sábado, 16 de julho de 2016

Homilia: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Ambrósio
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas
Procuremos nós também ter isso que ninguém nos pode tirar

Temos falado da misericórdia, porém é um fato que não existe uma forma isolada de ser virtuoso. O exemplo de Marta e Maria mostra-nos a entrega ativa de uma aos afazeres domésticos, e a atenção religiosa da alma à Palavra de Deus da outra; e nos ensina que esta segunda atitude, se vai acompanhada da fé, certamente está acima das próprias obras, conforme o que está escrito: Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.
Procuremos nós também ter isso que ninguém nos pode tirar, dispondo todos os nossos sentidos, não distraidamente, mas com atenção, pois que a própria semente da palavra divina pode ser arrebatada se é meada à beira do caminho. Que tua fome de sabedoria te faça semelhante a Maria; visto que a sua é uma obra maior e mais perfeita, e que a ocupação do magistério não te seja obstáculo ao conhecimento da palavra celestial, nem creias ou penses que aqueles que se dedicam com entusiasmo à sabedoria são pessoas ociosas; quando precisamente Salomão, o pacífico, quis tê-la como companheira em sua casa.
Contudo, não é que se repreenda a Marta por seus bons ofícios, porém Maria é preferida porque escolheu para si a melhor parte. Jesus tem muitas riquezas e a todos reparte suas graças: assim a mais sábia escolheu aquilo que reconheceu ser o mais importante. Por sua parte os Apóstolos não julgaram como melhor deixar seu dever de pregar a Palavra de Deus para servir às mesas, ainda que as duas sejam obras de sabedoria; pois Estêvão também estava cheio de sabedoria e foi escolhido como diácono.
Portanto, enquanto servidor deve submeter-se aos doutores, e enquanto doutor deve exortar e animar ao que serve, pois o corpo da Igreja é único, embora existam muitos membros, e uns necessitam dos outros. O olho não pode dizer para a mão: não tenho necessidade de ti; nem tampouco a cabeça aos pés, como também a orelha não negará o que é do corpo; porque mesmo admitindo que alguns são mais importantes, outros se manifestam mais necessários.
A sabedoria tem a sua sede na cabeça, a atividade nas mãos; em verdade, os olhos do sábio estão em sua cabeça, pois o verdadeiro sábio é aquele em cuja alma está Cristo e cujo olhar interior está sempre dirigido para o alto. Por isso os olhos do sábio estão na cabeça e os do néscio em seu calcanhar.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 680-681. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Gregório Magno para este domingo clicando aqui.

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