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Quarta-feira,
04 de novembro de 2020
A oração (13): Jesus,
mestre da oração
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Durante a sua vida pública, Jesus
recorre constantemente ao poder da oração. Os Evangelhos mostram-no quando se
retira em lugares isolados para rezar. Trata-se de observações sóbrias e
discretas, que deixam apenas imaginar aqueles diálogos orantes. Contudo, elas
testemunham claramente que mesmo em momentos de maior dedicação aos pobres e
aos doentes, Jesus nunca negligenciava o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto
mais estava imerso nas necessidades do povo, tanto mais sentia a necessidade de
descansar na Comunhão trinitária, de voltar para o Pai e para o Espírito.
Portanto, na vida de Jesus existe um
segredo, escondido aos olhos humanos, que representa o ponto fulcral de tudo. A
oração de Jesus é uma realidade misteriosa, da qual só intuímos algo, mas que
permite ler toda a sua missão na justa perspectiva. Naquelas horas solitárias -
na madrugada ou durante a noite - Jesus mergulha na sua intimidade com o Pai,
ou seja, no Amor do qual toda a alma tem sede. É isto que sobressai dos
primeiros dias do seu ministério público.
Em um sábado, por exemplo, a cidade de
Cafarnaum transformou-se num “hospital de campanha”: ao pôr do sol, levam todos
os doentes a Jesus e Ele cura-os. Mas antes do amanhecer, Jesus desaparece:
retira-se para um lugar solitário e reza. Simão e os outros o procuram e quando
o encontram dizem-lhe: «Todos te procuram!». O que responde Jesus?: «Vamos às
aldeias vizinhas, para que Eu pregue também lá, pois foi para isso que vim» (cf. Mc 1, 35-38). Com
frequência Jesus vai além, além na oração com o Pai e além noutras aldeias,
noutros horizontes para ir anunciar a outros povos.
A oração é o leme que guia a
rota de Jesus. Não é o sucesso, não é o consentimento, não é aquela
frase sedutora “todos te procuram”, que ditam as etapas da sua missão. É o modo
menos confortável que traça o caminho de Jesus, mas que obedece à inspiração do
Pai, que Jesus ouve e acolhe na sua prece solitária.
O Catecismo afirma:
«Quando ora, Jesus já nos ensina a orar» (n. 2607). Portanto, a partir do
exemplo de Jesus, podemos obter algumas características da oração
cristã.
Antes de tudo, possui um primado:
é o primeiro desejo do dia, algo que se pratica ao amanhecer, antes
que o mundo desperte. Ela restitui uma alma àquilo que de outra forma ficaria
sem respiro. Um dia vivido sem oração corre o risco de se transformar numa
experiência aborrecida ou tediosa: tudo o que nos acontece poderia
transformar-se para nós em um destino mal suportado e cego. Jesus, ao
contrário, educa na obediência à realidade e, portanto, à escuta. A oração é, antes
de tudo, escuta e encontro com Deus. Por conseguinte, os problemas da vida quotidiana
não se tornam obstáculos, mas apelos do próprio Deus a ouvir e encontrar
quantos estão à nossa frente. Assim, as provações da vida transformam-se em
ocasiões para crescer na fé e na caridade. O caminho diário, incluindo as
dificuldades, adquire a perspectiva de uma “vocação”. A oração tem o poder de
transformar em bem o que de outra forma seria uma condenação na vida; a oração
tem o poder de abrir um grande horizonte para a mente e de alargar o coração.
Em segundo lugar, a oração é uma arte a
praticar com insistência. O próprio Jesus diz-nos: batei, batei,
batei à porta. Todos somos capazes de orações episódicas, que nascem da emoção
de um momento; mas Jesus educa-nos para outro tipo de oração: aquela que
conhece uma disciplina, um exercício e é assumida no âmbito de uma regra de
vida. A oração perseverante produz uma transformação progressiva, fortalece em
tempos de tribulação, concede a graça de ser amparados por Aquele que nos ama e
nos protege sempre.
Outra característica da oração de Jesus
é a solidão. Quem reza não foge do mundo, mas prefere lugares
desertos. Ali, no silêncio, podem surgir muitas vozes que escondemos no íntimo:
os desejos mais afastados, as verdades que nos obstinamos a sufocar e assim por
diante. E, acima de tudo, Deus fala no silêncio. Cada pessoa precisa de um
espaço para si, onde cultivar a sua vida interior, onde as ações têm sentido.
Sem vida interior tornamo-nos superficiais, agitados, ansiosos - a ansiedade
faz-nos muito mal! Por isso devemos rezar; sem vida interior fugimos da
realidade e também fugimos de nós mesmos, somos homens e mulheres sempre em
fuga.
Por fim, a oração de Jesus é o lugar
onde percebemos que tudo vem de Deus e para Ele volta. Por vezes,
nós seres humanos acreditamos que somos senhores de tudo ou, caso contrário,
perdemos toda a autoestima, vamos de um lado para o outro. A oração ajuda-nos a
encontrar a correta dimensão na relação com Deus, nosso Pai, e com toda a
criação. Por fim, a oração de Jesus consiste em entregar-se nas mãos do Pai,
como Jesus no Jardim das Oliveiras, naquela angústia: “Pai se for possível...
mas seja feita a tua vontade”. O abandono nas mãos do Pai. É bom quando estamos
agitados, um pouco preocupados e o Espírito Santo nos transforma a partir de
dentro e nos leva a este abandono nas mãos do Pai: “Pai, seja feita a tua
vontade”.
Amados irmãos e irmãs, redescubramos no
Evangelho Jesus Cristo como mestre de oração, e coloquemo-nos na sua escola.
Garanto-vos que encontraremos a alegria e a paz!
Fonte: Santa Sé
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