quinta-feira, 29 de abril de 2021

Catequeses sobre os Salmos (14): Laudes da sexta-feira da II semana

Em sua série de Catequeses sobre os salmos e cânticos da Liturgia das Horas, o Papa João Paulo II refletiu sobre os textos das Laudes da sexta-feira da II semana do Saltério nos dias 08 de maio (Sl 50), 15 de maio (Hab 3,2-4.13a.15-19) e 05 de junho de 2002 (Sl 147).

39. Tende piedade, ó meu Deus: Sl 50(51),3-21
08 de maio de 2002

1. Cada semana da Liturgia das Laudes é marcada na sexta-feira pelo Salmo 50, o Miserere, o salmo penitencial mais amado, cantado e meditado, hino ao Deus misericordioso elevado pelo pecador arrependido. Já tivemos ocasião, numa Catequese precedente (Catequese n. 18), de apresentar o quadro geral desta grande oração. Em primeiro lugar, entra-se na região tenebrosa do pecado para aí levar a luz do arrependimento humano e do perdão divino (vv. 3-11). Depois, exalta-se o dom da graça divina, que transforma e renova o espírito e o coração do pecador arrependido: esta é uma região luminosa, cheia de esperança e de confiança (vv. 12-21).
Detemo-nos, nesta nossa reflexão, nalgumas considerações sobre a primeira parte do Salmo 50, aprofundando alguns dos seus aspectos. Mas, no começo, desejaríamos mencionar a maravilhosa proclamação divina do Sinai, que é quase o retrato do Deus cantado pelo Miserere: “O Senhor! O Senhor! Deus misericordioso e clemente, vagaroso em encolerizar-Se, cheio de bondade e fidelidade, que mantém a Sua graça até à milésima geração, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado” (Ex 34,6-7).

2. A invocação inicial eleva-se a Deus para obter o dom da purificação que faça - como dizia o profeta Isaías - “brancos como a neve” e “como a lã” os pecados, em si semelhantes ao “escarlate” e “vermelhos como a púrpura” (cfIs 1,18). O salmista confessa o seu pecado de forma clara e sem hesitações: “Eu reconheço toda a minha iniquidade... Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!” (vv. 5-6).
Por conseguinte entra em cena a consciência pessoal do pecador que se abre para compreender claramente o seu mal. É uma experiência que envolve liberdade e responsabilidade, e leva a admitir ter quebrado um vínculo para construir uma escolha de vida alternativa em relação à Palavra divina. Disto deriva uma decisão radical de mudança. Tudo isto está encerrado naquele “reconhecer”, um verbo que em hebraico não significa apenas uma adesão intelectual, mas uma opção vital.
É o que, infelizmente, muitos não fazem, como nos adverte Orígenes: “Há quem, depois de ter pecado, se sinta completamente tranquilo e não se preocupe com o seu pecado nem tome consciência do mal cometido, mas viva como se nada tivesse acontecido. Sem dúvida, esse não poderia dizer:  tenho sempre consciência do meu pecado. Ao contrário, quando, depois do pecado, o pecador se inquieta e se aflige devido ao seu pecado, quando se sente atormentado pelos remorsos, dilacerado sem tréguas e sofre sobressaltos no seu íntimo que se eleva para o contestar, ele, com razão, exclama: não há paz para os meus ossos face ao aspecto dos meus pecados... Portanto, quando os pecados cometidos se apresentam aos olhos do nosso coração, os revemos um por um, os reconhecemos, nos envergonhamos e arrependemos do que fizemos, então perturbados e aterrorizados, justamente dizemos que não há paz para os nossos ossos face ao aspecto dos nossos pecados... (Homilias sobre os Salmos, Florença, 1991, pp. 277-279). O reconhecimento e a consciência do pecado são, portanto, fruto de uma sensibilidade adquirida graças à luz da Palavra de Deus.

3. Na confissão do Miserere há um realce de particular evidência: o pecado não é compreendido apenas na sua dimensão pessoal e “psicológica”, mas é analisado sobretudo na sua qualidade teológica. “Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei” (v. 6), exclama o pecador, ao qual a tradição deu o rosto de Davi, consciente do seu adultério com Betsabé, e da denúncia do profeta Natã contra este crime e contra o crime da morte do seu marido, Urias (cf. v. 2; 2Sm 11,12).
Por conseguinte, o pecado não é apenas uma questão psicológica ou social, mas é um acontecimento que prejudica a relação com Deus, violando a sua lei, recusando o seu projeto na história, alterando a escala dos valores, “mudando as trevas em luz e a luz em trevas”, isto é, “chamando bem ao mal e mal ao bem” (cfIs 5,20). Antes de ser uma possível afronta contra o homem, o pecado é uma traição a Deus. São emblemáticas as palavras que o filho desprovido de bens pronuncia diante de seu pai, pródigo de amor: “Pai, pequei contra o Céu - isto é, contra Deus - e contra ti!” (Lc 15,21).

"Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei..."
(Retorno do filho pródigo - Pompeo Batoni)

4. Neste ponto o salmista introduz outro aspecto, mais diretamente relacionado com a realidade humana. Foi a frase que suscitou muitas interpretações e que também foi relacionada com a doutrina do pecado original: “Vede, Senhor, que eu nasci na iniquidade e pecador já minha mãe me concebeu” (v. 7). O orante deseja indicar a presença do mal dentro do nosso ser, como é evidente na menção da concepção e do nascimento, uma forma de exprimir toda a existência partindo da sua origem. Mas o salmista não relaciona formalmente esta situação com o pecado de Adão e Eva, isto é, não fala explicitamente de pecado original.
Contudo, é evidente que, segundo o texto do Salmo, o mal se esconde nas próprias profundezas do homem, é inerente à sua realidade histórica e, por isso, é decisivo o pedido da intervenção da graça divina. O poder do amor de Deus supera o poder do pecado, o rio transbordante do mal pode menos do que a água fecundante do perdão: “Onde abunda o pecado, superabunda a graça” (Rm 5,20).

5. Por este caminho a teologia do pecado original e toda a visão bíblica do homem pecador são indiretamente recordados com palavras que deixam, ao mesmo tempo, entrever a luz da graça e da salvação.
Como teremos ocasião de descobrir no futuro, voltando a falar deste Salmo e dos versículos seguintes, a confissão da culpa e a consciência da própria miséria não levam ao terror ou ao pesadelo do juízo, mas à esperança da purificação, da libertação, da nova criação.
De fato, Deus salva-nos “não por causa das obras da justiça que tivéssemos feito, mas por misericórdia, mediante o batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo, que derramou sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3,5-6).

40. Deus há de vir para julgar: Hab 3,2-4.13a.15-19a
15 de maio de 2002

1. A Liturgia das Laudes propõe-nos uma série de cânticos bíblicos de profunda intensidade espiritual, para acompanhar a oração fundamental dos Salmos. Hoje ouvimos um exemplo tirado do terceiro e último capítulo do Livro de Habacuc. Este profeta viveu nos finais do século VII a. C., quando o reino de Judá se sentia esmagado entre duas superpotências que se expandiam: por um lado o Egito e, por outro, a Babilônia.
Contudo, muitos estudiosos consideram este hino final como uma citação. Por conseguinte, no apêndice ao breve escrito de Habacuc encontra-se um verdadeiro e próprio cântico litúrgico, “em tom de lamentação”, que deve ser acompanhado por “instrumentos de corda”, como dizem duas notas colocadas no início e no final do cântico (Hab 3,1.19b). A Liturgia das Laudes, no prosseguimento da antiga oração de Israel, convida-nos a transformar em cântico cristão esta composição, escolhendo alguns dos seus versículos mais significativos (vv. 2-4.13a.15-19a).

2. O hino, que revela também uma notável força poética, apresenta uma grandiosa imagem do Senhor (vv. 3-4). A sua figura domina solenemente todo o cenário do mundo e o universo é percorrido por um estremecimento perante o seu andar solene. Ele prossegue do sul, de Temã e do monte Farã (v. 3), isto é, da zona do Sinai, sede da grande epifania reveladora de Israel. Também no Salmo 67 se descreve “o Senhor que vem do Sinai ao Santuário” de Jerusalém (Sl 67,18). O seu aparecimento, de acordo com uma constante da tradição bíblica, está circundado de luz (Hab 3,4).
É uma irradiação do seu mistério transcendente, mas que se comunica à humanidade: de fato, a luz está fora de nós, não a podemos prender ou parar; contudo ela envolve-nos, ilumina-nos e aquece-nos. Assim é Deus, distante e próximo, não se pode prender mas está ao nosso lado, ou melhor, sempre pronto para estar conosco e em nós. Quando se revela a sua majestade, a terra responde com um coro de louvor: é a resposta cósmica, uma espécie de oração à qual o homem dá voz.
A tradição cristã viveu esta experiência interior não só no âmbito da espiritualidade pessoal, mas também em audaciosas criações artísticas. Pondo de lado as majestosas catedrais da Idade Média, mencionamos sobretudo a arte do oriente cristão com os seus admiráveis ícones e com as geniais arquiteturas das suas igrejas e dos seus mosteiros.
A respeito disto, a Igreja de Santa Sofia de Constantinopla é uma espécie de arquétipo no que se refere à demarcação do espaço da oração cristã, na qual a presença e a incapacidade de conter a luz permitem sentir tanto a intimidade como a transcendência da realidade divina. Ele penetra toda a comunidade orante até à profundidade dos ossos e, ao mesmo tempo, convida-a a ultrapassar a si mesma para imergir completamente na inefabilidade do mistério. São também significativas as propostas artísticas e espirituais, que caracterizam os mosteiros daquela tradição cristã. Naqueles verdadeiros e próprios espaços sagrados - e o pensamento dirige-se imediatamente para o Monte Athos - o tempo contém em si um sinal da eternidade. O mistério de Deus manifesta-se e esconde-se naqueles espaços através da oração contínua dos monges e dos eremitas, que sempre foram considerados semelhantes aos anjos.

3. Mas voltemos ao cântico do profeta Habacuc. Para o autor sagrado a entrada do Senhor no mundo tem um significado bem determinado. Ele quer entrar na história da humanidade, “pelos tempos”, como se repete por duas vezes no versículo 2, para julgar e melhorar esta vicissitude, que nós conduzimos de maneira tão confusa e, muitas vezes, pervertida.
Então, Deus mostra a sua indignação (v. 2c) contra o mal. E o cântico faz referência a uma série de intervenções divinas inexoráveis, mesmo sem especificar se se trata de ações diretas ou indiretas. Recorda-se o êxodo de Israel, quando a cavalaria do faraó foi afundada no mar (v. 15). Mas faz-se aparecer também a perspectiva da obra que o Senhor está para realizar em relação ao novo opressor do seu povo. A intervenção divina é descrita de maneira quase “visível” através de uma série de imagens agrícolas: “Ainda que a figueira não floresça nem a vinha dê seus frutos, a oliveira não dê mais o seu azeite, nem os campos, a comida; mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos e o gado nos currais...” (v. 17). Tudo o que é sinal de paz e de fertilidade é eliminado e o mundo mostra-se como um deserto. Esta é a imagem querida a outros profetas (cf. Jr 4,19-26; 12,7-13; 14,1-10) para ilustrar o juízo do Senhor que não é indiferente perante o mal, a opressão e a injustiça.

4. Face à irrupção divina, o orante fica aterrorizado (v. 16), tudo é um frêmito, sente-se o esvaziar da alma, é atingido pelo tremor, porque o Deus da justiça é inefável, de maneira muito diferente dos juízes da terra.
Mas a entrada do Senhor tem também outra função, que o nosso cântico exalta com alegria. De fato, ele na sua indignação não se esquece da clemência compassiva (v. 2). Ele sai do horizonte da sua glória não só para destruir a arrogância dos ímpios, mas também para salvar o seu povo e o seu consagrado (v. 13), isto é, Israel e o seu rei. Ele também deseja ser libertador dos oprimidos, fazer desabrochar a esperança no coração das vítimas, iniciar uma nova era de justiça.

5. Por isso o nosso cântico, apesar de estar assinalado pelo “tom de lamento”, transforma-se em um hino de alegria. De fato, as calamidades anunciadas têm por finalidade a libertação dos oprimidos (v. 15). Por isso, elas dão origem à alegria do justo que exclama: “(...) mesmo assim eu me alegro no Senhor, exulto em Deus, meu Salvador!” (v. 18).  A mesma atitude é sugerida por Jesus aos seus discípulos no tempo dos cataclismos apocalípticos: “Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai as vossas cabeças, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28).
No cântico de Habacuc é muito bonito o versículo final, que exprime a serenidade readquirida. O Senhor é definido como fizera Davi no Salmo 17 não só como “a força” do seu fiel, mas também como aquele que lhe dá agilidade, vigor, serenidade nos perigos. Davi cantava: “Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força... Tornou ligeiros os meus pés como os da corça e colocou-me em segurança em lugar alto” (Sl 17,2.34). Agora o nosso cantor exclama: “O meu Deus e meu Senhor é minha força e me faz ágil como a corça; para as alturas me conduz com segurança” (v. 19). Quando o Senhor está ao nosso lado, já não se receiam os pesadelos nem os obstáculos, mas prossegue-se o caminho da vida, apesar de ser áspero, com um andar leve e com alegria.

41. Restauração de Jerusalém: Sl 147(147B),12-20
05 de junho de 2002

1. O Lauda Jerusalem, que acabamos de proclamar, é muito apreciado pela Liturgia cristã. Ela entoou com frequência o Salmo 147 relacionando-o com a Palavra de Deus, que “corre veloz” sobre a face da terra, mas também com a Eucaristia, verdadeira “flor de trigo” concedida por Deus para “saciar” a fome do homem (vv. 14-15).
Orígenes, em uma das suas homilias, traduzidas e difundidas no Ocidente por São Jerônimo, ao comentar o nosso Salmo, relacionava precisamente a Palavra de Deus com a Eucaristia: “Nós lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as Sagradas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele diz: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue (cf. Jo 6,53), mesmo se estas palavras se podem compreender também do Mistério [eucarístico], contudo o Corpo de Cristo e o seu Sangue são verdadeiramente a Palavra das Escrituras, são o ensinamento de Deus. Quando assistimos ao Mistério [eucarístico], se dele se desperdiça uma pequena porção, sentimo-nos perdidos. E quando estamos a ouvir a Palavra de Deus, e nos chega aos ouvidos a Palavra de Deus, a Carne de Cristo e o seu Sangue, e nós pensamos noutras coisas, em que grande perigo nós caímos!” (74 Homilias sobre o Livro dos Salmos, Milão, 1993, pp. 543-544).
Os estudiosos fazem notar que este Salmo deve ser relacionado com o precedente, para constituir uma única composição, como acontece precisamente no original hebraico. De fato, tem-se um cântico único e coerente em honra da criação e da redenção realizadas pelo Senhor. Ele começa com um jubiloso apelo ao louvor: “Louvai o Senhor Deus porque Ele é bom, cantai ao nosso Deus porque é suave” (Sl 146,1).

2. Se detivermos a nossa atenção no trecho que agora acabamos de ouvir, podemos perceber três momentos de louvor, introduzidos por um convite dirigido à cidade santa, Jerusalém, para que glorifique e louve o seu Senhor (v. 12).
No primeiro momento (vv. 13-14) entra em cena a ação histórica de Deus. Ela é descrita através de uma série de símbolos que representam a obra de proteção e de apoio realizada pelo Senhor em relação à cidade de Sião e dos seus filhos. Antes de mais faz-se referência às “grades” que fortificam e fazem com que as portas de Jerusalém sejam invioláveis. Talvez o salmista se refira a Neemias que fortificou a cidade santa, reconstruída depois da experiência amarga do exílio em Babilônia (cf. Ne 3,3.6.13-15; 4,1-9; 6,15-16; 12,27-43). A porta, entre outras coisas, é um sinal para indicar toda a cidade na sua densidade e tranquilidade. No seu interior, representado como um seio seguro, os filhos de Sião, isto é, os cidadãos, gozam da paz e da serenidade, envolvidos no manto protetor da bênção divina.
A imagem da cidade jubilosa e tranquila é exaltada pelo dom altíssimo e precioso da paz que faz com que as fronteiras sejam seguras. Mais precisamente porque para a Bíblia a paz-shalom não é um conceito negativo, que recorda a ausência de guerra, mas um fato positivo de bem-estar e prosperidade, eis que o salmista introduz a saciedade com a “flor de trigo”, isto é, com o grão excelente, com as espigas cheias de grãos. Por conseguinte, o Senhor fortaleceu as defesas de Jerusalém (cf. Sl 87,2), fez descer sobre ela a sua bênção (cf. Sl 128,5; 134,3), fazendo-a chegar a todo o país, concedeu a paz (cf. Sl 122,6-8) e saciou os seus filhos (cf. Sl 132,15).

3. Na segunda parte do Salmo (vv. 15-18), Deus apresenta-se sobretudo como Criador. De fato, relaciona-se duas vezes a obra criadora com a palavra que fez desabrochar o aparecimento do ser: “Deus disse: ‘Faça-se a luz’. E a luz foi feita...” (Gn 1,3) - “Envia suas ordens para a terra... Envia sua palavra...” (Sl 147,15.18).
De acordo com a Palavra divina, eis que surgem e se estabelecem as duas estações fundamentais: por um lado, a ordem do Senhor faz descer sobre a terra o inverno, representado de modo significativo pela neve suave como a lã, pelo orvalho semelhante à poeira, pelo granizo comparável às migalhas de pão e pelo gelo que tudo paralisa (vv. 16-17). Por outro lado, outra ordem divina manda soprar o vento quente que traz o verão e faz derreter a neve: as águas da chuva e dos rios podem correr livremente para regar a terra e a fecundar.
Por conseguinte, a Palavra de Deus está na base do frio e do calor, do ciclo das estações e da afluência da vida na natureza. A humanidade é convidada a reconhecer e a dar graças ao Criador pelo dom fundamental do universo, que a rodeia, faz com que ela respire, a alimenta e ampara.

4. Passa-se então ao terceiro e último momento do nosso hino de louvor (vv. 19-20). Volta-se ao Senhor da história do qual se partiu. A Palavra divina leva a Israel um dom ainda mais nobre e precioso, o da Lei, da Revelação. Um dom específico: “Nenhum povo recebeu tanto carinho, a nenhum outro revelou os seus preceitos” (v. 20).
Portanto, a Bíblia é o tesouro do povo eleito à qual devemos aderir com amor e fidelidade. É o que diz Moisés aos hebreus no Deuteronômio: “Qual é o grande povo que possua mandamentos e preceitos tão justos como esta Lei que hoje vos apresento?” (Dt 4,8).

5. Assim como existem duas ações gloriosas de Deus na criação e na história, assim também existem duas revelações: uma inscrita na própria natureza e que está aberta a todos, a outra oferecida ao povo eleito, que a deverá testemunhar e comunicar a toda a humanidade e que está contida na Sagrada Escritura. Duas revelações distintas, mas Deus permanece único assim como a sua Palavra. Tudo foi feito por meio da Palavra - dirá o Prólogo do Evangelho de João - e sem ela nada de tudo o que existe foi feito.  Mas a Palavra também se fez “homem”, isto é, entrou na história, e levantou a sua tenda entre nós (cf. Jo 1,3.14).

"Glorifica o Senhor, Jerusalém! Ele te dá como alimento a flor do trigo" (Sl 147,12.14)
(João Paulo II celebrando a Eucaristia)

Fonte: Santa Sé (08 de maio, 15 de maio e 05 de junho de 2002).

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