“Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!” (cf. Sl 103,30).
A Solenidade de Pentecostes, celebrada no
50º dia após a Páscoa, conta com dois formulários para a Celebração Eucarística: a Missa da Vigília, celebrada na tarde do sábado, antes ou depois das I Vésperas
(isto é, antes ou após o pôr-do-sol); e a Missa
do Dia, celebrada ao longo de todo o domingo.
Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.
Após
apresentarmos a Missa da Vigília na postagem anterior, aqui nos deteremos na
celebração da Missa do Dia da Solenidade
de Pentecostes.
Assim como o Domingo de Páscoa, a Missa do Dia de Pentecostes não possui grandes particularidades litúrgicas, sendo celebrada com o rito da “Missa estacional”, isto é, a Missa solene, como de costume (cf. Cerimonial dos Bispos, nn. 119-170). Não obstante, destacamos a seguir alguns elementos.
Vitral do Espírito Santo (Igreja de Cristo Rei - Ann Arbor, Michigan) |
O que se deve preparar:
- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para
a Missa (túnica, estola e casula)
- Círio pascal, junto ao ambão
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional
- Dois a seis castiçais com velas
- Missal
Romano
- Livro dos Evangelhos
- Caldeirinha de água benta e aspersório (se for
realizada a aspersão).
Sobre o uso do candelabro de sete velas ou menorá:
No Rito Romano, só se dispõem sete velas sobre o
altar ou junto dele quando quem preside a Missa é o Bispo Diocesano. Nas demais
celebrações o altar é ornado com duas, quatro ou seis velas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano,
3ª edição, n. 117).
O ambão, por sua vez, é ornado por duas velas
apenas durante a proclamação do Evangelho, geralmente sustentadas pelos
acólitos, destacando a centralidade do Evangelho dentro da Palavra de Deus (cf. Elenco das Leituras da Missa, nn.
13.17).
O candelabro com sete velas ou lamparinas, chamado “menorá”
ou menorah (Ex 25,31-40; 37,17-24), simboliza na tradição judaica a sarça
ardente onde o Senhor revelou-se a Moisés, enquanto suas sete chamas foram
interpretadas em alusão aos “dias da criação”. Permanecia sempre aceso na Tenda
da Reunião e no Templo de Jerusalém (Lv
24,1-4) como símbolo perpétuo da aliança (algo semelhante à lâmpada sempre
acesa junto ao sacrário ou tabernáculo nas igrejas cristãs).
Embora a partir da Idade Média esse candelabro
possa ser encontrado em algumas igrejas cristãs, no Rito Romano este sempre se
situava fora do presbitério, em uma capela lateral. Assim, a “menorá” deve ser colocada sempre fora do presbitério, e acesa preferencialmente
fora da Liturgia, por exemplo, em manifestações da piedade popular.
a) Ritos iniciais
A
celebração inicia-se com a procissão de entrada, como de costume, acompanhada
do canto de entrada, que pode ser inspirado em uma das antífonas propostas pelo
Missal (p. 318): “O Espírito do Senhor encheu o universo...”
(Sb 1,7) ou “O amor de Deus foi
derramado...” (Rm 5,5).
O Papa Francisco asperge os fiéis (Missa do Dia de Pentecostes 2019) |
Convém substituir o Ato Penitencial pelo rito da bênção e aspersão da água, indicado para todos os domingos, sobretudo no Tempo Pascal (cf. IGMR, n. 51). Além do mais, a água é um dos símbolos do Espírito Santo.
O acólito aproxima-se do sacerdote com a caldeirinha com água, o qual, após uma breve monição - “Irmãos e irmãs em Cristo, invoquemos o Senhor nosso Deus...” (Missal, p. 1001), abençoa a água recitando a oração indicada para o Tempo Pascal: “Senhor nosso Deus, velai sobre o vosso povo...” (p. 1002).
O sacerdote percorre então a igreja aspergindo os fiéis, enquanto entoam-se as antífonas indicas no Missal (p. 1003) ou outro canto adequado. De volta à cadeira, o sacerdote recita a oração conclusiva do rito: “Que Deus todo-poderoso nos purifique...” (ibid.).
Caso não se realize a aspersão, convém adotar a
terceira forma do Ato Penitencial, valorizando as invocações sugeridas pelo Missal para o Tempo Pascal (pp.
397-398).
Após o Ato Penitencial ou a aspersão, canta-se ou
recita-se o Kyrie eleison (“Senhor,
tende piedade de nós”), exceto quando se adota a terceira forma (cf. Missal, p. 398). Segue-se o canto do
Glória, sempre com a letra indicada
no Missal (pp. 398-399), e a oração
do dia ou coleta: “Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje santificais a
vossa Igreja inteira...” (Missal, p.
318).
b) Liturgia da Palavra
A Liturgia da Palavra celebra-se como de costume. As leituras para esse dia são: At 2,1-11; Sl 103 (104),1ab.24ac.29bc-30.31.34 (R: v. 30); 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23. Para os ano B e C são propostos também uma Epístola (2ª leitura) e um Evangelho à escolha: Gl 5,16-25; Jo 15,26-27; 16,12-15 (ano B); Rm 8,8-17; Jo 14,15-16.23b-26 (ano C).
Após a 2ª leitura, permanecendo todos sentados, um
leitor ou cantor, de uma estante ou de outro local adequado (não, porém, do
ambão), canta ou recita a sequência Veni, Sancte Spiritus (Espírito de Deus, enviai dos céus...), a qual é
obrigatória (cf. Instrução Geral sobre o
Missal Romano, n. 64). Concluída a sequência, todos se levantam e entoa-se a
aclamação ao Evangelho (Aleluia) como
de costume.
Missa do Dia de Pentecostes: Evangelho |
Proclamado o Evangelho, seguem-se a homilia, a
profissão de fé (Creio) e a Oração Universal ou Oração dos Fiéis (Preces).
A celebração da Confirmação no dia de Pentecostes
O Ritual da
Iniciação Cristã de Adultos (RICA) deixa claro que a administração dos
sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação, Eucaristia) aos adultos
tem lugar na Vigília Pascal (n. 55).
Não obstante, quando adultos já batizados pedem à
Igreja o sacramento da Confirmação, esta “pode ser transferida para o término
do Tempo da Mistagogia [Tempo Pascal], por exemplo, para o Domingo de
Pentecostes” (n. 31).
Nesse caso, os ritos da Confirmação têm lugar após
a homilia, conforme indicado no respectivo Ritual:
renovação das promessas batismais, oração e imposição das mãos, unção com o
Crisma... [2].
De toda forma, o RICA recomenda que, “para encerrar
o Tempo da Mistagogia, realize-se uma celebração ao terminar o Tempo Pascal,
nas proximidades do Domingo de Pentecostes, inclusive com festividades
externas” (n. 237).
c) Liturgia Eucarística e Ritos finais
Na Oração Eucarística toma-se sempre o Prefácio
próprio deste dia: O mistério de
Pentecostes (Missal, p. 319).
Recomenda-se vivamente rezar a Oração Eucarística I, que, além de mencionar os Doze Apóstolos,
possui o Communicantes próprio para
esse dia: o “Em comunhão com toda a Igreja celebramos o dia santo de
Pentecostes...” (Missal, p. 471).
Para acessar nossa postagem sobre quando usar cada Oração Eucarística, clique aqui.
Missa do Domingo de Pentecostes na Basílica de São Pedro (2020) |
No final da celebração convém tomar a bênção
própria para Pentecostes: “Deus, o Pai das luzes, que hoje iluminou os corações
dos discípulos...” (Missal, p. 524).
À despedida o diácono ou sacerdote acrescenta o
duplo Aleluia: “Ide em paz e o Senhor vos
acompanhe, aleluia, aleluia! R: Graças a Deus, aleluia, aleluia!” (Missal, p. 320).
d) O apagar do círio pascal
A
Carta Circular Paschalis Solemnitatis,
promulgada pela Congregação para o Culto Divino em 1988, indica em seu n. 99
que:
“O círio pascal, colocado junto do ambão
ou perto do altar, permaneça aceso
ao menos em todas as celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo [o Tempo Pascal], tanto na Missa como nas
Laudes e Vésperas, até o Domingo de
Pentecostes. Depois, o círio é conservado com a devida honra no batistério,
para acender nele os círios dos neobatizados. Na celebração das Exéquias o
círio pascal seja colocado junto do féretro, para indicar que a morte é para o
cristão a sua verdadeira Páscoa. Fora do
tempo da Páscoa não se acenda o círio pascal nem seja conservado no presbitério”
[1].
Em alguns lugares, o gesto de apagar o círio pascal e conduzi-lo do presbitério à pia batismal costuma ser solenizado. Contudo, cabe recordar que não há um formulário aprovado para esse “rito” pela autoridade competente, isto é, a Santa Sé.
Portanto,
o apagar do círio pascal no final da Missa do Domingo de Pentecostes, sobretudo
na última Missa desse domingo, deve ser feito de maneira bastante simples:
Após
a despedida, o diácono (se houver) ou o próprio sacerdote pode conduzir o círio
pascal na procissão de saída até o batistério, sobretudo quando este se situa
próximo à porta da igreja, enquanto se entoa o canto final.
No
batistério, o círio é colocado em seu suporte e então incensado, sendo em
seguida apagado pelo sacerdote sem dizer nada. A procissão retorna então à
sacristia, como de costume.
Reforçamos
que, conforme fica bem claro na Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, “fora do tempo da Páscoa não se acenda o
círio pascal nem seja conservado no presbitério”. Fora do Tempo Pascal o círio
só é aceso nas celebrações do Batismo e das Exéquias, o “Alfa” e o “Ômega” da
vida cristã.
Notas:
[1] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Paschalis Sollemnitatis: A preparação e celebração das festas pascais.
Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 37. Coleção: Documentos da Igreja, n. 38.
[2]
cf. CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da
edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 138-142.
Referências:
ALDAZÁBAL,
José. Instrução Geral sobre o Missal
Romano: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.
MISSAL
ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição
típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.
RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS. Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo:
Paulus, 2001.
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