São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
Inabitação
divina
Porque Pai é o
Pai e não Filho, e o Filho é Filho e não Pai. Igualmente, o Pai está no Filho e
o Filho no Pai. Ambos doam o Paráclito, ou seja, o Espírito Santo, não o Pai à
sua maneira e o Filho à sua, mas antes se concede aos santos da parte do Pai,
por meio do Filho. Em consequência, quando dizemos que o Pai dá, também o Filho
dá, por meio do qual tudo nos é concedido; e quando dizemos que o Filho dá,
quem dá é o Pai, já que o Pai concede todos os bens. E que o Espírito Santo
também seja divino e não de outra natureza em comparação com o Pai e o Filho,
parece-me que a nenhuma pessoa de bom-senso restará dúvida alguma, já que a
razão se impõe a nós com força. Pois se alguém dissesse que o Espírito não é de
natureza divina, como pode participar de Deus a criatura que recebe o Espírito
Santo? Ou como poderiam chamar-nos ou poderíamos ser templos de Deus, se
recebêssemos um espírito criado e alheio ao ser divino, em vez do Espírito que
procede de Deus? Ou como seriam consortes da natureza divina aqueles que,
conforme os santos, participam do Espírito, se a ele devêssemos contá-lo entre
as criaturas e não viesse a nós da própria natureza divina? Não é que ele
administra-nos essa natureza divina como alguém que fosse alheio a ela; mas,
por assim dizer, convertendo-se dentro de nós em certa qualidade divina: assim
ele habita e permanece sempre nos santos, se você limpar sua mente fazendo todo
tipo de bem, e se conservas a graça mediante um esforço contínuo.
Cristo diz que
aqueles que são do mundo não o podem nem compreender nem contemplar, isto é,
aqueles que somente pensam no que é mundano e amam as coisas terrenas; mas já
os santos facilmente o veem e entendem. Por que motivo? Porque os primeiros,
manchados com uma impureza que dificilmente pode-se purificar, e com o
raciocínio obscurecido, não são capazes de bem considerar o que é próprio da
natureza divina, nem captam a lei do Espírito, uma vez que estão subjugados
inteiramente pelos apetites da carne.
Porém, os bons e
sóbrios mantêm o coração alheio aos males mundanos e livremente introduzem no
âmago de seu interior ao Paráclito; e tendo-o recebido o conservam, e, quanto é
possível a um ser humano, o contemplam com sua mente, e assim produzem frutos
grandiosos e valiosos. Porque ele os santificará, os fará realizar todo tipo de
boas obras, e, tirando-lhes as vergonhosas cadeias da escravidão, os honrará
com a filiação adotiva. Paulo dá testemunho deles, dizendo: E já que sois filhos, Deus enviou aos vossos
corações o Espírito de seu Filho que clama: Abbá, ó Pai!
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 516-517. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler uma homilia de São João Damasceno para esta Solenidade, clique aqui.
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