quinta-feira, 5 de novembro de 2020

XIII Catequese do Papa sobre a oração

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
A oração (13): Jesus, mestre da oração

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Durante a sua vida pública, Jesus recorre constantemente ao poder da oração. Os Evangelhos mostram-no quando se retira em lugares isolados para rezar. Trata-se de observações sóbrias e discretas, que deixam apenas imaginar aqueles diálogos orantes. Contudo, elas testemunham claramente que mesmo em momentos de maior dedicação aos pobres e aos doentes, Jesus nunca negligenciava o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto mais estava imerso nas necessidades do povo, tanto mais sentia a necessidade de descansar na Comunhão trinitária, de voltar para o Pai e para o Espírito.
Portanto, na vida de Jesus existe um segredo, escondido aos olhos humanos, que representa o ponto fulcral de tudo. A oração de Jesus é uma realidade misteriosa, da qual só intuímos algo, mas que permite ler toda a sua missão na justa perspectiva. Naquelas horas solitárias - na madrugada ou durante a noite - Jesus mergulha na sua intimidade com o Pai, ou seja, no Amor do qual toda a alma tem sede. É isto que sobressai dos primeiros dias do seu ministério público.
Em um sábado, por exemplo, a cidade de Cafarnaum transformou-se num “hospital de campanha”: ao pôr do sol, levam todos os doentes a Jesus e Ele cura-os. Mas antes do amanhecer, Jesus desaparece: retira-se para um lugar solitário e reza. Simão e os outros o procuram e quando o encontram dizem-lhe: «Todos te procuram!». O que responde Jesus?: «Vamos às aldeias vizinhas, para que Eu pregue também lá, pois foi para isso que vim» (cfMc 1, 35-38). Com frequência Jesus vai além, além na oração com o Pai e além noutras aldeias, noutros horizontes para ir anunciar a outros povos.
A oração é o leme que guia a rota de Jesus. Não é o sucesso, não é o consentimento, não é aquela frase sedutora “todos te procuram”, que ditam as etapas da sua missão. É o modo menos confortável que traça o caminho de Jesus, mas que obedece à inspiração do Pai, que Jesus ouve e acolhe na sua prece solitária.
Catecismo afirma: «Quando ora, Jesus já nos ensina a orar» (n. 2607). Portanto, a partir do exemplo de Jesus, podemos obter algumas características da oração cristã.
Antes de tudo, possui um primado: é o primeiro desejo do dia, algo que se pratica ao amanhecer, antes que o mundo desperte. Ela restitui uma alma àquilo que de outra forma ficaria sem respiro. Um dia vivido sem oração corre o risco de se transformar numa experiência aborrecida ou tediosa: tudo o que nos acontece poderia transformar-se para nós em um destino mal suportado e cego. Jesus, ao contrário, educa na obediência à realidade e, portanto, à escuta. A oração é, antes de tudo, escuta e encontro com Deus. Por conseguinte, os problemas da vida quotidiana não se tornam obstáculos, mas apelos do próprio Deus a ouvir e encontrar quantos estão à nossa frente. Assim, as provações da vida transformam-se em ocasiões para crescer na fé e na caridade. O caminho diário, incluindo as dificuldades, adquire a perspectiva de uma “vocação”. A oração tem o poder de transformar em bem o que de outra forma seria uma condenação na vida; a oração tem o poder de abrir um grande horizonte para a mente e de alargar o coração.
Em segundo lugar, a oração é uma arte a praticar com insistência. O próprio Jesus diz-nos: batei, batei, batei à porta. Todos somos capazes de orações episódicas, que nascem da emoção de um momento; mas Jesus educa-nos para outro tipo de oração: aquela que conhece uma disciplina, um exercício e é assumida no âmbito de uma regra de vida. A oração perseverante produz uma transformação progressiva, fortalece em tempos de tribulação, concede a graça de ser amparados por Aquele que nos ama e nos protege sempre.
Outra característica da oração de Jesus é a solidão. Quem reza não foge do mundo, mas prefere lugares desertos. Ali, no silêncio, podem surgir muitas vozes que escondemos no íntimo: os desejos mais afastados, as verdades que nos obstinamos a sufocar e assim por diante. E, acima de tudo, Deus fala no silêncio. Cada pessoa precisa de um espaço para si, onde cultivar a sua vida interior, onde as ações têm sentido. Sem vida interior tornamo-nos superficiais, agitados, ansiosos - a ansiedade faz-nos muito mal! Por isso devemos rezar; sem vida interior fugimos da realidade e também fugimos de nós mesmos, somos homens e mulheres sempre em fuga.
Por fim, a oração de Jesus é o lugar onde percebemos que tudo vem de Deus e para Ele volta. Por vezes, nós seres humanos acreditamos que somos senhores de tudo ou, caso contrário, perdemos toda a autoestima, vamos de um lado para o outro. A oração ajuda-nos a encontrar a correta dimensão na relação com Deus, nosso Pai, e com toda a criação. Por fim, a oração de Jesus consiste em entregar-se nas mãos do Pai, como Jesus no Jardim das Oliveiras, naquela angústia: “Pai se for possível... mas seja feita a tua vontade”. O abandono nas mãos do Pai. É bom quando estamos agitados, um pouco preocupados e o Espírito Santo nos transforma a partir de dentro e nos leva a este abandono nas mãos do Pai: “Pai, seja feita a tua vontade”.
Amados irmãos e irmãs, redescubramos no Evangelho Jesus Cristo como mestre de oração, e coloquemo-nos na sua escola. Garanto-vos que encontraremos a alegria e a paz!


Fonte: Santa Sé

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