Nas últimas semanas publicamos aqui no blog dois textos do site Vatican News sobre a reforma da Liturgia das Horas e das Exéquias pelo Concílio Vaticano II.
Seguem agora duas reflexões sobre a Eucaristia, coração da Igreja, mesmo quando celebrada de maneira privada (no contexto da atual pandemia de Covid-19):
Eucaristia, coração
da Igreja
26 de agosto de 2020
No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “Eucaristia, coração da
Igreja”.
A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã», diz o
Catecismo da Igreja Católica. «Os restantes sacramentos, assim como todos os
ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada
Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está
contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa
Páscoa». «A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais
a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se
encontra o cume, ao mesmo tempo, da ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o
mundo, e do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele,
ao Pai». Enfim, pela Celebração Eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do
céu e antecipamos a vida eterna, quando «Deus for tudo em todos».
No programa de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt
nos fala sobre “Eucaristia, coração da Igreja”:
O Evangelista João narra dois grandes momentos da Paixão e
sofrimento de Cristo: a narrativa do lava-pés e a comovente abertura do lado de
Jesus. Pelo Evangelho joanino, Jesus morre no mesmo momento em que eram
imolados os cordeiros sacrificados para a festa da Páscoa. Portanto, Jesus é o
verdadeiro cordeiro pascal. Por isso, cessam os outros sacrifícios. Para o lado
de Jesus que foi aberto, João usa a mesma palavra que se encontra na narrativa
da criação de Eva, palavra que comumente traduzimos por “costela” de Adão.
Jesus é o novo Adão, que desce no sono da morte e de seu lado aberto nasce a
nova humanidade, a nova criação, nasce a nova Eva, a Igreja, os sacramentos.
As palavras da Última Ceia não bastam por si só. Encontram
realização em sua morte real, na sexta feira da paixão. Caso contrário,
permaneceriam numa pretensão não realizada. A morte permaneceria vazia também
se não houvesse a Ressurreição. O amor de Cristo é suficientemente forte para
impulsionar a morte. A Eucaristia, portanto, é mais do que simples refeição
sagrada; o seu preço foi uma morte. A Eucaristia chega até a profundidade da
morte. Ela chega até o mais profundo abismo, que se chama morte e abre a
estrada que introduz aquela vida que supera a morte. Por isso é utilizada a
palavra “sacrifício”. A Eucaristia é atualização do sacrifício sobre a cruz de
Jesus Cristo. Não cabe a ideia aqui de sacrifício como se fazia no Templo,
daqueles que ofertam algo para receber de Deus, como numa troca comercial,
porque Cristo é o doador de todos os dons. Deus mesmo nos doa para que nós nos
tornemos capazes de doar. A iniciativa no sacrifício de Jesus Cristo provém de
Deus. Cristo não é um dom que nós homens oferecemos para um Deus indignado. Ele
é o descer de um Deus misericordioso que se inclina para nós; o Senhor se faz
para nós de escravo. Ele vem ao nosso encontro e em Cristo mendiga, por assim
dizer, a reconciliação com o Pai. Em Peregrinação, Cristo veio ao nosso
encontro, seus filhos não reconciliados; saiu do templo de sua glória para
reconciliar-nos.
Cristo resgata a história da Salvação. Abraão doa um
cordeiro que Deus providenciou, que estava preso num arbusto de espinhos. Jesus
Cristo é o cordeiro providenciado por Deus que leva a coroa de espinhos de
nossa culpa; que entrou nos espinhos da história do mundo para doar-nos aquilo
que nós, por nossa vez, podemos doar. É o Deus que doa seu filho para que nos
possamos também doar. Essa é a essência do sacrifício Eucarístico, do
sacrifício de Jesus Cristo. Não valem mais as outras ofertas. Tem valor um
espírito contrito. Possa, portanto, nossa oração valer mais que milhares de
cordeiros gordos.
Na ceia da Páscoa Judaica, o chefe de família faz a narrativa
do memorial da libertação do Egito. Esse memorial, narrado pelo pai de família,
é chamado de Pessac-Haggadah. Não é só uma história passada, mas exaltando a
presença de Deus que nos sustenta e nos guia, cujo agir está presente na
atualidade. Nessa ceia pascal se deixava a porta aberta para a chegada do
Messias. Jesus Cristo, nas palavras da última ceia também realiza seu Pessac-Haggadah. A narrativa adquiriu um centro totalmente novo. Transformou
sua palavra em ação. Fecha a porta pascal porque ele é o Messias esperado. Mas
também deixa aberta para sua volta no final dos tempos. Sua palavra se torna a
nossa palavra, a sua adoração a nossa adoração, o seu sacrifício o nosso
sacrifício.
Missa em privado -
oração pela humanidade
02 de setembro de 2020
No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “Missa em privado - oração
pela humanidade”.
A humanidade passa por uma grande tribulação. A pandemia de
coronavírus, como uma onda avassaladora, propagou-se pelo planeta, provocando
milhares de contágios, mortes, aumento da fome e da pobreza, abalando a
economia e obrigando as populações a encontrarem novas formas de viver um novo
e inesperado cotidiano. Isso incidiu também na forma de celebrarmos nossa fé.
Com as igrejas fechadas em muitos lugares, distantes dos Sacramentos, os fiéis
viram-se obrigados a acompanhar as celebrações pelos meios de comunicação e
pelas redes sociais. Em meio a esta nova realidade - ainda que passageira,
assim o esperamos - surgiram diversos questionamentos, como nos fala no
programa de hoje padre Gerson Schmidt, na reflexão “Missa em privado - oração
pela humanidade”:
Estamos vivendo um tempo muito complexo, em que a pandemia
obrigou a muitos sacerdotes e bispos celebrarem a Eucaristia de forma privada.
Surge em nós diversos questionamentos: será que celebrar sem o povo é válido?
Será que a Eucaristia assim celebrada tem a mesma eficácia? Precisamos recordar
então o que aponta a Sacrosanctum Concilium
(SC), número 07: “Com razão, portanto, a Liturgia é considerada como exercício
da função sacerdotal de Cristo. Ela simboliza através de sinais sensíveis e
realiza em modo próprio a cada um a santificação dos homens; nela o corpo
místico de Jesus Cristo, cabeça e membros, presta a Deus o culto público
integral. Por isso, toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e
do seu corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia
nenhuma outra ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e grau” (SC, n. 07).
Se eu celebro a santa Missa, se rezo a Liturgia das Horas,
mesmo em particular, não o faço apenas em meu próprio nome. É toda a Igreja que
celebra, que eleva a prece ao Pai. As fórmulas que emprego não foram escolhidas
por mim. É a Igreja que a põe em meus lábios. Portanto, é a Igreja que ora pela
minha boca e meu coração, que fala e opera por meu intermédio, assim como o rei
fala e opera por intermédio de seu embaixador. Eu sou então verdadeiramente,
segundo a bela expressão de São Pedro Damião, a Igreja inteira. O sacerdote que
celebra é um mediador entre o céu e a terra e reza por toda a humanidade,
especialmente nesse tempo tão crítico e delicado em que vivemos. Não reza
sozinho, mas com toda a Igreja. Não existe missa privada, portanto, mas missa em
privado. E no número 26 da SC diz assim: “As ações litúrgicas não são ações
privadas, mas celebrações da Igreja, que é “sacramento de unidade”, povo santo
reunido e ordenado sob a direção dos bispos. Por isso, estas celebrações
pertencem a todo o corpo da Igreja, manifestam-no e implicam-no; mas atingem a
cada um dos membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, dos
ofícios e da atual participação”.
Por isso, a Liturgia tem essa dimensão universal, global. Já
não sou eu que faço as súplicas por mim, pela paróquia ou pelas intenções
particulares. Mas é toda a Igreja que celebra, que canta e suplica a Deus, num
grande hino de ação de graças. Reafirmamos o que disse o Concílio sobre a
Liturgia: “Por isso, toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e
do seu corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia
nenhuma outra ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e grau” (SC, n. 07).
Toda a Liturgia é uma obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja.
Tem a eficácia de ser uma oração universal, por toda a humanidade que sofre e
espera no Senhor.
Fonte: Vatican News
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