Prosseguindo com suas Catequeses sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, após falar sobre os santos, o Papa Francisco continuou o tema dos “guias para a oração”, destacando o papel da Igreja (nn. 2685-2690):
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 14 de abril de 2021
A oração (29): A Igreja, mestra em oração
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
A Igreja é uma grande escola de oração. Muitos de nós aprendemos a silabar as primeiras orações enquanto estávamos no colo dos pais ou dos avós. Talvez conservemos a memória da mãe e do pai que nos ensinavam a recitar as orações antes de dormir. Estes momentos de recolhimento são frequentemente aqueles em que os pais ouvem algumas confidências íntimas dos filhos e podem dar os seus conselhos inspirados pelo Evangelho. Depois, no caminho do crescimento, há outros encontros, com outras testemunhas e mestres de oração (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2686-2687). É bom recordá-los.
A vida de uma paróquia e de cada comunidade cristã é cadenciada pelos tempos da Liturgia e da oração comunitária. Aquele dom, que na infância recebemos com simplicidade, compreendemos que é um patrimônio grande, um patrimônio muito rico, e que a experiência da oração merece ser aprofundada cada vez mais (cf. ibid., 2688). O hábito da fé não é engomado: desenvolve-se conosco; não é rígido: cresce, até através dos momentos de crise e ressurreição; aliás, não se pode crescer sem momentos de crise, porque a crise te faz crescer: entrar em crise é um modo necessário para crescer. E o sopro da fé é a oração: crescemos na fé tanto quanto aprendemos a rezar. Depois de certas passagens da vida, compreendemos que sem fé não poderíamos ter bom êxito e que a oração foi a nossa força. Não só a oração pessoal, mas também a dos irmãos e irmãs, da comunidade que nos acompanhou e apoiou, das pessoas que nos conhecem, das pessoas às quais pedimos que rezem por nós.
Também por este motivo na Igreja
florescem continuamente comunidades e grupos dedicados à oração. Alguns
cristãos sentem até a chamada de fazer da oração a ação principal dos seus
dias. Na Igreja existem mosteiros, conventos e eremitérios onde vivem pessoas
consagradas a Deus e que muitas vezes se tornam centros de irradiação
espiritual. São comunidades de oração que irradiam espiritualidade. São
pequenos oásis nos quais se partilha uma oração intensa e se constrói a
comunhão fraterna dia após dia. Trata-se de células vitais, não apenas para o
tecido da Igreja, mas para a própria sociedade. Pensemos, por exemplo, no papel
que o monaquismo desempenhou no nascimento e no crescimento da civilização
europeia, e também noutras culturas. Rezar e trabalhar em comunidade faz
progredir o mundo. É um motor.
Tudo na Igreja nasce na oração, e tudo
cresce graças à oração. Quando o Inimigo, o Maligno, quer combater contra a
Igreja, fá-lo primeiro procurando secar as suas fontes, impedindo-as de rezar.
Por exemplo, vemos isto em certos grupos que concordam em levar a cabo
reformas eclesiais, mudanças na vida da Igreja... Há muitas organizações,
há os meios de comunicação que informam todos... Mas a oração não se vê, não se
reza. “Devemos mudar isto, temos de tomar esta decisão que é um pouco
forte...”. É interessante a proposta, é interessante, apenas com o debate,
apenas com os meios de comunicação, mas onde está a oração? A oração é aquela
que abre a porta ao Espírito Santo, o qual inspira a ir em frente. As mudanças
na Igreja sem oração não são mudanças da Igreja, são mudanças de grupo. E
quando o Inimigo - como já disse - quer lutar contra a Igreja, fá-lo primeiro
procurando secar as suas fontes, impedindo-as de rezar, e [induzindo-as a]
fazer estas outras propostas. Se a oração cessar, por algum tempo parece que
tudo pode continuar como habitualmente - por inércia - mas depois de pouco
tempo a Igreja compreende que se torna como que um invólucro vazio, que perdeu
o seu eixo central, que já não possui a nascente do calor e do amor.
As mulheres e os homens santos não têm
uma vida mais fácil do que os outros, pelo contrário, também eles têm os
próprios problemas para enfrentar e, além disso, são frequentemente objeto de
oposições. Mas a sua força é a oração, que haurem sempre do “poço” inesgotável
da mãe Igreja. Com a oração alimentam a chama da sua fé, como se fazia com o
óleo das lâmpadas. E assim vão em frente, caminhando na fé e na esperança. Os
santos, que muitas vezes contam pouco aos olhos do mundo, na realidade são
aqueles que o sustentam, não com as armas do dinheiro e do poder, dos meios de
comunicação e assim por diante, mas com as armas da oração.
No Evangelho
de Lucas, Jesus apresenta uma pergunta dramática que nos faz sempre
refletir: «Quando vier o Filho do Homem, encontrará acaso fé sobre a terra?» (Lc 18,8),
ou será que só encontrará organizações, como um grupo de “empresários da fé”,
todos bem organizados, fazendo beneficência, muitas coisas..., ou será que
encontrará fé? «Quando vier o Filho do Homem, encontrará acaso fé sobre a
terra?». Esta pergunta surge no final de uma parábola que mostra a necessidade
de rezar com perseverança, sem se cansar (cf.
vv. 1-8). Portanto, podemos concluir que a lâmpada da fé estará sempre acesa na
terra, enquanto houver o óleo da oração. A lâmpada da verdadeira fé da Igreja
estará sempre acesa na terra enquanto houver o óleo da oração. É o que leva em
frente a fé e a nossa vida pobre, débil e pecadora, mas a oração leva-a em
frente com segurança. Uma pergunta que nós cristãos devemos fazer a nós mesmos:
rezo? Rezamos? Como rezo? Como papagaios ou rezo com o coração? Como rezo? Será
que rezo com a certeza de que estou na Igreja e rezo com a Igreja, ou rezo um
pouco de acordo com as minhas ideias e deixo que as minhas ideias se tornem
oração? Isto é oração pagã, não oração cristã. Repito: podemos concluir que a
lâmpada da fé estará sempre acesa na terra enquanto houver o óleo da oração.
Esta é uma tarefa essencial da Igreja:
rezar e educar para rezar. Transmitir de geração em geração a lâmpada da fé com
o óleo da oração. A lâmpada da fé que ilumina, que governa tudo como deve ser,
mas que só pode ir em frente com o óleo da oração. Caso contrário, apaga-se.
Sem a luz desta lâmpada, não poderíamos ver o caminho para evangelizar, aliás,
não poderíamos ver o caminho para crer realmente; não poderíamos ver os rostos
dos irmãos dos quais nos devemos aproximar e servir; não poderíamos iluminar a
sala onde nos encontramos em comunidade... Sem fé, tudo desmorona; e sem a oração,
a fé extingue-se. Fé e oração, juntas. Não há outro caminho. Por isso a Igreja,
que é casa e escola de comunhão, é casa e escola de fé e de oração.
Fonte: Santa Sé
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