sábado, 3 de abril de 2021

Homilia: Vigília Pascal

São Cirilo de Jerusalém
Catequese Mistagógica 2
O Batismo, figura da Paixão de Cristo

Fostes conduzidos à santa piscina do divino Batismo, como Cristo foi levado desde a cruz até o sepulcro. E vos foi perguntado singularmente se credes no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Após ter confessado esta fé salvadora, fostes submergidos por três vezes na água e o mesmo número de vezes retirados dela: com isso significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo.

Pois, assim como nosso Salvador esteve no seio da terra três dias e três noites, da mesma maneira vós imitastes com vossa primeira emersão o primeiro dia que Cristo esteve na terra e, com vossa imersão, a primeira noite. Porque, assim como de noite não vemos nada e, por outro lado, de dia tudo percebemos, do mesmo modo em vossa imersão, como se fosse de noite, não pudestes ver nada; mas, ao emergir, vos pareceu encontrar-vos em pleno dia; e em um mesmo momento vos encontrastes mortos e nascidos, e aquela água salvadora vos serviu ao mesmo tempo de sepulcro e de mãe.

Por isso, vos cabe admiravelmente o que disse Salomão a propósito de outras coisas: Tempo de nascer, tempo de morrer; mas a vós isto vos aconteceu em ordem inversa: tivestes um tempo de morrer e um tempo de nascer, ainda que, na realidade, um mesmo instante vos deu ambas as coisas, e vosso nascimento se realizou junto com vossa morte.

Ó maravilha nova e inaudita! Não morremos nem fomos sepultados, nem ressuscitamos depois de crucificados no sentido material destas expressões; porém, ao imitar estas realidades, em imagem alcançamos assim a verdadeira salvação.

Cristo sim que foi realmente crucificado e seu corpo foi realmente sepultado e realmente ressuscitou; a nós, porém, foi-nos dado por graça que, imitando o que Ele padeceu com a realidade dessas ações, alcancemos verdadeiramente a salvação.

Ó exuberante amor para com os homens! Cristo foi o que recebeu os cravos em suas imaculadas mãos e pés, sofrendo dores atrozes, e a mim, sem experimentar nenhuma dor nem angústia alguma, foi-me concedida a salvação pela comunhão de suas dores.

Ninguém pense, pois, que o Batismo foi conferido somente pelo perdão dos pecados e para alcançar a graça da adoção, como no caso do batismo de João, que somente conferia o perdão dos pecados; nosso Batismo, como bem sabemos, além de purificar-nos do pecado e dar-nos o dom do Espírito, é também tipo e expressão da Paixão de Cristo. Por isso Paulo dizia: Não sabeis que os que pelo Batismo foram incorporados a Cristo Jesus, foram incorporados à sua morte? Pelo Batismo fomos sepultados com Ele na morte.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 337-338. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Agostinho para esta celebração, clique aqui.

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