O Domingo de
Pentecostes, celebrado 50 dias após a Páscoa, é uma das quatro celebrações nas quais
a Igreja nos propõe uma sequência, composição poética entoada antes do
Evangelho da Missa que exprime o mistério celebrado [1].
A sequência de Pentecostes intitula-se Veni,
Sancte Spíritus, isto, é, “Vinde, Santo Espírito” (que na tradução
oficial para o português do Brasil começa como “Espírito de Deus, enviai dos
céus...”).
Alguns autores
mais antigos atribuíam sua autoria ao rei francês Roberto II, o Piedoso (†1031),
no início do século XI. Não obstante, a maioria dos estudiosos considera mais
provável que tenha sido composta por Stephen
Langton (†1228), Arcebispo de Canterbury (ou Cantuária) na Inglaterra.
Outros estudiosos
atribuem ainda a sequência ao Papa Inocêncio III (†1216), o que na verdade
corroboraria a autoria de Langton: mais do que autor, Inocêncio III teria
aprovado a sequência para uso litúrgico.
Com efeito,
nessa época entoava-se no Domingo de Pentecostes a sequência Sancti Spiritus, adsit nobis gratia,
atribuída a Notker Balbulus (†912), isto é, Notker o Gago, monge beneditino da
Abadia de São Galo (Sankt Gallen), na Suíça.
Entre os séculos
XIII e XVI as duas sequências eram intercaladas ao longo de toda a Oitava de
Pentecostes, até que o Concílio de Trento fixou Veni, Sancte Spíritus como a única sequência para essa Solenidade
[2].
Esta, com
efeito, é referida por alguns autores como “sequência áurea”, dado o caráter ao
mesmo tempo simples e melódico da composição, formada por dez estrofes de três versos, com um esquema de rimas fixo: os dois primeiros versos de cada estrofe
rimam entre si, enquanto todos os terceiros versos rimam entre si, terminando
em -ium.
Escultura do Bispo Stephen Langton na Catedral de Canterbury |
Confira a seguir, pois, o texto original da sequência (em latim) e sua tradução oficial para o português do Brasil, conforme consta no Lecionário Dominical:
Sequentia: Veni, Sancte Spíritus
1. Veni, Sancte Spíritus,
et emítte caélitus
lucis tuae rádium.
2. Veni, pater páuperum,
veni, dator múnerum,
veni, lumen córdium.
3. Consolátor óptime,
dulcis hospes ánimae,
dulce refrigérium.
4. In labóre réquies,
in aestu tempéries,
in fletu solácium.
5. O lux beatíssima,
reple cordis íntima
tuórum fidélium.
6. Sine tuo númine,
nihil est in hómine
nihil est innóxium.
7. Lava quod est sórdidum,
riga quod est áridum,
sana quod est sáucium.
8. Flecte quod est rígidum,
fove quod est frígidum,
rege quod est dévium.
9. Da tuis fidélibus,
in te confidéntibus,
sacrum septenárium.
10. Da virtútis méritum,
da salútis éxitum,
da perénne gáudium.
Amen. Allelúia.
Sequência: Espírito de Deus, enviai dos céus...
1. Espírito de Deus,
enviai dos céus
um raio de luz!
2. Vinde, Pai dos pobres
dai aos corações
vossos sete dons.
3. Consolo que acalma,
hóspede da alma,
doce alívio, vinde!
4. No labor descanso,
na aflição remanso,
no calor aragem.
5. Enchei, luz bendita,
chama que crepita,
o íntimo de nós!
6. Sem a luz que acode,
nada o homem pode,
nenhum bem há nele.
7. Ao sujo lavai,
ao seco regai,
curai o doente.
8. Dobrai o que é duro,
guiai no escuro,
o frio aquecei.
9. Dai à vossa Igreja,
que espera e deseja,
vossos sete dons.
10. Dai em prêmio ao forte
uma santa morte,
alegria eterna. Amém.
Notas:
[1] As quatro sequências propostas atualmente são: Victimae paschali laudes (Domingo de Páscoa), Veni, Sancte Spiritus (Pentecostes), Lauda Sion (Corpus Christi) e Stabat Mater dolorosa (Nossa Senhora das Dores). Dessas, são obrigatórias as sequências da Páscoa e do Pentecostes (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, n. 64), enquanto as outras duas são facultativas.
Há ainda o Dies irae, antiga sequência das Missas dos defuntos, que atualmente é o hino da Liturgia das Horas na última semana do Tempo Comum.
[2] Vale recordar que a oitava de Pentecostes foi suprimida pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, de modo a preservar a unidade dos “cinquenta dias” pascais.
Referências:
HENRY, Hugh. Veni Sancte Spiritus. in: The Catholic Encyclopedia, vol. 15, New York, 1912. Disponível em: New Advent.
THESAURUS HYMNOLOGICUS sive Hymnorum, canticorum, sequentiarum circa annum MD usitatarum collectio amplissima. Tomus Secundus: Sequentiae, cantica, antiphonae. Lipsiae, 1855, pp. 35-36.
Postagem publicada originalmente em 21 de maio de 2015. Revista e ampliada em 10 de maio de 2022.
Boa noite.
ResponderExcluirPode se cantar outro hino de sequencia, vejo alguns lugares outro hino, como a voa descei divina luz, inclusive no folheto da arq de SP
Não. O texto da sequência está indicado no Lecionário, portanto não pode ser substituído.
ExcluirObrigado, mas pq o folheto da Arq de SP colocou essa sequencia, de onde foi tirado?
ResponderExcluirInfelizmente, nem sempre aqueles que publicam esse folhetos possuem o devido conhecimento litúrgico.
ExcluirO editor talvez achou que a sequência poderia ser substituída por outro canto em honra do Espírito Santo, o que é errado, uma vez que o texto da sequência está publicado em um livro litúrgico e, portanto, não pode ser substituído.
Vale recordar que esses folhetos não são autoridade em Liturgia. É preciso sempre conferir os livros litúrgicos oficiais (Missal, Lecionários, Cerimonial dos Bispos...).
Obrigado André.
ExcluirDeus abençoe!
veja o link: https://arquisp.org.br/liturgia/folheto-povo-de-deus
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