São Cirilo de Jerusalém
Catequese Mistagógica 2
O
Batismo, figura da Paixão de Cristo
Fostes
conduzidos à santa piscina do divino Batismo, como Cristo foi levado desde a
cruz até o sepulcro. E vos foi perguntado singularmente se credes no nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo. Após ter confessado esta fé salvadora,
fostes submergidos por três vezes na água e o mesmo número de vezes retirados
dela: com isso significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de
Cristo.
Pois, assim como
nosso Salvador esteve no seio da terra três dias e três noites, da mesma
maneira vós imitastes com vossa primeira emersão o primeiro dia que Cristo
esteve na terra e, com vossa imersão, a primeira noite. Porque, assim como de
noite não vemos nada e, por outro lado, de dia tudo percebemos, do mesmo modo
em vossa imersão, como se fosse de noite, não pudestes ver nada; mas, ao
emergir, vos pareceu encontrar-vos em pleno dia; e em um mesmo momento vos
encontrastes mortos e nascidos, e aquela água salvadora vos serviu ao mesmo
tempo de sepulcro e de mãe.
Por isso, vos
cabe admiravelmente o que disse Salomão a propósito de outras coisas: Tempo de nascer, tempo de morrer; mas a
vós isto vos aconteceu em ordem inversa: tivestes um tempo de morrer e um tempo
de nascer, ainda que, na realidade, um mesmo instante vos deu ambas as coisas,
e vosso nascimento se realizou junto com vossa morte.
Ó maravilha nova
e inaudita! Não morremos nem fomos sepultados, nem ressuscitamos depois de
crucificados no sentido material destas expressões; porém, ao imitar estas
realidades, em imagem alcançamos assim a verdadeira salvação.
Cristo sim que
foi realmente crucificado e seu corpo foi realmente sepultado e realmente
ressuscitou; a nós, porém, foi-nos dado por graça que, imitando o que Ele
padeceu com a realidade dessas ações, alcancemos verdadeiramente a salvação.
Ó exuberante
amor para com os homens! Cristo foi o que recebeu os cravos em suas imaculadas
mãos e pés, sofrendo dores atrozes, e a mim, sem experimentar nenhuma dor nem
angústia alguma, foi-me concedida a salvação pela comunhão de suas dores.
Ninguém pense,
pois, que o Batismo foi conferido somente pelo perdão dos pecados e para
alcançar a graça da adoção, como no caso do batismo de João, que somente
conferia o perdão dos pecados; nosso Batismo, como bem sabemos, além de
purificar-nos do pecado e dar-nos o dom do Espírito, é também tipo e expressão
da Paixão de Cristo. Por isso Paulo dizia: Não
sabeis que os que pelo Batismo foram incorporados a Cristo Jesus, foram
incorporados à sua morte? Pelo Batismo fomos sepultados com Ele na morte.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 337-338. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler uma homilia de Santo Agostinho para esta celebração, clique aqui.
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