terça-feira, 2 de novembro de 2021

Ângelus do Papa: Solenidade de Todos os Santos 2021

Solenidade de Todos os Santos
Papa Francisco
Ângelus
Segunda-feira, 1º de novembro de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos Todos os Santos e na Liturgia ressoa a mensagem “programática” de Jesus, nomeadamente as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12a). Mostram-nos o caminho que conduz ao Reino de Deus e à felicidade: o caminho da humildade, da compaixão, da mansidão, da justiça e da paz. Ser santo significa caminhar por esta estrada. Concentremo-nos agora em dois aspectos deste estilo de vida. Dois aspectos que são próprios deste estilo de vida de santidade: alegria e profecia.

A alegria. Jesus começa com a palavra «bem-aventurados» (Mt 5,3). É o anúncio principal, o anúncio de uma felicidade sem precedentes. A bem-aventurança, a santidade, não é um programa de vida feito apenas de esforços e renúncias, mas é sobretudo a alegre descoberta de ser filhos amados por Deus. E isto nos enche de alegria. Não é uma conquista humana, é um dom que recebemos: somos santos porque Deus, que é o Santo, vem habitar na nossa vida. É Ele quem nos dá a santidade. Por isto somos bem-aventurados! A alegria do cristão, portanto, não é a emoção de um instante ou um simples otimismo humano, mas a certeza de poder enfrentar todas as situações sob o olhar amoroso de Deus, com a coragem e a força que vem d’Ele. Os santos, mesmo no meio de muitas tribulações, experimentaram esta alegria e deram testemunho dela. Sem alegria, a fé torna-se um exercício rigoroso e opressivo, e corre o risco de adoecer de tristeza. Consideremos estas palavras: adoecer de tristeza. Um Padre do deserto disse que a tristeza é um «verme do coração», que corrói a vida (cf. Evágrio Pôntico, Os oito espíritos da maldade, XI). Questionemo-nos sobre isto: somos cristãos alegres? Sou ou não um cristão alegre? Difundimos alegria ou somos pessoas sombrias, tristes e com cara de funeral? Lembremo-nos que não há santidade sem alegria!

O segundo aspecto: a profecia. As bem-aventuranças são dirigidas aos pobres, aos aflitos, a quantos têm fome de justiça. É uma mensagem contracorrente. Na verdade, o mundo diz que para ser feliz é preciso ser rico, poderoso, sempre jovem e forte, gozar de fama e sucesso. Jesus inverte estes critérios e faz um anúncio profético - e esta é a dimensão profética da santidade -: a verdadeira plenitude de vida é alcançada seguindo Jesus, praticando a sua Palavra. E isto significa outra pobreza, ou seja, ser pobre dentro, esvaziar-se a si próprio para dar lugar a Deus. Quem se considera rico, bem-sucedido e seguro, baseia tudo em si próprio e fecha-se a Deus e aos irmãos, enquanto aqueles que sabem que são pobres e não são autossuficientes permanecem abertos a Deus e ao próximo. E encontram a alegria. As bem-aventuranças, então, são a profecia de uma nova humanidade, de uma nova forma de viver: fazer-se pequeno e confiar-se a Deus, em vez de emergir sobre os outros; ser manso, em vez de procurar impor-se; praticar a misericórdia, em vez de pensar apenas em si mesmo; comprometer-se com a justiça e a paz, em vez de alimentar, até com conivência, injustiça e desigualdade. A santidade é acolher e pôr em prática, com a ajuda de Deus, esta profecia que revoluciona o mundo. Então podemos perguntar-nos: testemunho a profecia de Jesus? Expresso o espírito profético que recebi no Batismo? Ou será que me conformo com o conforto da vida e com a minha preguiça, pensando que tudo corre bem se estiver bem para mim? Levo ao mundo a novidade jubilosa da profecia de Jesus ou as queixas habituais por aquilo que não me agrada? Perguntas que nos fará bem fazer a nós próprios.

Que a Santa Virgem nos dê algo da sua alma, aquela alma abençoada que alegremente engrandeceu o Senhor, que “derruba os poderosos dos tronos e eleva os humildes” (Lc 1,52).


Fonte: Santa Sé.

Para conhecer o simbolismo do ícone bizantino de Todos os Santos, clique aqui.

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