São João Crisóstomo
Sermão 2 contra os asmoneus
Não
é tempo de coroas ou de prêmios, mas de luta
Enquanto Jesus
estava subindo a Jerusalém, a mãe dos zebedeus se aproximou de Jesus com seus
dois filhos, Tiago e João, e lhe disse: Ordena
que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda.
Porém, o outro evangelista coloca esta petição na boca dos filhos. Contudo, não
existe oposição nenhuma, nem temos porque deter-nos em tais minúcias. A verdade
é que, tendo enviado a mãe na frente para preparar o terreno, depois que ela
tinha falado, foram eles que apresentaram a petição, sem saber, é claro, o que
pediam, mas pedindo de verdade. Pois apesar de serem Apóstolos, eram, no
entanto, ainda muito imperfeitos, como pintinhos que se movem no ninho porque
suas asas ainda não cresceram.
Pois é muito
útil que saibais que, antes da Paixão, os Apóstolos andavam como que imersos em
um mar de ignorância, pelo que, censurando-os lhes dizia: “Mas a estas alturas,
e tampouco vós sois capazes de entender? Não entenderam a pouco que eu não
falava de pães ao dizer-vos: Muito
cuidado com a levedura dos fariseus? E novamente: Muitas coisas me restam por dizer-vos, porém não as suportais agora”.
Percebes que eles não tinham ideias claras a respeito da Ressurreição? O
evangelista o destaca, dizendo: Pois até
àquela hora não tinham entendido que Ele havia de ressuscitar dentre os mortos.
E se desconheciam isto, com maior razão ignoravam outras, como, por exemplo, o
referente ao Reino dos Céus, às nossas primícias e à ascensão aos céus.
Arrastando-se sobre a terra, eram incapazes ainda de levantar voo para as
alturas.
Imbuídos, pois,
desta opinião, e esperando como esperavam que de um momento para outro Jesus
instauraria o reino em Jerusalém, eram incapazes de assimilar outra coisa.
Convencimento que o outro evangelista destaca, dizendo que os Apóstolos criam
que o advento de seu reino já estava próximo, ao qual imaginavam como um entre
tantos reinos da terra; pensavam que se dirigiam a Jerusalém para inaugurar o
seu reino, e não para a cruz e a morte. Pois mesmo que tenham escutado mil
vezes, seu entendimento estava bloqueado para a compreensão destas realidades.
Não tendo, pois,
alcançado ainda um evidente e exato conhecimento dos dogmas, mas crendo
dirigir-se a um reino terreno e que Jesus partia para reinar em Jerusalém,
tomando-o à parte no caminho, estimando que a ocasião fosse apropriada,
formulam essa petição. Porque, tendo-se separado do grupo dos discípulos, e
como se tudo dependesse de seu arbítrio, pedem um cargo de privilégio e que
lhes sejam assegurados os cargos mais importantes, pensando que as coisas já
estavam chegando ao seu fim e que o assunto estava a ponto de se encerrar, e
que era chegado o tempo das coroas e dos prêmios. O que era o cúmulo da
inconsciência.
Pois bem, feita
a petição, escuta o que lhes responde Jesus: Não sabeis o que pedis. Não é tempo de coroas e de prêmios, mas de
combates, lutas, suores, de provas e de pelejas. Isto é o que significa a
frase: Não sabeis o que pedis.
Todavia, ainda não provastes os cárceres, ainda não saístes a campo para
combater. Sois capazes de beber o cálice
que eu vou beber, ou de batizar-vos com o batismo que eu vou me batizar?
Nesta passagem Ele chama “cálice” e “batismo” a sua cruz e a sua Morte: cálice,
pela avidez com que o consome; batismo, porque mediante a sua Morte estava para
purificar o orbe da terra; e não só o redimia deste modo, mas mediante a
Ressurreição, se bem que esta não lhe era penosa.
Ele lhes diz: O cálice que eu vou beber, o bebereis, e vos
batizareis com o batismo com que eu vou ser batizado, referindo-se deste
modo à morte. De fato, Tiago foi realmente decapitado, e João foi várias vezes
condenado à morte. Porém, o sentar-se à
minha direita ou à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo; já está reservado.
Vós certamente morrereis, vos matarão, alcançareis a coroa do martírio; porém,
quanto a que sejais os primeiros, não cabe a mim concedê-lo: o receberão
aqueles que lutam com base em seu maior esforço, em atenção à sua maior
prontidão de espírito.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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