quarta-feira, 15 de junho de 2022

Itinerários catecumenais para a vida matrimonial

“O Evangelho da família é alegria que enche o coração e a vida inteira” (Amoris laetitia, n. 200).

Há poucos dias do X Encontro Mundial das Famílias, que se celebra em Roma de 22 a 26 de junho de 2022 com o tema “Amor em família: Vocação e caminho de santidade”, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida publicou no dia 15 de junho um documento intitulado “Itinerários catecumenais para a vida matrimonial: Orientações pastorais para as Igrejas particulares”.


O contexto

O termo “catecumenato”, em sentido estrito, refere-se ao itinerário de Iniciação Cristã de adultos, retomado pelo Concílio Vaticano II e marcado por vários ritos e etapas em torno aos Sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia.

Em sentido amplo, por sua vez, propõe-se uma “inspiração catecumenal” para todos os itinerários catequéticos eclesiais. Ver, nesse sentido, o novo Diretório para a Catequese (2020) e o Documento n. 107 da CNBB, “Iniciação à vida cristã: Itinerário para formar discípulos missionários” (2017).

Para acessar nossa série de postagens sobre o Diretório para a Catequese, clique aqui.

A preparação para a vida matrimonial não é um tema novo: em 1996 o Pontifício Conselho para a Família publicou um documento dedicado justamente à Preparação para o Sacramento do Matrimônio, recolhendo as reflexões de São João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris Consortio (1981).

O novo documento, por sua vez, é fruto dos dois Sínodos sobre a Família (2014-2015), que culminaram na Exortação Apostólica Amoris laetitia (A alegria do amor) pelo Papa Francisco (2016). Particularmente o capítulo VI do documento - “Algumas perspectivas pastorais” - reflete sobre a preparação para o Matrimônio (nn. 205-216) e o acompanhamento nos primeiros anos da vida matrimonial (nn. 217-230).

A proposta

Os Itinerários catecumenais para a vida matrimonial são, como indica seu subtítulo, Orientações pastorais para as Igrejas particulares. Ou seja, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida propõe os princípios gerais que devem nortear os processos de preparação para a vida matrimonial, a serem implementados pelas Conferências Episcopais, Dioceses e paróquias.

Após o Prefácio do Papa Francisco, o documento de 94 parágrafos está dividido em duas partes, emolduradas por um Preâmbulo (nn. 1-3) e  uma conclusão:
- Primeira parte (nn. 4-15), com algumas “Indicações gerais”;
- Segunda parte (nn. 16-94), na qual se delineia a “Proposta concreta” de catequese matrimonial.


Inspirado nas etapas descritas no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), o itinerário catecumenal para a vida matrimonial é composto por três fases:

I. Fase pré-catecumenal (nn. 27-36): preparação remota para o Matrimônio, que se inicia já na pastoral com crianças, adolescentes e jovens.

II. Fase intermediária (nn. 37-47): a etapa de acolhida dos candidatos ao sacramento do Matrimônio, de duração variável (em torno a algumas semanas), marcada pelo “primeiro anúncio” (querigma).

Esta fase pode ser concluída com um rito de entrada no catecumenato matrimonial. A fim de não ser confundido com a celebração do sacramento, o documento sugere realizar esse rito fora da Missa, na forma de uma celebração da Palavra com os casais.

III. Fase catecumenal (nn. 48-86): a fase catecumenal propriamente dita é subdividida em três etapas:

1ª etapa: Preparação próxima (nn. 49-63): essa etapa, com duração aproximada de um ano, é marcada pela catequese, isto é, pela instrução dos casais sobre o significado e o valor do Matrimônio e da família. É uma etapa de discernimento sobre a vocação matrimonial.

No final dessa etapa pode celebrar-se o “rito do compromisso”, isto é, o “noivado”, novamente com um rito simples, na forma de uma celebração da Palavra ou bênção, fora da Missa.

2ª etapa: Preparação imediata (nn. 64-73): nos meses que antecedem a celebração do Matrimônio tem lugar a preparação imediata, marcada pela preparação espiritual. Recomenda-se aqui aprofundar com os casais o próprio rito do Sacramento do Matrimônio, do qual estes são ministros, e não meros espectadores.

O documento recomenda concluir essa etapa, nos dias que antecedem imediatamente o Matrimônio, com um retiro espiritual ou, ao menos, com uma “vigília de oração”, de modo que a preocupação com os aspectos externos não distraia do essencial. É de grande importância aqui também a celebração do Sacramento da Reconciliação.


3ª etapa: Acompanhamento dos primeiros anos de vida matrimonial (nn. 74-86): um dos objetivos do catecumenato é ser um itinerário permanente, no qual a recepção dos sacramentos não é o ponto final, mas sim parte de um processo mais amplo.

Assim, propõe-se aqui uma “mistagogia”, isto é, uma “introdução ao mistério” do Matrimônio, sobretudo nos primeiros anos de vida conjugal. Nessa etapa convém retomar os conteúdos da preparação imediata, aprofundando o significado do sacramento e cultivando uma espiritualidade conjugal e familiar. Nessa etapa também os casais são convidados a inserir-se progressivamente na vida da comunidade.

Por fim, o documento apresenta ainda um “itinerário de acompanhamento para casais em crise” (nn. 87-94), igualmente de inspiração catecumenal, no qual se intercalam momentos “individuais” e comunitários, à luz do relato dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35):

a) “O próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15): Primeiro encontro (individual) de acolhida e conhecimento;

b) “Que ides conversando pelo caminho?” (Lc 24,17): Alguns encontros (individuais) de oração;

c) “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (Lc 24,26): Encontros comunitários, com vários casais, para “iluminar” as crises;

d) “Explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito d’Ele” (Lc 24,27): Encontros “de grupo” com a Sagrada Escritura ao centro;

e) “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29): Adoração eucarística e sacramento da Reconciliação;

f) “Tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía” (Lc 24,30): Celebração Eucarística;

g) “Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. (...) Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém” (Lc 24,31.33): Conclusão do processo.


No momento o texto do Documento está disponível no site da Santa Sé em italiano e em espanhol. Esperamos que em breve seja divulgada também a tradução em português, de modo que, com a coragem de superar a mentalidade de “cursos de noivos”, possamos aplicar os itinerários catecumenais para a vida matrimonial em nossas comunidades.

A nível nacional, aguardamos também as orientações da Comissão para a Vida e a Família da CNBB, que tem à frente o competente Dom Ricardo Hoepers, Bispo de Rio Grande (RS).

Com informações do site da Santa Sé.

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