“O Evangelho da família é alegria que enche o coração e a vida inteira” (Amoris laetitia, n. 200).
Há poucos dias do X Encontro Mundial das Famílias, que se
celebra em Roma de 22 a 26 de junho de 2022 com o tema “Amor em família: Vocação
e caminho de santidade”, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida
publicou no dia 15 de junho um documento intitulado “Itinerários
catecumenais para a vida matrimonial: Orientações pastorais para as Igrejas
particulares”.
O contexto
O termo “catecumenato”, em sentido estrito, refere-se ao itinerário de
Iniciação Cristã de adultos, retomado pelo Concílio Vaticano II e marcado
por vários ritos e etapas em torno aos Sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia.
Em sentido amplo, por sua vez, propõe-se uma “inspiração
catecumenal” para todos os itinerários catequéticos eclesiais. Ver, nesse
sentido, o novo Diretório para a Catequese (2020) e o Documento n. 107 da CNBB, “Iniciação à vida cristã: Itinerário para formar discípulos missionários”
(2017).
Para acessar nossa série de postagens sobre o Diretório para a Catequese, clique aqui.
A preparação para a vida matrimonial não é um tema novo: em
1996 o Pontifício Conselho para a Família publicou um documento dedicado
justamente à Preparação para o Sacramento
do Matrimônio, recolhendo as reflexões de São João Paulo II na Exortação
Apostólica Familiaris Consortio (1981).
O novo documento, por sua vez, é fruto dos dois
Sínodos sobre a Família (2014-2015), que culminaram na Exortação Apostólica Amoris laetitia (A alegria do amor) pelo Papa Francisco
(2016). Particularmente o capítulo VI do documento - “Algumas perspectivas pastorais” - reflete sobre a preparação para o
Matrimônio (nn. 205-216) e o acompanhamento nos primeiros anos da vida
matrimonial (nn. 217-230).
A proposta
Os Itinerários
catecumenais para a vida matrimonial são, como indica seu subtítulo, Orientações pastorais para as Igrejas
particulares. Ou seja, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida
propõe os princípios gerais que devem nortear os processos de preparação
para a vida matrimonial, a serem implementados pelas Conferências Episcopais,
Dioceses e paróquias.
Após o Prefácio do Papa Francisco, o documento de 94 parágrafos está dividido
em duas partes, emolduradas por um Preâmbulo (nn. 1-3) e uma conclusão:
- Primeira parte (nn. 4-15), com algumas “Indicações gerais”;
- Segunda parte (nn. 16-94), na qual se delineia a “Proposta concreta” de catequese
matrimonial.
Inspirado nas etapas descritas no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), o itinerário catecumenal
para a vida matrimonial é composto por três fases:
I. Fase pré-catecumenal
(nn. 27-36): preparação remota para o Matrimônio, que se inicia já na
pastoral com crianças, adolescentes e jovens.
II. Fase intermediária
(nn. 37-47): a etapa de acolhida dos candidatos ao sacramento do Matrimônio, de
duração variável (em torno a algumas semanas), marcada pelo “primeiro anúncio”
(querigma).
Esta fase pode ser concluída com um rito de entrada no
catecumenato matrimonial. A fim de não ser confundido com a celebração do
sacramento, o documento sugere realizar esse rito fora da Missa, na forma de
uma celebração da Palavra com os casais.
III. Fase catecumenal
(nn. 48-86): a fase catecumenal propriamente dita é subdividida em três etapas:
1ª etapa:
Preparação próxima (nn. 49-63): essa
etapa, com duração aproximada de um ano, é marcada pela catequese, isto é, pela
instrução dos casais sobre o significado e o valor do Matrimônio e da família.
É uma etapa de discernimento sobre a vocação matrimonial.
No final
dessa etapa pode celebrar-se o “rito do compromisso”, isto é, o “noivado”, novamente
com um rito simples, na forma de uma celebração da Palavra ou bênção, fora da
Missa.
2ª etapa:
Preparação imediata (nn. 64-73): nos
meses que antecedem a celebração do Matrimônio tem lugar a preparação imediata,
marcada pela preparação espiritual. Recomenda-se aqui aprofundar com os casais
o próprio rito do Sacramento do Matrimônio, do qual estes são ministros, e não
meros espectadores.
O
documento recomenda concluir essa etapa, nos dias que antecedem imediatamente o
Matrimônio, com um retiro espiritual ou, ao menos, com uma “vigília de oração”,
de modo que a preocupação com os aspectos externos não distraia do essencial. É
de grande importância aqui também a celebração do Sacramento da Reconciliação.
3ª etapa:
Acompanhamento dos primeiros anos de
vida matrimonial (nn. 74-86): um dos objetivos do catecumenato é ser um
itinerário permanente, no qual a recepção dos sacramentos não é o ponto final,
mas sim parte de um processo mais amplo.
Assim,
propõe-se aqui uma “mistagogia”, isto é, uma “introdução ao mistério” do
Matrimônio, sobretudo nos primeiros anos de vida conjugal. Nessa etapa convém
retomar os conteúdos da preparação imediata, aprofundando o significado do sacramento
e cultivando uma espiritualidade conjugal e familiar. Nessa etapa também os casais são convidados a inserir-se progressivamente na vida da comunidade.
Por fim,
o documento apresenta ainda um “itinerário
de acompanhamento para casais em crise” (nn. 87-94), igualmente de
inspiração catecumenal, no qual se intercalam momentos “individuais” e
comunitários, à luz do relato dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35):
a) “O próprio Jesus se aproximou e começou a
caminhar com eles” (Lc 24,15): Primeiro encontro (individual)
de acolhida e conhecimento;
b) “Que ides conversando pelo caminho?” (Lc 24,17):
Alguns encontros (individuais) de oração;
c) “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso
para entrar na sua glória?” (Lc 24,26): Encontros comunitários,
com vários casais, para “iluminar” as crises;
d) “Explicava aos discípulos todas as passagens
da Escritura que falavam a respeito d’Ele” (Lc 24,27): Encontros
“de grupo” com a Sagrada Escritura ao centro;
e) “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29): Adoração eucarística e sacramento da Reconciliação;
f) “Tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes
distribuía” (Lc 24,30): Celebração Eucarística;
g) “Nisso os olhos dos discípulos se abriram e
eles reconheceram Jesus. (...) Naquela mesma hora, eles se levantaram e
voltaram para Jerusalém” (Lc 24,31.33): Conclusão do processo.
No momento o texto do Documento está disponível no site da Santa Sé em italiano e em espanhol. Esperamos que em breve seja divulgada também a tradução em português, de modo que, com a coragem de superar a mentalidade de “cursos de noivos”, possamos aplicar os itinerários catecumenais para a vida matrimonial em nossas comunidades.
A nível nacional, aguardamos também as orientações da Comissão para a Vida e a Família da CNBB, que tem à frente o competente Dom Ricardo Hoepers, Bispo de Rio Grande (RS).
Com informações do site da Santa Sé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário