terça-feira, 3 de novembro de 2020

Homilia do Papa: Comemoração dos Fiéis Defuntos (2020)

Santa Missa na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
Homilia do Papa Francisco
Igreja de Santa Maria da Piedade no Cemitério Teutônico
Segunda-feira, 02 de novembro de 2020

Derrotado, ou melhor, acabado na sua existência pela doença, quase sem pele, quase a ponto de morrer, quase sem carne, Jó tem uma certeza e diz: «Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó» (19,25). No momento em que Jó está mais abatido, há aquele abraço de luz e calor que o consola: Eu verei o Redentor. Com estes olhos o verei. «Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros» (v. 27).

Esta certeza, no momento quase final da vida, é a esperança cristã. Uma esperança que é um dom: nós não podemos tê-la. É um dom que devemos pedir: “Senhor, dá-me a esperança”. Há tantas coisas ruins que nos levam a desesperar, a acreditar que tudo será uma derrota final, que depois da morte não haverá nada... E voz de Jó ressoa: “Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó! (...) Eu mesmo o verei», com estes olhos.

«A esperança não desilude» (Rm 5,5), nos disse Paulo. A esperança nos atrai e dá um sentido à nossa vida. Eu não vejo o além, mas a esperança é o dom de Deus que nos atrai para a vida, para a alegria eterna. A esperança é uma âncora que nós temos do outro lado: nós, agarrados à corda, nos sustentamos (cfHb 6,18-20). “Eu sei que o meu redentor está vivo e que eu o verei”. E isto, o repitamos nos momentos de alegria e nos momentos ruins, nos momentos de morte, digamos assim.

Esta certeza é um dom de Deus, porque nós não podemos jamais ter a esperança com as nossas forças. Devemos pedi-la. A esperança é dom gratuito que nós jamais merecemos: é dado, é doado. É graça.

E depois, o Senhor confirma isto, esta esperança que não desilude: «Todos os que o Pai me confia virão a mim» (Jo 6,37). Este é o fim da esperança: ir a Jesus. E «quando vierem, não os afastarei. Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo 6,37-38). O Senhor nos recebe lá, onde está a âncora. A vida na esperança é viver assim: agarrados, com a corda nas mãos, forte, sabendo que a âncora está lá embaixo. E esta âncora não desilude.

Hoje, pensando em tantos irmãos e irmãs que partiram, nos fará bem olhar os cemitérios e olhar para cima. E repetir, como Jó: “Eu sei que o meu Redentor está vivo e eu o verei, eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”. E esta é a força que nos dá a esperança, este dom gratuito que é a virtude da esperança. Que o Senhor a conceda a todos nós.


Fonte: Santa Sé.

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