A quinta e última meditação do Papa Bento XVI sobre a oração dos Atos dos Apóstolos dentro do seu ciclo de Catequeses sobre a oração foi dedicada ao episódio da libertação de Pedro da prisão.
Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 09 de maio de 2012
A oração (33):
A oração da Igreja por Pedro (At 12)
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de meditar sobre o último episódio da vida de São Pedro
narrado nos Atos dos Apóstolos: o seu aprisionamento por vontade de
Herodes Agripa e a sua libertação através da intervenção prodigiosa do Anjo do
Senhor, na vigília do seu processo em Jerusalém (At 12,1-17).
A narração é mais uma vez caracterizada pela oração da Igreja. Com
efeito, São Lucas escreve: «Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja
rezava continuamente a Deus por ele» (v. 5). E, depois de ter deixado
milagrosamente o cárcere, por ocasião da sua visita à casa de Maria, mãe de
João chamado Marcos, afirma-se que «numerosos fiéis estavam reunidos rezando» (v.
12). Entre estas duas anotações importantes que explicam a atitude da
comunidade cristã diante do perigo e da perseguição, são narradas a detenção e
a libertação de Pedro, que dura a noite inteira. A força da oração incessante da
Igreja eleva-se até Deus e o Senhor ouve e realiza uma libertação impensável e
inesperada, enviando o seu Anjo.
A libertação de São Pedro da prisão (Federico Zuccari) |
A narração evoca os grandes elementos da libertação de Israel da
escravidão do Egito, a Páscoa judaica. Como aconteceu naquele evento fundamental,
também aqui o gesto principal é levado a cabo pelo Anjo do Senhor, que liberta
Pedro. E se as próprias ações do Apóstolo - ao qual se pede que levante
depressa, ponha o cinto e cinja os rins - corroboram as do povo eleito na noite
da libertação por intervenção de Deus, quando foi convidado a comer depressa o
cordeiro com os rins cingidos, as sandálias aos pés, o cajado na mão, pronto
para sair do país (Ex 12,11). Assim, Pedro pode exclamar: «Agora sei, de
fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes» (At
12,11).
Mas o Anjo evoca não apenas aquele da libertação de Israel do Egito,
mas também o da Ressurreição de Cristo. Com efeito, narram os Atos dos
Apóstolos: «Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O
anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: “Levanta-te depressa!”» (At
12,7). A luz que enche o espaço da prisão e o próprio gesto de acordar o Apóstolo
estão relacionadas com a luz libertadora da Páscoa do Senhor que vence as
trevas da noite e do mal. Finalmente, o convite: «Vem comigo!» (v. 8), faz
ressoar no coração as palavras da chamada inicial de Jesus (Mc 1,17),
repetida depois da Ressurreição no lago de Tiberíades, onde o Senhor diz duas vezes
a Pedro: «Segue-me» (Jo 21,19.22). É um convite urgente ao seguimento:
só vivemos a liberdade verdadeira se sairmos de nós mesmos, para nos colocarmos
a caminho com o Senhor e cumprirmos a sua vontade.
Gostaria de ressaltar também outro aspecto da atitude de Pedro no
cárcere; com efeito, notemos que, enquanto a comunidade cristã reza com
insistência por ele, «Pedro dormia» (At 12,6). Em uma situação tão
crítica e de sério perigo, é uma atitude que pode parecer estranha, mas que ao
contrário denota tranquilidade e confiança; ele confia em Deus, sabe que está circundado
pela solidariedade e pela oração dos seus e abandona-se totalmente nas mãos do
Senhor. Assim deve ser a nossa oração: assídua, solidária com os outros,
plenamente confiante em relação a Deus, que nos conhece no íntimo e cuida de
nós, a tal ponto que - diz Jesus - «até os cabelos da cabeça estão todos
contados»; portanto, «Não tenhais medo!» (Mt 10,30-31).
Pedro vive a noite do cativeiro e da libertação do cárcere como um
momento do seu seguimento do Senhor, que vence as trevas da noite e liberta da escravidão
das correntes e do perigo de morte. A sua libertação é prodigiosa,
caracterizada por vários trechos descritos cuidadosamente: orientado pelo Anjo,
não obstante a vigilância dos guardas, atravessa o primeiro e o segundo posto
de guarda, até à porta de ferro que introduz na cidade: e a porta abre-se
sozinha diante deles (At 12,10). Pedro e o Anjo do Senhor percorrem
juntos uma parte do caminho até que, voltando a si, o Apóstolo se dá conta de
que o Senhor realmente o libertou e, depois de ter meditado, vai à casa de
Maria, mãe de Marcos, onde muitos dos discípulos estão reunidos em oração; mais
uma vez, a resposta da comunidade à dificuldade e ao perigo é confiar em Deus,
intensificar a relação com Ele.
Aqui, parece-me útil evocar outra situação difícil, que foi vivida pela
comunidade cristã das origens. Fala-nos dela São Tiago em sua Carta.
Trata-se de uma comunidade em crise, em dificuldade, não tanto devido às
perseguições, mas porque no seu interior há invejas e conflitos (Tg 3,14-16).
E o Apóstolo interroga-se acerca do motivo desta situação. Ele encontra duas
razões principais: a primeira é deixar-se dominar pelas paixões, pela ditadura
dos próprios desejos, pelo egoísmo (Tg 4,1-2a); a segunda é a falta de
oração - «não pedis» (v. 2b) - ou a presença de uma oração que não se pode
definir como tal - «Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só
quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres» (v. 3). Segundo São Tiago, esta
situação mudaria se a comunidade falasse totalmente unida com Deus, se rezasse
realmente de modo assíduo e unânime. Com efeito, também o discurso sobre Deus
corre o risco de perder a sua força interior e o testemunho esgota-se se não
forem animados, sustentados e acompanhados pela oração, pela continuidade de um
diálogo vivo com o Senhor. Uma exortação importante inclusive para nós e para
as nossas comunidades, quer pequenas, como a família, quer as mais vastas, como
a paróquia, a Diocese e a Igreja inteira. E isto faz-me pensar que rezavam
nesta comunidade de São Tiago, mas rezavam mal, somente para satisfazer os
próprios prazeres. Temos que aprender sempre de novo a rezar bem, a orar
realmente, orientando-nos para Deus e não para o nosso próprio bem.
Ao contrário, a comunidade que acompanha o cativeiro de Pedro é uma comunidade
que reza verdadeiramente, durante a noite inteira, unida. E a alegria que
invade o coração de todos quando, inesperadamente, o Apóstolo bate à porta é
irreprimível. São a alegria e a admiração diante da obra de Deus que ouve.
Assim, da Igreja eleva-se a oração por Pedro, e na Igreja ele volta para narrar
«como o Senhor o tinha tirado da prisão» (At 12,17). Naquela Igreja onde
ele é posto como rocha (Mt 16,18), Pedro narra a sua «páscoa» de
libertação: ele experimenta que no seguimento de Jesus encontra a liberdade
verdadeira, é envolvido pela luz resplandecente da Ressurreição e por isso pode
testemunhar até ao martírio que o Senhor é o Ressuscitado e que «de fato, o
Senhor enviou o seu anjo para libertá-lo do poder de Herodes» (At 12,11).
O martírio que depois padecerá em Roma o unirá definitivamente a Cristo, que
lhe tinha dito: «Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te
levará para onde não queres ir»; «Jesus disse isso, significando com que morte
Pedro iria glorificar a Deus» (Jo 21,18-19).
Caros irmãos e irmãs, o episódio da libertação de Pedro, narrado por
Lucas, diz-nos que a Igreja, cada um de nós, atravessa a noite da provação, mas
é a vigilância incessante da oração que nos sustenta. Também eu, desde o
primeiro momento da minha eleição como Sucessor de São Pedro, sempre me senti
sustentado pela vossa oração, pelas preces da Igreja, principalmente nos
momentos mais difíceis. Agradeço de coração. Com a oração constante e
confiante, o Senhor liberta-nos das cadeias, guia-nos para atravessar qualquer
noite de cativeiro que possa afligir o nosso coração, infunde-nos a serenidade
do coração para enfrentar as dificuldades da vida, até a rejeição, a oposição e
a perseguição. O episódio de Pedro mostra esta força da oração. E mesmo
aprisionado, o Apóstolo sente-se tranquilo, na certeza de que nunca está
sozinho: a comunidade reza por ele, o Senhor está próximo; aliás, ele sabe que
«é na fraqueza que a força de Cristo se manifesta» (2Cor 12,9). A oração
constante e unânime é um instrumento precioso também para superar as provações
que podem surgir ao longo do caminho da vida, porque o fato de estarmos
profundamente unidos a Deus permite-nos estar também profundamente unidos aos
outros.
Fonte: Santa Sé.
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