Já foram três as postagens em nosso blog nos últimos dias
sobre as celebrações da dedicação das quatro Basílicas Maiores em Roma.
Primeiramente apresentamos o sentido eclesial da Festa da Dedicação da Basílica do Latrão, a Catedral de Roma, celebrada no dia 09 de
novembro como sinal de comunhão com o Papa, traçando em seguida um breve histórico da Basílica e da celebração da sua dedicação.
Na sequência consideramos a celebração mais “devocional” da
dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, recordadas conjuntamente como Memória
facultativa no dia 18 de novembro.
Nesta postagem concluiremos o grupo das quatro Basílicas
Maiores apresentando brevemente a história da Memória facultativa da Basílica
de Santa Maria Maior, celebrada no dia 05 de agosto.
1. A Basílica
de Santa Maria Maior
“Dedicação da Basílica de Santa Maria, em Roma, no monte
Esquilino, que o Papa Sisto III ofereceu ao povo de Deus em memória do Concílio
de Éfeso, no qual a Virgem Maria foi proclamada Mãe de Deus” [1].
Assim o Martirológio
Romano sintetiza a celebração deste dia. Com efeito, assim como a Memória do dia 18 de novembro é “em honra dos Apóstolos”, o dia 05 de agosto é “em
honra da Mãe de Deus”.
A Basílica de Santa Maria Maior (assim chamada por ser o
primeiro e principal templo em honra da Mãe de Deus no Ocidente) também é chamada de
Basílica Liberiana, dada sua origem lendária no tempo do Papa Libério (†366).
Conta a lenda que um nobre romano chamado João e sua esposa
decidiram doar um terreno para a construção de uma igreja em honra da Virgem
Maria. Esta, para indicar o local da construção, teria feito cair neve
sobre o monte Esquilino, uma das sete colinas originais de Roma, na noite de 05 de agosto, auge do verão europeu. O
Papa Libério teria então traçado na neve os contornos da Basílica.
Representação do “milagre da neve” em um altar da Basílica |
Essa lenda, porém, só seria mencionada pela primeira vez no século
XI, difundindo-se a devoção a “Nossa Senhora das Neves” nos séculos XIV e XV.
A origem histórica da igreja remonta ao pontificado do Papa
Sisto III (†440), que teria dedicado a Basílica após o Concílio de Éfeso (431),
o qual proclamou a Virgem Maria como “Theotókos”,
Mãe de Deus. Até hoje se conserva a inscrição no arco do
presbitério: “Sixtus Episcopus plebi Dei”
(Sisto, Bispo, ao povo de Deus).
Do período do Papa Sisto III, com efeito, são uma série de
mosaicos conservados na Basílica: os mosaicos da nave, com histórias
do Antigo Testamento (do ciclo dos Patriarcas e do êxodo), e os mosaicos do
arco do presbitério, com histórias da infância de Jesus.
Mosaicos da infância de Jesus no arco do presbitério |
O mosaico da abside, por sua vez, representando a coroação
de Maria por Jesus, foi encomendado pelo Papa Nicolau IV (†1292), sendo
realizado por Jacopo Torriti e concluído em 1295.
O Papa Sisto V (†1590), por sua vez, encomendou ao arquiteto Domenico
Fontana (†1607) a realização da nova Capela do Santíssimo Sacramento, que ficou,
portanto, conhecida como “Capela Sistina”.
Essa capela foi construída sobre o antigo oratório do
presépio, que guardava as supostas relíquias da manjedoura trazidas de Jerusalém
no tempo do Papa Teodoro I (†649) e onde o Papa celebrava a Missa da Noite do Natal. Por essa razão a Basílica também era conhecida como Sancta Maria ad Praesepe (Santa Maria do presépio).
O Papa Francisco devolveu parte das relíquias da manjedoura à Terra Santa em 2019. Confira as imagens da acolhida da relíquia nas cidades de Jerusalém e Belém.
Nesta capela também se conservava um dos mais antigos presépios em
escultura, realizado por Arnolfo di Cambio (†1310) em 1291, atualmente no museu da Basílica. Para saber mais sobre a história e a teologia do presépio, clique aqui.
A capela do Santíssimo Sacramento (Capela Sistina) Sob o magnífico sacrário encontra-se o oratório do presépio |
Do lado oposto à “Capela Sistina” o Papa Paulo V (†1621)
encomendou outra capela, chamada em sua homenagem “Capela Paulina” ou “Capela
Borghese” (seu sobrenome). Esta capela abriga o célebre quadro da Virgem Maria invocada como Salus populi romani (Proteção do povo
romano), um típico ícone bizantino cuja origem perde-se no tempo (entre os
séculos V e XIII).
Por fim, as últimas intervenções na Basílica são a fachada, realizada pelo arquiteto Ferdinando Fuga (†1781) entre 1741 e 1743,
autor também do “cibório” ou baldaquino (1750); e a “confissão” ou
“hipogeu” sob o altar, emulando as outras Basílicas Maiores, realizada por Virginio
Vespignani (†1882) a pedido do Papa Pio IX (†1878) para conservar a relíquia da
manjedoura.
2. A Memória facultativa
do dia 05 de agosto
Apesar dos aspectos lendários da sua origem, diferentemente das outras três Basílicas Maiores, o aniversário da
dedicação da Basílica de Santa Maria Maior é testemunhado desde os séculos
V-VI.
Com efeito, como testemunha o Cardeal Alfredo Ildefonso
Schuster em seu Liber Sacramentorum,
a data de 05 de agosto é indicada pelo Martirológio
Jeronimiano (séc. V-VI). Porém, sendo uma celebração local, os
Sacramentários da época não trazem nenhuma oração própria para a celebração.
Com efeito, a celebração da “Dedicatio Sanctae Mariae ad Nives” (Dedicação de Santa Maria das
Neves), inserida no Breviarium Romanum
promulgado pelo Papa Sisto V em 1586 e posteriormente
também no Missal, não possuía textos próprios, remetendo ao Comum de Nossa
Senhora.
A Capela Paulina (ou Capela Borghese) Ao centro, o ícone de Maria Salus Populi Romani |
Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, a
celebração foi renomeada como “In dedicatione
Basilicae Sanctae Mariae” (Dedicação da Basílica de Santa Maria) sendo removidas
as referências à lenda da sua origem.
Não obstante, na Basílica o “milagre da neve”
é recordado com uma chuva de pétalas de rosas brancas nas Vésperas do dia 05 de
agosto, durante o canto do Magnificat
(Lc 1,46-55).
A reforma litúrgica propôs também uma coleta (oração do dia)
própria, que é na verdade uma antiga oração para a Solenidade da Assunção da
Virgem Maria:
“Perdoai, Senhor, os nossos pecados, e como não vos podemos
agradar por nossos atos, sejamos salvos pela intercessão da Virgem Maria, Mãe
de Deus. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. Amém”
(Missal Romano, p. 627).
Mosaico da coroação da Virgem Maria na abside da Basílica |
Notas:
[1] Fonte: Secretariado Nacional de Liturgia - Portugal.
Referências:
ADAM, Adolf. O Ano
Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica.
São Paulo: Loyola, 2019, pp. 134-136.
LODI, Enzo. Os Santos
do Calendário Romano: Rezar com os Santos na Liturgia. São Paulo: Paulus,
1992, pp. 293-296.
SCHUSTER, Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber sacramentorum, v. VIII: Le Feste dei Santi dall'ottava dei
Principi degli Apostoli alla Dedicazione di S. Michele. Torino-Roma: Marietti,
1932, pp. 137-140.
Para a história e a arquitetura da Basílica utilizamos sobretudo sua seção no site da Santa Sé.
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