quinta-feira, 11 de novembro de 2021

História da Memória da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

Já foram três as postagens em nosso blog nos últimos dias sobre as celebrações da dedicação das quatro Basílicas Maiores em Roma. Primeiramente apresentamos o sentido eclesial da Festa da Dedicação da Basílica do Latrão, a Catedral de Roma, celebrada no dia 09 de novembro como sinal de comunhão com o Papa, traçando em seguida um breve histórico da Basílica e da celebração da sua dedicação.

Na sequência consideramos a celebração mais “devocional” da dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, recordadas conjuntamente como Memória facultativa no dia 18 de novembro.

Nesta postagem concluiremos o grupo das quatro Basílicas Maiores apresentando brevemente a história da Memória facultativa da Basílica de Santa Maria Maior, celebrada no dia 05 de agosto.

Basílica de Santa Maria Maior

1. A Basílica de Santa Maria Maior

“Dedicação da Basílica de Santa Maria, em Roma, no monte Esquilino, que o Papa Sisto III ofereceu ao povo de Deus em memória do Concílio de Éfeso, no qual a Virgem Maria foi proclamada Mãe de Deus” [1].

Assim o Martirológio Romano sintetiza a celebração deste dia. Com efeito, assim como a Memória do dia 18 de novembro é “em honra dos Apóstolos”, o dia 05 de agosto é “em honra da Mãe de Deus”.

A Basílica de Santa Maria Maior (assim chamada por ser o primeiro e principal templo em honra da Mãe de Deus no Ocidente) também é chamada de Basílica Liberiana, dada sua origem lendária no tempo do Papa Libério (†366).

Conta a lenda que um nobre romano chamado João e sua esposa decidiram doar um terreno para a construção de uma igreja em honra da Virgem Maria. Esta, para indicar o local da construção, teria feito cair neve sobre o monte Esquilino, uma das sete colinas originais de Roma, na noite de 05 de agosto, auge do verão europeu. O Papa Libério teria então traçado na neve os contornos da Basílica.

Representação do “milagre da neve” em um altar da Basílica

Essa lenda, porém, só seria mencionada pela primeira vez no século XI, difundindo-se a devoção a “Nossa Senhora das Neves” nos séculos XIV e XV.

A origem histórica da igreja remonta ao pontificado do Papa Sisto III (†440), que teria dedicado a Basílica após o Concílio de Éfeso (431), o qual proclamou a Virgem Maria como “Theotókos”, Mãe de Deus. Até hoje se conserva a inscrição no arco do presbitério: “Sixtus Episcopus plebi Dei” (Sisto, Bispo, ao povo de Deus).

Do período do Papa Sisto III, com efeito, são uma série de mosaicos conservados na Basílica: os mosaicos da nave, com histórias do Antigo Testamento (do ciclo dos Patriarcas e do êxodo), e os mosaicos do arco do presbitério, com histórias da infância de Jesus.

Mosaicos da infância de Jesus no arco do presbitério

O mosaico da abside, por sua vez, representando a coroação de Maria por Jesus, foi encomendado pelo Papa Nicolau IV (†1292), sendo realizado por Jacopo Torriti e concluído em 1295.

O Papa Sisto V (†1590), por sua vez, encomendou ao arquiteto Domenico Fontana (†1607) a realização da nova Capela do Santíssimo Sacramento, que ficou, portanto, conhecida como “Capela Sistina”.

Essa capela foi construída sobre o antigo oratório do presépio, que guardava as supostas relíquias da manjedoura trazidas de Jerusalém no tempo do Papa Teodoro I (†649) e onde o Papa celebrava a Missa da Noite do Natal. Por essa razão a Basílica também era conhecida como Sancta Maria ad Praesepe (Santa Maria do presépio).

O Papa Francisco devolveu parte das relíquias da manjedoura à Terra Santa em 2019. Confira as imagens da acolhida da relíquia nas cidades de Jerusalém e Belém.

Nesta capela também se conservava um dos mais antigos presépios em escultura, realizado por Arnolfo di Cambio (†1310) em 1291, atualmente no museu da Basílica. Para saber mais sobre a história e a teologia do presépio, clique aqui.

A capela do Santíssimo Sacramento (Capela Sistina)
Sob o magnífico sacrário encontra-se o oratório do presépio

Do lado oposto à “Capela Sistina” o Papa Paulo V (†1621) encomendou outra capela, chamada em sua homenagem “Capela Paulina” ou “Capela Borghese” (seu sobrenome). Esta capela abriga o célebre quadro da Virgem Maria invocada como Salus populi romani (Proteção do povo romano), um típico ícone bizantino cuja origem perde-se no tempo (entre os séculos V e XIII).

Por fim, as últimas intervenções na Basílica são a fachada, realizada pelo arquiteto Ferdinando Fuga (†1781) entre 1741 e 1743, autor também do “cibório” ou baldaquino (1750); e a “confissão” ou “hipogeu” sob o altar, emulando as outras Basílicas Maiores, realizada por Virginio Vespignani (†1882) a pedido do Papa Pio IX (†1878) para conservar a relíquia da manjedoura.

O baldaquino ou “cibório” sobre o altar
Altar da manjedoura no hipogeu

2. A Memória facultativa do dia 05 de agosto

Apesar dos aspectos lendários da sua origem, diferentemente das outras três Basílicas Maiores, o aniversário da dedicação da Basílica de Santa Maria Maior é testemunhado desde os séculos V-VI.

Com efeito, como testemunha o Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster em seu Liber Sacramentorum, a data de 05 de agosto é indicada pelo Martirológio Jeronimiano (séc. V-VI). Porém, sendo uma celebração local, os Sacramentários da época não trazem nenhuma oração própria para a celebração.

Com efeito, a celebração da “Dedicatio Sanctae Mariae ad Nives” (Dedicação de Santa Maria das Neves), inserida no Breviarium Romanum promulgado pelo Papa Sisto V em 1586 e posteriormente também no Missal, não possuía textos próprios, remetendo ao Comum de Nossa Senhora.

A Capela Paulina (ou Capela Borghese)
Ao centro, o ícone de Maria Salus Populi Romani

Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, a celebração foi renomeada como “In dedicatione Basilicae Sanctae Mariae” (Dedicação da Basílica de Santa Maria) sendo removidas as referências à lenda da sua origem.

Não obstante, na Basílica o “milagre da neve” é recordado com uma chuva de pétalas de rosas brancas nas Vésperas do dia 05 de agosto, durante o canto do Magnificat (Lc 1,46-55).

A reforma litúrgica propôs também uma coleta (oração do dia) própria, que é na verdade uma antiga oração para a Solenidade da Assunção da Virgem Maria:

“Perdoai, Senhor, os nossos pecados, e como não vos podemos agradar por nossos atos, sejamos salvos pela intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”
(Missal Romano, p. 627).

Mosaico da coroação da Virgem Maria na abside da Basílica

Notas:

Referências:

ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019, pp. 134-136.

LODI, Enzo. Os Santos do Calendário Romano: Rezar com os Santos na Liturgia. São Paulo: Paulus, 1992, pp. 293-296.

SCHUSTER, Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber sacramentorum, v. VIII: Le Feste dei Santi dall'ottava dei Principi degli Apostoli alla Dedicazione di S. Michele. Torino-Roma: Marietti, 1932, pp. 137-140.

Para a história e a arquitetura da Basílica utilizamos sobretudo sua seção no site da Santa Sé.

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