Santo Efrém
Diatessaron
“Paz
a esta casa”
Em qualquer casa
em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa, para que o próprio Senhor
entre nela e se estabeleça, como na casa de Maria, e então lá se situem com
seus discípulos como discípulos. Esta saudação é o mistério da fé que
resplandece no mundo; por ela se extingue a inimizade, acaba a guerra e os
homens se reconhecem mutuamente. O efeito desta mesma saudação estava
dissimulado pelo véu do erro, apesar de ser prefigurado no mistério da
ressurreição dos corpos, mistério expressado pelas coisas inanimadas, e quando
sobrevém à luz e a aurora dissipa a noite. Desde aquele momento (do envio), os
homens começaram a saudar-se reciprocamente, e a receber a saudação uns dos
outros, para a provisão de quem a dá e bênção de quem a recebe. Destes, no
entanto, que apenas recebem exteriormente a palavra de saudação, cujas almas
não trazem a marca de membros de nosso Senhor, a saudação se difunde como uma
luz transformada por aqueles que a recebem, assim como os raios de sol o são
para a obra do mundo.
Esta saudação
que o seu nome anuncia, da qual a ciência explica a potência oculta, e que
constitui um símbolo, é suficiente para chegar, amplamente, a todos os homens.
Eis porque nosso Senhor a enviou juntamente com os seus discípulos, qual
precursor, para que restabeleça a paz, e envolta pela voz dos Apóstolos, seus
enviados, prepare o caminho diante deles. Ela foi semeada em todas as casas
para reunir e classificar os membros; entrava em todos aqueles que a escutavam,
para separar e pôr à parte os filhos que reconhecia como seus. Permanecia
neles, mas denunciava aos que lhe eram estranhos, porque, semeada nestes
últimos, ela os abandonava.
Esta saudação
não termina nunca, jorrando dos Apóstolos sobre os seus irmãos, para revelar
que os tesouros que o Senhor enviava são inesgotáveis. Ela não se modificava
naqueles que a acolhiam, demonstrando assim que os dons do doador eram estáveis
e seguros. Presente tanto nos que a davam como nos que a acolhiam, este anúncio
da paz não sofria nem diminuição nem divisão. Anunciava que o Pai está próximo
de todos e em todos da missão do Filho, que está inteiramente em todos e que
seu fim está junto ao seu Pai. Imagem do Pai, aquela saudação não cessa de
pregar e de proclamar, até o advento da certeza de que se cumprem as imagens
tipológicas, até quando a verdade não colocar fim às imagens e as sombras sejam
repelidas pelo próprio corpo, e os símbolos dispersos pelas coisas que
representam.
É assim,
portanto, que nós lançamos as palavras do Senhor sobre os ouvintes e amigos,
qual coalho para separar e unir, para separá-los e dissociá-los de toda mistura
e uni-los ao Senhor que reúne a comunidade.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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