São Basílio Magno
Sermão sobre os ricos
Chamas-lhe
mestre, e não fazes o que deve fazer um discípulo?
Não faz muito
que nos foi falado deste jovem, e aquele que escutou com atenção se recordará
bem do que então se disse. E o primeiro, que não é o mesmo que aquele perito na
Lei de quem faz menção São Lucas. Aquele era um tentador, que fazia perguntas
dissimuladas; mas este perguntava com sinceridade, embora não tenha escutado
com docilidade. Porque se tivesse perguntado por desprezo, não iria embora
triste com a resposta do Senhor.
Por isso seu
caráter revelava como que uma mistura, pois a Escritura o revela louvável por
um lado, e por outro muito infeliz e completamente desesperado. Porque o
conhecer aquele que é mestre de verdade, e dar este nome ao único e verdadeiro,
desprezando a soberba dos fariseus, a opinião dos mestres da Lei e o grupo dos
escribas, isto era o que se louvava. E também se aprovou que manifestasse
aquela solicitude por saber como alcançaria a vida eterna.
Porém, o não ter
gravado em seu coração os saudáveis conselhos que escutou dos lábios do
verdadeiro mestre, o não tê-los colocado em prática, mas cego pela paixão da
avareza fugisse triste, nos revela toda a sua vontade não desejosa de seguir o
que é de maior proveito, mas o que é mais agradável a todos. Isto prova a
inconstância de seu caráter e o inconsequente que era consigo mesmo.
Chamas-lhe
mestre, e não fazes o que deve fazer um discípulo? Confessas que Ele é bom, e
rejeitas aquilo que te concede? Porque aquele que é bom é também comunicador de
bens. Perguntas-lhe sobre a vida eterna, e mostras estar entregue inteiramente
aos deleites da vida presente. Mas que conselho impraticável, pesado ou
intolerável te propôs o Mestre? Vende o
que tens e dá aos pobres.
Se te tivesse
proposto os trabalhos da agricultura, ou os perigos do comércio, ou qualquer
outro incômodo daqueles que acompanham aos que andam atrás do dinheiro, se
compreende que, levando a mal o conselho, te retirasses triste; mas se por um
caminho tão fácil, que não te custaria trabalho ou suor algum, promete
tornar-te herdeiro da vida eterna, por que não te alegras da facilidade de
alcançar a tua salvação? Por que punes o teu coração e te retiras triste, e
torna inúteis para ti os trabalhos que já havias concluído?
Porque se, como
dizes, não mataste, não cometeste adultério, não furtaste, não levantaste falso
testemunho a ninguém, tornas infrutuoso o esforço que colocaste em observar
isto, porque também não queres cumprir os outros, somente com o qual poderás
entrar no Reino de Deus. Se o médico te prometesse restituir-te aqueles membros
que ou por natureza, ou por alguma enfermidade tinhas mutilado, não ouvirias
isto com tristeza; e porque o grande médico das almas quer aperfeiçoar-te,
despojado dos principais bens, não recebes o benefício, mas choras e ficas
triste.
Manifestamente,
estás longe daquele preceito que ordena amar ao teu próximo como a ti mesmo, e
falsamente afirmas tê-lo guardado. Porque, veja, este mandamento do Senhor
prova que tu és completamente alheio à verdadeira caridade. Porque se era
verdade o que afirmaste, que tinhas cumprido desde a tua juventude com o preceito
da caridade, e que tinhas dado aos outros o mesmo que a ti mesmo, de onde,
diga-me, te veio esta abundância de riquezas? Pois o cuidado dos necessitados
gasta as riquezas; pois cada um há de receber um pouco segundo a sua
necessidade; e todos deverão repartir igualmente seus bens e gastá-los entre os
pobres. Por isso o que ama ao próximo como a si mesmo não possui mais que o seu
próximo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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