domingo, 22 de maio de 2022

A celebração do Domingo de Pentecostes

“Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!” (cf. Sl 103,30).

A Solenidade de Pentecostes, celebrada no 50º dia após a Páscoa, conta com dois formulários para a Celebração Eucarística: a Missa da Vigília, celebrada na tarde do sábado, antes ou depois das I Vésperas (isto é, antes ou após o pôr-do-sol); e a Missa do Dia, celebrada ao longo de todo o domingo.

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.

Após apresentarmos a Missa da Vigília na postagem anterior, aqui nos deteremos na celebração da Missa do Dia da Solenidade de Pentecostes.

Assim como o Domingo de Páscoa, a Missa do Dia de Pentecostes não possui grandes particularidades litúrgicas, sendo celebrada com o rito da “Missa estacional”, isto é, a Missa solene, como de costume (cf. Cerimonial dos Bispos, nn. 119-170). Não obstante, destacamos a seguir alguns elementos.

Vitral do Espírito Santo
(Igreja de Cristo Rei - Ann Arbor, Michigan)

O que se deve preparar:
- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa (túnica, estola e casula)
- Círio pascal, junto ao ambão
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional
- Dois a seis castiçais com velas
- Missal Romano
- Livro dos Evangelhos
- Caldeirinha de água benta e aspersório (se for realizada a aspersão).

Sobre o uso do candelabro de sete velas ou menorá:

No Rito Romano, só se dispõem sete velas sobre o altar ou junto dele quando quem preside a Missa é o Bispo Diocesano. Nas demais celebrações o altar é ornado com duas, quatro ou seis velas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, n. 117).

O ambão, por sua vez, é ornado por duas velas apenas durante a proclamação do Evangelho, geralmente sustentadas pelos acólitos, destacando a centralidade do Evangelho dentro da Palavra de Deus (cf. Elenco das Leituras da Missa, nn. 13.17).

O candelabro com sete velas ou lamparinas, chamado “menorá” ou menorah (Ex 25,31-40; 37,17-24), simboliza na tradição judaica a sarça ardente onde o Senhor revelou-se a Moisés, enquanto suas sete chamas foram interpretadas em alusão aos “dias da criação”. Permanecia sempre aceso na Tenda da Reunião e no Templo de Jerusalém (Lv 24,1-4) como símbolo perpétuo da aliança (algo semelhante à lâmpada sempre acesa junto ao sacrário ou tabernáculo nas igrejas cristãs).

Embora a partir da Idade Média esse candelabro possa ser encontrado em algumas igrejas cristãs, no Rito Romano este sempre se situava fora do presbitério, em uma capela lateral. Assim, a “menorá” deve ser colocada sempre fora do presbitério, e acesa preferencialmente fora da Liturgia, por exemplo, em manifestações da piedade popular.

a) Ritos iniciais

A celebração inicia-se com a procissão de entrada, como de costume, acompanhada do canto de entrada, que pode ser inspirado em uma das antífonas propostas pelo Missal (p. 318): “O Espírito do Senhor encheu o universo...” (Sb 1,7) ou “O amor de Deus foi derramado...” (Rm 5,5).

O Papa Francisco asperge os fiéis
(Missa do Dia de Pentecostes 2019)

Convém substituir o Ato Penitencial pelo rito da bênção e aspersão da água, indicado para todos os domingos, sobretudo no Tempo Pascal (cf. IGMR, n. 51). Além do mais, a água é um dos símbolos do Espírito Santo.

O acólito aproxima-se do sacerdote com a caldeirinha com água, o qual, após uma breve monição - “Irmãos e irmãs em Cristo, invoquemos o Senhor nosso Deus...” (Missal, p. 1001), abençoa a água recitando a oração indicada para o Tempo Pascal: “Senhor nosso Deus, velai sobre o vosso povo...” (p. 1002).

O sacerdote percorre então a igreja aspergindo os fiéis, enquanto entoam-se as antífonas indicas no Missal (p. 1003) ou outro canto adequado. De volta à cadeira, o sacerdote recita a oração conclusiva do rito: “Que Deus todo-poderoso nos purifique...” (ibid.).

Caso não se realize a aspersão, convém adotar a terceira forma do Ato Penitencial, valorizando as invocações sugeridas pelo Missal para o Tempo Pascal (pp. 397-398).

Após o Ato Penitencial ou a aspersão, canta-se ou recita-se o Kyrie eleison (“Senhor, tende piedade de nós”), exceto quando se adota a terceira forma (cf. Missal, p. 398). Segue-se o canto do Glória, sempre com a letra indicada no Missal (pp. 398-399), e a oração do dia ou coleta: “Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje santificais a vossa Igreja inteira...” (Missal, p. 318).

b) Liturgia da Palavra

A Liturgia da Palavra celebra-se como de costume. As leituras para esse dia são: At 2,1-11; Sl 103 (104),1ab.24ac.29bc-30.31.34 (R: v. 30); 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23. Para os ano B e C são propostos também uma Epístola (2ª leitura) e um Evangelho à escolha: Gl 5,16-25; Jo 15,26-27; 16,12-15 (ano B); Rm 8,8-17; Jo 14,15-16.23b-26 (ano C).

Após a 2ª leitura, permanecendo todos sentados, um leitor ou cantor, de uma estante ou de outro local adequado (não, porém, do ambão), canta ou recita a sequência Veni, Sancte Spiritus (Espírito de Deus, enviai dos céus...), a qual é obrigatória (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 64). Concluída a sequência, todos se levantam e entoa-se a aclamação ao Evangelho (Aleluia) como de costume.

Missa do Dia de Pentecostes: Evangelho

Proclamado o Evangelho, seguem-se a homilia, a profissão de fé (Creio) e a Oração Universal ou Oração dos Fiéis (Preces).

A celebração da Confirmação no dia de Pentecostes

O Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) deixa claro que a administração dos sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação, Eucaristia) aos adultos tem lugar na Vigília Pascal (n. 55).

Não obstante, quando adultos já batizados pedem à Igreja o sacramento da Confirmação, esta “pode ser transferida para o término do Tempo da Mistagogia [Tempo Pascal], por exemplo, para o Domingo de Pentecostes” (n. 31).

Nesse caso, os ritos da Confirmação têm lugar após a homilia, conforme indicado no respectivo Ritual: renovação das promessas batismais, oração e imposição das mãos, unção com o Crisma... [2].

De toda forma, o RICA recomenda que, “para encerrar o Tempo da Mistagogia, realize-se uma celebração ao terminar o Tempo Pascal, nas proximidades do Domingo de Pentecostes, inclusive com festividades externas” (n. 237).

c) Liturgia Eucarística e Ritos finais

Na Oração Eucarística toma-se sempre o Prefácio próprio deste dia: O mistério de Pentecostes (Missal, p. 319).

Recomenda-se vivamente rezar a Oração Eucarística I, que, além de mencionar os Doze Apóstolos, possui o Communicantes próprio para esse dia: o “Em comunhão com toda a Igreja celebramos o dia santo de Pentecostes...” (Missal, p. 471).

Para acessar nossa postagem sobre quando usar cada Oração Eucarística, clique aqui.

Missa do Domingo de Pentecostes na Basílica de São Pedro (2020)

No final da celebração convém tomar a bênção própria para Pentecostes: “Deus, o Pai das luzes, que hoje iluminou os corações dos discípulos...” (Missal, p. 524).

À despedida o diácono ou sacerdote acrescenta o duplo Aleluia: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe, aleluia, aleluia! R: Graças a Deus, aleluia, aleluia!” (Missal, p. 320).

d) O apagar do círio pascal

A Carta Circular Paschalis Solemnitatis, promulgada pela Congregação para o Culto Divino em 1988, indica em seu n. 99 que:

“O círio pascal, colocado junto do ambão ou perto do altar, permaneça aceso ao menos em todas as celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo [o Tempo Pascal], tanto na Missa como nas Laudes e Vésperas, até o Domingo de Pentecostes. Depois, o círio é conservado com a devida honra no batistério, para acender nele os círios dos neobatizados. Na celebração das Exéquias o círio pascal seja colocado junto do féretro, para indicar que a morte é para o cristão a sua verdadeira Páscoa. Fora do tempo da Páscoa não se acenda o círio pascal nem seja conservado no presbitério” [1].

Em alguns lugares, o gesto de apagar o círio pascal e conduzi-lo do presbitério à pia batismal costuma ser solenizado. Contudo, cabe recordar que não há um formulário aprovado para esse “rito” pela autoridade competente, isto é, a Santa Sé.


Portanto, o apagar do círio pascal no final da Missa do Domingo de Pentecostes, sobretudo na última Missa desse domingo, deve ser feito de maneira bastante simples:

Após a despedida, o diácono (se houver) ou o próprio sacerdote pode conduzir o círio pascal na procissão de saída até o batistério, sobretudo quando este se situa próximo à porta da igreja, enquanto se entoa o canto final.

No batistério, o círio é colocado em seu suporte e então incensado, sendo em seguida apagado pelo sacerdote sem dizer nada. A procissão retorna então à sacristia, como de costume.

Reforçamos que, conforme fica bem claro na Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, “fora do tempo da Páscoa não se acenda o círio pascal nem seja conservado no presbitério”. Fora do Tempo Pascal o círio só é aceso nas celebrações do Batismo e das Exéquias, o “Alfa” e o “Ômega” da vida cristã.

Notas:

[1] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Paschalis Sollemnitatis: A preparação e celebração das festas pascais. Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 37. Coleção: Documentos da Igreja, n. 38.

[2] cf. CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 138-142.


Referências:

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre o Missal Romano: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.

MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.

RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS. Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo: Paulus, 2001.

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