São Clemente de Alexandria
Livro sobre a salvação dos ricos
A
verdadeira penitência consiste em não recair nas mesmas faltas
Aquele que de
todo o coração se converte para Deus tem as portas abertas, e o Pai recebe com
os braços abertos ao filho realmente arrependido. Entretanto, a verdadeira
penitência consiste em não recair nas mesmas faltas, erradicando os pecados
pelos quais reconhece ser réu de morte. Estando estes eliminados, Deus voltará
a morar novamente em ti. Cristo afirmou que, no céu, quando um pecador se
converte e faz penitência, o Pai e os anjos experimentam um enorme e
incomparável júbilo e uma alegria festiva. Por isso também exclama: Quero misericórdia e não sacrifícios. Não
quero a morte do pecador, mas que mude de conduta. Ainda que vossos pecados
sejam como a púrpura, ficarão brancos como a neve; mesmo que sejam vermelhos
como escarlate, ficarão como a lã.
Na verdade, só
Deus pode perdoar os pecados e não imputar os delitos; o que não impede que
também a nós nos tenha ordenado perdoar cada dia aos irmãos arrependidos. E se
nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas, quanto mais o Pai de
misericórdia, aquele bom Pai de todo consolo, que transborda de entranhas de
misericórdia e é rico em clemência, propenso a usar de uma infinita paciência e
que aguarda àqueles que se convertem. Converter-se sinceramente significa
acabar com o pecado e não voltar mais a vista ao que fica para trás.
Deste modo, Deus
concede o perdão das culpas passadas; o não reincidir no futuro fica sob a responsabilidade
de cada um. E arrepender-se supõe lamentar-se das faltas cometidas, e pedir com
insistência ao Pai que as lance definitivamente no esquecimento, Ele que é o
único capaz de, em sua misericórdia, dar por não feito o feito, e abolir com a
suavidade do Espírito os delitos da vida passada.
Queres tu,
ladrão, que seja perdoado teu delito? Deixa de roubar! Devolve, e com juros, o
que roubaste. Tu que és uma testemunha falsa, aprende a ser veraz; tu que és um
perjuro, abstém-te do juramento e rompe com os outros afetos viciosos. Talvez
seja impossível romper de forma imediata e ao mesmo tempo com os afetos
inveterados; mas a coisa será viável se contamos com a graça de Deus, as
orações dos amigos e a ajuda fraterna, unido tudo isso a uma verdadeira penitência
e a uma assídua meditação.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
223-224. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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