terça-feira, 28 de junho de 2022

Ângelus do Papa: XIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de junho de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste domingo (Lc 9,51-62) fala-nos de um ponto de viragem. Diz: «Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, Ele resolveu dirigir-se a Jerusalém» (v. 51). Assim começa a “grande viagem” para a cidade santa, que requer uma decisão especial, porque é a última. Os discípulos, cheios de entusiasmo ainda demasiado mundano, sonham que o Mestre está a caminho do triunfo; Jesus, por outro lado, sabe que a rejeição e a morte o esperam em Jerusalém (cfLc 9,22.43b-45); sabe que terá de sofrer muito; e isto requer uma decisão firme. Assim, Jesus vai com passo firme em direção a Jerusalém. É a mesma decisão que devemos tomar se quisermos ser discípulos de Jesus. Em que consiste esta decisão? Porque devemos ser verdadeiros discípulos de Jesus, com decisão real, e não, como costumava dizer uma senhora idosa que eu conhecia, cristãos como “água de rosas”. Não! Cristãos determinados. E somos ajudados a compreender isto pelo episódio que o evangelista Lucas relata imediatamente a seguir.
Enquanto estavam a caminho, uma aldeia de samaritanos, tendo ouvido dizer que Jesus se dirigia para Jerusalém - que era a cidade adversária - não o recebeu. Os Apóstolos Tiago e João, indignados, sugerem a Jesus que castigue aquelas pessoas, fazendo descer um fogo do céu. Jesus não só não aceita a proposta, como repreende os dois irmãos. Eles querem envolvê-lo no seu desejo de vingança e Ele não concorda com isso (cf. vv. 52-55). O “fogo” que Ele veio trazer à terra é outro (cfLc 12,49), é o Amor misericordioso do Pai. E para fazer crescer este fogo é preciso paciência, é preciso constância, é necessário um espírito penitencial.
Tiago e João, ao contrário, deixaram-se vencer pela ira. E isto também nos acontece, quando, embora façamos o bem, talvez com sacrifício, em vez de acolhimento encontramos uma porta fechada. Então surge a raiva: tentamos até envolver o próprio Deus, ameaçando castigos celestiais. Jesus, diversamente, percorre outro caminho, não o caminho da raiva, mas o da decisão firme de ir em frente, o que, longe de se traduzir em dureza, implica calma, paciência, longanimidade, sem, no entanto, diminuir minimamente o compromisso de fazer o bem. Esta forma de ser não denota fraqueza, mas, pelo contrário, uma grande força interior. Deixar-se vencer pela raiva na adversidade é fácil, é instintivo. É difícil dominar-se a si mesmo, fazendo como Jesus que - diz o Evangelho - se pôs «a caminho rumo a outra aldeia» (v. 56). Isto significa que quando encontramos fechamentos, devemos dedicar-nos a fazer o bem noutro lugar, sem recriminações. Assim Jesus ajuda-nos a sermos pessoas serenas, contentes com o bem praticado e que não procuram a aprovação humana.
Agora perguntemo-nos: nós, em que ponto estamos? Em que ponto estamos? Perante a contrariedade, diante de incompreensões, dirigimo-nos ao Senhor, pedimos-lhe a sua firmeza para fazer o bem? Ou procuramos confirmação nos aplausos, acabando por ser amargos e ressentidos quando não os recebemos? Com que frequência, mais ou menos conscientemente, procuramos aplausos, a aprovação dos outros? Será que o fazemos pelos aplausos? Não, não pode ser. Temos de fazer o bem pelo serviço e não procurar aplausos. Por vezes pensamos que o nosso fervor se deve a um senso de justiça por uma boa causa, mas na realidade na maioria das vezes é apenas orgulho, juntamente com debilidade, suscetibilidade e impaciência. Peçamos então a Jesus a força para ser como Ele, para segui-Lo com firme determinação neste caminho de serviço. Para não sermos vingativos nem intolerantes quando surgem dificuldades, quando nos dedicamos ao bem e os outros não compreendem, aliás, quando nos desqualificam. Não, silêncio e ir em frente.
Que a Virgem Maria nos ajude a fazer nossa a firme decisão de Jesus de permanecer no amor até ao fim.

Jesus e os Apóstolos a caminho (Andrei Mironov)

Fonte: Santa Sé.

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