quinta-feira, 23 de junho de 2022

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Introdução 8

Continuando a reflexão sobre a Revelação, confira a seguir as Catequeses do Papa São João Paulo II sobre o Antigo e o Novo Testamentos.

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Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
INTRODUÇÃO GERAL

15. O Antigo Testamento
João Paulo II - 08 de maio de 1985

1. Como é sabido, a Sagrada Escritura é composta por duas grandes coleções de livros: o Antigo e o Novo Testamento. O Antigo Testamento, redigido inteiramente antes da vinda de Cristo, é uma coleção de 46 livros de caráter diverso. Os enumeraremos aqui, agrupando-os de modo a distinguir, ao menos genericamente, a índole de cada um de eles.

2. O primeiro grupo que encontramos é o chamado “Pentateuco”, formado por: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Quase como um prolongamento do Pentateuco se encontra o Livro de Josué e, em seguida, o dos Juízes. O conciso Livro de Rute constitui, de certo modo, a introdução ao grupo seguinte, de caráter histórico, composto pelos dois Livros de Samuel e pelos dois Livros dos Reis. Entre esses livros devem incluir-se também os dois das Crônicas, o Livro de Esdras e o de Neemias, que se referem ao período da história de Israel posterior ao cativeiro de Babilônia.
Livro de Tobias, o de Judite e o de Ester, ainda que refiram à história da nação eleita, possuem caráter de narração alegórica e moral mais do que de historia verdadeira e própria. Ao contrário, os dois Livros dos Macabeus possuem caráter histórico (de crônica).


3. Os chamados “livros didáticos” constituem um grupo próprio, no qual se incluem obras de caráter diverso. Pertencem a esse grupo: o Livro de Jó, os Salmos e o Cântico dos Cânticos, e igualmente algumas obras de caráter sapiencial-educativo: o Livro dos Provérbios, o do Qohelet (isto é, o Eclesiastes), o Livro da Sabedoria e a Sabedoria do Sirácida (isto é, o Eclesiástico).

4. Por fim, o último grupo do Antigo Testamento é constituído pelos “livros proféticos”. Distinguem-se os chamados quatro profetas “maiores”: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Ao Livro de Jeremias se acrescentam as Lamentações e o Livro de Baruc. Depois vêm os chamados profetas “menores”: Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

5. À exceção dos primeiros capítulos do Gênesis, que tratam da origem do mundo e da humanidade [Gn 1–11], os livros do Antigo Testamento, começando pelo chamado de Abraão, referem-se a uma nação que foi escolhida por Deus. Eis o que lemos na Constituição Dei Verbum: “O Deus amantíssimo, tendo em vista e preparando, cheio de solicitude, a salvação de todo o gênero humano, por especial desígnio escolheu para si um povo, ao qual confiou suas promessas. Pela aliança estabelecida com Abraão (Gn 15,18) e como o povo de Israel através de Moisés (Ex 24,8), revelou-se, por palavras e obras, como único Deus vivo e verdadeiro à nação que adquiriu para si, para que Israel experimentasse os caminhos de Deus com os homens, e para que, falando o próprio Deus pela boca dos profetas,  viesse a compreender, dia após dia, mais profunda e claramente estes caminhos e os testemunhasse mais amplamente entre as nações  (Sl 21/22,28-29; 95/96,1-3; Is 2,1-4; Jr 3,17). Assim, a economia da salvação - prenunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados - se encontra presente como verdadeira Palavra de Deus nos livros do Antigo Testamento; por esta razão, estes livros, conservam seu valor perene de divinamente inspirados” (Dei Verbum, n. 14).

6. A Constituição conciliar indica em seguida o que o objetivo principal da economia da salvação no Antigo Testamento: “preparar”, anunciar profeticamente (cf. Lc 24,44; Jo 5,39; 1Pd 1,10) e prefigurar com diversos sinais (cf. 1Cor 10,11) a vinda de Cristo, redentor do universo, e do reino messiânico (cf. Dei Verbum, n. 15).
Ao mesmo tempo, os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero humano antes de Cristo, “manifestam a todos (...) o conhecimento de Deus e dos homens e os modos pelos quais o Deus justo e misericordioso age com os homens. Estes livros, ainda que contenham realidades imperfeitas e transitórias, expõem a verdadeira pedagogia divina” (ibid.). Nesses livros se expressa “o sentido vivo de Deus”, “uma sabedoria salutar sobre a vida humana” e, por fim, encerram “tesouros admiráveis de oração, nos quais pulsa o mistério da nossa salvação” (ibid.). E, portanto, também os livros do Antigo Testamento devem ser recebidos pelos cristãos com devoção.

7. A relação entre o Antigo e o Novo Testamento é ilustrada em seguida pela Constituição conciliar do seguinte modo: “Deus, inspirador e autor dos livros de ambos os Testamentos, sabiamente dispôs que o Novo Testamento estivesse latente no Antigo e o Antigo se tornasse patente no Novo” (segundo as palavras de Santo Agostinho: “Novum in Vetere latet, Vetus in Novo patet...”). “Pois, embora Cristo tenha instaurado a Nova Aliança no seu sangue (Lc 22,20; 1Cor 11,25), os livros inteiros do Antigo Testamento, acolhidos pela pregação evangélica, adquirem e manifestam sua completa significação no Novo Testamento (Mt 5,17; Lc 24,27; Rm 16,25-26; 2Cor 3,14-16), ao mesmo tempo que o iluminam e explicam” (Dei Verbum, n. 16).
Como podeis ver, o Concílio nos oferece uma doutrina precisa e clara, suficiente para nossa Catequese. Ela nos permite dar um novo passo na determinação do significado da nossa fé. “Crer de modo cristão” significa extrair, segundo o espírito que dissemos, a luz da Divina Revelação também dos livros da antiga aliança.

16. O Novo Testamento
João Paulo II - 22 de maio de 1985

1. O Novo Testamento possui dimensões menores do que o Antigo. Sob o aspecto da redação histórica, os livros que o formam foram escritos em um arco de tempo muito mais breve que os da antiga aliança. É composto por 27 livros, alguns muito breves.
Em primeiro lugar elencamos os quatro Evangelhos: segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Segue o livro dos Atos dos Apóstolos, cujo autor é também Lucas. O grupo mais numeroso é constituído pelas Cartas Apostólicas, as mais numerosas das quais são as Cartas de São Paulo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito e uma a Filêmon. O chamado “corpus paulinum” termina com a Carta aos Hebreus, escrita no âmbito de influência de Paulo. Seguem: a Carta de São Tiago, duas Cartas de São Pedro, três Cartas de São João e a Carta de São Judas. O último livro do Novo Testamento é o Apocalipse de São João.

2. Assim se exprime em relação a estes livros a Constituição Dei Verbum: “Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo as do Novo Testamento, os Evangelhos, com todo mérito, ocupam um lugar preeminente, por constituírem o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador. A Igreja sempre e em toda a parte defendeu e defende a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Aquilo que os Apóstolos pregaram por mandato de Cristo, mais tarde, pela inspiração do Espírito Santo, estes mesmos Apóstolos e varões apostólico nos transmitiram por escrito como fundamento da fé, a saber, o Evangelho quadriforme segundo Mateus, Marcos, Lucas e João” (Dei Verbum, n. 18).

3. A Constituição conciliar destaca de modo particular a historicidade dos quatro Evangelhos. Escreve que a Igreja “afirma sua historicidade sem hesitar”, mantendo com constância que os quatro Evangelhos “fielmente transmitem aquilo que Jesus, Filho de Deus, vivendo entre os homens,  realmente fez e ensinou para sua salvação eterna, até o dia em subiu aos céus (At 1,1-2)” (ibid., n. 19).
Sobre o modo como nasceram os quatro Evangelhos, a Constituição conciliar os vincula antes de tudo com o ensinamento apostólico, que teve início depois da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Eis o que lemos “Os Apóstolos, após a Ascensão do Senhor, transmitiram aos que os escutavam aquilo que Ele dissera e fizera, repletos daquela compreensão que eles mesmos gozavam, instruídos pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Espírito da verdade” (ibid.). Esses “gloriosos acontecimentos” são constituídos principalmente pela Ressurreição do Senhor e pela descida do Espírito Santo. Compreende-se que, à luz da Ressurreição, os Apóstolos creram definitivamente em Cristo. A Ressurreição projetou uma luz fundamental sobre sua Morte na cruz, e também sobre tudo o que havia feito e proclamado antes de sua Paixão. No dia de Pentecostes, então, os Apóstolos foram “iluminados pelo Espírito da verdade”.

4. Do ensinamento apostólico oral se passou à redação dos Evangelhos, sobre a qual assim se expressa a Constituição conciliar: “Os autores sagrados compuseram quatro Evangelhos, selecionando algumas coisas dentre as muitas transmitidas oralmente ou por escrito, sintetizando outras, ou explicando-as de acordo com a situação das igrejas, mas conservando, ao final, a forma de pregação, a fim de poderem sempre nos comunicar veraz e sinceramente acerca de Jesus. Com esta intenção, eles escreveram, seja de sua própria memória e recordação, seja pelo testemunho daqueles ‘que desde o início foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra’, a fim de que venhamos a conhecer a ‘verdade’ a partir das palavras com as quais somos instruídos (Lc 1,2-4)” (Dei Verbum, n. 19). Este conciso parágrafo do Concílio reflete e sintetiza brevemente toda a riqueza das investigações e estudos que os biblistas não cessaram de dedicar à questão da origem dos quatro Evangelhos. Para nossa Catequese é suficiente este resumo.

5. Quanto aos restantes livros do Novo Testamento, a Constituição conciliar Dei Verbum se pronuncia da seguinte forma: nestes livros, “por sábio desígnio divino, se confirmam as verdades acerca do Cristo Senhor, se expressa mais e mais sua autêntica doutrina, prega-se o poder salvador da obra divina de Cristo, narram-se os inícios da Igreja e sua admirável difusão e anuncia-se sua gloriosa consumação” (ibid., n. 20). É uma apresentação breve e sintética do conteúdo desses livros, independentemente de questões cronológicas, que agora nos interessam menos. Recordaremos apenas que os estudiosos fixam para sua composição a segunda metade do século I.
O que mais importa para nós é a presença do Senhor Jesus e do seu Espírito nos autores do Novo Testamento, que são, portanto, os meios através dos quais Deus nos introduz na novidade revelada. “O Senhor Jesus esteve com os Apóstolos como prometera (Mt 28,20) e lhes enviou o Espírito Paráclito, para que os conduzisse à plenitude da verdade (Jo 16,13)” (ibid.). Os livros do Novo Testamento nos introduzem precisamente no caminho que leva à plenitude da verdade da Divina Revelação.

6. Eis aqui outra conclusão para uma mais completa concepção da fé. Crer de modo cristão significa aceitar a autorrevelação de Deus em Jesus Cristo, que constitui o conteúdo essencial do Novo Testamento.
Diz-nos o Concílio: “Quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4), o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1,14). Cristo instaurou na terra o Reino de Deus,  manifestou a Si mesmo e a seu Pai por palavras e atos e completou a sua obra por sua Morte, Ressurreição e gloriosa Ascensão e pelo envio do Espírito Santo. Elevado na terra, atrai todos a Si (Jo 12,32), o único que tem palavras de vida eterna (Jo 6,68)” (Dei Verbum, n. 17). “De tais realidades, os escritos do Novo Testamento dão um testemunho perene e divino” (ibid.). E, portanto, constituem um particular apoio para nossa fé.


Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (08 de maio e 22 de maio de 1985).

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