Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco
Páscoa 2021
Basílica de São Pedro
Domingo, 04 de abril de 2021
Queridos irmãos e irmãs, boa Páscoa! Boa, santa e serena Páscoa!
Hoje ressoa, em todas as partes do
mundo, o anúncio da Igreja: «Jesus, o
crucificado, ressuscitou, como tinha dito. Aleluia».
O anúncio de Páscoa não oferece uma
miragem, não revela uma fórmula mágica, não indica uma via de fuga face à
difícil situação que estamos a atravessar. A pandemia está ainda em pleno
desenvolvimento; a crise social e econômica é muito pesada, especialmente para
os mais pobres; apesar disso - e é escandaloso -, não cessam os conflitos
armados e reforçam-se os arsenais militares. Isto é o escândalo de hoje.
Perante, ou melhor, no meio desta
complexa realidade, o anúncio de Páscoa encerra em poucas palavras um
acontecimento que dá a esperança que não decepciona: «Jesus, o crucificado,
ressuscitou». Não nos fala de anjos nem de fantasmas, mas de um homem, um homem
de carne e osso, com um rosto e um nome: Jesus. O Evangelho atesta que este
Jesus, crucificado sob Pôncio Pilatos por ter dito que era o Cristo, o Filho de
Deus, ao terceiro dia ressuscitou, conforme as Escrituras e como Ele próprio
predissera aos seus discípulos.
O próprio Crucificado, não outra
pessoa, ressuscitou. Deus Pai ressuscitou o seu Filho Jesus, porque cumpriu até
ao fim o seu desígnio de salvação: tomou sobre Si a nossa fraqueza, as nossas
enfermidades, a nossa própria morte; sofreu as nossas dores, carregou o peso
das nossas iniquidades. Por isso Deus Pai O exaltou, e agora Jesus Cristo vive
para sempre, e Ele é o Senhor.
As testemunhas referem um detalhe
importante: Jesus ressuscitado traz impressas as chagas das mãos, dos pés e do
peito. Estas chagas são a chancela perene do seu amor por nós. Quem sofre uma
provação dura, no corpo e no espírito, pode encontrar refúgio nestas chagas,
receber através delas a graça da esperança que não decepciona.
Cristo Ressuscitado é esperança para
quantos ainda sofrem devido à pandemia, para os doentes e para quem perdeu um
ente querido. Que o Senhor lhes dê conforto, e apoie médicos e enfermeiros nas
suas fadigas! Todos, sobretudo as pessoas mais frágeis, precisam de assistência
e têm direito a usufruir dos cuidados necessários. Isto é ainda mais evidente
neste tempo em que todos somos chamados a combater a pandemia, e um instrumento
essencial nesta luta são as vacinas. Por isso, no espírito de um
«internacionalismo das vacinas», exorto toda a comunidade internacional a um
empenho compartilhado para superar os atrasos na distribuição delas e facilitar
a sua partilha, especialmente com os países mais pobres.
O Crucificado Ressuscitado é conforto
para quantos perderam o trabalho ou atravessam graves dificuldades econômicas e
carecem de adequada proteção social. O Senhor inspire a ação das autoridades
públicas para que a todos, especialmente às famílias mais necessitadas, sejam
oferecidas as ajudas necessárias para um condigno sustento. Infelizmente a
pandemia elevou de maneira dramática o número dos pobres, fazendo cair no
desespero milhares de pessoas.
«É necessário que os “pobres” de todo o gênero reaprendam a esperar», disse São João Paulo II na sua viagem ao Haiti. E é precisamente para o querido povo haitiano que, neste dia, vai o meu pensamento e encorajamento a fim de não se deixar vencer pelas dificuldades, mas olhar para o futuro com confiança e esperança. É verdade! O meu pensamento dirige-se de forma especial para vós, queridas irmãs e irmãos haitianos: estou unido e solidário convosco e faço votos de que se resolvam definitivamente os vossos problemas. Rezo por isso, queridos irmãos e irmãs haitianos.
Jesus Ressuscitado é esperança também
para tantos jovens que foram forçados a transcorrer longos períodos sem ir à
escola ou à universidade e sem partilhar o tempo com os amigos. Todos
precisamos viver relações humanas reais e não apenas virtuais, sobretudo na
idade em que se formam o caráter e a personalidade. Ouvimo-lo na passada
sexta-feira durante a Via-Sacra das crianças. Estou unido aos jovens de todo o
mundo e, neste momento, especialmente aos de Myanmar que se empenham pela
democracia, fazendo ouvir pacificamente a sua voz, cientes de que o ódio só
pode ser dissipado pelo amor.
Que a luz do Ressuscitado seja fonte de
renascimento para os migrantes que fogem da guerra e da miséria. Nos seus
rostos, reconhecemos o rosto desfigurado e sofredor do Senhor que sobe ao
Calvário. Oxalá não lhes faltem sinais concretos de solidariedade e
fraternidade humana, penhor da vitória da vida sobre a morte que celebramos
neste dia. Agradeço aos países que acolhem com generosidade os atribulados à
procura de refúgio, especialmente o Líbano e a Jordânia, que alojam muitos
refugiados em fuga do conflito sírio.
Possa o povo libanês, que atravessa um
período de dificuldades e incertezas, sentir a consolação do Senhor Ressuscitado
e ter o apoio da comunidade internacional na sua vocação de ser uma terra de
encontro, convivência e pluralismo.
Cristo, nossa paz, faça cessar
finalmente o fragor das armas na amada e atormentada Síria, onde vivem já em
condições desumanas milhões de pessoas, bem como no Iêmen, cujas vicissitudes
estão rodeadas por um silêncio ensurdecedor e escandaloso, e na Líbia, onde se
vislumbra finalmente a via de saída dum decênio de contendas e confrontos
sangrentos. Que todas as partes envolvidas se empenhem efetivamente por fazer
cessar os conflitos e permitir aos povos exaustos pela guerra que vivam em paz
e iniciem a reconstrução dos respectivos países.
A Ressurreição leva-nos, naturalmente,
a Jerusalém. Para ela imploramos do Senhor paz e segurança (cf. Sl 122), a fim de que corresponda à sua vocação de ser lugar
de encontro onde todos se possam sentir irmãos e onde israelitas e palestinos
encontrem a força do diálogo para alcançar uma solução estável, em que convivam
lado a lado dois Estados em paz e prosperidade.
Neste dia de festa, o meu pensamento volta ainda ao Iraque, que tive a alegria de visitar no mês passado e pelo qual rezo a fim de continuar o caminho de pacificação empreendido e deste modo realizar o sonho de Deus de uma família humana hospitaleira e acolhedora para todos os seus filhos [1].
A força do Ressuscitado sustente as
populações africanas que veem o seu futuro comprometido por violências internas
e pelo terrorismo internacional, especialmente no Sahel e na Nigéria, bem como
na região de Tigray e Cabo Delgado. Continuem os esforços para se encontrar
soluções pacíficas para os conflitos, no respeito pelos direitos humanos e a
sacralidade da vida, através de um diálogo fraterno e construtivo em espírito
de reconciliação e operosa solidariedade.
Queridos irmãos e irmãs, também este
ano, em vários lugares, muitos cristãos celebram a Páscoa no meio de grandes
limitações e, às vezes, sem poderem sequer ir às celebrações litúrgicas.
Rezemos para que tais limitações, bem como toda a limitação à liberdade de
culto e religião no mundo, sejam removidas e cada um possa livremente rezar e
louvar a Deus.
No mundo há ainda demasiadas guerras e violências! O Senhor, que é a nossa paz, nos ajude a vencer a mentalidade da guerra. Conceda a quantos estão prisioneiros nos conflitos, especialmente no leste da Ucrânia e no Nagorno-Karabakh, a graça de retornarem sãos e salvos às suas famílias, e inspire os governantes de todo o mundo a travarem a corrida a novos armamentos. Hoje, 04 de abril, celebra-se o Dia Mundial contra as Minas Antipessoais, munições velhacas e terríveis que, anualmente, matam ou mutilam tantas pessoas inocentes e impedem os seres humanos de «caminhar juntos pelas sendas da vida, sem ter receio das ciladas de destruição e de morte» [2]. Como seria melhor um mundo sem estes instrumentos de morte!
No meio das múltiplas dificuldades que
estamos atravessando, nunca esqueçamos que fomos curados pelas chagas de Cristo
(cf. 1Pd 2,24). À luz do Ressuscitado, os nossos sofrimentos são
transfigurados. Onde havia morte, agora há vida; onde havia luto, agora há
consolação. Ao abraçar a Cruz, Jesus deu sentido aos nossos sofrimentos. E,
agora, rezemos para que os efeitos benéficos daquela cura se espalhem por todo
o mundo.
Boa, santa e serena Páscoa!
[1] cf. Encontro
Inter-religioso em Ur, 06 de março de 2021.
[2] São João Paulo II, Ângelus,
28 de fevereiro de 1999.
Fonte: Santa Sé
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