Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de junho de 2022
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste domingo (Lc 9,51-62) fala-nos de
um ponto de viragem. Diz: «Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser
arrebatado deste mundo, Ele resolveu dirigir-se a Jerusalém» (v. 51).
Assim começa a “grande viagem” para a cidade santa, que requer uma decisão
especial, porque é a última. Os discípulos, cheios de entusiasmo ainda
demasiado mundano, sonham que o Mestre está a caminho do triunfo; Jesus, por
outro lado, sabe que a rejeição e a morte o esperam em Jerusalém (cf. Lc 9,22.43b-45);
sabe que terá de sofrer muito; e isto requer uma decisão firme.
Assim, Jesus vai com passo firme em direção a Jerusalém. É a mesma decisão que
devemos tomar se quisermos ser discípulos de Jesus. Em que consiste esta
decisão? Porque devemos ser verdadeiros discípulos de Jesus, com decisão real,
e não, como costumava dizer uma senhora idosa que eu conhecia, cristãos como “água
de rosas”. Não! Cristãos determinados. E somos ajudados a compreender isto pelo
episódio que o evangelista Lucas relata imediatamente a seguir.
Enquanto estavam a caminho, uma aldeia de
samaritanos, tendo ouvido dizer que Jesus se dirigia para Jerusalém - que era a
cidade adversária - não o recebeu. Os Apóstolos Tiago e João, indignados,
sugerem a Jesus que castigue aquelas pessoas, fazendo descer um fogo do céu.
Jesus não só não aceita a proposta, como repreende os dois irmãos. Eles querem
envolvê-lo no seu desejo de vingança e Ele não concorda com isso (cf. vv. 52-55). O “fogo” que Ele veio
trazer à terra é outro (cf. Lc 12,49),
é o Amor misericordioso do Pai. E para fazer crescer este fogo é preciso
paciência, é preciso constância, é necessário um espírito penitencial.
Tiago e João, ao contrário, deixaram-se vencer pela
ira. E isto também nos acontece, quando, embora façamos o bem, talvez com
sacrifício, em vez de acolhimento encontramos uma porta fechada. Então surge a
raiva: tentamos até envolver o próprio Deus, ameaçando castigos celestiais.
Jesus, diversamente, percorre outro caminho, não o caminho da raiva, mas o da
decisão firme de ir em frente, o que, longe de se traduzir em dureza, implica
calma, paciência, longanimidade, sem, no entanto, diminuir minimamente o
compromisso de fazer o bem. Esta forma de ser não denota fraqueza, mas, pelo
contrário, uma grande força interior. Deixar-se vencer pela raiva na
adversidade é fácil, é instintivo. É difícil dominar-se a si mesmo, fazendo
como Jesus que - diz o Evangelho - se pôs «a caminho rumo a outra aldeia» (v.
56). Isto significa que quando encontramos fechamentos, devemos dedicar-nos a
fazer o bem noutro lugar, sem recriminações. Assim Jesus ajuda-nos a sermos
pessoas serenas, contentes com o bem praticado e que não procuram a aprovação
humana.
Agora perguntemo-nos: nós, em que ponto estamos? Em
que ponto estamos? Perante a contrariedade, diante de incompreensões,
dirigimo-nos ao Senhor, pedimos-lhe a sua firmeza para fazer o bem? Ou
procuramos confirmação nos aplausos, acabando por ser amargos e ressentidos
quando não os recebemos? Com que frequência, mais ou menos conscientemente,
procuramos aplausos, a aprovação dos outros? Será que o fazemos pelos aplausos?
Não, não pode ser. Temos de fazer o bem pelo serviço e não procurar aplausos.
Por vezes pensamos que o nosso fervor se deve a um senso de justiça por uma boa
causa, mas na realidade na maioria das vezes é apenas orgulho, juntamente com
debilidade, suscetibilidade e impaciência. Peçamos então a Jesus a força para
ser como Ele, para segui-Lo com firme determinação neste caminho de serviço.
Para não sermos vingativos nem intolerantes quando surgem dificuldades, quando
nos dedicamos ao bem e os outros não compreendem, aliás, quando nos
desqualificam. Não, silêncio e ir em frente.
Que a Virgem Maria nos ajude a fazer nossa a firme
decisão de Jesus de permanecer no amor até ao fim.
Fonte: Santa Sé.
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