No último dia 24 de julho o site Vatican News publicou este texto sobre a relação entre fotografia e a Liturgia:
Fotografia e Liturgia: O Sagrado rompe as barreiras da visão
Fernando
Nunes - Londrina
“A Liturgia é uma ação sagrada, através da qual,
com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de
Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de
Deus (SC 7)”.
Quando fotografamos uma celebração litúrgica
(casamento, batismo, Missa), buscamos “capturar” dos sinais e símbolos
litúrgicos aquilo que os olhos não podem ver. As lentes da câmera ajudam romper
as barreiras impostas pelas limitações humanas e fazer uma experiência do céu.
O sentido da visão humana unida ao sentido da fé é
algo essencial para enxergar as realidades sobrenaturais que não vemos, mas que
estão implícitas em toda a criação. Devemos, portanto, “treinar os olhos da
alma”, deixar que a fé venha, por suplemento, os sentidos completar, como diz
São Tomás de Aquino.
“A Liturgia da Igreja pressupõe, integra e
santifica elementos da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade
de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus” (CIC, n. 1149).
Para criar imagens que reflitam verdadeiras
experiências de fé, primeiro, é preciso vivenciar pessoalmente essas
experiências, pois, corre-se o risco de obter uma imagem qualquer, vazia de
significado.
Portanto, o fotógrafo que se dispõe a registrar uma
ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a, verdadeiramente a amará.
Assim nos diz Santo Agostinho: “Só se ama aquilo que se conhece”. O tema
“fotografia e Liturgia” está entre as dúvidas mais frequentes dos fotógrafos.
Obter orientações para sanar as dúvidas e realizar um bom trabalho como
fotógrafo é de suma importância, sem esquecer, é claro, a maior de todas as
regras: o amor.
Conhecer
e amar
Para sanar as muitas dúvidas sobre a fotografia no
âmbito litúrgico, é preciso saber que a Liturgia precede a fotografia. Antes de
nos preocupar com o “clique”, devemos estudar, conhecer profundamente a
Liturgia. Esse é o primeiro passo, o remédio para muitas de nossas dúvidas.
Preocupar-se somente com o que fazer, com a
regência do “posso ou não posso” demonstra o quanto podemos ser superficiais.
Quando “mergulho” com profundidade naquilo que estou fotografando (rito,
espaço, etc.) acontece uma mudança, não somente da postura, como de toda a
escrita da fotografia: a imagem torna-se religiosa, ou seja, uma imagem que nos
religa ao sagrado.
Cristo é o centro da Liturgia e não podemos, com
nosso descuido e indiscrição - também chamados de “ruídos litúrgicos” -, nos
antepor a Ele. Assim como na Liturgia, também na fotografia, quando algo de
indesejado aparece em sua composição visual, chamamos de “ruído fotográfico”.
Será que em muitos casos, não estamos nós, durante nosso trabalho, sendo
“ruídos litúrgicos”?
O fotógrafo deve “desaparecer” durante a ação
litúrgica, fazendo com que durante o seu trabalho, brilhe Aquele que é o centro
da nossa existência: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).
Regras
quanto a fotografia no espaço litúrgico
Acredito que este seja o tema mais esperado nesta
matéria. Entretanto, devemos respeitar a hierarquia da Igreja, cada diocese
e/ou paróquia tem suas regras sobre o assunto. A responsabilidade primeira é
dos Bispos e párocos, conforme nos ensina o Código de Direito Canônico:
“Exercem o múnus de santificar, primeiramente os
Bispos, que são os grandes sacerdotes, principais dispensadores dos mistérios
de Deus e dirigentes, promotores e guardiães de toda a vida litúrgica na Igreja
que lhes foi confiada (cân. 835 §1); [...] Sob a autoridade do Bispo diocesano,
o pároco deve dirigir a liturgia em sua paróquia e é obrigado a cuidar que nela
não se introduzam abusos (cân. 528 §2)”.
Para saber sobre as orientações para fotógrafos
durante as celebrações litúrgicas numa paróquia orientamos procurar,
antecipadamente, o pároco ou o coordenador da PASCOM.
Nesse sentido, apresentamos alguns conselhos importantes
sobre a fotografia no espaço litúrgico:
1.
Sentido do Sagrado
Nisto se diferencia o bom fotógrafo: ter
consciência que nas celebrações litúrgicas o Senhor está presente! Fotografar
no ambiente sacro não é a mesma coisa que fotografar em qualquer outro local,
onde o objeto do clique são as pessoas, valendo-se tudo por um clique. O
objetivo da fotografia religiosa no espaço litúrgico é deixar Cristo
resplandecer.
2.
Respeito e empatia
Ter respeito com os irmãos que estão ali
celebrando, vivendo sua intimidade com Deus e não para serem fotografados. Um
momento que muitas vezes pode parecer bonito aos nossos olhos, como por
exemplo, uma pessoa chorando, pode ser, para aquele que está sendo fotografado
um momento de dor. Naquele momento a fotografia torna-se algo inconveniente.
Uma dica respeitosa que damos é a de colocar um
aviso no Datashow, discreto, mas que diga que a PASCOM estará registrando
durante aquela celebração dando a liberdade para aqueles que não querem ser
fotografados que procurem os agentes da pastoral para informá-los. Também é
importante informar onde serão disponibilizadas as imagens.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas,
roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da PASCOM ou
roupas brancas.
3.
Escondimento
O fotógrafo deve ser o mais discreto possível,
movimentos modestos, evitar cruzar o corredor de um lado para o outro sem
reverência ou bruscamente. Estabeleça pontos para que possa fazer um bom
registro sem chamar atenção; caso estejam trabalhando em equipe, dividam-se em
pontos laterais. Movimente-se quando a assembleia estiver em pé.
4.
Lugares celebrativos
Toda a área do presbitério (lugar onde se encontram
o altar, o ambão, a sede e o sacrário), deve ser evitada. No presbitério,
procure formas de fotografar que não sejam invasivas, para não nos
transformarmos em “ruídos litúrgicos”.
5.
As partes mais sagradas do rito
Evitar excessos ao fotografar a proclamação das
leituras e do Evangelho; durante a Oração Eucarística, especialmente na
consagração e elevação das espécies eucarísticas e durante a distribuição da Comunhão.
Nestes momentos devemos nos concentrar com máxima
sacralidade e silêncio, devemos ser objetivos, com poucos cliques e com muito
discernimento. Outro ponto importante: durante a homilia devemos sentar e
ouvir. Fotografar neste momento pode desviar a atenção do sacerdote e das
pessoas.
Com essas palavras de São Paulo VI convido os meus
irmãos fotógrafos a meditar diante da grandeza em que estamos ao fotografar a
Santa Missa:
“Talvez vos possa parecer que a Liturgia está feita
de coisas pequenas: atitudes do corpo, genuflexões, inclinações de cabeça,
movimentos do incensório, do Missal, das galhetas. É então que se devem
recordar aquelas palavras do Cristo no Evangelho: ‘Quem é fiel no pouco sê-lo-á
no muito’ (Lc 16, 16). Por outro lado, nada é pequeno na Santa Liturgia, quando
se pensa na grandeza d’Aquele a quem se dirige”.
Fernando Nunes é criador e professor da
Técnica de Fotografia Religiosa.
Fonte: Vatican News
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