terça-feira, 16 de julho de 2019

Ângelus do Papa: XV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 14 de julho de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje o Evangelho apresenta a célebre parábola do “bom samaritano” (cf. Lc 10,25-37). Interrogado por um doutor da lei sobre o que é necessário para herdar a vida eterna, Jesus o convida a encontrar a resposta nas Escrituras e diz: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo» (v. 27). Porém, havia diversas interpretações sobre quem se deveria entender como “próximo”. Com efeito, aquele homem pergunta de novo: «E quem é o meu próximo?» (v. 29). Neste ponto, Jesus responde com a parábola, esta bela parábola: convido todos vós a tomar hoje o Evangelho, Evangelho de Lucas, capítulo décimo, versículo 25. É uma das parábolas mais belas do Evangelho. E esta parábola se tornou paradigmática da vida cristã. Tornou-se o modelo de como deve agir um cristão. Graças ao evangelista Lucas, temos este tesouro.
O protagonista do breve relato é um samaritano, que encontra ao longo da estrada um homem assaltado e espancado por ladrões e que toma conta dele. Sabemos que os judeus tratavam com desprezo os samaritanos, considerando-os estrangeiros em relação ao povo eleito. Portanto, não é uma coincidência que Jesus escolha justamente um samaritano como personagem positivo da parábola. Deste modo quer superar o preconceito, mostrando que também um estrangeiro, também alguém que não conhece o verdadeiro Deus e não frequenta o seu templo, é capaz de comportar-se segundo a Sua vontade, demonstrando compaixão pelo irmão necessitado e socorrendo-o com todos os meios à sua disposição.
Por aquela estrada, antes do samaritano, haviam já passado um sacerdote e um levita, isto é, pessoas dedicadas ao culto de Deus. Porém, vendo o pobre homem no chão, seguiram adiante sem deter-se, provavelmente para não contaminar-se com seu sangue. Haviam anteposto uma regra humana – não contaminar-se com sangue –, vinculada ao culto, ao grande mandamento de Deus, que quer antes de tudo a misericórdia.
Jesus, portanto, propõe como modelo o samaritano, precisamente um que não possuía fé! Também nós pensemos em tantas pessoas que conhecemos, talvez agnósticas, que fazem o bem. Jesus escolhe como modelo alguém que não era um homem de fé. E este homem, amando o irmão como a si mesmo, demonstra amar a Deus com todo o seu coração e com todas as suas forças – o Deus que não conhecia! –, e exprime ao mesmo tempo verdadeira religiosidade e plena humanidade.
Depois de ter contado esta parábola tão bela, Jesus se dirige de novo ao doutor da Lei que lhe havia perguntado «Quem é o meu próximo?», e lhe diz: Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? » (v. 36). Deste modo, inverte a pergunta do seu interlocutor, e também a lógica de todos nós. Faz-nos compreender que não somos nós que, com base em nossos critérios, definimos quem é o próximo e quem não é, mas é a pessoa em situação de necessidade que deve poder reconhecer quem é o seu próximo, isto é, «aquele que usou de misericórdia para com ele» (v. 37). Sermos capazes de ter compaixão: esta é a chave. Esta é a nossa chave. Se tu não sentes compaixão diante de uma pessoa necessitada, se o teu coração não se comove, então alguma coisa não está bem. Esteja atento, estejamos atentos. Não nos deixemos arrastar pela insensibilidade egoísta. A capacidade de compaixão tornou-se a “pedra de toque” do cristão, mais, do ensinamento de Jesus. O próprio Jesus é a compaixão do Pai para conosco. Se tu vais pela estrada e vê um sem-teto deitado e passas sem olhar para ele ou pensas: “É efeito do vinho. É um bêbado”, pergunta não se aquele homem está embriagado, pergunta se o teu coração não está endurecido, se o teu coração não se tornou gelo. Esta conclusão indica que a misericórdia para com uma vida humana em estado de necessidade é o verdadeiro rosto do amor. É assim que nos tornamos verdadeiros discípulos de Jesus e se manifesta o rosto do Pai: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6,36). E Deus, nosso Pai, é misericordioso, porque tem compaixão: é capaz de ter esta compaixão, de aproximar-se da nossa dor, do nosso pecado, dos nossos vícios, das nossas misérias.
A Virgem Maria nos ajude a compreender e sobretudo a viver sempre mais o vínculo indissolúvel que há entre o amor por Deus, nosso Pai, e o amor concreto e generoso pelos nossos irmãos, e nos dê a graça de ter compaixão e crescer na compaixão.


Tradução livre do original italiano.

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