sábado, 27 de julho de 2019

Homilia: XVII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Orígenes
Sobre a oração
Em nenhuma parte Deus foi invocado como Pai desta forma

Seria digno de observar se no Antigo Testamento se encontra uma oração na qual alguém invoca a Deus como Pai, porque nós, até o presente, não a temos encontrado, apesar de tê-la buscado com interesse. E não dizemos que Deus não foi chamado com o título de Pai, ou que aqueles que nele têm crido não foram chamados filhos de Deus; mas que em nenhuma parte encontramos em uma oração essa confiança proclamada pelo Salvador de invocar Deus como Pai.
Além disso, que Deus é chamado de Pai e filhos os que se ativeram à palavra divina, pode-se constatar em muitas passagens veterotestamentárias. Assim: Deixaste ao Deus que te gerou, e deste ouvido ao Deus que te alimentou? E ainda na mesma passagem: São filhos sem fidelidade alguma. E em Isaías: Eu criei filhos e os tenho enaltecido, porém eles me têm desprezado; e em Malaquias: O filho honrará ao seu pai e o servo ao seu Senhor. Porque se eu sou pai, onde está a minha honra?
Ainda que em todos estes textos Deus seja chamado Pai, e filhos aqueles que foram gerados pela palavra da fé nele, não se encontra, contudo, na Antiguidade uma afirmação clara e infalível desta filiação. Desta forma os mesmos lugares citados mostram que eram realmente súditos aqueles que se chamavam filhos. Já que, segundo o Apóstolo, enquanto o herdeiro é menor, sendo o Senhor de tudo, não difere do servo; mas está sob tutores e encarregados até a data assinalada pelo pai.
Mas a plenitude dos tempos chegou com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, quando pode se receber livremente a adoção, como ensina São Paulo, afirmando que tendes recebido o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abbá, Pai! E no Evangelho de São João lemos: Mas a todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; aos que creem em seu nome. E por este espírito de adoção de filhos sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, porque a semente de Deus está nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus.
Por tudo isto, se entendêssemos o que escreve São Lucas ao dizer: Quando oreis, dizei: “Pai”, nos envergonharíamos de invocá-lo sob esse título se não somos filhos legítimos. Porque seria triste que, junto aos nossos outros pecados, acrescentássemos o crime da impiedade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 685-686. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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