sábado, 20 de julho de 2019

Homilia: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Gregório Magno
Sermão sobre o Livro do Profeta Ezequiel
Sobre a vida ativa e contemplativa

A vida ativa consiste em dar pão ao faminto, ensinar a sabedoria ao ignorante, corrigir ao que erra, reconduzir o soberbo ao caminho da humildade, cuidar do enfermo, proporcionar a cada qual o que lhe convém e prover os meios de subsistência aos que nos foram confiados.
A vida contemplativa, porém, consiste, é verdade, em manter com toda a alma a caridade de Deus e do próximo, mas abstendo-se de toda atividade exterior e deixando-se invadir somente pelo desejo do Criador, de modo que já não encontre atrativo em atuar, porém, descartada qualquer outra preocupação, a alma arda em desejos de ver a face de seu Criador, até o ponto de que começa a suportar com fastio o peso da carne corruptível e aspirar com todo o dinamismo do desejo unir-se aos coros angélicos que entoam hinos, confundir-se entre os cidadãos do céu e gozar na presença de Deus da eterna incorrupção.
Um bom modelo destes dois tipos de vida foram aquelas duas mulheres, a saber, Marta e Maria, das quais uma se desdobrava para dar conta do serviço, enquanto a outra, sentada aos pés do Senhor, escutava as palavras de sua boca. Como Marta se queixa de que sua irmã não se preocupava de ajudá-la, o Senhor lhe contestou: Marta, andas inquieta e nervosa com muitas coisas; mas somente uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e não lhe será tirada. Observa que não se reprova a parte de Marta, mas se louva a de Maria. Nem se limita a dizer que Maria escolheu a boa parte, mas a parte melhor, para indicar que também a parte de Maria era boa. E porque a parte de Maria seja a melhor, o destaca na continuação, dizendo: E não lhe será tirada.
De fato, a vida ativa acaba com a morte. Pois quem pode dar pão ao faminto na pátria eterna, na qual ninguém terá fome? Quem pode dar de beber ao sedento, se ninguém tem sede? Quem pode enterrar os mortos, se ninguém morre? Portanto, enquanto que a vida ativa acaba neste mundo, a vida contemplativa, iniciada aqui, aperfeiçoa-se na pátria celestial, pois o fogo do amor que aqui começa a arder, à vista do Amado ainda se aviva em seu amor.
Assim, a vida contemplativa não cessará jamais, pois alcança precisamente sua perfeição ao apagar-se a luz do mundo atual.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 679-680. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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