantos discutem com ele, mas com aqueles que, a fim de aliviá-lo do cansaço, afastam as crianças. Por quê? É uma boa pergunta: por que faz isto o Senhor?

Recordemos - era o Evangelho há dois domingos - que Jesus, ao fazer o gesto de abraçar uma criança, identificou-se com os pequeninos: ensinou que são precisamente os pequeninos, ou seja, aqueles que dependem dos outros, que estão em necessidade e não podem retribuir, que devem ser servidos em primeiro lugar (cf. Mc 9,35-37). Quem procura Deus, encontra-o neles, nos pequeninos, nos necessitados: necessitados não só de bens, mas de cuidados e conforto, como os doentes, os humilhados, os prisioneiros, os imigrantes e os encarcerados. Ele está ali: nos mais pequeninos. Eis porque Jesus se indigna: cada afronta feita a um pequenino, a um pobre, a uma criança, a um indefeso, é feita a Ele.

Hoje o Senhor retoma este ensinamento e completa-o. De fato, acrescenta: «Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele» (Mc 10,15). Eis a novidade: o discípulo deve não só servir os mais pequeninos, mas também reconhecer-se como pequeno. E cada um de nós, reconhecemo-nos a nós mesmos pequenos perante Deus? Pensemos nisto, nos ajudará. Reconhecermo-nos pequenos, necessitados de salvação, é indispensável para acolher o Senhor. É o primeiro passo para nos abrirmos a Ele. No entanto, esquecemo-nos frequentemente disto. Na prosperidade, no bem-estar, temos a ilusão de sermos autossuficientes, de bastarmos a nós próprios, de não precisarmos de Deus. Irmãos e irmãs, isto é um engano, pois cada um de nós é um ser necessitado, um pequenino. Devemos procurar a nossa própria pequenez e reconhecê-la. E nisto encontraremos Jesus.

Na vida, reconhecer-se pequeno é um ponto de partida para se tornar grande. Se pensarmos nisto, crescemos não tanto com base nos sucessos e nas coisas que temos, mas sobretudo nos momentos de luta e fragilidade. Na necessidade, amadurecemos; abrimos o coração a Deus, aos outros, ao sentido da vida. Abrimos os olhos aos outros. Abrimos os olhos, quando somos pequenos, para o verdadeiro sentido da vida. Quando nos sentimos pequenos diante de um problema, pequenos diante de uma cruz, de uma doença, quando sentimos fadiga e solidão, não desanimemos. A máscara da superficialidade está a cair e a nossa fragilidade radical está a reemergir: é a nossa base comum, o nosso tesouro, porque com Deus as fragilidades não são obstáculosmas oportunidades. Uma boa oração seria esta: “Senhor, olha para as minhas fragilidades...” e enumerá-las perante Ele. Esta é uma boa atitude diante de Deus.

Na verdade, é precisamente na fragilidade que descobrimos quanto Deus se preocupa conosco. O Evangelho de hoje diz que Jesus é muito terno com os pequeninos: «Depois, tomou-as nos braços, abençoou-as, impondo-lhes as mãos» (v. 16). As contrariedades, as situações que revelam a nossa fragilidade são ocasiões privilegiadas para experimentar o seu amor. Sabem bem isto quantos rezam com perseverança: em momentos de escuridão ou solidão, a ternura de Deus para conosco torna-se - por assim dizer - ainda mais presente. Quando somos pequeninos, sentimos ainda mais a ternura de Deus. Esta ternura dá-nos paz, esta ternura faz-nos crescer, porque Deus se aproxima de nós à sua maneira, que é proximidade, compaixão e ternura. E quando nos sentimos sem importância, isto é, pequenos, por qualquer razão, o Senhor aproxima-se, sentimo-lo mais próximo. Ele dá-nos paz, faz-nos crescer. Na oração, o Senhor abraça-nos, como um pai com o seu filho. Assim, tornamo-nos grandes: não na ilusória pretensão da nossa autossuficiência - isto não faz grande ninguém - mas na força de recolocar toda a esperança no Pai. Precisamente como fazem os pequeninos, eles fazem assim.

Peçamos hoje à Virgem Maria uma grande graça, a da pequenez: sermos crianças que confiam no Pai, certos de que Ele não deixa de cuidar de nós.

Jesus abençoa as crianças
(Igreja do Salvador sobre o Sangue Derramado, São Petersburgo)

Fonte: Santa Sé.

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