Orígenes
Homilia 34 sobre São Lucas
“Ele
se dignou assumir a nossa humanidade”
O homem,
portanto, que desce de Jerusalém a Jericó, e que desce porque quer, por isso
mesmo cai nas mãos dos ladrões; os ladrões não são outros senão aqueles de quem
disse o Salvador: Todos os que vieram
antes de mim eram salteadores e ladrões. Contudo, não caiu na mão de
ladrões, mas de pessoas ainda piores do que ladrões, visto que, não satisfeitos
de despojar-lhe, cobriram-lhe de chagas, as quais são todos estes males que
afligem ao homem, a saber, os vícios e os pecados. Depois de lhe terem despido
e ferido, deixaram-no cheio de chagas e se foram, deixando-o meio-morto.
Ocorreu que
então e pelo mesmo caminho passou primeiro um sacerdote e depois um levita, que
talvez fizessem bem a outros homens, mas que não fizeram para aquele que tinha
descido de Jerusalém a Jericó. O sacerdote violou, segundo o meu juízo, a Lei;
o levita violou, segundo me parece, as profecias e vendo-o, o deixaram e
passaram a distância, porque a providência o conservava meio-vivo para que
aquele que é mais poderoso que a Lei e os profetas, isto é, para o samaritano,
palavra que significa “guardião”.
Este é aquele
que não dorme, o vigia de Israel que não dorme, o samaritano que veio, e não de
Jerusalém a Jericó, como o sacerdote e o levita, para salvar aquele que estava
meio-morto, ou que, se desceu, desceu para salvar e para guardar aquele que ia
morrer. A esse foi que os judeus chamaram “samaritano” e disseram que tinha um
demônio.
Quando se chegou
ao moribundo, e o viu envolto em seu próprio sangue, compadecendo-se dele,
aproximou-se para se tornar o seu próximo. Vendo suas chagas, derramou vinho
misturado com azeite... Este é o samaritano de cujos cuidados e auxílios
necessitam todos os que sofrem, e este é o samaritano cujo auxílio necessita
todo o que, descendo de Jerusalém, caiu nas mãos dos ladrões.
Para que
entendas que este samaritano descia por disposição de Deus para cuidar do que
foi atacado pelos ladrões, deves observar que já trazia consigo as faixas, o
vinho e o azeite. Isto me parece que ocorreu não somente em atenção a este
homem meio-morto, mas por todos aqueles que, feridos, necessitam de suas
faixas, de seu vinho e de seu azeite.
Carregou o
ferido sobre o jumento, sobre seu próprio corpo, o que somente significa que se
dignou assumir a nossa humanidade. Este samaritano lavou os nossos pecados,
sofreu por nós, carregou o homem meio-morto, levou-o para a pousada, isto é, a
Igreja, que recebe a todos e que não nega o seu auxílio a ninguém, e à qual nos
convoca Jesus, dizendo: Vinde a mim todos
vós que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Tendo-o levado à
pousada, não foi embora imediatamente, mas ficou com ele um dia inteiro,
cuidando-o dia e noite... Quando chegou a manhã seguinte quer partir, mas dá de
seu bom dinheiro dois denários e encarrega ao posseiro, aos anjos de sua
Igreja, que cuidem e levem ao céu aquele que ele tinha cuidado das angústias
deste tempo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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