Santo Agostinho
Tratado sobre o Evangelho de São João
Amamos
a Cristo na medida em que guardamos os seus mandamentos
Neste discurso
aos discípulos, o Salvador volta insistentemente sobre o tema da graça que nos
salva, dizendo: Meu Pai recebe glória com
isto, com que deis fruto abundante; assim sereis meus discípulos. E se com
isto recebe glória Deus Pai, com que demos fruto abundante e assim sejamos seus
discípulos, não o creditemos à nossa própria glória, como se houvesse de se
atribuir à nossa capacidade o que temos realizado. Sua é a graça, e a Ele, não
a nós, corresponde a glória.
Por isso, tendo
dito em outro lugar brilhe assim vossa
luz aos homens para que vejam vossas boas obras, para que não se creiam os
autores de tais obras, acrescentou imediatamente: e deem glória a vosso Pai que está nos céus. Com isto recebe glória
o Pai, com que demos fruto abundante e assim sejamos seus discípulos. E quem
nos torna discípulos a não ser Aquele cuja misericórdia nos preveniu? Realmente somos obra sua. Deus nos criou em
Cristo Jesus, para que nos dediquemos às boas obras.
Como o Pai me amou, diz, assim eu vos amei: permanecei no meu amor.
Aqui está a origem de todas as boas obras. Pois, como poderiam ser nossas, a
não ser pela fé ativa na prática do amor? E como nós poderíamos amar, se não
tivéssemos sido amados primeiro? O disse com muita clareza o mesmo evangelista
em sua Carta: Amemos a Deus, porque Ele
nos amou primeiro. E o Pai certamente ama também a nós, porém em si mesmo;
porque com isto recebe glória o Pai, com que demos fruto na videira, ou seja,
no Filho, e assim sejamos seus discípulos.
Permanecei, diz, no meu amor. Como permaneceremos? Escuta o que segue: Se guardais os meus mandamentos,
permanecereis em meu amor. É o amor o que faz guardar os mandamentos, ou é
a guarda dos mandamentos que faz o amor? Pode duvidar-se de que é o amor o que
precede? O que não ama não tem razão suficiente para observar os mandamentos.
Por isso, o que segue: Se guardais meus
mandamentos, permanecereis no meu amor, mostra não de onde se origina o
amor, mas como se manifesta. É como se dissesse: Não penseis em permanecer no
meu amor se não guardais meus mandamentos; pois se não os guardais, não
permanecereis. A saber, nisto se manifestará que permaneceis em meu amor: se
guardais meus mandamentos. Para que ninguém se engane, dizendo que lhe ama, se
não guarda seus mandamentos. Pois amamos a Cristo na medida em que guardamos os
seus mandamentos; se somos indolentes na guarda dos mandamentos, o seremos
igualmente no amor. Portanto, não guardemos primeiro seus mandamentos para que
nos ame; mas se não nos ama, não podemos guardar seus mandamentos. Esta é a
graça acessível aos humildes, dissimulada nos soberbos.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 356-357. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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