Em
sua série de Catequeses sobre os salmos e cânticos da Liturgia das Horas, o Papa João Paulo II refletiu
sobre os textos das Laudes da sexta-feira da II semana do Saltério nos dias 08
de maio (Sl 50), 15 de maio (Hab 3,2-4.13a.15-19) e 05 de junho de 2002 (Sl 147).
39. Tende piedade, ó meu Deus:
Sl 50(51),3-21
08 de maio de 2002
1.
Cada semana da Liturgia das
Laudes é marcada na sexta-feira pelo Salmo 50, o Miserere, o
salmo penitencial mais amado, cantado e meditado, hino ao Deus misericordioso
elevado pelo pecador arrependido. Já tivemos ocasião, numa Catequese precedente
(Catequese n. 18), de apresentar o
quadro geral desta grande oração. Em primeiro lugar, entra-se na região
tenebrosa do pecado para aí levar a luz do arrependimento humano e do perdão
divino (vv. 3-11). Depois, exalta-se o dom da graça divina, que transforma e
renova o espírito e o coração do pecador arrependido: esta é uma região
luminosa, cheia de esperança e de confiança (vv. 12-21).
Detemo-nos,
nesta nossa reflexão, nalgumas considerações sobre a primeira parte do Salmo
50, aprofundando alguns dos seus aspectos. Mas, no começo, desejaríamos
mencionar a maravilhosa proclamação divina do Sinai, que é quase o retrato do
Deus cantado pelo Miserere: “O Senhor! O Senhor! Deus
misericordioso e clemente, vagaroso em encolerizar-Se, cheio de bondade e
fidelidade, que mantém a Sua graça até à milésima geração, que perdoa a
iniquidade, a rebeldia e o pecado” (Ex 34,6-7).
2.
A invocação inicial eleva-se a Deus para obter o dom da purificação que faça - como
dizia o profeta Isaías - “brancos como a neve” e “como a lã” os pecados, em si
semelhantes ao “escarlate” e “vermelhos como a púrpura” (cf. Is 1,18). O salmista confessa o seu pecado de
forma clara e sem hesitações: “Eu reconheço toda a minha iniquidade... Foi
contra vós, só contra vós, que eu pequei, e pratiquei o que é mau aos vossos
olhos!” (vv. 5-6).
Por
conseguinte entra em cena a consciência pessoal do pecador que se abre para
compreender claramente o seu mal. É uma experiência que envolve liberdade e
responsabilidade, e leva a admitir ter quebrado um vínculo para construir uma
escolha de vida alternativa em relação à Palavra divina. Disto deriva uma
decisão radical de mudança. Tudo isto está encerrado naquele “reconhecer”, um
verbo que em hebraico não significa apenas uma adesão intelectual, mas uma
opção vital.
É
o que, infelizmente, muitos não fazem, como nos adverte Orígenes: “Há quem,
depois de ter pecado, se sinta completamente tranquilo e não se preocupe com o
seu pecado nem tome consciência do mal cometido, mas viva como se nada tivesse
acontecido. Sem dúvida, esse não poderia dizer: tenho sempre
consciência do meu pecado. Ao contrário, quando, depois do pecado, o
pecador se inquieta e se aflige devido ao seu pecado, quando se sente
atormentado pelos remorsos, dilacerado sem tréguas e sofre sobressaltos no seu
íntimo que se eleva para o contestar, ele, com razão, exclama: não há
paz para os meus ossos face ao aspecto dos meus pecados... Portanto,
quando os pecados cometidos se apresentam aos olhos do nosso coração, os
revemos um por um, os reconhecemos, nos envergonhamos e arrependemos do que
fizemos, então perturbados e aterrorizados, justamente dizemos que não
há paz para os nossos ossos face ao aspecto dos nossos pecados...” (Homilias sobre os Salmos, Florença,
1991, pp. 277-279). O reconhecimento e a consciência do pecado são, portanto,
fruto de uma sensibilidade adquirida graças à luz da Palavra de Deus.
3.
Na confissão do Miserere há um realce de particular evidência:
o pecado não é compreendido apenas na sua dimensão pessoal e “psicológica”, mas
é analisado sobretudo na sua qualidade teológica. “Foi contra vós, só contra
vós, que eu pequei” (v. 6),
exclama o pecador, ao qual a tradição deu o rosto de Davi, consciente do seu
adultério com Betsabé, e da denúncia do profeta Natã contra este crime e contra
o crime da morte do seu marido, Urias (cf.
v. 2; 2Sm 11,12).
Por
conseguinte, o pecado não é apenas uma questão psicológica ou social, mas é um
acontecimento que prejudica a relação com Deus, violando a sua lei, recusando o
seu projeto na história, alterando a escala dos valores, “mudando as trevas em
luz e a luz em trevas”, isto é, “chamando bem ao mal e mal ao bem” (cf. Is 5,20). Antes de
ser uma possível afronta contra o homem, o pecado é uma traição a Deus. São
emblemáticas as palavras que o filho desprovido de bens pronuncia diante de seu
pai, pródigo de amor: “Pai, pequei contra o Céu - isto é, contra Deus - e
contra ti!” (Lc 15,21).
"Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei..." (Retorno do filho pródigo - Pompeo Batoni) |
4.
Neste ponto o salmista introduz outro aspecto, mais diretamente relacionado com
a realidade humana. Foi a frase que suscitou muitas interpretações e que também
foi relacionada com a doutrina do pecado original: “Vede, Senhor, que eu nasci
na iniquidade e pecador já minha mãe me concebeu” (v. 7). O orante deseja indicar a presença do mal dentro do
nosso ser, como é evidente na menção da concepção e do nascimento, uma forma de
exprimir toda a existência partindo da sua origem. Mas o salmista não relaciona
formalmente esta situação com o pecado de Adão e Eva, isto é, não fala
explicitamente de pecado original.
Contudo,
é evidente que, segundo o texto do Salmo, o mal se esconde nas próprias
profundezas do homem, é inerente à sua realidade histórica e, por isso, é
decisivo o pedido da intervenção da graça divina. O poder do amor de Deus
supera o poder do pecado, o rio transbordante do mal pode menos do que a água
fecundante do perdão: “Onde abunda o pecado, superabunda a graça” (Rm 5,20).
5.
Por este caminho a teologia do pecado original e toda a visão bíblica do homem
pecador são indiretamente recordados com palavras que deixam, ao mesmo tempo,
entrever a luz da graça e da salvação.
Como
teremos ocasião de descobrir no futuro, voltando a falar deste Salmo e dos
versículos seguintes, a confissão da culpa e a consciência da própria miséria
não levam ao terror ou ao pesadelo do juízo, mas à esperança da purificação, da
libertação, da nova criação.
De
fato, Deus salva-nos “não por causa das obras da justiça que tivéssemos feito,
mas por misericórdia, mediante o batismo de regeneração e renovação do Espírito
Santo, que derramou sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador”
(Tt 3,5-6).
40. Deus há de vir para
julgar: Hab 3,2-4.13a.15-19a
15 de maio de 2002
1. A Liturgia
das Laudes propõe-nos
uma série de cânticos bíblicos de profunda intensidade espiritual, para
acompanhar a oração fundamental dos Salmos. Hoje ouvimos um exemplo tirado do
terceiro e último capítulo do Livro de
Habacuc. Este profeta viveu nos finais do século VII a. C., quando o reino
de Judá se sentia esmagado entre duas superpotências que se expandiam: por um
lado o Egito e, por outro, a Babilônia.
Contudo, muitos estudiosos
consideram este hino final como uma citação. Por conseguinte, no apêndice ao
breve escrito de Habacuc encontra-se um verdadeiro e próprio cântico litúrgico,
“em tom de lamentação”, que deve ser acompanhado por “instrumentos de corda”,
como dizem duas notas colocadas no início e no final do cântico (Hab 3,1.19b). A Liturgia
das Laudes, no
prosseguimento da antiga oração de Israel, convida-nos a transformar em cântico
cristão esta composição, escolhendo alguns dos seus versículos mais
significativos (vv. 2-4.13a.15-19a).
2. O hino, que revela também
uma notável força poética, apresenta uma grandiosa imagem do Senhor (vv. 3-4).
A sua figura domina solenemente todo o cenário do mundo e o universo é
percorrido por um estremecimento perante o seu andar solene. Ele prossegue do
sul, de Temã e do monte Farã (v. 3), isto é, da zona do Sinai, sede da grande
epifania reveladora de Israel. Também no Salmo 67 se descreve “o Senhor que vem
do Sinai ao Santuário” de Jerusalém (Sl
67,18). O seu aparecimento, de acordo com uma constante da tradição bíblica,
está circundado de luz (Hab 3,4).
É uma irradiação do seu
mistério transcendente, mas que se comunica à humanidade: de fato, a luz está
fora de nós, não a podemos prender ou parar; contudo ela envolve-nos,
ilumina-nos e aquece-nos. Assim é Deus, distante e próximo, não se pode prender
mas está ao nosso lado, ou melhor, sempre pronto para estar conosco e em nós.
Quando se revela a sua majestade, a terra responde com um coro de louvor: é a
resposta cósmica, uma espécie de oração à qual o homem dá voz.
A tradição cristã viveu esta
experiência interior não só no âmbito da espiritualidade pessoal, mas também em
audaciosas criações artísticas. Pondo de lado as majestosas catedrais da Idade
Média, mencionamos sobretudo a arte do oriente cristão com os seus admiráveis
ícones e com as geniais arquiteturas das suas igrejas e dos seus mosteiros.
A respeito disto, a Igreja
de Santa Sofia de Constantinopla é uma espécie de arquétipo no que se refere à
demarcação do espaço da oração cristã, na qual a presença e a incapacidade de
conter a luz permitem sentir tanto a intimidade como a transcendência da
realidade divina. Ele penetra toda a comunidade orante até à profundidade dos
ossos e, ao mesmo tempo, convida-a a ultrapassar a si mesma para imergir
completamente na inefabilidade do mistério. São também significativas as
propostas artísticas e espirituais, que caracterizam os mosteiros daquela
tradição cristã. Naqueles verdadeiros e próprios espaços sagrados - e o
pensamento dirige-se imediatamente para o Monte Athos - o tempo contém em si um
sinal da eternidade. O mistério de Deus manifesta-se e esconde-se naqueles
espaços através da oração contínua dos monges e dos eremitas, que sempre foram
considerados semelhantes aos anjos.
3. Mas voltemos ao cântico
do profeta Habacuc. Para o autor sagrado a entrada do Senhor no mundo tem um
significado bem determinado. Ele quer entrar na história da humanidade, “pelos
tempos”, como se repete por duas vezes no versículo 2, para julgar e melhorar
esta vicissitude, que nós conduzimos de maneira tão confusa e, muitas vezes,
pervertida.
Então, Deus mostra a sua
indignação (v. 2c) contra o mal. E o cântico faz referência a uma série de
intervenções divinas inexoráveis, mesmo sem especificar se se trata de ações
diretas ou indiretas. Recorda-se o êxodo de Israel, quando a cavalaria do faraó
foi afundada no mar (v. 15). Mas faz-se aparecer também a perspectiva da obra
que o Senhor está para realizar em relação ao novo opressor do seu povo. A
intervenção divina é descrita de maneira quase “visível” através de uma série de
imagens agrícolas: “Ainda que a figueira não floresça nem a vinha dê seus
frutos, a oliveira não dê mais o seu azeite, nem os campos, a comida; mesmo que
faltem as ovelhas nos apriscos e o gado nos currais...” (v. 17). Tudo o que é
sinal de paz e de fertilidade é eliminado e o mundo mostra-se como um deserto.
Esta é a imagem querida a outros profetas (cf. Jr 4,19-26; 12,7-13; 14,1-10) para
ilustrar o juízo do Senhor que não é indiferente perante o mal, a opressão e a
injustiça.
4. Face à irrupção divina, o
orante fica aterrorizado (v. 16), tudo é um frêmito, sente-se o esvaziar da
alma, é atingido pelo tremor, porque o Deus da justiça é inefável, de maneira
muito diferente dos juízes da terra.
Mas a entrada do Senhor tem
também outra função, que o nosso cântico exalta com alegria. De fato, ele na
sua indignação não se esquece da clemência compassiva (v. 2). Ele sai do
horizonte da sua glória não só para destruir a arrogância dos ímpios, mas
também para salvar o seu povo e o seu consagrado (v. 13), isto é, Israel e o
seu rei. Ele também deseja ser libertador dos oprimidos, fazer desabrochar a
esperança no coração das vítimas, iniciar uma nova era de justiça.
5. Por isso o nosso cântico,
apesar de estar assinalado pelo “tom de lamento”, transforma-se em um hino de
alegria. De fato, as calamidades anunciadas têm por finalidade a libertação dos
oprimidos (v. 15). Por isso, elas dão origem à alegria do justo que
exclama: “(...) mesmo assim eu me alegro no Senhor, exulto em Deus, meu
Salvador!” (v. 18). A mesma atitude é sugerida por Jesus aos seus
discípulos no tempo dos cataclismos apocalípticos: “Quando estas coisas
começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai as vossas cabeças, porque a
vossa libertação está próxima” (Lc 21,28).
No cântico de Habacuc é muito
bonito o versículo final, que exprime a serenidade readquirida. O Senhor é
definido como fizera Davi no Salmo 17 não só como “a força” do seu fiel, mas
também como aquele que lhe dá agilidade, vigor, serenidade nos perigos. Davi
cantava: “Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força... Tornou ligeiros os
meus pés como os da corça e colocou-me em segurança em lugar alto” (Sl 17,2.34). Agora o nosso
cantor exclama: “O meu Deus e meu Senhor é minha força e me faz ágil como a
corça; para as alturas me conduz com segurança” (v. 19). Quando o Senhor
está ao nosso lado, já não se receiam os pesadelos nem os obstáculos, mas
prossegue-se o caminho da vida, apesar de ser áspero, com um andar leve e com
alegria.
41. Restauração de Jerusalém:
Sl 147(147B),12-20
05 de junho de 2002
1. O Lauda Jerusalem, que acabamos de proclamar, é muito
apreciado pela Liturgia cristã. Ela entoou com frequência o Salmo 147
relacionando-o com a Palavra de Deus, que “corre veloz” sobre a face da terra,
mas também com a Eucaristia, verdadeira “flor de trigo” concedida por Deus para
“saciar” a fome do homem (vv. 14-15).
Orígenes, em uma das suas
homilias, traduzidas e difundidas no Ocidente por São Jerônimo, ao comentar o
nosso Salmo, relacionava precisamente a Palavra de Deus com a Eucaristia: “Nós
lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo;
penso que as Sagradas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele diz: Se
não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue (cf. Jo 6,53), mesmo se estas palavras se
podem compreender também do Mistério [eucarístico], contudo o Corpo de Cristo e
o seu Sangue são verdadeiramente a Palavra das Escrituras, são o ensinamento de
Deus. Quando assistimos ao Mistério [eucarístico], se dele se desperdiça uma
pequena porção, sentimo-nos perdidos. E quando estamos a ouvir a Palavra de
Deus, e nos chega aos ouvidos a Palavra de Deus, a Carne de Cristo e o seu
Sangue, e nós pensamos noutras coisas, em que grande perigo nós caímos!” (74 Homilias sobre o Livro dos
Salmos, Milão, 1993, pp.
543-544).
Os estudiosos fazem notar
que este Salmo deve ser relacionado com o precedente, para constituir uma única
composição, como acontece precisamente no original hebraico. De fato, tem-se um
cântico único e coerente em honra da criação e da redenção realizadas pelo
Senhor. Ele começa com um jubiloso apelo ao louvor: “Louvai o Senhor Deus
porque Ele é bom, cantai ao nosso Deus porque é suave” (Sl 146,1).
2. Se detivermos a nossa
atenção no trecho que agora acabamos de ouvir, podemos perceber três momentos
de louvor, introduzidos por um convite dirigido à cidade santa, Jerusalém, para
que glorifique e louve o seu Senhor (v. 12).
No primeiro momento (vv.
13-14) entra em cena a ação histórica de Deus. Ela é descrita através de uma
série de símbolos que representam a obra de proteção e de apoio realizada pelo
Senhor em relação à cidade de Sião e dos seus filhos. Antes de mais faz-se
referência às “grades” que fortificam e fazem com que as portas de Jerusalém
sejam invioláveis. Talvez o salmista se refira a Neemias que fortificou a
cidade santa, reconstruída depois da experiência amarga do exílio em Babilônia
(cf. Ne 3,3.6.13-15; 4,1-9; 6,15-16;
12,27-43). A porta, entre outras coisas, é um sinal para indicar toda a cidade
na sua densidade e tranquilidade. No seu interior, representado como um seio
seguro, os filhos de Sião, isto é, os cidadãos, gozam da paz e da serenidade,
envolvidos no manto protetor da bênção divina.
A imagem da cidade jubilosa
e tranquila é exaltada pelo dom altíssimo e precioso da paz que faz com que as
fronteiras sejam seguras. Mais precisamente porque para a Bíblia a paz-shalom não é um conceito negativo, que
recorda a ausência de guerra, mas um fato positivo de bem-estar e prosperidade,
eis que o salmista introduz a saciedade com a “flor de trigo”, isto é, com o
grão excelente, com as espigas cheias de grãos. Por conseguinte, o Senhor
fortaleceu as defesas de Jerusalém (cf. Sl 87,2), fez descer sobre ela a sua
bênção (cf. Sl 128,5; 134,3), fazendo-a chegar a
todo o país, concedeu a paz (cf. Sl 122,6-8)
e saciou os seus filhos (cf. Sl 132,15).
3. Na segunda parte do Salmo
(vv. 15-18), Deus apresenta-se
sobretudo como Criador. De fato, relaciona-se duas vezes a obra criadora com a
palavra que fez desabrochar o aparecimento do ser: “Deus
disse: ‘Faça-se a luz’. E a luz foi feita...” (Gn 1,3) - “Envia suas ordens para a
terra... Envia sua palavra...” (Sl 147,15.18).
De acordo com a Palavra
divina, eis que surgem e se estabelecem as duas estações fundamentais: por um
lado, a ordem do Senhor faz descer sobre a terra o inverno, representado de
modo significativo pela neve suave como a lã, pelo orvalho semelhante à poeira,
pelo granizo comparável às migalhas de pão e pelo gelo que tudo paralisa (vv.
16-17). Por outro lado, outra ordem divina manda soprar o vento quente que traz
o verão e faz derreter a neve: as águas da chuva e dos rios podem correr
livremente para regar a terra e a fecundar.
Por conseguinte, a Palavra
de Deus está na base do frio e do calor, do ciclo das estações e da afluência
da vida na natureza. A humanidade é convidada a reconhecer e a dar graças ao
Criador pelo dom fundamental do universo, que a rodeia, faz com que ela
respire, a alimenta e ampara.
4. Passa-se então ao
terceiro e último momento do nosso hino de louvor (vv. 19-20). Volta-se ao
Senhor da história do qual se partiu. A Palavra divina leva a Israel um dom
ainda mais nobre e precioso, o da Lei, da Revelação. Um dom específico: “Nenhum
povo recebeu tanto carinho, a nenhum outro revelou os seus preceitos” (v. 20).
Portanto, a Bíblia é o
tesouro do povo eleito à qual devemos aderir com amor e fidelidade. É o que diz
Moisés aos hebreus no Deuteronômio:
“Qual é o grande povo que possua mandamentos e preceitos tão justos como esta
Lei que hoje vos apresento?” (Dt 4,8).
5. Assim como existem duas ações gloriosas de Deus na criação e na
história, assim também existem duas revelações: uma inscrita na própria
natureza e que está aberta a todos, a outra oferecida ao povo eleito, que a
deverá testemunhar e comunicar a toda a humanidade e que está contida na
Sagrada Escritura. Duas revelações distintas, mas Deus permanece único assim
como a sua Palavra. Tudo foi feito por meio da Palavra - dirá o Prólogo do Evangelho de João - e sem ela nada de
tudo o que existe foi feito. Mas a Palavra também se fez
“homem”, isto é, entrou na história, e levantou a sua tenda
entre nós (cf. Jo 1,3.14).
"Glorifica o Senhor, Jerusalém! Ele te dá como alimento a flor do trigo" (Sl 147,12.14) (João Paulo II celebrando a Eucaristia) |
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