sábado, 17 de abril de 2021

Homilia: III Domingo de Páscoa - Ano B

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
Bem-aventurados os que creram sem terem visto

Tomé, resistindo a crer em um primeiro momento, foi pronto na confissão, e em um instante foi curado de sua incredulidade. De fato, haviam transcorrido somente oito dias, e Cristo removeu os obstáculos da incredulidade ao mostrar-lhe as cicatrizes dos cravos e seu lado aberto.

Após ter entrado milagrosamente através das portas fechadas - milagrosamente, já que todo corpo terreno e extenso busca uma entrada adequada ao mesmo, e para entrar requer um espaço em proporção à sua magnitude -, nosso Senhor Jesus Cristo com toda a espontaneidade descobriu seu lado para Tomé e lhe mostrou as chagas impressas em sua carne, confirmando, a propósito de Tomé, a fé de todos os crentes.

Somente de Tomé de diz que afirmou: Se não vejo em suas mãos o sinal dos cravos, se não meto o dedo no furo dos cravos, e não meto a mão em seu lado, não crerei. Porém, o pecado da incredulidade era, de certo modo, comum a todos, e sabemos que o entendimento dos demais discípulos não esteve livre de dúvidas, apesar de afirmarem a Tomé: Vimos o Senhor.

E como não acabavam de crer pela alegria, e continuavam atônitos, Cristo lhes disse: Tendes aqui algo para comer? Eles lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu diante deles. Vês como a dúvida da incredulidade não fez unicamente presa em Tomé, mas que este vírus atacou também o entusiasmo dos demais discípulos?

Portanto, a admiração tornava os discípulos lentos na fé. Mas, na realidade, para quem observa e vê, não existe desculpa alguma de incredulidade; por isso Tomé fez uma correta confissão quando disse: Meu Senhor e meu Deus!

Jesus lhe disse: Tomé, creste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto. Esta expressão do Salvador está cheia de uma singular providência e pode ser-nos de grande utilidade. Realmente, também nesta ocasião Cristo visava o bem de nossas almas, porque Ele é bom e quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, conforme está escrito. Tudo isso é digno de admiração.

Portanto, era mister tolerar com paciência as reservas de Tomé e aos outros discípulos que acreditavam que Ele era um espírito ou um fantasma, e, para oferecer ao mundo inteiro a credibilidade da fé, mostrar os sinais dos cravos e a chaga do lado, e também se alimentar fora do que estava acostumado e sem necessidade nenhuma, a fim de eliminar completamente todo motivo de incredulidade naqueles que buscavam provas para sua própria utilidade.

Mas aquele que aceita o que não vê e crê ser verdade o que o doutor lhe comunica, este demonstra uma adesão fervorosa ao pregador. Por isso se declara bem-aventurado a todo aquele que assente com a fé mediante a pregação dos Apóstolos que, ao dizer de Lucas, foram testemunhas oculares das obras e ministros da palavra. A eles nós devemos obedecer, isto se realmente aspiramos à vida eterna e estimamos o que realmente vale habitar nas moradas eternas.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 346-347. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Gregório de Nissa para este domingo, clique aqui.

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