Recentemente o site Vatican News publicou quatro textos sobre a contribuição do alemão Klaus Gamber (1919-1989) para a Liturgia, incluindo uma apreciação sobre sua obra feita pelo então Cardeal Ratzinger. Seguem os textos na íntegra, com pequenas correções:
01 de maio de 2019
Em nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do
Concílio Vaticano II”, vamos continuar a falar no programa de hoje sobre
Liturgia, abordando o tema “No caminho para a volta às fontes”.
Temos tratado nos
últimos programas, sobre a importância da formação litúrgica de seminaristas,
sacerdotes e do povo de Deus, visto a Liturgia ter a força de “tornar possível
o impossível, tornar visível o invisível”. Os símbolos usados –
de fato - como o pão, o vinho, a água, o óleo, as palavras,
nossos gestos, devem remeter ao invisível. Por isso o cuidado no seu estudo,
preparação. O Bispo também tem este papel de “guardião da liturgia”, pois por
ela é o primeiro responsável, moderador, coordenador.
A Liturgia como a
vivemos hoje é fruto da reforma “irreversível” - como disse o Papa Francisco - trazida
pelo Concílio Vaticano II. E suas fontes encontram-se já nos movimentos litúrgicos
dos anos 20 e 30. Padre Gerson Schmidt, no programa de hoje, nos fala sobre o
tema “No caminho para a volta às fontes”:
A geração dos Movimentos
Litúrgicos dos anos 20 e 30 tem encontrado suas expressões na Constituição Conciliar,
de maneira particular as ideias de Romano Guardini e de Pius Parsch. Um era um
pensador sutil na investigação das leis internas do culto divino e o outro o
zeloso pastor de almas que queria adentrar o Povo de Deus nos tesouros do
Missal Romano e na oração das horas eclesiásticas, a Liturgia das Horas. Porém,
nem um nem outro, eram investigadores, propriamente ditos, no caminho da
história litúrgica, na busca da volta às fontes, tão querida e desejada na
renovação trazida pelo Concílio, sobretudo na intenção de Paulo VI. Sobretudo
faltava para os pesquisadores ter tido contato com a Liturgia da Igreja do
Oriente. Nem se fala na Liturgia oriental, a riqueza das variadas e expressivas
anáforas - as mais belas preces eucarísticas que hoje também temos disponíveis
na Liturgia Romana.
Os esforços de Pius
Parsch em favor de uma Liturgia popular, durante os anos 30, são criticados por
alguns como uma supervalorização da participação ativa dos fiéis na Missa,
associada a ideias históricas a respeito da Missa na Igreja primitiva. Por
influência de Pius Parsch a língua vernácula fez sua entrada na Liturgia
romana, ainda que por vezes como uma “via paralela” ao lado do latim do
sacerdote celebrante principal.
Durante os anos em que
se desenvolveu o Movimento Litúrgico, depois da Primeira Guerra Mundial, as
ciências litúrgicas se encontravam em seus princípios. Considerava-se o estudo
da Liturgia mais como o estudo das rubricas, constituindo, neste sentido, uma
parte da pastoral. Os poucos investigadores que se dedicavam à história do
culto divino, como os beneditinos G. Morin, C. Mohlberg ou A. Dold, entre
outros nomes, não tinham muita formação. Sua esfera de influência estava
limitada. Em todo caso, a pastoral apenas beneficiava o resultado de suas
investigações.
O Movimento Litúrgico como
ciência litúrgica pouco a pouco começou a se ocupar do que se tinha descuidado
no passado. Restaurou-se uma busca sistemática das fontes do culto divino e os
ricos tesouros das Liturgias orientais não foram precisamente os últimos em ser
mais e mais explorados. Ao mesmo tempo, foi reconhecida a necessidade da
arqueologia cristã para a história da Liturgia [1].
Um dos pesquisadores nesse
caminho da busca das fontes foi Mons. Klaus Gamber, que não se pode dizer que
tenha sido um “rato de biblioteca”, fechado em seus resmungos, mais um grande
pesquisador histórico, enaltecido e reconhecido pelos liturgistas e teólogos.
Herdeiro dos grandes liturgistas do começo do século, esforçou-se em considerar
a Liturgia como fonte primordial e indispensável do verdadeiro espírito
cristão, segundo as palavras de São Pio X.
E é sob o ângulo
arqueológico que estudou as reformas do pós-Concílio. Os estudos científicos de
Mons. Klaus Gamber são hoje uma riqueza de primeira importância. Sua última
obra “Fragen in die Zeit” (que do alemão significa “Perguntem no
tempo”), onde adota uma posição crítica em relação a todos os temas litúrgicos
de nossos dias: parece um testamento dirigido a toda a Igreja. A bibliografia
que se encontra em suas obras compreende 361 títulos. O primordial da obra de
Klaus Gamber é ter mostrado que a árvore da vida litúrgica da Igreja, plantada
desde sempre, desde sua origem, somente poderá vicejar se afundar cada vez mais
profundamente suas raízes no húmus da grande tradição eclesial. O Cardeal
Ratzinger, falando dele, declarava recentemente que era “o único sábio, frente
a um exército de pseudo-liturgistas, cujo pensamento brotava verdadeiramente do
coração da Igreja”.
15
de maio de 2019
Reforma Litúrgica, Movimento Litúrgico, alguns
exageros decorrentes da renovação litúrgica, os dois extremos do pêndulo da Liturgia,
a importância da formação litúrgica. Não foram poucos os temas referentes à
liturgia já abordados neste nosso espaço, pois a Liturgia, “é decisiva na vida
da Igreja”, como nos explicou recentemente o Bispo de Bragança-Miranda
(Portugal), Dom José Manuel Cordeiro. E pela sua importância, “tem que ser
transversal a todas as disciplinas, a todas as dimensões do saber teológico e filosófico,
porque se ela, como nós acreditamos e temos como orientação do Concílio
Vaticano II deste renovamento e aprofundamento da Liturgia, é fonte e o cume de
toda a vida da Igreja, é claro que entre a vida e o cume há um grande caminho a
fazer, por isto que não é exclusiva, mas é decisiva”.
Mas no programa de hoje, retrocedemos um pouco no
tempo. Padre Gerson Schmidt - incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, e
que tem nos acompanhado no percurso de exposição dos documentos conciliares -
nos propõe uma reflexão sobre a Liturgia “do Barroco ao Iluminismo” [2].
Segundo os
estudos histórico-científicos de Mons. Klaus Gamber (1919-1989), vivemos uma
época de desolação litúrgica, que tem suas origens em última análise no Iluminismo.
Como na época do Barroco o povo, ainda que vivendo a Liturgia oficial em seu
interior, não podia participar nela ativamente, desenvolveu novas formas
populares de devoção. Estas formas estavam profundamente enraizadas nos
costumes religiosos. Ao mesmo tempo em que a Missa oficial, por sua solenidade,
atraía os fiéis, estas novas formas de devoção foram, durante a Contra-Reforma,
os pilares do renascimento do Catolicismo.
Sem dúvida, não se pode negar uma importante falta
desta Liturgia barroca, pois os sermões que se pronunciavam tinham pouca
profundidade doutrinal; os dogmas centrais da fé eram deixados de lado e, em
contrapartida, dava-se especial relevo a verdades periféricas. Houve na época
barroca um novo florescimento da vida eclesial, que foi interrompido no século
XVIII pelo racionalismo frio do Iluminismo.
Não se fez caso da Liturgia tradicional, pensou-se
que não correspondia suficientemente aos problemas concretos da época e se
exageraram as formas de piedade popular. Este primeiro desmantelamento da Liturgia
tradicional resultou tanto mais grave quanto mais o poder do Estado tomou
partido pelas ideais iluministas. Muitos Bispos se contaminaram com o espírito
do século chamado “das Luzes”, embora se possa questionar se de fato possa ter
sido uma época de luz.
Em muitos lugares se suprimiram diversas formas
tradicionais da Missa, em grande parte pela força bruta que o Estado exerceu,
mesmo contra a vontade popular. Nos países do rio Reno (seis países: a Suíça, a
Áustria, o Liechtenstein, a Alemanha, a França e os Países Baixos), as Missas
gregorianas cantadas pelos fiéis durante muitos séculos foram proibidas e
substituídas à força pela chamada Missa Maior alemã. Mais tarde, as antigas
formas de devoção desgraçadamente não puderam mais ser reanimadas. Na época do
Iluminismo, a Missa era vista como um meio de formação moral; daí a rejeição do
latim como língua litúrgica.
A Igreja, prolongação do braço secular, tinha
recebido do Estado a missão de formar o povo, no intuito de suscitar súditos
fiéis, de maneira que os padres estavam obrigados a realizar, dos púlpitos,
funções que não tinham nada a ver com seu ministério, tais como explicar as
leis do Estado ou as ordens da polícia e exortar à obediência. Não faltaram as
experiências litúrgicas, sobretudo no relativo à distribuição dos sacramentos.
Mas estas inovações não conseguiram se manter durante muito tempo.
Assemelham-se enormemente às de nossos tempos, que têm por objeto o homem e
seus problemas (sociais).
Assim, por exemplo, Vitus Winter, um dos
reformadores da “Era das Luzes”, exige que sejam eliminadas todas as orações
“que fazem que o homem tudo espere de Deus e não se sinta independente”. Mais
ainda, segundo ele seria necessário suprimir todas as orações que contivessem expressões
orientais e bíblicas.
De fato, os novos textos que se compuseram, se
caracterizavam por um tom moralizador. Sem sombra de dúvida, pode-se afirmar
que as raízes principais da desolação litúrgica atual têm sua origem no
Iluminismo.
Muitas das ideias desta época não chegaram a
amadurecer até os nossos dias, em que vivemos uma nova “Época das Luzes”.
22
de maio de 2019
Temos dedicado nossos últimos programas não somente
ao Movimento Litúrgico e às suas raízes, mas também em saber como a Liturgia
era vivida em diferentes momentos da história da Igreja. Na última
quarta-feira, por exemplo, falamos da Lturgia do Barroco ao Iluminismo.
Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste
percurso, nos propôs uma reflexão baseada nos estudos histórico-científicos de
Monsenhor Klaus Gamber, falecido em 1989. Na sua perspectiva, vivemos uma época
de “desolação litúrgica”. Na edição de hoje deste nosso espaço, o sacerdote
incardinado na arquidiocese de Porto Alegre propõe outra reflexão inspirada nos
estudos do mesmo autor, intitulada: “A
contribuição de Klaus Gamber na Liturgia”.
Os estudos científicos de Mons. Klaus Gamber (1919-1989)
que nasceu, por assim dizer, 50 anos antes da promulgação da nova edição do
Missal, seguiu as reformas pós-conciliares e faleceu 20 anos depois, são hoje
uma riqueza de primeira importância no estudo mais a fundo das fontes
litúrgicas. Para ele, houve uma grande desolação litúrgica. Uma das raiz da
atual desolação litúrgica, segundo esse pesquisador da Liturgia, remonta à
época gótica e à sua piedade subjetiva.
“Não é ainda a participação comum no desenrolar da Liturgia,
que une céus e terra e nos procura a graça divina, onde se centra a Liturgia,
mas o fato de encontrar a Deus e sua graça na oração pessoal. A celebração da Liturgia,
pouco a pouco, se foi convertendo numa tarefa que pertencia somente ao clero.
Os fiéis presentes se convertiam em simples espectadores, que seguiam as
cerimônias rezando e olhando. Introduziram-se, para o povo, exercícios de
piedade fora da Liturgia, ditos em língua vulgar, correspondentes à chamada
“religião moderna” e a um novo ideal de piedade. A ruptura entre Liturgia e
piedade se foi fazendo cada vez mais profunda. O coração do povo palpitava
pelas cerimônias extra-litúrgicas, nas quais podia participar, e em particular
as numerosas procissões como a do ‘Corpus
Christi’ nascida nesta época, e nas peregrinações que eram cada vez mais
populares”.
Ao contrário do que ocorre com os ritos da Igreja
do Oriente, que jamais cessaram de se enriquecer, inclusive durante a Idade
Média, para logo se fixarem, a Liturgia Romana permaneceu através dos séculos
quase inalterável em sua forma inicial, simples e austera. Em todo caso
representa o rito mais antigo.
Através dos tempos, muitos Papas lhe acrescentaram
certas modificações em sua redação, como o fez desde o princípio o Papa São
Dâmaso (366-384) e sobretudo mais tarde São Gregório Magno (590-604). O Papa
São Gregório elaborou, baseando-se em antigos livros litúrgicos, um novo
Sacramentário para o ano. Além disso, em outro livro, pôs em ordem o canto
litúrgico que se conhece por seu nome, “canto gregoriano”, ainda que as melodias
que conhecemos tenham sua origem cem anos depois do mesmo São Gregório.
Pode nos causar estranheza poder constatar a
aparição, ao fim da Idade Média, de uma espécie de primeiro “Movimento Litúrgico”.
É provável que no início do humanismo este movimento tenha tido por origem a
nova percepção que os homens começavam a ter de si mesmos.
Ao primeiro “Movimento Litúrgico” do final da Idade
Média, assim como aos esforços de radical renovação propostos por Lutero e
outros reformadores, responderam para cortar esta corrente as rigorosas
prescrições do Concílio de Trento relativas à Missa, em particular tudo o que
diz respeito à proibição de empregar a língua vernácula.
Os padres conciliares (de Trento) reclamaram uma
nova edição obrigatória dos livros litúrgicos que, no concernente ao Missal
Romano, foi realizado em 1570 por São Pio V. A partir desse momento existe um
organismo particular, a Congregação dos Ritos, que foi a encarregada de velar
para que as rubricas, estritamente prescritas, fossem respeitadas. A reforma de
São Pio V não criou nada novo. Contentou-se com estabelecer uma versão uniforme
do Missal, eliminando as inovações, que se tinham introduzido nele ao longo dos
séculos. Ao mesmo tempo, foi bastante tolerante, deixando intactos os ritos
antigos, com pelo menos duzentos anos de idade.
08
de junho de 2019
Este é o quarto programa deste nosso espaço que
dedicamos ao grande liturgista católico alemão Klaus Gamber (1919-1989), muito
admirado por Bento XVI. Autor do “Die
Reform der römischen Liturgie”, posteriormente traduzido para o inglês e
publicado como “A Reforma da Liturgia Romana: Problemas e Antecedentes”, ele
foi um dos principais intelectuais críticos das reformas litúrgicas trazidas
sob o Pontificado de Paulo VI. Seu trabalho crítico foi elogiado pelo Cardeal
Joseph Ratzinger e ele é reconhecido por ser uma das inspirações acadêmicas por
trás do Motu Proprio Summorum Pontificum,
permitindo um uso mais amplo da liturgia tradicional.
“’E veio um outro anjo que se colocou perto do
altar, com um turíbulo de ouro. Ele recebeu uma grande quantidade de incenso,
para oferecê-lo com as orações de todos os santos, no altar de ouro que está
diante do trono’ (Ap 8,3). Segundo a concepção da Epístola aos Hebreus, o
templo terrestre de Jerusalém e seu altar eram a imagem do santuário que está
no céu e no qual Cristo, o sacerdote eterno, entrou (Hb 9,24)”.
Com estas palavras tem início uma coletânea de
textos sobre Monsenhor Klaus Gamber, intitulada “O altar de frente para o povo
- Perguntas e respostas (12 perguntas)”.
“A Liturgia celeste e a Liturgia terrena são uma
só. Assim, de acordo com a passagem do Apocalipse citada na epígrafe, um anjo
está diante do altar de ouro do céu, com um turíbulo de ouro na mão, a fim de
oferecer as orações dos fiéis na presença de Deus. Também a nossa oferta
terrena não se torna totalmente válida diante de Deus se não for ‘conduzida
pela mão de um anjo no altar celestial’, como é dito no Cânon da Missa Romana.
A concepção segundo a qual o altar aqui embaixo é
uma imagem do arquétipo celestial que se encontra diante do trono de Deus,
sempre determinou quer a organização do altar, como a posição do sacerdote em
relação a ele: e vimos que o anjo que segura o turibulo de ouro está em pé
diante do altar. Por outro lado, as prescrições que Deus deu a Moisés (ver Ex
30,1-8) certamente também desempenharam um papel importante.
Essas observações preliminares eram necessárias
para fazer compreender em que ponto as concepções atuais sobre o altar mudaram.
Essa mudança não foi realizada abruptamente, mas pouco a pouco; começou há
vários anos, antes do Concílio Vaticano II”.
Na edição de hoje deste nosso espaço, padre Gerson
Schmidt nos traz a reflexão “Em memória de Klaus Gamber”, inspirado na obra
bibliográfica de Joseph Ratzinger, agora traduzida no Brasil pelas edições da
CNBB, intitulada “Teologia da Liturgia: O fundamento sacramental da existência
humana - Obras Completas, Volume XI”.
Comentamos no encontro passado a preciosa
colaboração de Klaus Gamber no Movimento Litúrgico pré-conciliar que fez
resultar o documento da renovação e atualização litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium. Na obra
bibliográfica agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB de Joseph
Ratzinger, disponível nas editoras brasileiras, intitulada “Teologia da Liturgia:
O fundamento sacramental da existência humana”, há um título de Ratzinger “em
memória de Klaus Gamber”.
Diga-se de passagem que é uma obra alemã traduzida
para o português do Brasil de grande valia, que resume tudo o que nós temos de
mais precioso sobre Liturgia. Segundo o autor, o texto central desse livro
agora em nossas mãos provêm de uma obra alemã: “Der Geist Liturgie. Eine Einführung” (Uma Introdução ao Espírito da
Liturgia), que vamos em nosso estudo citar muitas vezes, intercalando com
outras aspectos importantes.
Segundo Ratzinger, nesse livro que é um tesouro litúrgico,
Monsenhor Klaus Gamber participou, “com todo o coração e seu entusiasmo e
esperança do antigo Movimento Litúrgico, antes do Concílio Vaticano II” [3].
Joseph Ratzinger vê nele um grande expoente que nos mostrou a estrada, o
caminho, não só com palavras.
“Provavelmente – diz Ratzinger – porque sendo de
uma escola não alemã, ele ficou com o panorama alemão de um outsider que não queria aceitar; ainda
recentemente, por ocasião de uma tese de mestrado, foi levantada uma forte
dificuldade pelo fato de que o jovem estudante (que Ratzinger menciona nesse
capítulo) tinha ousado citar Gamber de modo muito detalhado e muito ao seu
favor” [4]. Nesse seu livro, Ratzinger aponta que deveríamos voltar a um novo Movimento
Litúrgico, porque depois do Concílio ao invés de uma “Liturgia amadurecida” se
colocou uma “Liturgia fabricada”.
Vindo de um dos teólogos mais seguros da
atualidade, que se tornou o Papa Bento XVI, agora já Emérito, descrevemos aqui
o que Ratzinger pensou de Gamber e da Liturgia. Preste atenção nessa declaração
de Ratzinger: “Do processo de crescimento e desenvolvimento, passou-se a criar.
Não queria mais continuar com uma evolução orgânica e com uma maturidade que,
no decorrer dos séculos, foram experimentadas, mas colocou, justamente no seu
lugar, - segundo o modelo de produção técnica – o fazer, o produto feito no
momento. A essa deturpação Gamber se contrapõe com a vigilância de quem está em
grau de ver verdadeiramente e com a intrepidez de uma autêntica testemunha.
A esse respeito, ele (falando de Gamber), com base
em um conhecimento extraordinário das fontes, ensinou-nos incansavelmente, a
viver a abundância da verdadeira Liturgia. Como um homem que conhecia e amava a
história, nos mostrou as múltiplas configurações de sua formação e do seu
envolver-se; como alguém que vê e cria a história por dentro, viu, na sua
formação e crescimento, o reflexo intangível da Liturgia eterna que não é
objeto do fazer, mas pode maravilhosamente progredir na sua maturidade e
evolução, se nós internamente nos sintonizarmos com o seu mistério.
A morte desse grande homem e sacerdote deveria
despertar a nossa atenção; a sua obra poderia nos ajudar a um novo recomeço” [5].
Essa é a importância do Monsenhor Klaus Gamber para a Liturgia. Uma lástima que
morreu cedo demais para continuar a inspirar o Movimento Litúrgico que, segundo
Ratzinger, deveria retornar com novo entusiasmo.
[1] cf. Introdução de Monsenhor Klaus Gamber,
Reforma da Liturgia Romana. Disponível em
http://www.unavocesevilla.info/reformaliturgia.pdf
[2] ibid.
[3] Ratzinger, Joseph. Teologia da Liturgia: O
fundamento sacramental da existência humana - Obras Completas, Volume XI.
Edições CNBB: Brasília-DF, 2019, p. 586.
[4] ibid.
[5] ibid.,
pp. 586-587.
Klaus Gamber |
Nenhum comentário:
Postar um comentário