Após a
pausa por ocasião da Semana Santa, o Papa Francisco retomou suas Catequeses
sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, iniciando o tema dos “guias
para a oração” com os santos (nn. 2683-2684).
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 07 de abril de 2021
A oração (28): Rezar em comunhão com os santos
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de me concentrar no nexo
entre a oração e a comunhão dos santos. Na verdade, quando rezamos, nunca o
fazemos sozinhos: mesmo que não pensemos nisso, estamos imersos num majestoso
rio de invocações que nos precede e continua depois de nós.
Nas orações que encontramos na Bíblia,
e que muitas vezes ressoam na Liturgia, há um vestígio de histórias antigas, de
libertações prodigiosas, de deportações e tristes exílios, de regressos
comovedores, de louvores que fluem perante as maravilhas da criação... E assim
estas vozes são transmitidas de geração em geração, num entrelaçamento contínuo
entre a experiência pessoal, a do povo e a da humanidade à qual pertencemos.
Ninguém pode se desligar da própria história, da história do seu povo; temos
sempre esta herança nos nossos hábitos e também na nossa oração. Na oração de
louvor, especialmente na que floresce no coração dos pequeninos e dos humildes,
algo ecoa do cântico do Magnificat que Maria elevou a Deus
perante a sua parente Isabel; ou da exclamação do velho Simeão que, pegando no
colo o Menino Jesus, disse: «Agora, Senhor, deixai ir em paz o vosso servo,
segundo a vossa palavra» (Lc 2,29).
As orações - as boas - são “difusivas”,
difundem-se continuamente, com ou sem mensagens nas “redes sociais”: das enfermarias
dos hospitais, dos momentos de encontro festivo, bem como daqueles em que se
sofre em silêncio... A dor de cada um é a dor de todos, e a felicidade de uns é
transferida para a alma de outros. A dor e a felicidade fazem parte da mesma
história: são histórias que se tornam história na própria vida. Revive-se a
história com as próprias palavras, mas a experiência é a mesma.
As orações renascem sempre: cada vez
que damos as mãos e abrimos o coração a Deus, encontramo-nos numa companhia de
santos anônimos e de santos reconhecidos que rezam conosco, e que intercedem
por nós, como irmãos e irmãs mais velhos que passaram pela nossa mesma aventura
humana. Na Igreja não há luto que permaneça solitário, não há lágrima que se
verta no esquecimento, porque tudo respira e participa de uma graça comum. Não
era ocasional que nas igrejas antigas as sepulturas estivessem no jardim em
redor do edifício sagrado, como que a indicar que em cada Eucaristia participam
de certa forma aqueles que nos precederam. Há os nossos pais e os nossos avós,
há os padrinhos e madrinhas, há os catequistas e os outros educadores... Essa
fé passada, transmitida, que recebemos: com a fé também se transmitiu a forma
de rezar, a oração.
Os santos ainda estão aqui, não
distantes de nós; e as suas representações nas igrejas evocam aquela “nuvem de
testemunhas” que nos rodeia sempre (cf. Hb 12,1).
Ouvimos no início a leitura do trecho da Carta
aos Hebreus (Hb 12,1-2). São
testemunhas que não adoramos - bem entendido, não adoramos estes santos - mas
que veneramos e que de mil maneiras diferentes nos remetem para Jesus Cristo, o
único Senhor e Mediador entre Deus e o homem. Um santo que não vos recorda
Jesus Cristo não é um santo, nem sequer um cristão. O Santo faz-nos lembrar
Jesus Cristo porque percorreu o caminho da vida como cristão. Os Santos
recordam-nos que também nas nossas vidas, embora fracas e marcadas pelo pecado,
a santidade pode florescer. Nos Evangelhos lemos que o primeiro santo
“canonizado” foi um ladrão e “canonizado” não por um Papa, mas pelo próprio
Jesus. A santidade é um percurso de vida, de encontro com Jesus, seja longo ou
curto, seja num instante, mas é sempre um testemunho. Um santo é o testemunho
de um homem ou de uma mulher que conheceu Jesus e que seguiu Jesus. Nunca é
demasiado tarde para se converter ao Senhor, que é bom e grande no amor (cf. Sl 102,8).
O Catecismo explica que os santos «contemplam a Deus, louvam-n'O e não cessam de tomar a seu cuidado os que deixaram na terra. [...] A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao desígnio de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e por todo o mundo» (CIC, n. 2683). Em Cristo existe uma misteriosa solidariedade entre aqueles que passaram para a outra vida e nós, peregrinos nesta: os nossos queridos defuntos, do Céu, continuam a cuidar de nós. Eles rezam por nós e nós rezamos por eles, e oramos com eles.
Este nexo de oração entre nós e os
Santos, ou seja, entre nós e as pessoas que chegaram à plenitude da vida, este
laço de oração já o experimentamos aqui, na vida terrena: rezamos uns pelos
outros, pedimos e oferecemos orações... A primeira forma de rezar por alguém é
falar com Deus sobre ele ou ela. Se o fizermos frequentemente, todos os dias, o
nosso coração não se fecha, permanece aberto aos irmãos. Rezar pelos outros é a
primeira forma de amá-los, e impele-nos à proximidade concreta. Mesmo nos
momentos de conflito, uma forma de dissolvê-lo, de suavizá-lo, é rezar pela
pessoa com quem estou em conflito. E algo muda com a oração. A primeira coisa
que muda é o meu coração, a minha atitude. O Senhor muda-o para tornar possível
um encontro, um novo encontro, e evitar que o conflito se torne uma guerra sem
fim.
O primeiro modo de enfrentar um tempo
de angústia é pedir aos irmãos, aos santos acima de tudo, que rezem por nós. O
nome que nos é dado no Batismo não é uma etiqueta nem um ornamento! É
normalmente o nome da Virgem, de um Santo ou de uma Santa, os quais gostariam
de nos “dar uma ajuda” na vida, de nos auxiliar para obtermos de Deus as graças
de que mais precisamos. Se na nossa vida as provações não superaram o cume, se
ainda somos capazes de perseverança, se apesar de tudo continuamos com
confiança, talvez tudo isto, mais do que aos nossos méritos, o devamos à
intercessão de muitos santos, alguns no Céu, outros peregrinos como nós na
terra, que nos protegerem e acompanharam porque todos sabemos que aqui na terra
há pessoas santas, homens e mulheres santos que vivem em santidade. Eles não o
sabem, nós também não o sabemos, mas há santos, santos de todos os dias, santos
escondidos ou ,como eu gosto de dizer, os “santos da porta ao lado”, aqueles
que vivem conosco, que trabalham conosco, e levam uma vida de santidade.
Bendito seja Jesus Cristo, o único Salvador do mundo, juntamente com este imenso florescimento de santos e santas que povoam a terra e que fizeram da sua vida um louvor a Deus. Pois - como afirmava São Basílio - «para o Espírito, o santo é uma morada particularmente adequada, uma vez que se oferece para habitar com Deus e é chamado seu templo» (Liber de Spiritu Sancto, 26, 62: PG 32, 184A; cf. CIC, n. 2684).
Fonte: Santa Sé
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